Homilia Pe. Ângelo Busnardo XIV Dom. Comum (A salvação eterna/o paraíso terrestre)

XIV DOMINGO COMUM

07 /07 /2013

Is.66,10-14c / Gl.6,14-18 / Lc.10,1-12.17-20

Ao longo do seu livro, Isaías anuncia a volta do paraíso terrestre: 17 Sim, vou criar novo céu e nova terra: Já não haverá lembrança do que passou, nisto já não se pensará. 18 Antes exultai e alegrai-vos sem fim por aquilo que eu crio. Pois faço de Jerusalém uma cidade de júbilo e de seus habitantes um povo alegre (Is.65,17-18). Quando Deus restaurar o paraíso terrestre, a vida será totalmente diferente da que conhecemos hoje. Não haverá mais sofrimento e nem morte para todos aqueles que viverem de acordo com a vontade de Deus. O ser humano continuará livre e, portanto, poderá voltar a pecar. Mas quem pecar será imediatamente confrontado com Deus e, se não se arrepender e deixar de pecar, será exterminado e enviado imediatamente para o inferno: 2 Naquele dia, cantai à vinha deliciosa! 3 Eu, o Senhor, sou o guarda, em todo momento eu a rego. Para que nada sofra, eu a guardo noite e dia. 4 Já não estou indignado: quem me dará espinhos e cardos (pessoas infiéis)? Na guerra investirei contra ela e ao mesmo tempo atearei fogo nela (Is.27,2-4). A vinha indica a pessoa fiel e os espinhos e cardos representam as pessoas que se tornam infiéis pelo pecado.

Quando Adão e Eva pecaram, Deus amaldiçoou a terra e submeteu todos os seres humanos ao sofrimento e à morte: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Cf.Gn.3,17-19). Após a restauração do novo paraíso terrestre, para evitar que os maus prejudiquem a felicidade dos bons, Deus enviará para o inferno todos aqueles que não permanecerem fiéis, assim como enviou para o inferno todos os anjos que se rebelaram.

No paraíso terrestre, antes do pecado, a natureza oferecia ar, água e comida espontaneamente para os animais e para os seres humanos: 29 Deus disse: “Eis que vos dou toda erva de semente, que existe sobre toda a face da terra, e toda árvore que produz fruto com semente, para vos servirem de alimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que rastejam sobre a terra, eu lhes dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez (Gn.1,29-30). Por isto Isaías compara a vida daqueles que habitarão o novo paraíso à vida de uma criança que se sente segura no colo da mãe e não demonstra preocupação porque conta com a proteção dos pais e sabe que o pai e mãe nada lhe deixarão falar: 10 Associai-vos à alegria de Jerusalém, e regozijai-vos com ela, todos vós que a amais! Associai-vos ao seu júbilo, todos vós que guardastes luto por ela! 11 Mamareis à saciedade em seus peitos reconfortantes, sorvereis com gosto o leite de seus peitos gloriosos! 12 Pois assim fala o Senhor : Eis que farei chegar a ela qual rio o bem-estar e qual riacho transbordante as riquezas das nações. Sereis amamentados, sereis carregados nos braços, sereis acariciados nos joelhos (Is.66,10-12).

No paraíso terrestre, Deus impôs uma lei a Adão e Eva, proibindo-os de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal: 16 O Senhor Deus deu ao homem uma ordem, dizendo: “Podes comer de todas as árvores do jardim. 17 Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque no dia em que o fizeres serás condenado a morrer” (Gn.2,16-17). Adão e Eva eram filhos adotivos de Deus e possuíam o sopro de Deus, a vida eterna. Portanto, o cumprimento da lei nada acrescentava ao que eles eram e precisavam ser para se salvar. Mas o não cumprimento da lei os levou a perder a filiação divina e o sopro de Deus. Após comer a fruta proibida Adão e Eva deixaram de ser filhos adotivos de Deus, perderam o sopro de Deus (a vida eterna), voltaram a ser simples criaturas e escravos de satanás. A lei não tinha poder para salvá-los mas tinha poder para condená-los.

São Paulo foi criticado por não impor a circuncisão aos pagãos que se convertiam. Ele justifica a não imposição pelo fato de a salvação vir da adesão à pessoa de Cristo através dos sacramentos e não do cumprimento da lei: 14 Quanto a mim, não pretendo jamais gloriar-me a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15 Pois a circuncisão de nada vale, nem a incircuncisão, e sim a nova criatura (Gl.6,14-15).

Os setenta e dois discípulos foram enviados a cidades que o próprio Jesus pretendia visitar: Depois disso, designou Jesus outros setenta e dois e os enviou dois a dois na frente a toda cidade e lugar aonde havia de chegar (Lc.10,1). Ao chegar ao destino, a primeira coisa que deviam anunciar era a paz que poderia ser recebida ou rejeitada: 5 Em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa’. 6 Se houver ali uma pessoa de paz, repousará sobre ela vossa paz; se não houver, voltará para vós (Lc.10,5-6). Não se tratava de uma paz equivalente à ausência de guerra, mas da paz que experimenta aquele que cumpre com fidelidade suas obrigações para com Deus. Assim era possível perceber que estava predisposto para aceitar o anúncio da boa nova que seria feito posteriormente por Jesus, porque aquele que não era fiel na antiga aliança não seria fiel na nova aliança proposta por Jesus.

Ao chegar numa cidade deviam hospedar-se numa casa e permanecer hospedados nela até o fim da visita: 7 Permanecei nessa casa, comei e bebei do que vos servirem. O operário merece o seu salário. Não andeis de casa em casa (Lc.10,7). Deviam percorrer a cidade toda para anunciar a próxima visita de Jesus, mas permanecer hospedados sempre na mesma casa. Assim seria mais fácil encontrá-los se alguém quisesse falar com os discípulos. Se mudassem de casa a cada noite seria mais difícil localizá-los.

Jesus enviou os setenta e dois discípulos com poder de expulsar demônios e curar doentes; não os enviou a expulsar demônios e curar doentes. O objetivo da visita era preparar a posterior visita de Jesus: 8 Quando entrardes numa cidade e vos receberem, comei do que vos for servido, 9 curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘O reino de Deus está próximo de vós’ (Lc.10,8). O poder de expulsar demônios e curar doentes era um instrumento de trabalho útil para atrair as pessoas. Como a cura de doentes e a expulsão de demônios eram mais apreciadas pelo povo, os discípulos se concentraram mais nisto e, ao voltarem para Jesus manifestaram mais entusiasmo com estes resultados do que com o anúncio da vinda do reino de Deus: 17 Voltaram os setenta e dois cheios de alegria, dizendo: “Senhor, até os demônios se submetem a nós em teu nome” (Lc.10,17).

Na realidade eles não tinham expulsado os demônios, mas os tinham atraído: 18 E Jesus lhes disse: “Vi Satanás cair do céu como um raio (Lc.10,18). Se os discípulos tivessem expulsado o demônio, Jesus o teria visto fugir para os ares e não vindo dos ares para a terra. Discretamente, Jesus lhes disse que deviam se alegrar pela recompensa que receberiam no céu e não pelos prodígios realizados na terra: 19 Dei-vos poder para pisar em serpentes e escorpiões e em toda a força do inimigo, e nada vos fará mal. 20 Mas não vos alegreis que os espíritos se vos submetem. Alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão escritos nos céus” (Lc.10,19-20).

Todos aqueles que anunciam o Evangelho têm a obrigação de rezar pelos doentes e pedir a Deus que os liberte das doenças. Mas o objetivo principal e em torno do qual se deve concentrar o anúncio do Evangelho é a salvação da alma. De nada adianta curar um doente ou alimentar um faminto se ele não se converter e salvar a própria alma. Jesus afirmou que muitos que fizeram prodígios em nome dele serão rejeitados quando forem prestar contas a Ele após a morte: 21 Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus mas quem fizer a vontade de meu Pai que está nos céus. 22 Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em teu nome, não fizemos muitos milagres em teu nome?’ 23 Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal (Mt.7,21-23).

Código : domin846

Ângelo José Busnardo

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Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 03/07/2013
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