MANTENDO ACESA A TOCHA DA SALVAÇÃO

Nestes dias que antecedem a Abertura Oficial das Olimpíadas do Rio, Nova Friburgo (30/07/16) e Cordeiro (31/07/16) cumpriram o calendário da “Passagem da Tocha” que envolveu 325 cidades brasileiras. O percurso começou em 3 de Maio em Brasília e se encerrará com a chegada em 04 de Agosto à cidade-sede, o Rio de Janeiro.

Há todo um envolvimento nacional nesta promoção que visa, segundo o então ministro do Esporte, George Hilton, a “fazer uma ampla divulgação do evento e estimular a prática esportiva”.

Cidades grandes e pequenas tiveram o privilégio de receber a passagem da tocha. Gente de expressão nacional, como a ex-ginasta Laís Souza, a jogadora de vôlei bicampeã Olímpica Fabiana, o jovem arqueiro indígena Gustavo dos Santos e o nadador paraolímpico Clodoaldo Silva ou de expressão local, como Hirann Montechiari Figueira, membro da Primeira Igreja Batista em Cordeiro, RJ (foto em destaque), tiveram o privilégio de conduzir a tocha pelos caminhos da brasilidade.

Pode-se questionar se o país estava em condições de arcar com um evento desse porte, num momento em que a Economia está combalida, o desemprego alcança índices alarmantes com 12 milhões de brasileiros fora dos postos de trabalho e a política e os políticos brasileiros passam por uma devassa assustadora por conta do fundo do poço moral a que nos levou a corrupção avassaladora presente no país em todas as esferas do poder público.

Mas o que não se pode fazer é acrescentar aos dissabores da nação a danação de ver o evento afundar ainda mais a péssima imagem do Brasil na mídia internacional. O destempero de Lula ao apelar à Corte da ONU alegando perseguição política só revela a “calhordice” desse PT que precisa neste ano ser varrido do cenário político nacional.

O povo cristão do Brasil precisa orar para que as Olimpíadas deem certo, pois o Brasil está precisando de melhorar não só sua imagem, mas, também, sua capacidade de fazer eventos que signifiquem uma contribuição para o bem estar desse mundo. Além disso, ninguém quer que o Brasil inaugure atos de terrorismo, especialmente neste momento de afluxo intenso de estrangeiros no país. Oremos pela manutenção do status de “brasileiro cordial” na vida dos nossos concidadãos.

Quero aproveitar o simbolismo da passagem da tocha olímpica para conclamar o povo cristão de meu querido Brasil a manter acesa a Tocha da Salvação. E recorro ao texto bíblico de Isaías 62.1: “Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa”.

Neste texto, o profeta fala de sua predisposição em continuar sendo o arauto de Deus neste mundo até que a salvação seja plena. O texto é profético e não se restringe à Jerusalém temporal, mas retrata a Sião espiritual; retrata a esperança cristã de participar da glória do Filho junto com Deus nos céus. Para tanto, Isaías está determinado a não se calar, a ser uma voz profética neste mundo, pois ele tem convicção de que os céus na vida do servo de Deus se iniciam no aqui e no agora. A manifestação em plenitude dessa salvação ele compara à uma tocha acesa.

O fogo tem sido visto na Bíblia como representativo do Espírito Santo de Deus, que se faz presente nos salvos. Não há salvo que não tenha o Espírito. Não há crente que não tenha recebido o batismo com o Espírito Santo. Não há conversão que não se inicie e se concretize pela atuação inconteste do Espírito na vida do indivíduo (Jo 16.7-15; At 19.2). De forma esplendorosa Isaías alia a salvação com o Espírito Santo.

Em um mundo afastado de Deus, onde outras chamas que não as divinas têm feito arder o coração da juventude e da humanidade de modo geral em busca de realização, precisamos mais do que nunca manter acesa a tocha da salvação. Por que é preciso manter acesa a tocha da salvação?

1º) É preciso manter acesa a tocha da salvação porque Deus espera isso de seu povo – Deus conta com o seu povo. A tarefa da proclamação do Evangelho é privilégio dos salvos. Sequer foi dada aos anjos como pensam alguns ou como querem entender estes que os anjos tinham tal interesse. Mas, foi dada aos salvos, como assume o apóstolo Paulo ao admitir este privilégio (1Pe 1.10-12; Ef 3.8-12).

A proclamação do Evangelho é missão confiada aos discípulos. O “Ide” de Jesus ecoa em todos os séculos e gerações levando multidões de crentes a reproduzirem este comissionamento da parte do Mestre (Mt 28.19; Mc 14.13; 16.15).

A realização de Olimpíadas mundiais, e o chamado Jogos Modernos numa tentativa de reprodução do que acontecia na Grécia Antiga, possuem, pelo simbolismo da passagem da tocha e pelo acendimento da pira olímpica, o simbolismo da manutenção da chama acesa do chamado “espírito olímpico”. Para seus idealizadores, como o Barão de Coubertin, o francês que entrou para a história como o fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna (iniciados em 1896 e, completando agora, 120 anos com as Olimpíadas do Rio), o importante não é vencer sempre ou mesmo vencer algo algum dia. O conceito de vitória não se resume a um troféu, a um diploma, uma medalha, um título. Podemos não ter nada disso e sermos vencedores.

Há uma ideia corrente em nossos dias de que precisamos vencer a qualquer custo. Há até segmentos religiosos que pregam a retomada das mãos de Satanás daquilo que ele nos roubou. Não há base bíblica para este tipo de investida. Se Satanás anda roubando alguma coisa da vida de pessoas, significa que essas pessoas nunca foram de Deus. Das mãos dos servos de Deus, o Inimigo não leva nada (Sl 34.7).

Com certeza, ecoa em seus ouvidos a frase olímpica “o importante é competir”. Esta frase surgiu nos Jogos de Londres, em 1908. Segundo o jornalista britânico John Goodbody, autor de “História das Olimpíadas”, a frase foi proferida por um bispo numa missa na Catedral de São Paulo, pouco antes do início dos Jogos de Londres de 1908 e foi apresentada no seguinte formato: “Ganhar não é tão importante quanto participar”.

Segundo o jornalista, o Barão de Coubertin gostou tanto da frase que a adotou, adaptando-a como a conhecemos: “o importante é competir”.

Voltemos à questão do “espírito olímpico”. O que realmente significa isto? Podemos falar da fraternidade entre os povos, da confraternização mundial, do congraçamento e dos valores da comunhão, apesar das diferenças étnicas, econômicas e sociais que separam a humanidade. É como se em tempos de Olimpíadas tudo isso ficasse de lado e a humanidade se reconhecesse num povo só, numa tão sonhada fraternidade universal.

Vamos ver isto na prática para que possamos entender este tal “espírito olímpico”. Primeiro, “o que não é espírito olímpico”. A atleta grega Voula Papachristou, do salto triplo, publicou em seu Twitter pessoal a frase: “com tantos africanos na Grécia... Pelo menos os mosquitos do Nilo comerão comida caseira!!!” A infeliz declaração fez com que, mesmo sendo considerada a atleta grega com maiores chances de medalha para os jogos de Londres 2012, ela fosse cortada da delegação pelo Comitê Olímpico de seu país. Como disse o jornalista Marcos Lemos: “É preferível perder uma medalha do que perder a esportiva e o respeito”. O teor racista da publicação – mesmo que a atleta não seja isso, que tenha sido apenas uma infelicidade –, representa a falta de “espírito olímpico”.

Segundo, “o que é o espírito olímpico”. O exemplo de Meghan Vogel, uma garota norte-americana, de 17 anos, que participava de uma competição escolar em Junho de 2012, competindo em uma corrida de 3.200 metros, quando, estando em último lugar, percebeu uma concorrente, de outro colégio, cambaleando à sua frente, sem conseguir forças para cruzar a Linha de Chegada, faltando apenas 30 metros para tal. Ela não hesitou, apoiou a adversaria e conduziu-a até a Linha de Chegada, dando-lhe um leve empurrão para que a concorrente ficasse na frente dela. Ela assumiu o último lugar. Você pode assistir este vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=IiQ4SNkx_Z8.

Meghan Vogel entende bem o que significa a frase bíblica: “os últimos serão os primeiros” (Mt 19.30; 20.16; Mc 10.31; Lc 13.30). Isto nos remete à nossa questão crucial neste tópico: muita gente está se dedicando a manter acesa a chama do espírito olímpico, mesmo que seja por interesses pessoais, comerciais, políticos. E os cristãos? Estamos dispostos a manter acesa a tocha da salvação? O espírito olímpico trata de questões humanitárias e relacionais muito importantes, mas a tocha da salvação nos remete para valores transcendentais, como perdão, misericórdia, entrega, restauração, justificação, redenção, salvação, muito mais profundos, pois nos acenam com bênçãos para esta vida que se estendem para o mundo vindouro. Você está disposto a ser o último para poder ajudar outros? A motivação espiritual para se esforçar em manter acesa a tocha da salvação precisa ser bem maior do que aquela que move pessoas a manterem aceso o “espírito olímpico”.

Outra questão a ser levantada é a dos voluntários para evento de tal envergadura como uma Olimpíada. Somente na primeira leva de voluntários para atuar nas Olimpíadas do Rio foram selecionados 50 mil, sendo 82% brasileiros e 18% estrangeiros. Depois do Rio de Janeiro com 46% dos voluntários aprovados, São Paulo é o estado com maior número: 21%. Por que gente jovem, e nem tanto, se inscreve para ser voluntário em um evento como este, pagando para trabalhar? Poderíamos alistar várias razões. Mas, a que nos remete tal prestimosidade? Ao fato de também o Evangelho contar com a ação voluntária dos discípulos. O Apóstolo Paulo salienta à Igreja de Corinto: “somos cooperadores de Deus” (1Co 3.9). Vivemos um tempo de uma Igreja descansada, que cruzou os braços, que espera que outros façam a Obra. Não estamos cônscios da verdadeira batalha espiritual que nos envolve. É preciso trabalhar enquanto é dia (Jo 9.4). É preciso manter acesa a tocha da salvação porque Deus espera isso de seu povo.

2º) É preciso manter acesa a tocha da salvação porque nós precisamos dessa luz – A segunda observação que quero fazer nesta reflexão que traça um paralelo entre a “tocha olímpica” e a “tocha da salvação” citada pelo profeta Isaías, diz respeito a necessidade pessoal de cada cristão com relação à manutenção da chama do amor acesa em seus corações. Contra a Igreja de Éfeso, Deus ajuíza: “Tenho, porém, contra ti que deixastes o teu primeiro amor” (Ap 2.4). Vivemos um tempo de esfriamento espiritual. A contaminação da Igreja com as coisas dessa vida tem levado a este esfriamento (Rm 12.1,2; 2Tm 2.4; Hb 12.1). Então, o cuidado, o zelo, a vigilância tem que ser nossos, de cada crente de forma particular (1Co 16.13; 1Pe 5.8).

Nós precisamos dessa luz em nossas vidas. É uma necessidade pessoal. Quando a luz de Cristo não mais nos aquece, não mais nos ilumina, então, estamos prestes a sucumbir. Esta tem sido uma das armas mais utilizadas por Satanás em nossos dias para fazer enfraquecer o poder da Igreja de Cristo: ir minando sorrateiramente a resistência espiritual dos crentes com a introdução de comprometimento com coisas dessas vidas e esvaziamento do poder do Espírito Santo.

Deixa-se de ir aos cultos de meio de semana, depois já não se vai mais à Escola Bíblica Dominical para apenas assistir ao Culto Matutino, em seguida o Culto Dominical Matutino já está fora da agenda, depois os fins de semana são utilizados para passeios e viagens, daqui a pouco o dízimo que não é nosso mas do Senhor passa a ser usado em alguns meses para fazer face ao endividamento crescente e por aí vai. Quando vai se dar conta da situação, casais já não estão mais concordes sobre a importância dos cultos em suas vidas, filhos já desistem da Igreja e perdemos o controle. Nós precisamos dessa luz. A tocha da salvação não pode se apagar. Ela precisa estar acesa continuamente em nossas vidas para benefício da família.

O antigo hino sacro já preconizava (Vivificação – 164CC):

“Quantos que corriam bem

Já não mais Contigo vão!

Outros seguem, mas também

frios, sem amor estão”.

Por isso, precisamos fazer continuamente a oração de seu estribilho:

“Vem, oh, vem, Jesus, Senhor,

Nossas almas despertar!

Com teu puro e santo amor,

Vem, oh, vem nos inflamar,

Oh, vem, oh, vem

Nossas almas inflamar!”

Manter acesa a tocha da salvação é uma necessidade pessoal. Temos que estar atentos cotidianamente no sentido de não permitir que se apague a chama do Espírito Santo em nossas vidas. É mandamento bíblico: “Não extingais o Espírito” (1Ts 5.19). Para tanto precisamos por em prática o mandamento que apresenta o contrário: “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

A manutenção acesa da tocha da salvação na vida do cristão passa pelo reconhecimento de que precisamos ter uma vida de oração, cultivar a leitura da Bíblia, desfrutar da comunhão com os irmãos, ser assíduos aos cultos promovidos pela Igreja, ser fiéis na entrega dos dízimos e ofertas, amar missões, praticar a evangelização.

É a tocha da salvação que nos ilumina o caminho e não deixa fraquejar os pés. O Salmo 119.105 precisa calar profundamente em nossos corações: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho”. Só a presença de Jesus em nossas vidas e o acompanhamento diário da Palavra de Deus como fonte de segura de conselhos e orientação para nos provisionar para o enfrentamento das batalhas espirituais do dia a dia.

Jó, o personagem bíblico cujo livro homônimo foi considerado “a noite tenebrosa da alma” não queria ser considerado pelos amigos e nem por si mesmo num acesso de baixa autoestima, como “tocha desprezível” (Jó 12.5). Podem ser considerados “tochas desprezíveis” aqueles que por conta do esfriamento, do afastamento de Deus, do envolvimento com embaraços dessa vida, estão prestes a vacilar porque não estão vigiando em oração.

A “tocha da salvação” precisa continuar acesa em nossas vidas porque precisamos dessa luz incandescente em nossas vidas. Jesus se autoproclamou “a luz do mundo” (Jo 9.5) e nos designou para sermos “a luz do mundo” (Mt 5.14). Não temos luz própria. A luz que refletimos é a luz de Cristo (Mt 5.16). Os homens precisam enxergá-la através de nossas boas obras.

3º) É preciso manter acesa a tocha da salvação porque o mundo em trevas necessita da luz de Cristo – A terceira e última observação dessa reflexão sobre a necessidade de manter acesa a tocha da salvação, trata da situação do mundo em que estamos inseridos. Vivemos em um mundo mal. Nosso mundo contemporâneo é materialista e hedonista. Tem havido um distanciamento cada vez maior por parte das pessoas dos valores morais e espirituais. A Moral Cristã está caindo em desuso. O mundo tem renegado o cristianismo, acusando-o de seus males.

Isso é perfeitamente compreensível quando nos lembramos da afirmação bíblica de que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.14). A presença do pecado tornou o homem sem condições de uma compreensão correta acerca dos valores espirituais. É preciso haver o “novo nascimento” (Jo 3.3,7). Compreendemos, mas não aceitamos, porque os verdadeiros cristãos sabemos que os males deste mundo estão ocorrendo exatamente por conta do distanciamento da humanidade de seu Criador. Cada indivíduo precisa retornar por conta própria para Deus.

Escrevendo aos filipenses, o apóstolo Paulo conclama a Igreja de Cristo nos seguintes termos: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2.15). Há uma necessidade premente por parte do mundo de uma Igreja consciente e cumpridora de sua missão. Se o mundo e a sociedade estão corrompidos, a Igreja precisa manter-se pura para conduzir a tocha da salvação até aqueles que dela estão necessitados e se encontram ansiosos por sair das trevas espirituais que os acometem.

A Igreja de Cristo não pode falhar. Se um dia fomos tirados das trevas para a maravilhosa luz de Cristo (1Pe 2.9), essa “maravilhosa luz” precisa alcançar aqueles que estão ao nosso redor. Como já se disse: “A luz que brilha mais longe é a que brilha mais, de perto!” Iniciamos nossa influência no mundo por onde estamos e transitamos: casa, rua, escola, igreja. Daí, chegamos mais longe. Nosso testemunho fala mais alto. Precisamos por em ação essa nossa capacidade espiritual de ser “sal da terra” (Mt 5.13).

Lembremo-nos também que este mundo que precisa ver a Igreja de Cristo mantendo acesa a tocha da salvação, muitas vezes começa bem perto de nós. Um cônjuge, um parente, um amigo, um colega de trabalho, um vizinho são nosso campo missionário.

Conclusão – O “espírito olímpico” tomou conta de centenas de cidades brasileiras durante a passagem da tocha nos últimos dias. Milhares de moradores pararam suas atividades para apreciar a passagem desse que pode ser considerado um dos mais importantes símbolos olímpicos. No entanto, mais do que fraternidade entre os povos, Deus quer restaurar esta humanidade decaída e propõe o perdão através do arrependimento e da fé no Cristo crucificado.

A Igreja não pode perder de vista a mensagem da Cruz. A tocha da salvação exige que cada cristão a carregue com convicção e segurança. O “Espírito do Senhor”, “o espírito de sabedoria e de entendimento”, “o espírito de conselho e de fortaleza”, “o espírito de conhecimento e de temor do Senhor” conforme descritos em Isaías 11.2 precisam prevalecer sobre o poder de influência do “espírito olímpico”.

É imprescindível que mantenhamos acesa a tocha da salvação para que ela continue a exercer sua influência benéfica tão necessária para o mundo. Deus espera isso de seu povo. Nós precisamos dessa luz. O mundo em trevas necessita da luz de Cristo. Que Deus, para tanto, nos abençoe!

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

02 de Agosto de 2016 (10h58min).