PORQUE DO VIVER

Viver não é uma tragédia, nem a existência é um castigo, nem mesmo a incerteza da vida, a certeza da morte e os enigmas do pós-vida, deve nos levar a considerar nossa passagem por aqui como uma inutilidade sem sentido, capaz de inviabiliza-la ou torna-la absurda.

A vida deve ser vivida integralmente nas suas dimensões mais mundanas e mais kafkianas e com toda a fome possível. A falta de respostas e um sentido concreto para alma, leva-nos a concluir que a vida constitui um labirinto, pois seu fim e começo se fundem e não podem ser explicados. A pergunta que se deve fazer e que não é feita, é porque diabos, temos que saber o que existe no final do labirinto, mas porque há um labirinto e porque isto nos inquieta.

Deveríamos apenas viver, que é o apotegma ou mantra atual do pensamento do governo Chinês à sua população. Viva, consuma, divirta-se e não pense, acima de tudo não pense em política. Talvez estejam certos do ponto de vista espiritual.

A resposta para os questionamentos, contudo, não é simples. A profundidade nos preocupa e nos atormenta, porque todo labirinto é misterioso. Seríamos felizes se pudéssemos ser periféricos, se tudo fosse periférico e toda a verdade estivesse na superfície, ao contato dos nossos olhos e ao alcance das nossas mãos.

Mas não é assim. Começa pelo fato de que nem tudo que vemos é o que sentimos. Sentimos bem mais do que podem alcançar os nossos pobres olhos. Pois nossos olhos só vêm o que a nossa consciência, situada no córtex visual nos permite ver. Tudo muito limitante para uma realidade tão complexa como a que nos cerca. Eu nada concluo sobre isso, mas penso, que nossos problemas podem advir da incapacidade da simplificação da realidade, pois precisamos desta simplificação para entende-la. O que devíamos nos perguntar, todavia, é porque precisamos entende-la?

A resposta é que nós temos perguntas demais, e as temos porque temos dúvidas demais. Se temos a dúvida e não temos a resposta, surge como contrapartida, a criatividade. A criatividade nos faz humanos, ela existe em função do questionamento, da inquietude e da dúvida não respondida e da incapacidade de explica-la, sem o que, a criatividade não existiria. Assim a criatividade retroalimenta-se em si mesma.

A criatividade simples de nos reinventarmos no dia a dia. A criatividade também leva a criar Deuses, mitos, Santos, milagres, fé e seitas etc. A dúvida vem do medo. Medo da morte, da pobreza, do infortúnio, das perdas materiais, da falta de aceitação, do futuro incerto, da falta de sentidos para as coisas etc.

Sem a criatividade, não teríamos a capacidade de aceitação da realidade e de nós mesmos, já que a rotina da vida é maçante e a falta de uma escapatória ao inexplicável nos levaria ao vazio existencial e a falta de fé sem o que não poderíamos construir um norte, o horizonte que achamos que devemos perseguir, que é em suma o roteiro da vida, e nela tentar encontrar algumas justificativas ou lenitivo às dúvidas que nos atormentam.

Sem a criatividade teríamos, assim, a morte do indivíduo, pois não haveria como ultrapassar os paredões da ideia do fim inescapável e sem alguma resposta a isso, ou sem a busca de uma saída para a mesma, não poderíamos viver.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 12/02/2017
Reeditado em 18/08/2022
Código do texto: T5910155
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