O perigo simplifica a existência

“Eu digo a vocês, meus amigos: Não tenham medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu mostrarei a quem vocês devem temer: temam àquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu digo a vocês, a esse vocês devem temer." Evangelho de Lucas

Confesso que tenho lutado contra minha impaciência quase como quem foge da própria sombra, e só quem luta contra alguns demônios como este sabe como eles não dormem e não tiram férias. Porém, reconheço que em alguns casos eu não tenho conseguido vencer, ao menos como eu gostaria, as tantas batalhas que travo, e em se tratando deste último caso, posso afirmar que tem algumas coisas que fazem com que a luta contra isso se torne desleal.

No meu caso o maior problema quanto a impaciência acontece quando, ao ouvir alguns casos de vida, ou dar um conselho que tenham um significado bíblico, o “Ser que desabafa” reduz a própria existência a este lado da eternidade com vários argumentos como “mas e se não acontecer, se Deus quiser me provar” e isso logo após eu dizer que “se Deus cuida e alimenta os lírios do campo, os pássaros e até, em dias não helênicos como os nossos, dos filósofos, cuidará de você também…”. Parece que há uma insistência absurda em maximizar a existência circunstancial quando algo parece sair do controle ou do normal esperado.

Gente que consegue falar pra você que ” minha vida acabou” porque aos vinte anos ainda não fez a faculdade que queria ou porque não se casou ou não está namorando ainda. Gente que se mede pelos outros e se define sem constrangimento como alguém frustrado quando não consegue o que quer, quando quer e como quer. Gente mimada que te faz perde a paciência. Aquele tipo que reclama da cama em que dorme e da comida que come. Gente que de vez em quando você fica pedindo pra Deus “dar uma lição”.

Na década de oitenta víamos na sessão da tarde uns filmes bem engraçados sobre a famosa lenda de “fantasma do natal passado”, onde dava-se uma lição em quem não se importava com a natalícia data do Cristo. Depois de muita reflexão e esforço dos fantasmas, o herege se convertia a uma percepção mais existencialista e entendia que tinha muito mais do que merece.

Advertindo seus discípulos em relação a um possível e fútil medo de anunciarem o Reino em alta voz e serem perseguidos e até mortos por seus opositores presentes, Jesus, mostrando o quanto a visão deles era limitada em relação ao que temer ou não, declara o que de fato deveria ser a real face do terror: estar na rota de colisão com a ira de Deus, o Deus que serviam. Sim, estar em oposição quanto a Seu Salvador deveria ser considerado pelos seus seguidores como o mais profundo dos temores, e desconhecer esse perigo seria o cúmulo da imprudência, pois permitiria que temores bem menores e até mesmo desprezíveis pudessem estar tomando o tempo curto que cada um dos seus discípulos deveria usar em prol de anunciar o Reino de seu Pai.

Certa vez anunciei o Evangelho em uma escola e fui expulso de lá – junto com a Alice Lopes – após ler um trecho da bíblia e algumas pessoas se indignarem com o conteúdo da leitura, denunciando aos guardas do campus. Sai de lá escoltado, feliz da vida por sofrer tal agravo. Quando cheguei no domingo na igreja, ao contar isso e comentar sobre minha alegria, convidei pessoas que ouviam à irem comigo na próxima terça-feira para o evangelismo. Cristãos de anos de estrada diziam “mas eu não vou conseguir almoçar se for neste seu horário” ou “você pode ser preso” e ainda “o meu chamado é mais pra área do teatro”.

Sabe, quando ouvi tudo aquilo percebi que um dia todas as nossas futilidades e os empecilhos que projetamos para pregar o evangelho serão resumidos a discursos auto-preservacionista, e percebi também que o verdadeiro perigo simplifica a existência humana.

O maior perigo é, sem dúvida, estar diante da Trindade e não ter se reconciliado com ela aqui e agora. Vamos ver que tudo a nossa volta é extremamente irrelevante e pequeno; faculdades, notas, prêmios, fama, títulos, grana, programas de TV que insistimos não perder, preguiça e vergonha de evangelizar. Tudo será como esterco, parafraseando Saulo de Tarso, se comparado a sublimidade do conhecimento do Messias.

por André Alves Castro.

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Cotidianidade
Enviado por Cotidianidade em 31/05/2015
Reeditado em 31/05/2015
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