Natal - Em Que Dia Nasceu Jesus Cristo?

Cristiano Batista dos Santos. Jornalista*

Uma coisa é certa: Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro do ano. Esta data foi uma convensão adotada pelos governantes cristãos do império romano. Entenda toda a história que corre nas sombras do natal.

O nascimento de Jesus retratado numa tela de 1535-40, pintada pelo artista florentino Agnolo Bronzino. Grande parte do que é conhecido sobre o nascimento de Jesus, sua vida e seus ensinamentos é contado pelos Evangelhos canônicos: Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João pertencentes ao Novo Testamento da Bíblia. Os Evangelhos Apócrifos apresentam também alguns relatos relacionados com a infância de Jesus. Os Evangelhos narram os fatos mais importantes da vida de Jesus. Os Atos dos Apóstolos contam um pouco do que sucedeu nos 30 anos seguintes. As Epístolas (ou cartas) de Paulo também citam fatos sobre Jesus. Notícias não-cristãs de Jesus e do tempo em que ele viveu encontram-se nos escritos de Josefo, que nasceu no ano 37 d.C.; nos de Plínio, o Moço, que escreveu por volta do ano 112; nos de Tácito, que escreveu por volta de 117; e nos de Suetônio, que escreveu por volta do ano 120.

No entanto, é nos Evangelhos de Mateus e de Lucas que se tem melhores informações a respeito da infância de Jesus. Enquanto Mateus foi um dos doze apóstolos, Lucas teria empreendido uma pesquisa dos fatos que na sua época já eram relatados de modo que o seu Evangelho é o que mais contém informações a respeito da vida de Jesus na Terra, antes mesmo do seu nascimento. Estudiosos geralmente estimam que Jesus nasceu entre 7-2 AC/ACE e morreu entre 26-36 DC/DCE.

Eles concordam que não foi em 1 AD (Anno Domini). Quanto a se foi em Dezembro, é uma questão de pura suposição. O calendário que usamos hoje é baseado no que Julio César decretou em 1° de Janeiro de 45 AC, que começa na fundação de Roma, no século I AC. No século VI, Dionysius Exiguus, um monge, propôs que a Era Cristã começasse em uma data de significado religioso inquestionável, a suposta data do nascimento de Jesus Cristo. Com esse sistema, as seqüências AC e DC começaram. Recentemente, no entanto, AC ou Antes de Cristo, mudou para AEC, ou Antes da Era Cristã, e AD (Anno Domini, o ano do Senhor) se tornou EC, ou Era Cristã.

O Novo Testamento não diz nada a respeito da data de que Cristo veio ao mundo. Os romanos eram um povo pagão, que acreditavam em diversos deuses e faziam muitas festas para eles. As mais importantes eram as festas em homenagens aos solstícios de verão e de inverno. Em 221 EC, o historiador cristão Julius Africanus cravou o nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro, dia que era celebrado o culto ao deus persa Mitra, que ganhou dos romanos uma data e celebração especial: O Festival do Sol Invicto, comemorado no dia 25 de dezembro. A igreja gostou, pois desta forma poderia angariar mais fiéis e melhor, de forma mais fácil, e assim, a partir do século 4, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do império, começaram as comemorações do nascimento de Cristo a ser realizadas no dia 25 de dezembro, o que perdura até os dias atuais.

Que calendários seguiam os cristãos daquela época? Estavam vivendo no Império Romano e, por isso, seguiam as determinações de Roma. O calendário romano contava o tempo a partir da fundação da cidade de Roma. Marcavam o ano com as iniciais U.C. (Urbis Conditae), isto é, ano tal, a contar da Fundação da Cidade (Cidade com C grande: Roma).

Com o advento da "Cristandade", muitos começaram a pensar que a fundação de Roma, que fora pagã durante os primeiros 1000 (mil) anos de sua existência, não poderia ser o marco mais adequado para começo da computação dos novos tempos. O nascimento de Jesus, sim, deveria ser tido como o acontecimento central da história da humanidade. A idéia se fortaleceu quando, 450 anos depois de Cristo, o Império Romano desmoronou diante da invasão dos Bárbaros. Não havia nenhuma relação entre o cristianismo e o Império Romano. Tornava-se necessário um novo calendário que tivesse como eixo central a pessoa de Jesus Cristo.

Foi quando se deram conta de que ninguém sabia o dia, o mês, nem sequer o ano do nascimento de Jesus. Os autores do Evangelho haviam omitido este detalhe. Os Evangelistas contam episódios da vida de Jesus que foram compilados em cima de uma catequese oral anterior e estes escritos nunca tiveram a pretenção de dar uma cronologia exata da vida de Cristo.

Então surgiu um monge chamado Dionísio. Era natural da cidade de Escita, região da atual Rússia, mas viveu quase toda sua vida em Roma. Tinha o apelido de "Exíguo", isto é: pequeno. Talvez por ser de baixa estatura ou, o mais provável, ele se tenha dado este nome por humildade, considerando-se o menor de todos. Era um dos homens mais eruditos de sua época. Brilhante teólogo. Foi grande conhecedor da história da Igreja e especialista em cronologias. Foi autor de uma célebre coleção de decretos dos papas e decisões dos Concílios, com valiosos comentários próprios. Este monge decidiu enfrentar essa colossal empresa de calcular o nascimento de Jesus Cristo. Contava com algumas informações úteis extraídas dos Evangelhos. Assim, do Evangelho de Lucas, tomou o dado de que ao começar sua vida pública "Jesus tinha uns 30 anos de idade" (Lc 3,23). Era um bom começo. Em que ano, porém, Jesus começou sua vida pública? Alguns versículos antes, estavam a resposta: "No ano 15 de governo de Tibério César" (Lc 3,1). Confrontando imensas tabelas de datas e cronologias, Dionísio deduziu que o ano 15 de Tibério, quando Jesus iniciou a sua pregação, correspondia ao ano 783 U.C. (783-30 = 753). Deste modo, o ano 754 u.C. seria o ano 1 depois de Cristo; o ano 755 U.C., ano 2 d.C., e assim por diante. Neste novo calendário, a fundação de Roma (que era o ano 1 u.C) passa a ser o ano 753 a.C. E o próprio Dionísio que estava vivendo no ano 1279 u.C., passou a viver no ano 526 da era cristã (1279-753-526). O novo calendário teve um êxito extraordinário: imediatamente foi aplicado em Roma; depois, na Inglaterra, França. Mas tarde pela Espanha e, em 1422, chegou a Portugal. No final da Idade Média já estava generalizado para todas as partes. Dionísio morreu no ano 540 d.C.

Mas houve um equívoco na computação de Dionísio. O Evangelho de São Mateus traz o dado, não considerado por Dionísio, de que Jesus veio ao mundo "no tempo do Rei Herodes" (2,1). E, pelo escritor e historiador romano Flávio Josepho, contemporâneo de Cristo, sabemos que este rei morreu no ano 4 a.C., poucos dias depois de um eclipse da lua ocorrido em 12 de março daquele ano. Portanto Jesus deve ter nascido pelo menos 4 anos antes do ano fixado por Dionísio.

Pergunta-se: Jesus nasceu quanto tempo antes da morte de Herodes? Se o acontecimento dos Reis Magos do Oriente, relatado em Mateus, 2, é substancialmente histórico, podemos deduzir que, quando os Magos chegaram, eles encontraram Herodes são e morando em Jerusalém. Ele os recebeu, fez suas investigações e gozava boa saúde, tanto assim que prometeu que ele mesmo iria visitar o Menino, depois das informações dos Magos. Em contra partida, sabe-se pelos dados históricos que o velho monarca, quando sentiu sua saúde piorar, foi para Jericó, para as Termas de Calíore tomar os banhos curativos. Como não obtivesse melhora, voltou para Jericó, onde morreu pouco depois. Esta viagem de Herodes se deu em novembro do ano 5, no começo do inverno. Aí vamos ter que acrescentar mais meio ano aos 4 anos já contados e chegaremos à metade do ano 5 a.C. para o nascimento de Jesus. Quantos anos teria Jesus, quando ocorreu o massacre dos inocentes ordenado por Herodes, diante do medo de que o menino viesse tomar-lhe o trono, como Rei de Israel? Esta é a terceira adição que devemos fazer. Depois de calcular a data do nascimento de Jesus, Herodes mandou matar todos os meninos "de dois anos para baixo" (Mt 2,16) ainda que o rei tenha alargado o espaço para não lhe escapar a presa, pode-se razoavelmente pensar que Jesus já teria naquelas circunstâncias de 1 ano a ano e meio. Muitos autores antigos dizem que Jesus já tinha 2 anos. Também alguns evangelhos apócrifos dão esta idade para o menino quando ocorreu a matança dos inocentes. E algumas pinturas das catacumbas representam Jesus já bem crescidinho. O próprio Evangelho de Mateus diz que os Magos encontraram a Sagrada Família vivendo "na casa" (Mt 2,11) e não na Gruta do Nascimento, como costumamos representar nos nossos presépios. Somando esta nova margem de tempo a nossos cálculos anteriores, já estamos entre o final do ano 7 e meados do ano 6 a.C. – Só nos falta um dado: o tempo que decorreu entre a vinda dos Magos e a doença de Herodes. Porém este espaço parece que não deve nos afastaríamos bastante da idade que Lucas dá a Jesus, no começo de sua vida pública: Jesus "tinha uns 30 anos". E uma data aproximativa: ao redor dos 30 anos. Se nós dilatarmos muito o espaço entre a vinda dos Magos e a doença de Herodes, Lucas deveria ter dito que Jesus "tinha uns 40 anos". Portanto, a data provável do nascimento de Jesus é o ano 7 a.C. E, ao começar sua vida pública, Jesus teria uns 34 anos.

Alguns estudiosos tentam chegar à data do nascimento de Cristo, mediante o recenseamento por Lucas, o qual teria sido ordenado por Quirino e que motivou a viagem de José e Maria, de Nazaré até Belém (Lc 2,1), mas este caminho não é aceito cientificamente por causa do caráter fragmentário das informações históricas sobre Quirino e, principalmente, pelo fato de que nenhuma fonte histórica mencionada qualquer tipo de recenseamento nos tempos do rei Herodes.

Em conclusão: pelos dados que temos, fundados nos Evangelhos e nas fontes históricas, devemos afirmar que Cristo nasceu no ano 7 a.C.!...

Esta frase, tem sido paradoxal e contraditória: "Cristo nasceu no ano 7 a.C." despertou em muitos a idéia de reformar o nosso calendário atual e ajustá-lo com maior precisão ao nascimento do Salvador. Para isto se propõe ajustar os 7 anos omitidos nos cálculos de Dionísio. Ainda que atraente em sua intenção, esta proposta é impraticável. Todos os acontecimentos históricos estão datados com esta defasagem de 7 anos. Se quiséssemos trocar das datas, corrigindo esta defasagem, além de ser um trabalho colossal seria, ainda, um verdadeiro quebra-cabeça. Como colocar aos estudiosos que Júlio César não morreu no ano 44, mas em 37 a.C.? e que a Primeira Guerra Mundial não foi em 1914, mas em 1921? E o que seria dos estudantes que decoraram as grandes datas da humanidade: descobrimento da América não mais em 1492 e sim, em 1499? O descobrimento do Brasil em 1507? Além do mais, esta iniciativa seria sem sentido, porque assim como está, o atual calendário cumpre perfeitamente o objetivo do Dionísio: recordar perpetuamente que, com a vinda de Cristo ao mundo, a história ficou dividida em duas partes: antes de Cristo e depois de Cristo. Que Jesus Cristo é o eixo do tempo em torno do qual gira todo acontecimento humano. Como este projeto pedagógico, os anos discordantes não afetam em absoluto o objetivo primeiro do Grande Monge Dionísio.

Presenciamos no inicio do terceiro milênio o aparecimento dos fatídicos agoureiros com suas profecias do fim do mundo, vaticínios sobre catástrofes que acontecem nos fins dos milênios e o ingresso de uma nova era regida por certos signos zodiocais. Isto não é de se estranhar. Nos manuais de história se conta que, quando o mundo ingressava no ano 1000 d.C., também se levantou por toda humanidade medieval um rumor de catástrofes e de desordens cósmicas que se espalhou como fogo, amedrontando as populações e transtornando a vida de milhares de pessoas.

Para 19 milhões de judeus estamos no ano 5760; para 900 milhões de muçulmanos, acabamos de entrar no ano 1420. Para os Persas muçulmanos do Irã, o ano é de 1379; Os japoneses de religião shintoista vivem o ano 2659; milhões de devotos de certos credos da Índia estão no ano 2057, e os chineses confucionistas vivem o ano de 2550. Até mesmo entre os cristãos não existe unanimidade na computação dos anos: os Coptas estão no ano 1716; os Sírios, no ano 2311; os Armênios, no ano 1446. Para os católicos, que são 900 milhões estão vivendo um calendário defasado de 7 anos do verdadeiro início da era cristã.

*Cristiano Batista dos Santos. Além de Jornalista. Teólogo. Consultor em Mediação e Arbitragem Empresarial. Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Emprego e Renda de Sergipe. Colunista no Portal Recanto das Letras.

Cristiano Batista dos Santos
Enviado por Cristiano Batista dos Santos em 22/12/2013
Reeditado em 27/12/2013
Código do texto: T4621442
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