CÓDIGO MOSAICO (LEIS ATRIBUÍDAS A MOISÉS): OBRA INSPIRADA OU PRODUTO DA MENTE HUMANA?

O “código mosaico”, conhecido também como leis de Moisés, leis de Deus, lei bíblica, etc., é a legislação que mais tem influenciado o mundo ocidental desde que o cristianismo se tornou a religião oficial do Império romano (séc. 4 de nossa era).

A maioria dos leitores da Bíblia tem certeza de que o autor das leis das Escrituras é Deus, que escolheu um profeta (Moisés) para divulgá-las. Como consequência, vemos muitos líderes religiosos se intrometendo na ciência, na política e na vida privada das pessoas. Há escolas que proíbem o ensino do evolucionismo e a educação sexual. Muitos religiosos querem determinar como as mulheres devem se vestir, qual deve ser o comprimento de seus cabelos, com quem podemos ir para a cama e quem merece casar e formar família.

Mas, será mesmo que um Deus bom, sábio e amoroso foi o autor do código de Moisés?

Vamos recorrer à ciência, aos historiadores e arqueólogos para desvendarmos esse mistério.

Antes, um aviso: esse artigo não pretende discutir se existe Deus. Mas, se o código de leis da Bíblia teve a participação de Deus.

Para que o código mosaico tenha como autor um Deus bom e sábio, é preciso que seja de uma ética e sabedoria irrepreensíveis.

O código aprova a escravidão e permite que um pai venda a própria filha como escrava. Naquele tempo, significava que a filha seria também usada sexualmente por seu comprador (Êxodo, 21,7);

No código, Deus (?) manda vender carne estragada para os estrangeiros (Deuteronômio 14,21). A intenção era que ao comer carne infectada, a população estrangeira (os idólatras) diminuísse, e a nação de Israel a dominasse.

O código é a favor da pedofilia, pois permite que o homem seduza uma virgem e tire sua virgindade. Se for descoberto, basta pagar um dote para o pai da menina e casar com ela (Êxodo 22, 16);

E sentencia à pena de morte:

Pessoas que seguem outro deus, isto é, que têm outra religião (Deuteronômio 13,6);

Homossexuais (Levítico 20,13);

Moças que não guardam a virgindade para o futuro marido (Deuteronômio 22,13). Os homens podiam fornicar sem problema. Um crítico já disse que a religião sempre privilegia o homem, porque todas foram criadas por homens;

Pessoas que falam com espíritos ou fazem adivinhações (Levítico 20,27);

Pessoas que blasfemam contra Deus (Levítico 24,13);

Pessoas que contestam decisões dos sacerdotes (Deuteronômio 17,12).

A lista é enorme.

Segundo os especialistas em religiões, os antigos, sempre que criavam um novo código de leis, costumavam dizer que o autor era Deus, pois dava mais credibilidade e o povo obedeceria com mais respeito e temor. De acordo com esses estudiosos, os verdadeiros autores do código mosaico foram os sacerdotes judeus, não Moisés ou Deus.

No livro “A Bíblia não tinha razão”, de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, ambos de origem israelita lemos o seguinte: “A epopeia histórica contida na Bíblia – desde o encontro de Abraão com Deus e sua marcha a Canaã até a liberação da escravidão dos filhos de Israel por Moisés e o auge da queda dos reinos de Israel e Judá – não foi uma revelação milagrosa, mas sim um magnífico produto da imaginação humana. Segundo dão a entender os achados arqueológicos, começou a conceber-se há uns vinte e seis séculos, em um período de duas ou três gerações.” O A.T., segundo afirma a dupla de pesquisadores, é uma compilação de lendas, folclore, memórias e outras informações que havia na época de sua redação. O objetivo maior é claramente político-ideológico para sustentar as reivindicações de Judá sobre territórios palestinos, que os judeus acreditavam pertencer a eles, por ordens divinas (esse é o principal motivo das discórdias entre judeus e palestinos ainda hoje).

Para a maioria dos historiadores, outro código, mais antigo que a “lei de Moisés” foi o verdadeiro inspirador das leis bíblicas. Trata-se do código de Hamurabi. Só para citar um exemplo, o “olho por olho, dente por dente” que todo leitor do Antigo Testamento conhece, já estava presente na legislação de Hamurabi.

Isso tudo não quer dizer que você deva deixar a Bíblia de lado. Ela é um livro riquíssimo em história, cultura, lendas e mitos. Possui belas e misericordiosas passagens, sobretudo no sermão da Montanha, de Jesus.

Mas tenha cuidado em seguir as leis do código mosaico. Alguém que insista em vender a filha como escrava ou que force a esposa a beber uma água amarga (Números 5,14) para se certificar de que ela não o traiu, poderá ser preso ou internado como louco.