NO TEMPLO BUSSHINJI
    Meu 18º texto mais lido, escrito em julho de 2008



 
        Quero compartilhar com vocês, queridos amigos do Recanto, através de  humílimo relato, um momento marcante de minha vida, também da vida das pessoas presentes ontem no Templo Busshinji, budista, situado no bairro da Liberdade, na capital de São Paulo, local onde foi realizada cerimônia religiosa em memória de H. Masuda Goga, nosso querido mestre Goga, nos 49 dias de sua "passagem" para Plano Mais Alto. Ali, no Templo,  parentes, amigos, nos despedimos da sua presença enquanto corpo físico neste plano.
           Mestre Goga, senhor dos segredos do haicai, foi o principal co-fundador do Grêmio Haicai Ipê no qual, modestamente, me incluo. Durante muito tempo coordenou as atividades do grupo e há anos radicou-se em sítio, no maravilhoso mundo chamado Minas Gerais. Já além dos 90 de vida mantinha admirável lucidez, a despeito de problemas de audição. Morreu como um passarinho, de repente, passarinho que sempre foi. Calou-se, repentino, seu lindo canto que nos inspirou e guiou desde os primeiros passos no Grêmio Haicai Ipê.
             Ontem, antes de adentrarmos o Templo, cada um de nós tirou os  sapatos, como sói acontecer quando se adentra em local sagrado (como também ocorre em templos de outras tradições sagradas) e assim, de meias ou com os pés totalmente nus, cada qual se sentou com o seu "missal" nas mãos para acompanhar, diante da imagem de Buda, o cerimonial.
           Não tenho recursos verbais nem conhecimento para descrever a sequência desse cerimonial, a beleza do templo, a 'liturgia' toda em Língua Japonesa  (lembrou-me as missas em Latim, que não cheguei a assistir). Em determinado momento, cada uma das fileiras de pessoas presentes fez a volta completa em torno do espaço interno do Templo, curvando-nos, cada um, diante da imagem do Buda e da foto do mestre Goga.
        No final da cerimônia um dos monges oficiantes fez uma breve preleção em Japonês, seguida de tradução, por outro monge, para a  Língua Portuguesa. Nela, preleção, explicou-se, sucintamente, o significado da cerimônia após a passagem dos 49 dias da morte: Os 49 dias representam, simbolicamente, o tempo que o ser desencarnado leva para o total desapego dos bens, bens de toda natureza; o tempo necessário para percorrer os 49 templos nos quais, sucessivamente, as vestes dos apegos irão sendo despidas. A partir do encerramento destes "ritos de passagem" o Ser, purificado, está apto para ingressar no Reino de Buda.
        Após o término da cerimônia nos dirigimos ao grande salão com as mesas postas onde nos confraternizamos, comendo sushis, doces japoneses (com ou sem palitinhos), tomando chá;  para quem o preferisse, havia coxinhas de frango, coca-cola, coisas que tais. Falamos de haicai, também de outros variados assuntos e recebemos, cada um, duas fotos do mestre Goga, tiradas no seu sítio em Minas: uma no seu gabinete de trabalho e outra junto de suas amadas flores.
        A caminho de casa  voltamos todos, certamente, com um fundo sentimento de paz e uma confortadora sensação de imortalidade, independente da crença religiosa ou do ceticismo de algum(s) de nós.Todos mais ricos, sem sombra de dúvida.

Zuleika dos Reis, São Paulo, 13 de julho de 2008.


Professor H. Masuda Goga





Livro-homenagem ao centenário de nascimento do professor Goga, livro de cuja organização tive a honra de participar (com Teruko Oda a presidir os trabalhos) e no qual também estou com quatro haicais da minha lavra.