O "Pai Nosso de mãos dadas"

O “PAI NOSSO DE MÃOS DADAS”

Miguel Carqueija

Aqui no Rio de Janeiro, e com certeza por esse Brasil afora, tornou-se muito comum o gesto de rezar o Pai Nosso, nas missas, dando as mãos aos vizinhos, formando uma corrente pelo banco ou extravazando dele. E isso se tornou tão espontâneo em mais de quatro décadas que, certamente, muita gente cresce achando que é assim mesmo.

No entanto é um erro.

Para piorar, muitos sacerdotes mandam (sic) os fiéis darem as mãos na hora da oração. Mesmo quando não ordenam, as pessoas já automaticamente executam o pequeno ritual.

Convém esclarecer que esse gesto, muito mais vazio do que parece, não deve ser realizado simplesmente porque liturgicamente ele não existe, não se encontra no “Ordo Missae”. Se não foi portanto normatizado na liturgia eucarística é porque a rigor, seria melhor não praticá-lo; até porque ele esvazia o que vem depois, o “saudai-vos uns aos outros em Cristo” e este sim é um gesto litúrgico, que se encontra no “Ordo”.

O fiel pode inclusive se recusar a dar sua mão para rezar o Pai Nosso, uma interferência que nos quebra o recolhimento que deveríamos ter nessa hora. Não recomendo que se faça isso, como eu fazia no passado: causa constrangimento, é uma reação mal compreendida. O melhor é não estender a mão, esperar que alguém o faça na sua direção; aí você tolerantemente cede a sua. E se estiver longe de todo mundo, não se aproxime de ninguém; ore em paz o seu Pai Nosso.

Nenhum padre deveria ordenar que os fiéis dessem as mãos para rezar, o que é uma invenção na liturgia. Eles deveriam, sim, desencorajar aos poucos esse rito para ir desenraigando-o da mentalidade do comum dos fiéis católicos. Afinal, isso parece protestantismo e, até onde eu sei, foi introduzido no ambiente católico, lá pelos anos 60, por um movimento de fama duvidosa, o dos cursilhos.

É fato que há coisas piores, como missas barulhentas, com “músicos” assassinando o violão e se esgoelando, perturbando até a hora da comunhão. Precisamos sempre reivindicar maior pureza e respeito na liturgia da Missa; não é favor nenhum; Jesus merece.

Rio de Janeiro, 22 de maio de 2016.