BÍBLIA SAGRADA – Sua influência (para o bem e para o mal) nos relacionamentos humanos nos dias de hoje

Há dois mil anos, grande parte do planeta tem dirigido suas ações e opiniões inspiradas em leis, regras morais, ensinamentos e conceitos presentes na Bíblia. As “escrituras sagradas” exercem poderosa influência sobre o pensamento das pessoas em questões como: o que é Deus, vida após a morte, direitos humanos, sexualidade, casamento, etc.

A influência da Bíblia não se restringe apenas a judeus e cristãos, mas se estende aos seguidores da segunda maior religião do mundo: o islamismo. Isto ocorre porque o islã herdou muitos conceitos e tradições do povo judaico-cristão, tais como: pecado original, céu, inferno, salvação, vestuário e submissão feminina. É justo dizer que a maioria das ideias bíblicas não é original, elas já faziam parte de culturas mais antigas, mas a Bíblia tratou de fortalecê-las e legitimá-las, divulgando aos quatro ventos que estavam sob a chancela de Deus. Não é nenhuma novidade que a Bíblia pode afetar a vida das pessoas tanto para o bem quanto para o mal. Porque isso acontece é que tentaremos entender agora.

A Bíblia é uma coleção de livros escritos por diversos autores. Seus originais se perderam já nos primeiros séculos da Era Comum (Era cristã). Então, como a Bíblia chegou aos nossos dias? Bart Ehrman, uma das maiores autoridades em assuntos bíblicos nos responde: “De que nos vale dizer que a Bíblia é a palavra infalível de Deus se, de fato, não temos as palavras que Deus inspirou de modo infalível, mas apenas as palavras copiadas pelos copistas – algumas vezes corretamente, mas outras (muitas outras!) incorretamente? De que vale dizer que os autógrafos (isto é, os originais) foram inspirados? Nós não temos os originais!”

Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman informam no livro “A Bíblia não tinha razão”:

“A epopeia histórica contida na Bíblia – desde o encontro de Abraão com Deus e sua marcha a Canaã até a liberação da escravidão dos filhos de Israel por Moisés e o auge da queda dos reinos de Israel e Judá – não foi uma revelação milagrosa, mas sim um magnífico produto da imaginação humana. Segundo dão a entender os achados arqueológicos, começou a conceber-se há uns vinte e seis séculos, em um período de duas ou três gerações.”

Para estudiosos modernos, a narrativa de Moisés, que recebe as leis de Deus para dirigir seu povo foi inspirada em outros lendários legisladores. Passar a responsabilidade das leis para um deus dava mais credibilidade. O mais famoso rei da Antiguidade a criar uma legislação e dar seu crédito a um deus foi Hamurabi, na Babilônia. O código mosaico (leis bíblicas) foi profundamente afetado por ele. A lei taliônica “olho por olho, dente por dente” é apenas uma das dezenas de leis que está na Bíblia, e que Deus teria dado a Moisés, que na verdade fazia parte há muito tempo do Código de Hamurabi.

Já o Novo testamento foi escrito para reformar a antiga religião judaica e criar uma nova: o cristianismo. O cristianismo baseia-se num personagem histórico: Jesus. Porém, sua biografia foi copiada de antigos deuses que já existiam, especialmente em solo egípcio, grego e romano. Jesus foi divinizado para estar em pé de igualdade com outros deuses mitológicos. Sem esse caráter divino, os discípulos de Jesus sabiam que não conseguiriam evangelizar os pagãos da Grécia, Império romano e de outras localidades. Seja você alguém que acredita que a Bíblia é a “palavra de Deus”, seja alguém que não acredita, o fato é que esse livro possui ao mesmo tempo ensinamentos bons e éticos, como maus e perigosos.

A parte boa da Bíblia: leis inteligentes: não matar e não roubar. Ensinamentos éticos e morais perfeitos: trate bem os órfãos, as viúvas e os estrangeiros; ame seu próximo; faça caridade. Conceitos que trazem conforto, consolo e esperança: no céu, vamos estar ao lado de Deus e de nossos entes queridos para sempre. A fé em Deus ajuda a curar doenças, e fortalece os espíritos para continuar lutando por dias melhores. E teria ainda muitas outras benesses para citar.

A parte ruim da Bíblia: alguns princípios bíblicos que foram abandonados pela maioria dos religiosos devido à secularização e por não estarem em harmonia com um mundo civilizado, são seguidos por uma pequena minoria de extremistas, que vale dizer, encontra-se em todas as religiões.

1. Intolerância religiosa. O deus da Bíblia diz: “Não terás outros deuses diante de minha face.” E: “Se se encontrar no meio de ti (...) um homem ou uma mulher que faça o que é mau aos olhos do Senhor (...) indo servir outros deuses (...) os apedrejarás até que morram.” Consequências:

Judeus ultra-ortodoxos atacam palestinos inocentes matando crianças e adultos. Palestinos revidam com pedras e ataques suicidas. Membros de algumas religiões cristãs invadem e depredam terreiros de candomblé no Rio de Janeiro e em outros lugares do Brasil. Muçulmanos incendeiam igrejas, depredam templos hindus e matam cristãos e hindus na Ásia e na África. O Corão, livro sagrado muçulmano, não obriga ninguém a seguir o islã: “Não há imposição quanto à religião.”

Morte aos blasfemos. A Bíblia aprova: “Quem blasfemar o nome do Senhor será punido de morte.” Consequências:

Extremistas islâmicos mataram doze pessoas no ataque a uma revista francesa de charges. Os cartunistas publicavam desenhos do profeta. O Corão não diz que os blasfemos devem ser mortos; e sim que serão castigados. Mas é Deus quem deve castigá-los e não o homem: “Deus os castigará dolorosamente neste mundo e no outro.”

Matar adúlteros. A Bíblia aprova: “O homem e a mulher adúltera serão punidos de morte.” Consequências:

Hoje em dia, duas culturas costumam ser implacáveis com o adultério feminino, mas toleram o masculino: a hindu e a islâmica. O código de Manu prevê a pena de morte para os adúlteros. Já no Corão não existe a pena de morte para cônjuges infiéis. O costume é pré-bíblico. Jesus proibiu a morte de adúlteras.

Matar mulheres solteiras que tiveram relações sexuais. Em Deuteronômio 22,13 o Deus Javé fala que a noiva que não guardou virgindade para o futuro marido deve ser apedrejada até a morte. Consequências:

Em países muçulmanos o costume persiste com mais força. Geralmente são os próprios pais ou irmãos da jovem que cometem o assassinato. Dificilmente eles vão para a cadeia, pois estão protegidos pelo chamado “crime em defesa da honra.” O Corão não tem nenhuma ordem para matar mulheres que fazem sexo antes de casar. Nem Jesus.

Mutilação genital de meninas. Embora nem a Bíblia nem o Corão mandem os pais mutilar clitóris ou costurar os lábios genitais de suas filhas, a Bíblia tem uma regra que manda matar a mulher que não guardar a virgindade para o futuro marido que já comentei anteriormente. Consequências:

Clérigos radicais, como forma de garantir que a mulher chegasse virgem ao dia do casamento, preservaram um costume antigo, não ordenado por Deus, de mutilar os órgãos genitais de meninas. Trata-se de outro costume pré-bíblico. Na Antiguidade, era importante assegurar a virgindade das meninas, pois a mulher era moeda de troca, representava um valor econômico para a família.

Proibir desenhos, esculturas e pinturas. A Bíblia concorda: “Não farás para ti escultura, nem figura alguma ...” Consequências:

Em março de 2001, militantes do Talibã explodiram duas gigantescas estátuas de Buda datadas do quinto século a.C. No final de fevereiro de 2015, extremistas destruíram estátuas milenares no museu do Iraque e uma semana depois saquearam e depredaram os monumentos da cidade assíria Nimrud, norte do Iraque, fundada no século 13 a.C. O Corão não diz nada sobre proibir ou destruir manifestações artísticas. Nem Jesus.

Matar homossexuais. A Bíblia aprova: “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher (...) Serão punidos de morte...” Consequências:

A Igreja matou milhares de homossexuais durante a Santa Inquisição. Hoje em dia, sete países muçulmanos aplicam a pena de morte a homossexuais. Mas o Corão não tem nenhuma lei que pune homossexuais com a pena de morte. Nem Jesus.

Como vimos, a Bíblia continua mais poderosa do que nunca. Sua mensagem atravessou fronteiras, repercutiu nos ouvidos até de quem não era judeu ou cristão. As palavras bíblicas podem ser usadas tanto para melhorar o mundo, trazer consolo e esperança para quem crê, quanto para promover discórdias, espalhar o ódio e estimular guerras e assassinatos. Depende de qual página você escolher. E como vai interpretá-la.