REFLEXÕES

Uma coisa que sempre costumo dizer é que não há lógica em seguir qualquer caminho se este não nos levar a uma maior espiritualização, paz, tranquilidade, harmonia e aceitação de nós mesmos.

Quando paramos de buscar é porque estamos mortos dentro de nós mesmos. É da nossa natureza essa busca, esse encontro com o “algo mais” do qual somos parte integrante. Este entendimento de que fazemos parte de algo maior está iminentemente intrincado em nosso espírito. Mas, qual o caminho é o apropriado? Como percorrê-lo?

Uma das primeiras coisas que aprendi na Bruxaria foi o fato de que se o que nós procuramos não se encontrar em nosso íntimo de forma alguma poderemos encontrá-lo em nosso exterior.

Não adianta ter coleções de títulos e iniciações, fazer parte desta ou daquela tradição (renomada ou não), ser iniciado pelo sacerdote fulano de tal, ter linhagem etc.

Meus queridos(as), se não for o seu momento, se sua busca não for sincera, se não estiverdes preparados e dispostos para encararem a si mesmos, suas virtudes, seus defeitos, traços de cárater positivos ou não, de nada adiantará a vossa casca e, aí estendo o comentário, não somente a bruxaria, mas a todos os caminhos e sendas.

O caminho da Bruxaria, é um caminho de auto-conhecimento, de auto-aceitação, que exige que o caminhante, se conheça verdadeiramente, que aceite suas imperfeições (não que se acomode a elas), é um caminho de busca por equilibrio, uma religiosidade voltada ao encontro de si mesmo, a detecção de nossas falhas, de nossas imperfeições. É simplesmente impossível caminhar nessa senda sem equilibrio harmonioso conosco, com o nosso próximo e com a natureza que nos cerca e nos deu origem e, este equilibrio só se atinge quando se conhece, aceita e transforma. Aí, sim, estaremos aptos a de fato nos ligarmos e alinharmos ao todo.

Eu tenho visto, muitas e muitas pessoas reduzindo a Bruxaria e até mesmo a Wicca ou Wica, a um conceito simplista ecologicamente correto, mas a bruxaria não é somente isso.

Quando nos referimos ao alinhamento aos ciclos da natureza, muitos reduzem esse conceito a compreenção das estações do ano, ao trato com os animais, com a terra, ao engajamento em causas ecológicas, à defesa pelos direitos dos animais... Isto tudo faz parte sim, mas esquecemo-nos de nossa própria natureza (principalmente a interna), esta que é conhecida e guardada por nós a sete chaves e por muitas vezes escondida convenientemente por máscaras e faces que são mais convenientemente aceitas na sociedade ou grupo em que vivemos.

Creio que é justamente aí que o nosso caminho deve começar a ser percorrido.

Se não nos encaramos como de fato somos, não nos conhecemos (ou fingimos não nos conhecer), se não adquirimos uma postura transformadora inicialmente em nosso interior, de nada adianta conhecermos profundamente os significados da Roda do Ano, os conceitos, bases, ritualística, se reduzimos estes conhecimentos apenas a nível cultural ou a uma prática superficial.

A bruxaria é prática, é experimentação, é vida, é busca sincera, aperfeiçoamento constante. Quando digo prática não estou me referindo somente a prática da magia, a rituais, feitiços, encantamentos... Me refiro a por em prática as Leis e os conceitos que recebemos e percebemos através desta “ligação” com o TODO, a “Grande Teia Cósmica” que liga todos os seres.

Para que aja esta verdadeira interação é preciso que em primeiro lugar estejamos inteirados de nossa própria natureza, singular, única, interna. Como nos ligaremos ao Todo se não tivermos exata consciência de quem somos e como somos? Como honrar os nossos ancestrais se não nos conhecemos ou nos escondemos atrás do que é mais conveniente que sejamos?

Muito escuto e leio em discussões virtuais sobre as Tradições A, B e C, sobre “VERDADES” de alguns “sábios” - Verdadeiros Doutores da Bruxaria, mas pouco vejo acerca do destaque e da ênfase na busca pelo auto-conhecimento, auto-aceitação, transformação, equilíbrio e responsabilidade.

Vejo diariamente, muitas receitas de rituais disso ou daquilo, dicas de “feitiços, magias e poções”, mas, em raríssimas ocasiões tenho o prazer de ler sobre a responsabilidade e seriedade deste caminho.

Tive contato com muitos buscadores que mesmo ainda apegados ao Deus Cristão e a esta filosofia participando de “rituais” e pior querendo discutir o que é bruxaria e o que não é, se deve-se Rodar pela Sul, Norte ou Mista, sem nem sequer conhecer o real significado e simbologias destes rituais. Todos os dias, vejo, pseudo-bruxos se auto-intitulando doutores, outros escancaradamente (Principalmente no meio virtual) prometendo iniciações em dois ou três meses, outros ainda vendendo estas iniciações e sendo aceitos em nosso meio virtual “sério e respeitoso” como verdadeiros bruxos, sacerdotes, sábios e respeitosos (as).

Neste momento, eu como sacerdotisa me questiono: Quem de fato são os responsáveis por isto? Qual é a nossa real função como sacerdotes ou sacerdotisas da Deusa ou dos Deuses, ou do que quer que queiram ser chamados? Porque de tanta omissão ou pior ainda, de tanta conivência? Eu não diferencio quem dá o tiro daquele que fica na espreita assistindo a tudo e mantendo-se omisso a isso.

Nós não somos proselitistas, certo? Então, me expliquem por favor, o porquê de tanta facilitação, conivência ou omissão? Precisamos sim, nos assumirmos enquanto bruxos(as), já passou da hora de perdermos o medo de nos mostrarmos, de exigirmos o respeito a nossa forma de sentir e cultuar a divindade, de sermos respeitados como cidadãos, mas será mesmo que precisa ser desta forma? Que respeito é esse que estamos adquirindo em que pessoas das mais variadas estirpes entram em nosso meio, se intitulam bruxos(as), sacerdotes e fazem o que querem? Deturpam nossas crenças, nossos costumes, rituais e práticas ao seu bel prazer? Que respeito é esse que se adquire verdadeiramente quando vemos pessoas sendo enganadas, lesadas e enganando também?

Eu costumo sempre dizer que a bruxaria está no meu sangue, nos meus ossos, no meu ar, faz parte de mim e eu dela, não porque eu tenha linhagem ou sangue azul (nada contra quem tem, por favor entendam), ou porque tenha centenas ou dezenas de iniciados, ou ainda, porque faça rituais cheios de efeitos visuais hollywoodianos, ou porque tenho um templo com um monte de seguidores...

A bruxaria está em mim porque eu me permiti uma mudança real, me permiti refletir, transformar, compreender, sentir, vivenciar essa natureza espiritual, real, me permiti primeiramente e sempre e continuamente conhecer a mim mesma, me aceitar, me perdoar, me acolher, me avaliar, refletir, mas, e acima de tudo porque através deste caminho de auto-conhecimento, equilibrio e aceitação de meus limites consegui compreender neste processo o quão distante eu estava de um verdadeiro contato, aprendizado e harmonia prática e verdadeira com o Todo. A partir daí, sim, eu pude compreender a grandiosidade de nossas crenças e valores, de nossos ritos e práticas e me alinhar com cada ciclo sazonado da minha natureza, da natureza que me cerca, aprendi que a maior realização que podemos ter é o real alinhamento e a real compreensão desta Grande Téia Cósmica que nos liga a todos e da qual nenhum de nós pode fugir.

Quanto aos buscadores, só posso dizer-lhes que a Bruxaria é um caminho único de auto-conhecimento, auto-aceitação, transformação e equilibrio que na maioria das vezes não é nada fácil, mas é muito recompensador e engrandecedor, pois quando nos percebemos parte de um todo e de fato o sentimos, compreendemos que nunca estamos sozinhos, jamais seremos abandonados, traídos ou relegados a inferioridade, pois somos todos iguais e fazemos parte de um todo magnífico que nos acolhe, ensina e retribui cada sentimento, ato, palavra e verdade.

Regina Pulchra

Grã-Sacerdotisa e Mestre em Alta Magia

Fundadora da Ordem Children's Of The Light

Andréa Vidal
Enviado por Andréa Vidal em 23/12/2014
Código do texto: T5078873
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