VIVER COM ARTE

Quando crianças tudo nos chamava a atenção. Todas as coisas pareciam guardar um segredo que precisava ser desvendado; tudo que passava ante nossos olhos parecia encantado, misterioso e despertava a curiosidade.

Com o tempo, porém, e com a convivência com os mais “velhos” e já, por assim dizer, “adultos”, nos acostumamos a ver tudo de forma rotineira; aprendemos que para todos os fenômenos há uma explicação. Tudo foi se tornando óbvio, corriqueiro, sem encanto, e assim, acabamos perdendo também a capacidade de nos surpreender diante de coisas, fenômenos, imagens e pessoas.

Enfim, nos tornamos também “maduros” e parceiros inseparáveis da rotina. O dia passa a ser bom quando não há nada de surpreendente no nosso caminho. Parece que à medida que nossa racionalidade vai se desenvolvendo, nosso coração, nossas emoções e nossa capacidade de perceber com a alma vão se atrofiando. Aos poucos as coisas, ocorrências e a própria vida, vão se tornando assustadoramente normais.

Guiados por esse doentio pragmatismo vamos inquirindo sobre que proveito podemos tirar das situações e até das pessoas. Não conseguimos mais ser gratuitos. Acabamos nos adaptando a esse mundo onde tudo tem uma etiqueta indicando o preço e sua breve utilidade.

Tornamo-nos previsíveis em nossas ações e palavras. Ninguém ousa dizer, fazer ou pensar algo que esteja fora do roteiro morno que a sociedade estabeleceu como padrão. Poucos ousam sair do “script” preestabelecido pelos “gurus” encrustados em suas torres de marfim, seja nas academias de ciências, ou empoleirados no congresso nacional ou alguma “inteligência” enjaulada em algum reality show. Em qualquer dos casos seus discursos e suas práticas nada trazem que inspire o bem nas pessoas.

Talvez seja hora de fazermos algo diferente. Sonharmos com as possibilidades de Deus para nós. Sairmos do chão batido para exploração de novas terras, criar trilhas novas na existência. O próprio Jesus afirmou que o Reino de Deus está dentro de nós e que, confiando nele, faremos obras iguais àquelas que Ele fez, ou até maiores (Jo 16:12), afinal “se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (II Co 5:17). Em Cristo somos chamados a uma vida criativa. Se confiarmos na ação transformadora do Espírito Santo, que é a fonte suprema de toda inspiração, podemos fazer de nossa vida uma obra de arte.