Homilia Pe. Ângelo Busnardo XXIV Dom. Comum( Moisés/O Filho Pródigo)

XXIV DOMINGO COMUM

15 / 09 / 2013

Ex.32,7-11.13-14 / 1Tm.1,12-17 / Lc.15,1-32

Deus exige fidelidade do seu povo e quando é trocado por um deus falso reage de forma violenta. Enquanto Moisés estava na montanha na ocasião em que recebeu os dez mandamentos, o povo acampado fabricou seu próprio Deus: 7 O Senhor falou a Moisés: “Vamos! desce, pois corrompeu-se o teu povo que tiraste do Egito. 8 Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro fundido, prostraram-se e ofereceram sacrifícios diante dele, dizendo: ‘Israel, aí tens os teus deuses, que te fizeram sair do Egito’” (Ex.32,7-8). Deus estava disposto a exterminar todo o povo, tanto aqueles que se tornaram idólatras como aqueles que não aderiram à idolatria mas nada fizeram para impedir que parte do povo abandonasse o Deus verdadeiro: 9 O Senhor disse a Moisés: “Já vi que este povo é um povo de cabeça dura. 10 Deixa que a minha cólera se inflame e os consuma. Mas de ti farei uma grande nação” (Ex.32,9-10).

A intercessão de Moisés evitou o extermínio de todo o povo: 11 Moisés aplacou o Senhor seu Deus e disse: “Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo que libertaste do Egito com grande poder e mão forte? 12 Por que deveriam os egípcios comentar: ‘Foi com propósitos sinistros que os libertou do Egito, para matá-los nas montanhas e exterminá-los da face da terra’? Renuncia ao furor da tua ira e desiste de fazer mal a teu povo (Ex.32,11-12). Mas, para purificar Israel, o próprio Moisés foi forçado a mandar matar três mil pessoas: 25 Moisés, vendo que o povo estava sem freio, pois Aarão lhes tinha soltado as rédeas para zombaria dos inimigos, 26 postou-se à entrada do acampamento e gritou: “Quem for do Senhor , venha até mim!”E todos os levitas juntaram-se a ele. 27 Ele lhes disse: “Assim diz o Senhor , o Deus de Israel: Cinja cada um a espada na cintura. Circulai pelo acampamento e matai, de porta em porta, mesmo parentes, amigos ou vizinhos”. 28 Os levitas fizeram o que Moisés mandou, de modo que naquele dia tombaram cerca de três mil homens do povo (Ex.32,25-28).

Deus tinha dado a Moisés tábuas de pedra onde estavam escritos os dez mandamentos. Ao constatar a infidelidade de parte do povo, Moisés quebrou as tabuas: 19 Quando chegou perto do acampamento, viu o bezerro e as danças. Moisés ficou indignado e atirou as tábuas e as quebrou ao pé da montanha (Ex.32,19). Um dos mandamentos proibia matar: 13 Não matarás (Ex.20,19). Parece contraditório. Deus proibiu matar e Moisés mandou matar três mil. Não é contraditório porque Moisés era autoridade e a autoridade tem obrigação de proteger as pessoas honestas. Se o povo honesto fizer justiça com as próprias mãos é vingança. Por isto, Deus estabeleceu o mandamento “não matar”. Mas as autoridades legitimamente constituídas têm obrigação de exterminar as pessoas que põem em risco a vida das pessoas honestas. As autoridades que protegem aqueles que põem em risco a vida das pessoas indefesas se tornam responsáveis perante Deus por todas as mortes que os seus protegidos cometerem daí para frente: 14 Mas se alguém tiver a ousadia de levantar-se contra o próximo para matá-lo à traição, deverás arrancá-lo até mesmo do altar para executá-lo (Ex.21,14). Jesus confirmou as leis do Antigo Testamento afirmando que nada suprimiu do que Deus revelou: 17 Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir mas completar. 18 E eu vos garanto: enquanto não passar o céu e a terra, não passará um i ou um pontinho da Lei, sem que tudo se cumpra. 19 Quem, pois, violar um desses preceitos, por menor que seja, e ensinar aos outros o mesmo, será chamado o menor no reino dos céus; mas quem os praticar e ensinar, será chamado grande no reino dos céus (Mt.5,17-19). Jesus foi crucificado entre dois ladrões. Um ladrão se converteu na cruz e outro não. Jesus tinha poder para fazer os dois ou um dos dois ladrões descer da cruz, mas não libertou nenhum dos dois.

O pecado mortal condena. Mas há remédio para o pecado. O arrependimento e a mudança de vida seguida de confissão elimina o pecado mortal: 15 Eis uma palavra fiel e digna de toda acolhida: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou o primeiro. 16 Se encontrei misericórdia foi para que em mim Cristo Jesus mostrasse primeiro toda a sua paciência e eu servisse de exemplo para todos os que depois nele crerem para a vida eterna (1Tm.1,15-16). Adão e Eva não foram perdoados por Deus porque não admitiram o pecado e, não o admitindo, não se arrependeram: Adão acusou Eva e esta acusou a serpente. São Paulo reconheceu o próprio erro e Deus o perdoou e o escolheu para anunciar o Evangelho. Hoje a maioria das pessoas perdeu a consciência do pecado e por isto não se arrepende e muitos eclesiásticos jogaram fora a consciência do pecado e também não se arrependem e se condenarão.

Os escribas e fariseus não admitiam os próprios pecados e não procuravam Jesus arrependidos para obter o perdão dos pecados. Vendo Jesus perdoando pecadores o criticavam: 1 Todos os publicanos e os pecadores se aproximavam de Jesus para ouvi-lo. 2 Os fariseus e escribas resmungavam, dizendo: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles” (Lc.15,1-2). Jesus contou três parábolas para demonstrar que o Pai o tinha enviado exatamente para perdoar aqueles que, reconhecendo os próprios pecados, estivessem arrependidos e dispostos a mudar de vida.

1. A parábola da moeda perdida: A moeda perdida não sabia quem era o dono dela e, portanto, se alguém a encontrasse e se apoderasse dela não teria demonstrado nenhuma reação. A moeda perdida representa a pessoa que não conhece o Deus verdadeiro. Se um safado a convida a adorar um deus falso, ela pode ser facilmente iludida.

2. A ovelha perdida: A ovelha conhece o seu pastor. Mesmo quando extraviada, se alguém tenta levá-la outro rebanho, ela não aceita, porque ela conhece o pastor dela. Ela quer voltar para o seu verdadeiro pastor mas não consegue voltar sozinha e precisa de ajuda. A ovelha perdida representa a pessoa que se afastou do verdadeiro Deus pelo pecado mortal. Ela consegue voltar ao verdadeiro pastor somente mediante a ajuda de um sacerdote que, com o sacramento da penitência, obtém o perdão dos pecados cometidos.

3. O filho pródigo representa a pessoa que deliberadamente abandonou o verdadeiro Deus. Ele sabe onde está a salvação e tem condições de voltar para o verdadeiro Deus, mas decide voltar somente depois de ter desperdiçado a vida no pecado. Esta parábola precisa de uma explicação mais detalhada.

A parábola é uma linguagem indireta e isto dificulta a compreensão. Jesus falava em parábolas para confundir: 10 Os discípulos aproximaram-se e lhe perguntaram: “Por que lhes falas em parábolas?” 11 Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus mas a eles não. 12 A quem tem será dado, e terá em abundância; mas de quem não tem será tirado até mesmo o que tem. 13 É por isso que lhes falo em parábolas: porque, olhando, não enxergam e, ouvindo, não ouvem nem compreendem (Mt.13,10-13). Em particular Jesus explicava as parábolas para os apóstolos: 33 Com muitas parábolas como esta, Jesus anunciava-lhes a palavra segundo podiam entender, 34 e nada lhes falava sem parábola; mas em particular explicava tudo a seus discípulos (Mc.4,33-34). Ao explicar as parábolas, Jesus substituía os personagens fictícios pelos personagens reais. Seguindo o mesmo procedimento temos:

1. O Pai é Deus.

2. O filho primogênito é Jesus.

3. O filho mais novo é todo católico afastado que se arrepende e volta para a Igreja Católica.

4. A roupa, o anel e as sandálias são os méritos de Jesus.

5. O campo é o mundo.

Nem todos concordam que sob a figura do filho mais velho está a pessoa de Jesus, mas a Bíblia nos dá pistas que comprovam isto:

· No Evangelho de João Jesus diz ao Pai: 10 Pois tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado (Jo.17,10). Ao dizer “tudo o que é teu é meu”, Jesus inclui a divindade, porque Jesus, ao ser gerado pelo Pai, recebeu dele a natureza divina. Na parábola em questão, o Pai diz: 31 O pai lhe explicou: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu (Lc.15,31). Ao afirmar “tudo o que é meu é teu”, o Pai inclui a divindade. Portanto, o filho mais velho possui a divindade que recebeu do Pai.

· Ao dizer “Filho, tu estás sempre comigo”, o Pai afirma que o Filho mais velho nunca pecou, porque o pecado provoca uma separação entre Deus e o homem. Jesus é o único homem que nunca pecou. O Pai usa o verbo no presente “estás”. A Trindade não tem passado e futuro, pois está fora do tempo e para Deus tudo é presente.

· O filho mais velho diz: 29 Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos eu trabalho para ti, sem nunca desobedecer a uma ordem tua, e nunca me deste sequer um cabrito para festejar com os meus amigos (Lc.15,29). O Filho mais velho afirma que nunca desobedeceu a uma ordem do Pai, isto é, que nunca pecou. O único homem que pode dizer a Deus “Eu nunca pequei” é Jesus.

Deus é misericordioso e esta é uma das parábolas que revelam a misericórdia do Pai. A misericórdia de Deus se manifesta pelo fato que Ele perdoa o pecador que se arrepende e abandona o pecado. Quando não há arrependimento e conversão, Deus aplica a sua justiça que é extremamente severa. Por não encontrar arrependimento por parte de Adão e Eva, Deus amaldiçoou a terra e submeteu toda a humanidade, inclusive seu inocente Filho Jesus, ao sofrimento e á morte: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn.3,17-19). Um Deus capaz de despejar sobre toda a humanidade um castigo tão violento deve ser respeitado.

A partir do concílio Vaticano Segundo, a Igreja começou a anunciar Deus como se fosse um Papai Noel bobalhão que qualquer um leva na conversa. Deus é Pai, mas é um Pai que mesmo quando perdoa não deixa de ser severo. A parábola do filho pródigo demonstra isto.

O Pai sabia que o filho rebelde estava dormindo no chiqueiro e disputando comida com os porcos, mas não foi buscá-lo. Se eu tivesse um filho rebelde que me abandonou e depois ficasse sabendo que ele está dormindo num chiqueiro e disputando comida com os porcos iria buscá-lo. Se ele me dissesse que desenvolveu uma síndrome que o impedia de comer se não estivesse com os porcos, lhe proporia comprar dois porquinhos e colocá-los no quintal da minha para ele continuar a disputar a comida com os porcos. Ao chegar em casa o deixaria entrar e vestir uma roupa limpa dentro de casa. Mas não foi isto que o Pai da parábola (Deus) fez. Ao ver o filho rebelde chegar, o Pai foi-lhe ao encontro, o perdoou e o acolheu, mas antes de deixá-lo entrar em casa, exigiu que ele vestisse a roupa, o anel e as sandálias do Filho mais velho. É este Deus que, logo após a morte, nos julgará.

Código : domin856

Ângelo José Busnardo

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Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 11/09/2013
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