Uma breve análise da Reforma Protestante

Cristiano Batista dos Santos. Jornalista*

No dia trinta e um de outubro próximo passado, um dos eventos que revolucionaram a história da humanidade completou 497 anos, refiro-me a reforma protestante, inaugurado por Martinho Lutero que era um Monge alemão, além de doutor e professor de teologia na Universidade de Wittenberg onde publicou as 95 teses, na porta da Catedral do Palácio de Winttemberg, na Alemanha em 31 em outubro de 1517.

Para entendermos as motivações da reforma, primeiramente precisamos entender qual era a realidade da Europa dos séculos XV e XVI. O reverendo Kenneth Wieske disse: “Três tipos de ansiedade estavam presentes na Idade Média: morte, culpa e perda de sentido. Estes sintomas tinham causas profundas, que começavam com a intensa crise agrária e se intensificavam com as pestes que devastaram pelo menos um terço da população europeia”. A igreja católica romana tomou proveito desta situação para expandir seu domínio religioso e político.

Entre os muitos abusos do catolicismo medieval, encontrava-se o abuso papal, com a implementação de um complexo sistema de penitências visando lucro e não o arrependimento. Foi nessa época que o padre Johann Tetzel teve uma missão especial. Ele ia por todos os lugares falando “em nome de Deus e do Papa” dizendo: “Venham comprar este pedaço de papel, um documento que garante perdão a todos os seus pecados e, assim, terão acesso ao céu. Além disso, poderão comprá-lo para toda família e para pessoas que até já morreram. Se você gostava muito de seu avô que já morreu, isso poderá livrá-lo do purgatório”.

Entretanto, o movimento reformista (pré-reforma) teve início no século XIV na Inglaterra com o monge da Igreja Romana, John Wyclif (1324-1384), entre outros. Depois que leu os manuscritos das Escrituras Sagradas, identificou vários dogmas que estavam em desacordo com aqueles textos sagrados. Traduziu da Vulgata (Texto em latim – tradução inicial de Agostinho no Século IV) para o Inglês e passou a distribuir para a população. Contou com o apoio e ajuda de parentes, amigos e religiosos seguidores da nova idéia, tais como, Tindale, João Hus, Jerônimo Savonarola e Perckinton. Tinham como lema: Sola Scriptura, Sola Gratia e Sola Fide, conclamando, pois, ao retorno dos princípios da Igreja Primitiva, Igreja dos Apóstolos.

Em Genebra surgiu um jovem francês de nascimento chamado João Calvino que desenvolveu as ideias reformistas de forma muito concreta, criando o Conselho de Presbíteros ou Consistório, eleito pelo Conselho de Genebra. Daí surgiu a nova Igreja Protestante Reformada que logo se espalhou pela Europa, mais tarde pela América do Norte e Brasil.

A primeira tentativa de implantação da nova fé em terras brasileiras ocorreu, ainda no século XVI, quando uma expedição de obreiros e pastores da doutrina calvinista protestante reformada comandada por Nícolas Durand de Villegaignon que ao chegar em terras brasileiras traiu os protestantes e os executou, quase todos, barbaramente, na Baía da Guanabara.

Pois bem, o resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu.

Pois bem, então, podemos dizer que a Reforma Protestante é um marco histórico não só no contexto religioso, mas também no político, social e econômico da Europa e mais tarde do mundo. Este início de um novo tempo não veio sem derramamento de sangue, mas com mortes e perdas irreparáveis, com destruição e aniquilação de inocentes; muitos dos personagens desta história real não tiveram seus nomes escritos em nenhum livro, em nenhum lugar se ouviu falar deles. Tivemos muitos valentes lutando contra covardes que detinham o poder, alguns são conhecidos outros simplesmente “não existem”. Famílias inteiras destruídas, casas queimadas, torturas, massacres, tudo isso por amor ao Grande Arquiteto do Universo -o Deus Todo Poderoso- e a sua evidentemente Palavra.

Os frutos conquistados pelos reformadores são por nós vividos a cada reunião em nossas igrejas onde temos a oportunidade louvar a adorar o Senhor dos senhores com liberdade e de ter a Sagrada Escritura em nossa própria língua, hoje podemos impingir a palavra do Eterno como ela é, viva, eficaz, e como disse o santo apostolo Paulo “o poder de Deus para salvação de aquele que crê”.

Que esse trabalho/texto possa trazer um novo ânimo a sua vida mística, que através do exemplo dado por nossos irmãos do passado venhamos a querer uma igreja guiada pelas Escrituras e não por costumes, tradições ou dogmas totalmente gerados por mentes perniciosas. O que trataremos aqui não é ficção ou um comentário tendencioso dos fatos, mas sim a veracidade outrora oculta, mas que a cada dia vem à tona quando alguém se empenha em descrever os eventos heroicos que muitas vezes se assemelham às estórias dos trovadores por terem como personagens principais mocinhos e bandidos.

A reforma protestante não foi algo que veio de repente ou de uma só vez, muito pelo contrário, o processo para chegar até ela foi doloroso e lento, porém incessante. Para entender os porquês da reforma se faz necessário olharmos para igreja desde sua época Apostólica até mais precisamente o ano 1000 d.C. onde o poder papal havia chegado ao seu clímax.

Desde a morte do santo apóstolo João (100 d.C.) iniciou‐se o período das perseguições que durou até o ano 313 d.C. isso não quer dizer que antes não houve perseguições, muito pelo contrário, no governo de Nero o imperador (54 a 68 d.C.) houve uma perseguição muito grande devido ele ter atribuído aos cristãos a culpa do incêndio em Roma, isso desencadeou uma verdadeira caçada a todo aquele que se dizia seguidor dos ensinos de Cristo; sob sua ordem o santo apóstolo Paulo foi executado. Após Nero, já sob o governo de Vespasiano (69 a 79 d.C.) Jerusalém foi invadida por seu filho Tito que mais tarde se tornou imperador no lugar de seu pai. A invasão de Tito custou muitas vidas e inclusive a destruição do Templo de Jerusalém.

Domiciano (81 a 96 d.C.) foi o imperador que exilou o santo apóstolo João mandando‐o para ilha de Patmos onde teve as visões e revelações contidas o livro de Apocalipse, este também perseguiu os cristãos de uma forma violenta. Todas estas são ainda na fase Apostólica a que veio a seguir ficou conhecida como “a fase das perseguições” (100 a 313 d.C.). Neste período houve doze perseguições, mas a igreja cresceu e se expandiu rapidamente entre 98 d.C. e 161d.C. A partir de 162d.C. a perseguição continuou, porém com alguns períodos de tolerância, já não eram caçados, eram mortos apenas quando denunciados. De todo o período a maior de todas se deu sob o governo do imperador Diocleciano, este foi implacável e incansável em tentar destruir os cristãos, homem mal e sem escrúpulos aniquilou comunidades cristãs inteiras.

Quando em 313d.C. o imperador Constantino filho de Constâncio Cloro entra em batalha contra Maxêncio que disputava o trono imperial com ele, seu exército era pequeno e despreparado vendo que não tinha chances de vencer começa orar ao Eterno Deus quando tem uma suposta visão de uma cruz que tinha uma inscrição “in hoc signo vinces” que significa “por este sinal vencereis” revestido de confiança lutou bravamente, Maxêncio morreu afogado no rio Tibre e seu exército foi vencido.

Declarando o edito de Milão trouxe a liberdade religiosa e proteção aos líderes eclesiásticos e também combateu a morte de escravos por seus senhores, o adultério como também o concubinato. Em 325 convocou o Concílio de Nicéia. Mesmo tendo exortado por diversas vezes seus súditos a serem cristãos, no fim de sua vida retornou ao arianismo.

Em 366 d.C. o imperador Valentiniano (governou de 364 a 375) declarou “a supremacia da jurisdição eclesiástica de Roma”, mas foi somente por volta de 379 d.C. que o imperador Flávio Teodósio declarou o cristianismo como religião oficial do império Romano. Em 381 convocou o concílio de Constantinopla que reafirmou as doutrinas estabelecidas no concílio de Nicéia e também a decisão de tratar o arianismo como heresia.

Após o cristianismo ser oficializado iniciou‐se uma paganização acelerada na igreja, apesar de que isso já começara por volta de 251 d.C. quando a igreja de Roma já não ensinava sobre a justificação pela fé, mas sim pelas obras. O que viria a seguir seria a degeneração dos conceitos bíblicos que seriam substituídos por dogmas e tradições criadas pelos homens.

Os papas nem sempre tiveram o poder que detinham durante a idade média alta e baixa, nos primeiros quase quinhentos anos de história da cristandade a igreja era controlada por bispos que na sua maioria não tinha a menor pretensão de ser o líder absoluto da igreja. Os primeiros vultos de tentativa de colocar a igreja de Roma como a chefe das outras surgiram a partir de 164 d.C. com Anicleto bispo da igreja de Roma, este queria que a data da celebração da páscoa fosse mudada. A partir disso todos os bispos romanos seguintes começaram a requerer para si autoridade diferenciada, ou seja, mais poder que os outros por estar na capital do império romano.

Foi somente em 455 que o bispo de Roma chegaria à liderança total da igreja sob o título de papa (pai). Com o apoio do imperador Valentiniano tudo ficara mais fácil para obter a supremacia, é claro que tudo não passava de um jogo de interesses já que a partir daí os cargos eclesiásticos eram de total influência na política.

Teodósio foi o último imperador a dominar sob o império em sua totalidade, pois o dividiu em dois formando o império do ocidente cuja capital era Roma, e o do oriente com capital em Constantinopla, hoje Istambul. Com a queda do império Romano ocidental em 476, ficaram ainda alguns fragmentos de seu governo em Roma, servindo de base para o desenvolvimento do poderio papal dentro do Cristianismo que chega a seu auge com a virada do milênio.

A Europa sofria muitas dificuldades devidas tantas guerras contra os bárbaros que eram uma ameaça constante, o povo gemia diante dos reflexos de alianças feitas pelo clero e imperadores, o feudalismo desde o século IX dominava todo o continente e o povo era massacrado. A expectativa de vida era pequenas demais devidos o trabalho forçado, tantas enfermidades e epidemias que assolavam o mundo da época, um homem morria geralmente por volta de 30 anos enquanto as mulheres não duravam nem isso, a cada 100 crianças que nasciam vivas 45 destas morriam ainda na infância, no entanto, o que pode parecer contradição, o crescimento demográfico começava a se avolumar, em 1050 o mundo tinha a média de 46 milhões de pessoas, duzentos e cinquenta anos depois era de 73 milhões. Com este início de crescimento populacional se fez necessário um desenvolvimento de técnicas agrícolas para aumentar a produção e atender a demanda.

O papado vinha numa evolução de poder muito grande e chega ao início do ano 1000 com o papa Hidelbrando que defendia com todas as forças o absolutismo papal, este trouxe ao papado sua “Idade Áurea” que durou de 1049 a 1294. Em 1054 acontece à divisão da igreja no chamado Cisma do oriente onde ouve a mútua excomunhão entre Miguel Cerulário e o papa Leão IX gerando o surgimento da igreja grega e a latina.

O novo milênio começara e logo nos seus primeiros séculos o mundo era dominado por papas terríveis, dentre os quais Inocêncio III (1198 a 1216) que se denominou “vigário de Cristo” e ainda disse: “todas as coisas na terra, no céu e no inferno estão sujeitas ao vigário de Cristo”. Crimes de simonia, que era a venda de cargos eclesiásticos, prostituição, abortos, assassinatos, mentira, luxúria etc. são palavras que não conseguem descrever os feitos papais e de seu clero.

O mundo poderia permanecer desta forma por muito tempo não fosse à determinação dentro de um propósito estabelecido pelo o Grande Arquiteto do Universo sob os quais muitos homens levantaram a bandeira da luta contra todas essas forças opressoras, a terrível usurpação de poder do papado e toda forma de política que esmagava a minoria começaram a ser combatidas, já que todo o clero tinha os camponeses nas mãos devidos pregarem todo tipo de “condenação vinda do Eterno Deus” a aqueles que tentassem desobedecer as suas ordens. Surgem então movimentos mais tarde chamados de “Pré‐reformistas” que ascenderam uma chama em muitos corações que desejavam ardentemente por mudanças, libertação física e principalmente a mística.

*Cristiano Batista dos Santos. Além de Jornalista. Arbitro de Direito. Teólogo. Bacharelando em Direito, pela Faculdade Estácio FASE.

Cristiano Batista dos Santos
Enviado por Cristiano Batista dos Santos em 15/12/2014
Código do texto: T5070631
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