Presbiterianismo nos Campos Gerais - 2015

“Ao perdermos o verdadeiro sentido do Natal, perdemos o próprio Cristo”, afirma o pastor Marcos Aurelio Jensen dos Santos, da Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa, que está completando 100 anos de existência

Uma das instituições religiosas mais tradicionais da cidade, a Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa (PIPPG) completou 100 anos de existência em 2015, com uma série de comemorações dedicadas aos seus membros. Ao longo desse primeiro século de trajetória, a igreja, como não poderia deixar de ser, enfrentou muitos obstáculos, tais como problemas financeiros, crescimento numérico, início de outras comunidades presbiterianas, manutenção da unidade e coesão dos membros. “Um século de existência representa uma gama enorme e variada de desafios. O maior desafio, todavia, foi o de conservar a identidade e permanecer fiel às Sagradas Escrituras”, explica o pastor Marcos Aurelio Jensen dos Santos, 41, que está à frente da igreja há 18 anos. Na entrevista a seguir, o sacerdote aborda as múltiplas facetas da vida em igreja, comenta aspectos relacionados à sua tradição religiosa e aproveita para refletir sobre a fé e o nascimento de Jesus Cristo no mês do Natal.

A Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa está completando 100 anos de existência, numa época em que muitas igrejas abrem e fecham. Na visão do senhor, qual é o segredo do crescimento e estabilidade da igreja?

Primeiramente, a misericórdia de Deus. Em segundo lugar, a tradição histórica da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), denominação a qual pertence. Em terceiro lugar, os membros fiéis que jamais desistiram e deram continuidade a essa história até o seu centenário.

Quais foram os momentos mais marcantes da trajetória da igreja?

A história da Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa é repleta de momentos marcantes. Podemos destacar o momento de consolidação experimentado na década de 1920, sob o pastorado do Rev. Haroldo Cook; a época da expansão experimentada na década de 1950 e início dos anos 60 com o pastorado do Rev. Pascoal Pitta; e o período de renovação experimentado na década de 1990, sob o pastorado do Rev. José Vicente de Lima Filho.

E quais foram os maiores desafios que a igreja enfrentou ao longo desse um século?

Um século de existência representa uma gama enorme e variada de desafios. Podemos citar os desafios financeiros, crescimento numérico, início de outras comunidades presbiterianas na cidade, manutenção da unidade e coesão dos membros. Costumo dizer que cada segundo da história da nossa igreja se traduz num grande milagre de Deus. O maior desafio, todavia, foi o de conservar a identidade e permanecer fiel às Sagradas Escrituras.

Toda igreja está sujeita a uma série de conflitos entre os membros e até entre os ministros. Na opinião do senhor, que qualidades não podem faltar ao bom líder de um templo?

A igreja é composta de pessoas, e de pessoas imperfeitas, diga-se de passagem. É normal e até inevitável que os conflitos surjam. Tudo faz parte de um processo de amadurecimento das pessoas e da comunidade. Muita coisa poderia ser dita sobre o perfil de um líder cristão, no entanto, vou me ater a estas: paciência, seriedade, amor, humildade e perseverança.

Muitas pessoas não conhecem as diferenças entre os diversos ramos do protestantismo e do pentecostalismo. O que distingue o presbiterianismo nesse contexto?

Esse movimento teve origem na Reforma Protestante, deflagrada pelo monge alemão Martinho Lutero, no dia 31 de outubro de 1517. A partir dali surgiram vários movimentos que ficaram conhecidos como Igrejas Reformadas, cujos principais pilares são a soberania de Deus, inerrância da Bíblia, culto teocêntrico, foco na pregação da Palavra, ética vivencial e salvação somente pela graça. A Igreja Presbiteriana faz parte do bloco de igrejas chamadas conservadoras, que se distingue do movimento Pentecostal e Neo Pentecostal, que são muito mais recentes.

Na visão do senhor, quais são os maiores enganos que as pessoas cometem em relação ao protestantismo?

Na minha visão, o grande problema é o desconhecimento. Boa parte das pessoas não conhece a fundo e, por isso, tem sua visão construída a partir do referencial pejorativo exposto pela mídia de massa. O protestantismo, sobretudo, foi um movimento que lutou e continua lutando pela melhora das pessoas, da igreja e do mundo.

Para algumas pessoas, o cristianismo é associado ao obscurantismo, à ignorância. Que resposta o senhor daria a tais pessoas?

Não sou ingênuo a ponto de não reconhecer que há muita ignorância, crendice e superstição na prática de muitas igrejas na atualidade. Todavia, é preciso fazer uma justa distinção. Creio que, se as pessoas conhecessem mais a fundo, teriam a oportunidade de mudar de opinião sobre o cristianismo. Veriam a grande contribuição e influência do cristianismo na educação, na ascensão social das pessoas, na construção das sociedades democráticas, na liberdade de expressão, na promoção da justiça, na melhoria de vida dos cidadãos, na defesa da moral e na condição espiritual das pessoas. A transformação de vidas faz parte do currículo do cristianismo.

Estamos vivendo dezembro, mês do Natal, do nascimento de Jesus. Para o senhor, o que a humanidade perdeu quando perdeu o verdadeiro sentido do Natal?

Perdeu a capacidade de enxergar e usufruir do mais importante, o próprio Jesus. Quando colocamos o foco na dimensão horizontal do Natal, expresso na correria, sofisticação, consumismo e festividades, deixamos de lado o âmbito espiritual, caracterizado por introspecção, entrega, solidariedade, compaixão e, sobretudo, amor. Em resumo, arrumamos a casa, mas não atentamos para a Pessoa que nos visita.

O mundo de hoje parece estar mergulhado na descrença. Não acredita mais nem nas ideologias, nem nas religiões. Que mensagem relevante o senhor acha que o cristianismo ainda pode dar à humanidade nesse cenário tão turbulento?

O cristianismo puro e simples, tal qual expresso e exemplificado por Jesus, tem sim uma grande contribuição para o mundo e as pessoas. Isso porque sua mensagem é de compreensão, tolerância, entendimento, salvação eterna, equilíbrio, paz, esperança, felicidade e amor.

Na visão do senhor, quais são os maiores desafios que o cristão enfrenta na época atual?

O primeiro desafio é interno: permanecer puro sem se contaminar com as distorções vividas dentro do próprio cristianismo. O segundo desafio é externo: mostrar à sociedade que o jeito de viver ensinado por Jesus Cristo ainda é plenamente viável no mundo pós-moderno.

O cristianismo como um todo é muito focado na coesão familiar. Por que se insiste tanto nesse ponto?

Por causa da convicção de que a família é um projeto de Deus que não pode ser deturpado e abandonado pela sociedade atual. Na visão cristã, a família é a melhor forma de se organizar e construir a sociedade. Muitos problemas do mundo seriam resolvidos, se cada pai e mãe zelassem por sua família.

Muitos pais têm grandes dificuldades para levar os filhos à igreja. Que conselhos o senhor daria para aqueles que enfrentam situações assim?

Meu primeiro conselho é para as igrejas. Entendo que as comunidades precisam ter uma abordagem contextualizada, falar a linguagem dos diferentes públicos e desenvolver estratégias funcionais para atrair desde as crianças até os idosos. Para os pais, o meu conselho é que sejam firmes para conduzir seus filhos no caminho que vocês acreditam ser o melhor para eles, orem muito, sejam exemplo e peçam ajuda dos líderes eclesiásticos nessa tarefa.

O protestantismo é muito focado na Bíblia. Todos os livros dela são importantes, mas que livro da Bíblia o senhor acha que é mais necessário para os dias de hoje?

Resposta difícil. Mas já que me pediram para eu mencionar apenas um, então vamos lá. Vou sugerir o evangelho de Mateus. Este livro fala da missão de Cristo, da missão da igreja e da missão das pessoas. Mateus mostra o que Cristo fez por nós, como devemos viver como indivíduos e o que devemos fazer enquanto comunidade de fé. Mateus fala sobre o poder e o amor de Deus; sobre a fragilidade e o potencial humanos; sobre o chamado e o envio dos discípulos de Jesus. Fazer-nos entender o que Cristo fez por nós, como devemos viver e qual é o nosso papel no mundo é o grande propósito do evangelho de Mateus. Por isso, ele é tão importante e relevante para os nossos dias.

[Presbiterianismo no Paraná, Marcos Aurélio Jensen dos Santos, Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa, fundamentalismo, História da Igreja no Paraná]