ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A ORAÇÃO.

"Nada há mais poderoso do que um homem que reza”

(São João Crisóstomo)

São Paulo apóstolo em suas cartas exorta os fiéis por diversas vezes sobre o poder e a necessidade da oração na vida do cristão. Aos Efésios ele escreve:

”Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos. (Ef 6,18)

Em sua primeira carta aos Tessalonicenses S. Paulo exorta: “Orai sem cessar”. (I Tess 5,17). Ou seja, a oração do cristão deve ser constante, em todas as circunstancias. Em resumo, o cristão deve ter uma vida de oração.

São Tiago demonstra como a oração do justo é eficaz, e exorta aos fiéis a orarem uns pelos outros ao escrever:

“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia. Elias era um homem pobre como nós e orou com fervor para que não chovesse sobre a terra, e por três anos e seis meses não choveu. Orou de novo, e o céu deu chuva, e a terra deu o seu fruto. (Tg 5,17-18)

O próprio Senhor Jesus Cristo ensinou-nos como rezar, fato este que demonstra a necessidade da oração. Não foi a toa que o Senhor exortou: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26,41)

“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” ( Mt 6,7-13)

Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja (século IV) em seu “Do tratado sobre Caim e Abel”, faz uma pertinente reflexão sobre o que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina no trecho do Evangelho supracitado:

“(...) orar com insistência e repetidamente; não em prece fastigiosa pela duração, mas continuada pela frequência (...) Entra em teu quarto. Não entendas, porém, um quarto cercado por paredes, onde teu corpo fica fechado, mas o quarto que existe dentro de ti, onde são encerrados os teus pensamentos, onde moram teus sentimentos. Este quarto de tua oração em toda parte está contigo, em toda parte é secreto, sem outro juiz que não Deus só.” (In: AQUINO, Felipe. Alimento Sólido, p. 50)

Nosso Senhor Jesus Cristo nos impulsiona a pedir aquilo que necessitamos, são diversos os exemplos em que o Cristo mesmo ciente daquilo que pedinte necessita, quer que o mesmo expresse a sua necessidade. Como por exemplo os casos do cego Bartimeu (cf. Mc 10, 46-52) e da mulher cananéia (Mt 15,22-28). Por isso que Jesus nos ensina:

“Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.”(Mt 7,8-9)

Entretanto, nós seres humanos de natureza debilitada e vontades desvirtuadas muitas vezes pedimos algo -- que Deus o sabe e nós ignoramos -- que não nos será um bem, mas pelo contrário um mal, por isso, muitas vezes a nossa oração, o nosso pedido não é correspondido, por mais incompreensível que humanamente nos pareça. Assim, escreve São Tiago: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões.” (Tg 4,3).

São Basílio comentando as palavras de São Tiago ensina:

“Pedes e não recebes, por que tua oração foi mal feita ou sem fé, sem, devoção ou desejo; ou porque pediste coisa que não se referia a tua salvação eterna, ou pediste sem perseverança” (In: LIGÓRIO, Afonso Maria de. A Oração, p.57).

São Tomás de Aquino, destaca 4 (quatro) condições essenciais para que a oração seja frutuosa:

1 – Peça para si.

São Tomás julgava que “ninguém pode impetrar para os outros, como mérito de Justiça, a vida eterna e as graças necessárias para a salvação”, pois segundo ele, a promessa é para os que rezam por si: “dar-se- vos-a” (cf. Lc 11,9). Tal ensino não é dogmático. Muitos Santos e Doutores ensinam o contrário embasados nas Escrituras, a exemplo de São Basílio, Santo Agostinho e São Beda que citam a carta de S. Tiago (5,16); o Evangelho (Mt 5,4) e a 1ª Carta de São João (5,16).

2 – Coisa necessária a Salvação.

Corroborando com S. Tomás, Santo Agostinho analisando as palavras de Jesus (cf. Jo 14,13 ) afirma que “não se pede em nome do Salvador, o que é contrário aos interesses de nossa salvação”.

3 – Com devoção.

S. Tomás quer indicar com essa condição que se deve orar com humildade e confiança.

4 – Com perseverança.

Na última condição, sublinha S. Tomás “que não se deixar de rezar até a morte”. É o “orar sem cessar” que São Paulo recomenda (cf. I Tess 5,17).

Assim, pedindo por nós e por nossos amigos e inimigos, pela salvação, com devoção (cf. Mt 8,13) e perseverança estaremos trilhando o caminho da oração que pode obter da divina misericórdia numerosos frutos. Por isso ensina São Bernardo:

“A divina misericórdia é uma fonte imensa; e nos apanhamos as graças com os vasos da confiança; quem vier com um vaso maior poderá tirar maior número de graças” (In: LIGÓRIO, Afonso Maria de. A Oração, p.73)

Seja-nos manifestada, Senhor, a vossa misericórdia, como a esperamos de vós. (Sl 32,22)

Deve-se orar com fé e perseverança (cf. Hb 11,6; Rm 15,4; Hb 10,36), não como o homem que vacila (cf. Tg 1,5-8).

“Ah! Como é grande e poderosa a oração! Dois pecadores no alto do calvário morrem ao lado de Jesus. Um se salva por que reza, outro se perde porque não reza!” (LIGÓRIO, Afonso Maria de. A Oração, p.82)

Possa essa pequena reflexão sobre a oração ajudar a quem a mesma recorrer, ao passo que me recomendo à oração de todos!

In caritate Christi,

Leandro.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Felipe. Alimento Sólido. Ed. Canção Nova, 2005.

Bíblia Sagrada. Edição Ave Maria.

LIGÓRIO, Afonso Maria de. A Oração. Ed. Santuário, 1992.

Leandro Martins de Jesus
Enviado por Leandro Martins de Jesus em 18/08/2014
Código do texto: T4928165
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