RELIGIÃO UNE OU DIVIDE?

Para José Saramago “As religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos. As religiões serviram sempre para dividir”. Obviamente, o exagero do escritor e vencedor do Nobel de Literatura é um recurso de retórica. A religião, claro, também pode unir pessoas e promover ações benéficas ao mundo.

Porém, é fácil perceber que a religião, em certos períodos da História, mais separou que uniu. Hoje, infelizmente, não mudou muito. E essa divisão já começa a ser percebida nos alicerces que sustentarão o edifício religioso. As grandes religiões que chegaram até nossos dias têm a seguinte máxima: “siga-nos ou será castigado.” É a mesma fórmula dos antigos imperadores; mas, em vez de seguir um homem de carne e osso, o devoto deve prestar obediência a um ente invisível, que fala por meio de porta-vozes.

Tomemos como exemplo o cristianismo e algumas frases atribuídas ao seu fundador (digo “atribuídas” porque os textos originais do N.T. perderam-se no tempo, e as versões atuais são cópias de outras dezenas de cópias, que contêm segundo os estudiosos, milhares de diferenças entre si):

“Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado" (Marcos 16,15).

“Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai” (Mateus 10,33).

“Vós sois meus amigos, se praticais o que Eu vos mando” (João 15, 14).

Ou seja, só quem for batizado, seguir o que Jesus propõe e crer em sua divindade vai para o céu. Você é uma pessoa boa, mas não passou pela pia batismal, e segue outro deus ou nenhum? Inferno.

Cristãos mais piedosos dizem que devemos entender o contexto da época. Que na verdade, Jesus não condena ninguém (João 12,47). Mas no mesmo livro lemos que: “Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho.” (João 5,22). Que versículo diz a verdade?

Somos informados ainda que Deus ama a todos igualmente e é dever de todo bom cristão amar seu próximo. Mas experimente falar ao seu amigo que não crê no Deus dele. Claro, muitos não vão se importar, mas haverá outros que provavelmente se afastarão de você.

A religião costuma unir quem pertence ao mesmo credo, mas nem sempre. Dou três exemplos: as rixas entre católicos e evangélicos no Brasil; os conflitos sangrentos na Irlanda do Norte entre católicos e protestantes; e sunitas e xiitas no Oriente Médio.

A intolerância de muitos religiosos com aqueles que não pertencem a sua fé e o desejo recalcitrante de que todos sigam os mesmos códigos comportamentais e morais que eles acham corretos estão entre os principais fatores de haver guerras e sofrimento pelo mundo.

Torna-se urgente que os líderes religiosos que amam a paz e a liberdade convençam as novas gerações a respeitar os que não seguem a mesma fé, porque mais importante do que crer, é ser um ser humano melhor que contribua para um mundo mais justo e feliz.