AS FONTES PARA A CONFECÇÃO DA BÍBLIA E OUTROS CONCEITOS CRISTÃOS

Ninguém gosta de ser enganado. No entanto, o mundo cristão vem sendo enganado há séculos com aquilo que os especialistas em estudos bíblicos chamam de “a maior mentira da história da humanidade”, isto é, a propagação da ideia de que a Bíblia é a palavra de Deus. Não é. A Bíblia é uma obra humana somente. Entre vários livros que comprovam essa afirmação, sugiro a leitura de “A Bíblia não tinha razão” dos arqueólogos Israel Finkelstein e Neil Ascher.

É óbvio que a Igreja jamais vai querer refutar a autoridade bíblica, pois é ela que sustenta seus dogmas e seu poder no mundo. Infelizmente, a maioria dos cristãos desconhece o processo que levou a confecção da Bíblia, e como as histórias ali contadas (algumas reais, outras manipuladas, e outras inventadas) foram reunidas.

Muitos eruditos têm desde o século 18 apontado para as fontes de onde os escritores bíblicos retiraram material para construir a narrativa das Sagradas Escrituras.

Vou fazer um resumo para que o cristão que se interessar, possa se aprofundar no tema. Antes uma observação: o fato da Bíblia não ser a palavra de Deus, não quer dizer que Deus não exista. Deixo a critério de cada um fazer seu próprio julgamento.

1. Deus entrega a Moisés os dez mandamentos (Êxodo 20,1).

A tradição sumeriana já relatava o caso do rei Ur-Engur, autor do “pai dos códigos” (2.050 a.C.). Ele registra um conjunto de leis entregue por Shamash, um deus importante dos sumérios. No século 17 a.C., é a vez do rei Hamurabi entregar outro código com assinatura de um deus. Esses reis sabiam que outorgando a autoria para um deus, o povo seguiria com mais respeito aquelas leis.

2. Deus escolhe o povo judeu como seu preferido (Êxodo 6,7).

Sumérios, babilônicos, egípcios, chineses também se autoproclamavam povos escolhidos por Deus.

3. Deus vai castigar quem não seguir seus estatutos (Deuteronômio 28,15). A tática dos antigos sacerdotes era prometer recompensas para quem seguisse sua doutrina e castigos para os insurgentes. O escritor bíblico foi influenciado sobretudo pelo código de Hamurabi. Eis um trecho:

“Se tal governante tiver sabedoria e for capaz de manter a ordem nesta terra, ele deverá observar as palavras que tenho escrito nesta inscrição (...) Se este governante não tiver alta conta minhas palavras...que o grande Deus Anu, o pai dos deuses, que ordenou que eu governasse, retire deste homem a glória da realeza, que Ele quebre o cetro deste rei, e amaldiçoe seu destino.”

Para que Jesus fosse aceito em terras pagãs seus seguidores criaram uma biografia semelhante aos deuses daquelas terras. Sem esses atributos, dificilmente conquistariam os corações pagãos. Vamos ver algumas lendas que ajudaram na biografia de Jesus:

4. Jesus nasce de uma mulher mortal fecundada por Deus (Mateus 1,18). Grécia: Hércules, Dionísio, Alcipe, Ascálafo, Flégias, Asclépio, Perseu, etc. Pérsia: Zoroastro. Índia: Krishna. Todos nascidos da união de uma mortal com um deus.

5. Jesus ressuscita Lázaro (João 11,1). O deus Asclépio na Grécia era famoso por ressuscitar mortos.

6. Maria, a mãe do Salvador sobe direto ao céu. Não está na Bíblia. Essa doutrina é um dogma criado pelo papa Pio XII em 1 de novembro de 1950 na constituição apostólica Munificentissimus. A mãe de Buda subiu aos céus dos trinta e três devas – deuses situados entre os deuses maiores e os homens, algo semelhante aos anjos da doutrina católica.

7. Jesus morre, ressuscita, sobe ao céu, onde vai julgar os mortos, e separar os bons dos maus. Alguns deuses que tinham essas características: Osíris (Egito), Krishna (Índia), Mitra (Roma), Tamuz (Suméria), que morre crucificado, levanta-se do túmulo e o deixa vazio. Belém era o centro do culto desse deus, que ressuscita ao terceiro dia.

8. Céu e inferno. A Bíblia descreve o céu como o lugar para onde vão os que creem em Jesus, e o inferno como um lugar de terríveis castigos para quem não crê em Jesus. Esses conceitos já haviam entre sumérios, egípcios, babilônicos, gregos. O narrador cristão apenas o adaptou para sua doutrina. Segundo os especialistas, a ideia de um prêmio e castigo após a morte já existia entre os antigos mesopotâmicos. Era uma boa fórmula de manter o povo quieto e obediente.

9. Santíssima trindade. Conceito que torna Deus, Jesus e o Espírito Santo a mesma pessoa. Essa ideia não está expressa na Bíblia, foi um dogma criado no Concílio de Constantinopla (381 da era cristã), com objetivo de imitar outras tradições: no panteão do hinduísmo, Brahma, Vishnu e Shiva formam a divindade trina. A trindade mais conhecida no reino egípcio é Osíris, Ísis e Hórus. O templo de Upssala era ocupado pelos deuses Odin, Thor e Frey, segundo a lenda escandinava.

Conclusão. Devemos ter um olhar crítico ao ler a Bíblia. Ela possui bons ensinamentos, mas por outro lado, contém regras e conselhos que se alguém seguir hoje, ou vai preso ou será internado como louco. O pai que obedecer a lei imposta em Deuteronômio 21,18 e matar o filho que bebe exageradamente irá para a cadeia. O cristão que seguir o conselho registrado em Mateus 5,30 e cortar mão porque pecou será objeto de estudos psiquiátricos.