O CRISTIANISMO E A MULHER

Houve um tempo em que a mulher foi celebrada como deusa, pois tirar de dentro dela um bebê era visto como algo mágico. No início do Neolítico (10 mil anos A.C.), ela perde o status de deusa assim que o homem descobre que tem participação na fecundação. Ao tornar-se sedentário, ele observa que só procriam as ovelhas que têm um macho ao lado. Deveria ser assim também com eles, os humanos. A partir daí, o poder masculino se instaura e começa o período patriarcal. Os interditos sexuais sempre são mais pesados para a mulher.

Na Antiguidade, o adultério era condenado, mas a carga maior de castigo recaía sempre sobre a mulher. Na Suméria, no Egito, na Babilônia, a adúltera sofria mutilação do nariz ou era amarrada e jogada em um rio. O judaísmo cuidou para que a pena fosse mais severa. A adúltera era morta a pedradas junto com seu amante.

Mas Jesus corajosamente vai contra a Lei mosaica e impede que uma adúltera seja apedrejada pela multidão (João 8,1).

Para a Igreja, o Antigo Testamento também foi inspirado, e de acordo com o profeta Isaías, a palavra de Deus é para sempre (Isaías 40,8) e Jesus confirma (Mateus 5,17). O que segue está no Antigo Testamento, portanto, deveria valer para nossos dias:

Encomendar uma noiva: “15 shekels” (Oséias 3,2). Um cavalo do Egito: 150 shekels (2 Crônicas 1,17). Quanto estaria valendo uma noiva hoje, em reais?

Algumas vezes os apóstolos Paulo e Pedro ensinaram o respeito à mulher:

“Os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.” (Efésios, 5 28).

“Maridos, amai as vossas mulheres e não as trateis com aspereza.” (Colossenses, 3, 19).

Infelizmente, os trechos em que esses dois apóstolos tornam a vida da mulher mais pesada são mais frequentes:

“Penso que seria bom ao homem não tocar mulher alguma. (I Coríntios, 7,1).

“O homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem; nem foi o homem criado para a mulher, mas sim a mulher para o homem.”( I Coríntios, 11, 8).

“Não permito à mulher que ensine nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio. E não foi Adão que se deixou iludir, e sim a mulher que, enganada, se tornou culpada de transgressão” (I Timóteo, 2, 12).

Os santos da Igreja, influenciados pelo helenismo, cuidaram de deixar para a posteridade palavras ainda menos honrosas para as filhas de Eva.

Santo Agostinho escreveu:

"É Eva, a tentadora, que devemos ver em toda mulher...Não consigo ver que utilidade a mulher tem para o homem, tirando a função de ter filhos".

São Tomás de Aquino:

"A mulher é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito [...] A mulher é defeituosa e bastarda” (Summa Theologica, Q92, art. 1, Reply Obj. 1)

Para outro santo, Alberto Magno, "A mulher é menos qualificada do que o homem para um comportamento ético”.

O franciscano Nicolo de Osino, em 1444, avisa que “o ato dos cônjuges só está isento de pecado se entre eles não houver o prazer da volúpia”. Creio que é bem complicado para o homem ter ereção e realizar o ato se não estiver excitado.

São Odo de Cluny, monge beneditino, 1030-1097:

"Abraçar uma mulher é como abraçar um saco de esterco".

Martinho Lutero ajudou a criar a ideia de que mulher é frágil e menos capaz que o homem:

“As palavras e atos de Deus são bem claros: as mulheres foram feitas para ser esposas ou prostitutas.”

A situação da mulher no Ocidente começou a melhorar somente a partir de meados do século vinte. Ela começou a conquistar espaço no mercado de trabalho, mais liberdade para sair e se divertir, e pôde decidir quantos filhos queria com o advento da pílula. Mas ainda falta muito para ela ter os mesmos direitos do homem. A sociedade queira ou não, ainda caminha pelas mãos da moral judaico-cristã. Temos um embate entre os liberais e os conservadores: os primeiros desejam que a mulher tenha mais conquistas, os segundos que ela seja mais recatada, conforme pede a Igreja.

Há apenas duzentos anos os primeiros psiquiatras incentivados pelos pais da menina e pelos padres, queimavam o clitóris dela para que ela deixasse de sentir prazer. Freud, mil e seiscentos anos depois de Agostinho, nos livrou da ideia do pecado. A psicologia moderna diz que o sexo é benéfico para a saúde. Mas por causa da moral religiosa, a mulher ainda precisa da desculpa do amor pra fazer sexo.