Homilias Pe. Ângelo Busnardo (Quinta/Sexta-Feira Santa/Vigília Pascal/Páscoa)

QUINTA FEIRA SANTA

17 / 04 / 2014

Ex.12,1-8.11-14 / 1Cor.11,23-26 / Jo.13,1-15

Qualquer pessoa pode transformar pão em carne, basta que coma o pão e o organismo se encarregará de transformá-lo em carne. Quando Jesus comeu pão, antes de morrer, o transformou em carne naturalmente sem milagre. Em uma das suas pregações, Jesus anunciou que se salvaria somente aquele que comesse a carne e bebesse o sangue dele: 51 Eu sou o pão vivo descido do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”. 52 Os judeus começaram a discutir entre si: “Como pode esse homem nos dar de comer sua carne?” 53 Jesus lhes disse: “Na verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida (Jo.6,51-55). A afirmação de Jesus é categórica: quem se recusa a comer a carne dele e beber o seu sangue não se salvará. Se Jesus tivesse dito apenas “quem come a minha carne se salva” poderíamos dizer que este é um meio para se salvar, mas que pode haver outros. Afirmando, “quem não come a minha carne não se salvará” Jesus exclui que alguém que se recusa a comer a carne dele pode se salvar.

O anúncio feito em Jo.6, se concretiza na última ceia. Durante a ceia, Jesus deve ter comido pão e o pão que eventualmente Jesus comeu durante a ceia se tornou naturalmente, sem milagre, a carne dele. Esta carne não podia ser consumida, porque precisava passar pela morte física e formar o corpo dele ressuscitado.

No fim da ceia, Jesus pegou o pão que ainda estava na mesa e, sem consumi-lo e sem mudar-lhe a aparência, o transformou na sua própria carne (isto é o meu corpo). Fez o mesmo com o vinho, transformando-o em seu sangue (isto é o meu sangue). No anúncio da Eucaristia (Cf.Jo.6), ao falar que se salvaria somente quem comesse a sua carne e bebesse o seu sangue, Jesus suscitou repugnância e parte dos ouvintes o abandonou. Na última ceia, Jesus demonstrou que, assim como Ele tinha poder de colocar o pão em seu estômago e transformá-lo em sua carne, modificando-lhe a aparência, podia também Ele mesmo entrar no pão e no vinho transformando-os em sua própria pessoa sem mudar-lhes as aparências. Para que todos pudessem ter acesso à salvação através da Eucaristia até à volta dele, Jesus ordenou aos onze apóstolos presentes e a seus sucessores que repetissem o que Ele mesmo tinha acabado de fazer: 23 Porque recebi do Senhor o que vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão 24 e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é meu corpo, que se dá por vós; fazei isto em memória de mim” (1Cor.11,23-24).

Além de crer que Jesus é o verdadeiro Filho de Deus e, portanto, também é Deus, devemos crer em tudo aquilo que Ele falou. A fé deve levar a crer além do alcance dos olhos da carne. Os olhos não vêem diferença entre uma hóstia antes da consagração e depois da consagração, mas a convicção que Jesus é Deus deve convencer que Ele tem poder de transforma o pão e o vinho em sua própria Pessoa sem mudar-lhes as aparências.

No dia seguinte, Jesus, através da flagelação e da morte na cruz, derramou seu sangue na terra e produziu os méritos infinitos, através dos quais todos podem se salvar. O sangue foi derramado na terra e não dentro de cada pessoa. Por isto, quem quiser salvar-se deverá apoderar-se dos méritos infinitos de Jesus, derramando o sangue dele dentro de si, comendo o corpo e bebendo o sangue divino. Os méritos de Jesus estão à disposição de todos e todos são convidados e se apoderar deles, mas ninguém é obrigado a aceitá-los.

O consumo do corpo e sangue de Jesus pode salvar e pode também condenar. Para que o corpo e sangue de Jesus sejam recebidos para a salvação e necessário que o indivíduo antes se liberte dos pecados. Quem receber a Eucaristia em pecado mortal comete um sacrilégio e transforma Jesus num instrumento de condenação: 26 Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha. 27 Assim, pois, quem come o pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice; 29 pois aquele que, sem discernir o corpo [do Senhor], come e bebe, come e bebe sua própria condenação (1Cor.11,26-29). Quando o sumo sacerdote, o sinédrio, Pilatos e Judas colocaram Jesus na cruz, o transformaram num instrumento de salvação. Aquele que recebe a Eucaristia em pecado mortal transforma Jesus num instrumento de condenação. Portanto, quem recebe a Eucaristia em pecado mortal comete um pecado maior do que o pecado cometido por Pilatos ao assinar a sentença de morte de Jesus. Os eclesiásticos que distribuem sacramentos sacrílegos cometem pecado maior do que aquele que cometeram os sacerdotes de Jerusalém, os membros do sinédrio e Judas que, entregando Jesus a Pilatos, o induziram a assinar uma sentença de morte injusta: 10 Disse-lhe então Pilatos: “Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e poder para te crucificar?” 11 Jesus lhe respondeu: “Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior” (Jo.19,10-11). Perante Deus, a autoridade religiosa é superior à autoridade política. Perante Deus, o sumo sacerdote era superior a Pilatos. Quem mandou prender Jesus e o entregou a Pilatos foi o sumo sacerdote. Portanto, aquele um do alto que induziu Pilatos a assinar a sentença de morte contra Jesus e que, por isto, cometeu um pecado maior do que Pilatos foi o sumo sacerdote.

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

SEXTA FEIRA SANTA

18 / 04 / 2014

Is.52,13-53,12 / Hb.4,14-16;5,7-9 / Jo.18,1-19,42

Hoje é o dia do sofrimento: sofrimento de Jesus condenado, açoitado e pregado na cruz; sofrimento de Maria vendo o próprio filho inocente ser preso, condenado e pregado na cruz; sofrimento dos apóstolos assistindo à morte na cruz do amado Mestre. Mas Jesus a caminho da cruz avisa que o nosso sofrimento poderá ser maior do que aquele pelo qual Ele estava passando: 27 Seguia-o grande multidão de povo e de mulheres que batiam no peito e o lamentavam. 28 Voltando-se para elas, Jesus disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos. 29 Pois dias virão em que se dirá: Felizes as mulheres estéreis, os ventres que não geraram filhos e os seios que não amamentaram. 30Então começarão a pedir aos montes: caí sobre nós, e às colinas: cobri-nos! 31 Pois se isso fazem com a árvore verde, o que não acontecerá com a seca?” (Lc.23,27-31).

Os alimentos que comemos são terra que plantas ou animais transformaram em comida. Nosso corpo é feito da comida que comemos. Adão e Eva pecaram e não se arrependeram quando Deus os procurou após o pecado para perdoá-los: Adão acusou Eva e esta acusou a serpente (Cf.Gn.3,9-13). Como não pôde perdoar por falta de arrependimento, para castigar a todos, Deus amaldiçoou a terra, criando o sofrimento e a morte: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn.3,17-19).

Ao amaldiçoar a terra, Deus Pai sabia que futuramente seu Filho único, Jesus, para se encarnar precisaria assumir um corpo humano feito de terra amaldiçoada e, portanto, tornando-se também Ele amaldiçoado: 3 Era desprezado, era o refugo da humanidade, homem das dores e habituado à enfermidade; era como pessoa de quem se desvia o rosto, era amaldiçoado e não fizemos caso dele (Is.53,3); 13 Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Gl.3,13). Apesar de inocente, Jesus se submeteu ao sofrimento e à morte física para nos salvar.

Jesus advertiu que devemos nos preocupar mais com o nosso sofrimento que pode ser muito maior do que o sofrimento pelo qual Ele precisou passar (Cf.Lc.23,27-31). O sofrimento pelo qual Jesus passou é pequeno se for comparado com o sofrimento de uma alma que está se purificando no purgatório ou que está condenada no inferno. Entre a prisão de Jesus e sua morte na cruz passam aproximadamente dezoito horas. A tortura aplicada a Jesus esteve dentro dos limites da natureza humana. No momento em que o organismo não pode mais resistir, Ele morreu e o sofrimento terminou. Jesus não foi submetido a uma temperatura de dez mil graus. A alma que está se purificando no purgatório ou condenada ao inferno, não contando mais com os limites de resistência do corpo humano, pode ser submetida por Deus a uma alta temperatura por um longo tempo no purgatório ou para sempre no inferno. Por isto, segundo Jesus, devemos nos preocupar mais em nos libertar dos nossos pecados e decidir evitá-los para escapar de um sofrimento muito maior do que aquele que Ele padeceu.

Além de nos libertar e evitar os pecados, devemos tomar cuidado também para não induzir outras pessoas a pecar. Pilatos pecou gravemente ao assinar a sentença de morte de Jesus. Mas aquele que induziu Pilatos a assinar uma sentença de morte contra um inocente cometeu um pecado maior do que Pilatos: 10 Disse-lhe então Pilatos: “Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e poder para te crucificar?” 11 Jesus lhe respondeu: “Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior” (Jo.19,10,-11).

Já ouvi eclesiásticos dizerem que todo poder emana de Deus e que foi Deus que deu a Pilatos o poder de condenar Jesus. Esta interpretação está errada. Deus não deu poder a ninguém para condenar seu Filho Jesus. Perante Deus a autoridade eclesiástica é superior à autoridade política. Perante Deus, o sumo sacerdote era superior a Pilatos. Quem mandou prender Jesus e o levou a Pilatos foi o sumo sacerdote. Aquele um do alto que entregou Jesus a Pilatos e que, portanto, cometeu um pecado maior do que Pilatos é o sumo sacerdote.

Isto serve para todos. Aquele que peca por iniciativa própria ou induzido por outro se torna culpado perante Deus. Mas aquele que induz alguém a pecar comete um pecado maior que a pessoa que foi por ele induzida a pecar. Quando o papa, um cardeal, um bispo ou um padre distribui um sacramento sacrílego, quem comete o sacrilégio é a pessoa que recebe o sacramento em pecado mortal, mas o eclesiástico que induziu a pessoa a cometer o sacrilégio comete um pecado maior.

Há também a tendência a achar que o mesmo povo que gritou “hosana” durante a entrada de Jesus em Jerusalém, na sexta feira de manhã gritou “crucifica”. Isto também não está correto. Quem aclamou Jesus na entrada triunfal em Jerusalém foram os habitantes de Jerusalém e os peregrinos. O julgamento de Jesus terminou depois da meia noite. Não houve tempo suficiente para os sacerdotes e os membros do sinédrio correrem todos os acampamentos e residências de Jerusalém para convocar peregrinos e habitantes da cidade para comparecer perante o palácio de Pilatos para apoiar a condenação de Jesus. Além disso, os peregrinos e habitantes de Jerusalém eram favoráveis a Jesus e não teriam pedido a crucifixão dele. O grupo que foi até o palácio de Pilatos e gritou “crucifica” era constituído pelos familiares e empregados dos sacerdotes e dos membros do sinédrio. Os sacerdotes que serviam o templo eram vinte e quatro equipes com chefe (Cf.1Cr.24,6-18). Não se estabelece chefe para dois sacerdotes. Supondo que cada equipe tivesse dez sacerdotes daria um total de duzentos e quarenta sacerdotes. O sinédrio tinha setenta e dois membros. Total trezentos e doze homens. Na época as famílias eram numerosas: considerando dez pessoas por família, chegamos a três mil cento e doze pessoas, mais de dez por cento dos habitantes regulares de Jerusalém e arredores na época. Pilatos morava na Cesaréia e se dirigia a Jerusalém somente por ocasião das festas judaicas e não tinha condição de saber quem eram as pessoas que se aglomeraram perante o palácio para apoiar a condenação de Jesus. Quem aclamou Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém foram os habitantes e peregrinos e quem foi ao palácio de Pilatos para gritar crucifica foram os familiares dos sacerdotes e membros do sinédrio.

Durante as três horas em que Jesus ficou vivo na cruz recitou o salmo 22/21: 1Ao regente do coro. Segundo a melodia “A corça da aurora”. Salmo de Davi. 2 Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Longe estão de valer-me as palavras de meus brados. 3 Meu Deus, clamo de dia, e não respondes; de noite, e não encontro sossego (Sl.22/21). Na época, os livros bíblicos não eram numerados com capítulos e versículos como hoje. Para indicar um texto bíblico era citada uma frase. Para indicar que Jesus recitou este salmo, Mateus reproduziu a frase: 46 Pelas três da tarde, Jesus gritou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabachthani! O que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt.27,46). Este salmo é uma profecia que descreve a paixão de Jesus. O fato de Jesus recitar este salmo enquanto estava na cruz não indica que o Pai o abandonou, o que é impossível. A Trindade são três Pessoas divinas formando um Deus único e indiviso. Uma Pessoa da Santíssima Trindade nunca pode estar separada da outra. Se o Pai tivesse abandonado Jesus, enquanto durou o abandono, haveria dois Deuses, de um lado o Pai e Espírito Santo formando um Deus e na cruz Jesus formando outro Deus. Isto é absurdo.

VIGÍLIA PASCAL

19 / 04 /2014

Nove Leituras do Antigo Testamento e duas no Novo Testamento.

Com a transferência de Jacó e sua família para o Egito, Israel se tornou dependente da autoridade egípcia. Com a saída do Egito liderada por Moisés e Josué e a conquista da terra prometida que já tinha pertencido a Israel, o povo de Deus recuperou sua autonomia política. Antes de sair do Egito, os descendentes de Jacó celebraram a páscoa com a morte e consumo de um cordeiro: 5 O animal será sem defeito, um macho de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um cabrito. 6 Devereis guardá-lo fechado até o dia catorze deste mês, quando toda a comunidade de Israel reunida o imolará ao cair da tarde. 7 Tomarão um pouco do sangue e untarão a moldura da porta das casas onde comerem.8 Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas. 9 Não deveis comer dessa carne nada de cru, ou cozido em água, mas assado ao fogo, inteiro, com cabeça, pernas e vísceras. 10 Não deixareis nada para o dia seguinte. O que sobrar, devereis queimá-lo no fogo. 11 Assim o comereis: com os cintos na cintura, os pés calçados, o bordão na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa do Senhor. 12 É que nessa noite atravessarei todo o Egito, e matarei todos os primogênitos no país, desde os homens até os animais, e infligirei castigos contra todos os deuses do Egito. Eu, o Senhor (Gn.12,5-12).

O sangue do cordeiro não devia se consumido mas usado para marcar as portas das casas em que o cordeiro foi sacrificado. Deus exterminou os primogênitos de todas as famílias cujas portas da casa não estavam marcadas com o sangue do cordeiro. A vida dos primogênitos não foi salva pela carne do cordeiro que foi consumida mas pelo sangue que não foi consumido. Na páscoa celebrada no Egito o que estava em jogo não era a salvação eterna dos primogênitos mas a conservação da vida física. Todas as casas do Egito, mesmo as casas habitadas por Judeus que não aderiram a celebração da páscoa, amanheceram com o primogênito humano e animal morto. A vida física do primogênito não foi salva pela carne do cordeiro consumida mas pelo sangue que não foi consumido.

Na última ceia, Jesus sacrificou e consumiu um cordeiro com os doze apóstolos. O sangue do cordeiro animal sacrificado na última ceia não foi consumido. Mas após o consumo da carne do cordeiro, Jesus colocou à disposição dos onze apóstolos presentes o seu próprio corpo e o seu próprio sangue para serem ambos consumidos.

O cordeiro animal era apenas um símbolo do verdadeiro cordeiro. O cordeiro animal serviu para libertar o povo de Deus da escravidão política. Pelo pecado de Adão e Eva, toda a humanidade se tornou escrava de satanás. Era necessário um cordeiro capaz de libertar os seres humanos que estavam sob o domínio do demônio. Jesus é o verdadeiro cordeiro de Deus: 29 No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se e disse: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1,29).

O cordeiro animal era morto através de sangramento, portanto, através da separação da carne e do sangue do animal. Após a primeira páscoa no Egito, o sangue dos cordeiros usados na celebração da páscoa nunca mais foi aproveitado. Na última ceia, após celebrar a páscoa do Antigo Testamento, Jesus entregou aos onze apóstolos presentes o seu próprio corpo e sangue separados, fazendo uma alusão o cordeiro morto. O sangue é aproveitado e consumido. Tanto o corpo como o sangue estão vivos apesar de separados, porque não são mais sangue de um homem morto, mas de um Deus ressuscitado.

A páscoa do Antigo Testamento celebrada no Egito indicou a libertação da escravidão política no Egito. As páscoas celebradas fora do Egito eram uma recordação da libertação do Egito. A páscoa celebrada por Jesus libertou os apóstolos presentes da escravidão de satanás.

Ao morrer na cruz, Jesus perdeu a vida física mas não se separou do Pai. Foi no período em que o corpo de Jesus ficou no túmulo que a alma e a divindade dele desceram na mansão dos mortos para resgatar as almas dos justos que morreram antes dele: 19 E neste mesmo Espírito foi pregar aos espíritos que estavam na prisão (1Pr.3,19). Pelo pecado de Adão e Eva nos perdemos a imortalidade do corpo e nosso corpo foi submetido à morte física. Além da perda da vida física, perdemos também a vida eterna, isto é a salvação. O nosso corpo será recuperado no último dia. Mas a salvação deve ser recuperada durante esta vida através dos sacramentos do batismo e da Eucaristia: 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Jo.6,54).

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

DOMINGO DE PÁSCOA

20 / 04 / 2014

At.10.34ª.37-43 / Cl.3,1-4 / Jo.20,1-9

Deus criou Adão e Eva livres do sofrimento e da morte, mas os avisou que, se pecassem, seriam submetidos ao sofrimento e à morte: 15 O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e guardar. 16 O Senhor Deus deu ao homem uma ordem, dizendo: “Podes comer de todas as árvores do jardim. 17 Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque no dia em que o fizeres serás condenado a morrer” (Gn.2,15-17).

Após criar Adão, Deus soprou nele, infundindo-lhe um elemento eterno, tornando-o assim semelhante ao próprio Deus, porque Deus é eterno e homem passou a ter um elemento eterno. Jesus chama o sopro de Deus de “vida eterna”: 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Jo.6,54). Antes do sopro, Adão era uma simples criatura. Através do sopro, Deus tornou Adão filho adotivo.

Adão e Eva pecaram. Pecando, Adão e Eva perderam o sopro de Deus, a vida eterna. Posteriormente perderam também a vida física e voltaram a ser simples criaturas de Deus sem a filiação divina. Perder a vida corresponde a morrer. Portanto, Adão e Eva morreram duas vezes, pois perderam a vida eterna e a vida física. Além de morrer duas vezes, Adão e Eva e todos os seus descendentes se tornaram escravos de satanás, porque, perante Deus, não se obedece a dois senhores: 24 Ninguém pode servir a dois senhores. Pois ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e abandonará o outro (Mt.6,24ª). Obedecendo a satanás, Adão e Eva e todos os seus descendentes se tornaram escravos dele.

Nós precisamos ressuscitar duas vezes: Recuperar a vida eterna antes de perder a vida física e recuperar o corpo no último dia (ressurreição dos mortos). São Paulo pede aos colossenses que pratiquem as obras de pessoas ressuscitadas: Se fostes, pois, ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2 Pensai nas coisas do alto e não nas coisas da terra (Cl.3,1-2). São Paulo se refere a uma ressurreição que já tinha acontecido para os membros da comunidade da Tessalônica (se fostes, pois, ressuscitados).

A filiação divina adotiva é recuperada pelo batismo e a vida eterna é recuperada pela Eucaristia e é conservada enquanto a pessoa vive em estado de graça, porque o pecado mortal torna a pessoa novamente escrava de satanás sem o sopro de Deus, a vida eterna.

Após ter recuperado a filiação divina pelo batismo e a vida eterna pela Eucaristia devemos concentrar nossos esforços para evitar o pecado e chegar até à morte em estado de graça. Não há necessidade de nos preocupar com a recuperação do corpo, a ressurreição do último dia, porque a ressurreição da carne acontecerá automaticamente para todos, bons e maus: 28 Não vos admireis, porque vem a hora em que todos os que estão mortos ouvirão sua voz. 29 Os que praticaram o bem sairão dos túmulos para a ressurreição da vida; os que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados (Jo.5,28-29).

Jesus anunciou a sua própria ressurreição no terceiro dia após a morte. Mas os discípulos acreditaram somente quando viram o túmulo vazio: 8 O outro discípulo que chegou primeiro entrou também, viu e creu. 9 De fato, eles ainda não se haviam dado conta da Escritura, segundo a qual era preciso que Jesus ressuscitasse dos mortos (Jo.20,8-9). Além de ver o túmulo vazio, os discípulos em seguida viram o próprio Jesus que lhes apareceu com freqüência durante quarenta dias. Se esperarmos até ver o próprio Jesus para crer seremos condenados.

Após constatar a ressurreição, os discípulos consagraram a vida ao anúncio do Evangelho. Se acreditamos na ressurreição de Jesus e na ressurreição do nosso corpo no último dia, devemos mudar para adaptar a nossa vida às exigências do Evangelho para ressuscitar para a glória e não para a condenação: 28 Não vos admireis, porque vem a hora em que todos os que estão mortos ouvirão sua voz. 29 Os que praticaram o bem sairão dos túmulos para a ressurreição da vida; os que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados (Jo.5,28-29).

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Ângelo Busnardo
Enviado por Joanne em 14/04/2014
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