O tabu

Falamos pouco de religião e talvez seja por esta razão que tão pouco sabemos sobre este assunto. Uns dizem que religião não se discute, justificando que nos leva a conflitos nas relações domésticas ou públicas e, portanto é melhor ficar calado. Mas não foram as instituições religiosas e as religiões que tiveram um papel importante nas decisões da sociedade, sendo que algumas instituições formaram parcerias com governos para gerenciarem o Estado?

Pois bem, falar de religião levando em consideração os aspectos históricos, concordo que é um assunto polêmico, talvez porque envolve uma pauta recheada de distorções, abusos e propostas apoiadas em princípios questionáveis, o que ainda tem gerado intolerância e discórdia entre comunidades em todas as regiões do mundo.

Ao longo da história, as religiões foram consideradas caixas de segredos: um tabu, onde a maioria das pessoas as aceita apenas pela crença, sem procurar entendê-las, sem pesquisar suas origens e em que circunstâncias surgiram. E, sem o necessário discernimento, pessoas são alvos fáceis de fanáticos, que se intitulam procuradores divinos. E assim, estes "procuradores", motivados mais por conveniências pessoais do que pelo Evangelho, colocam-se na posição de juízes e atrevem-se a querer decidirem o que os outros devem fazer ou ser, gerando mais preocupações do que harmonia.

Os que usam a religião para fazerem apologia de que o mundo está "perdido", não querem enxergar que o dilema da humanidade tem suas causas cravadas em situações sociais da multiplicação da pobreza e da ausência de quem queira custear a alteração desta situação.

Creio que, além de uma opção religiosa que respeite a dignidade das pessoas, o bem-estar espiritual depende de conhecermos melhor a nós mesmos, da relação que temos com a Natureza, da nossa posição crítica frente ao mundo e das nossas conquistas no campo material, também.

Os tempos mudaram: a liberdade de escolha torna-se uma das prerrogativas no nosso querido mundo. Na busca dessa liberdade e da convivência pacífica, comunidades evoluídas, no auge de sua lucidez e com base em experiências históricas, deixam de lado tendências de cunho religioso e decidem, de forma livre, os rumos de suas vidas. Este é o caso da CE - Comunidade Européia -, que ao aprovarem a sua Constituição optaram por fazê-la laica, ou seja, sem qualquer sujeição a esta ou aquela religião, deixando claro pois, que o medo e a precaução, falaram mais alto. É a preocupação com o desenvolvimento, mas também com a paz.