RELIGIÃO - O ÓPIO DO POVO

Por: Anderson Du Valle

“A religião é o ópio do povo” esta é uma citação da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, de Karl Marx publicada em 1844. Embora esta citação tenha sido atribuída a Marx, outros pensadores já faziam alusão ao tema em tempos mais remotos, como Kant e Heine, todos considerados ateus e excomungados pela igreja católica.

Não sou um ateu, até porque ser ateu já denota grupo e ideia enlatada a seguir, o que é uma definição de religião, afinal, se trata de um amontoado de regras que devem ser cumpridas de acordo com uma diretriz pré-estabelecida por um grupo que forma uma cúpula totalitária e imaculada.

Será que alguém, hospedeiro de algum tipo de religião, fez a pergunta certa? A religião faz o homem ou é o homem que a produz?

Não existe nada mais sem sentido que o culto cego adquirido através de lentes alheias, com traduções e interpretações de teor homogêneo apenas quando ha conveniência para o alinhamento a uma ideia.

A religião tem como produto inesgotável em seu estoque de subterfúgios, a fé, esta, a única e mais poderosa corrente capaz de prender e escravizar a mente humana, valendo-se de suas fraquezas, atributos detectados na bondade, ingenuidade e inocência, preconizada pela introdução de três perigosos elementos na vida das pessoas: o temor, a culpa e a ambição. Três elementos que são facilmente identificados e retirados do seu sono interiorizado. Estes elementos, são habilmente despertados, eclodindo com fome de manifestação, sendo que todos, sem exceção, somos portadores de tais elementos.

Cada um lida com seus medos, seus dolos e sua desenfreada vontade de ter, da maneira mais diversa possível e o habilidoso líder sabe os caminhos dessa condução, esse é seu trabalho, seu meio de vida, ele estuda para isso, ele é formado na arte do convencimento e da sedução, os meios para que seus propósitos sejam alcançados são inúmeros e facilmente manipulados de acordo com a convergência do grupo.

Considero quem explora a fé popular elemento da grande nocividade. Padres, pastores, rabinos, babalorixás, enfim, os títulos são tantos e as intenções tão restritas. Quem vende conhecimento de forma tendenciosa, vislumbrando retorno financeiro, pratica um genocídio intelectual e é tão ou mais nocivo que um traficante de drogas, pois este ainda vende algo palpável e que pode ser debelado com a ausência material do produto, o que não se dá com a espúria mercadoria apregoada nos púlpitos. A religião entregue desta forma a um receptor fragilizado por alguma ocorrência, sempre acionará dentro do seu íntimo algo ou algum fato relacionado que o fará ajoelhar-se, induzindo-o a erro. As cartomantes são peritas nesta prática, senão, vejamos:

Alguém que por ter um ente querido, terminalmente enfermo ou ferido mortalmente, em estado de agonia, após receber o diagnóstico médico conclusivo, pensa: “E agora? Só Deus!... Hummm! Deveria este alguém torcer para que “eles” não o ouvissem, pois neste instante as portas se descerram e o suposto enviado de Deus se aproximará como o último bastião da moralidade e se apresentará com uma retórica de intimidade estonteante com um ser que é mágico e tudo pode, portanto, só ele pode salvar aquele agonizante. Mas a pessoa tem suas convicções e apresenta alguma relutância em aceitar esta “ajuda”, porém a argumentação é muito forte e infalível, pois se o moribundo vier a óbito sem que a ajuda tenha sido prestada, este alguém se roeria de remorsos até o fim da vida, logo, este alguém aceita seu salvador pelo temor a um fato futuro. Se em outro extremo, sua decisão for de não aceitar e seu ente querido não resistir, então ela aceitará mais tarde pela culpa de uma ação passada que se fará companheira a partir de então.

Agora, se não há nada, nem ninguém que justifique uma aproximação nestes termos, então a argumentação muda seu foco e acerta aquele alguém exatamente em sua sensibilidade, quando diz que por não aceitar seu salvador, deixa que sua família passe privações e mostra-lhe sua vida, conta suas estórias, dá seu testemunho, oferecendo-se como exemplo vivo de uma prosperidade meteórica e tamanha bondade divina, outros lhe confirmarão as palavras e então este alguém se entregará ao Deus dos carros novos, por ambição.

Se com o passar do tempo nada do que foi prometido se concretizar, aquela pessoa já estará tão emaranhada nesta teia de parábolas, versículos, mandamentos e pecados, que ela mesma justificará a ação do seu líder e dirá: "Seja feita a vossa vontade"