JÓ E A DOR DA PERCA

“Pense bem! Você ensinou a tantos; fortaleceu mãos fracas.

Suas palavras davam firmeza aos que tropeçavam; você fortaleceu joelhos vacilantes.

Mas agora que se vê em dificuldade, você se desanima; quando você é atingido, fica prostrado.

Sua vida piedosa não lhe inspira confiança, e o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança?” Jó 4:3-6

O TESTEMUNHO DE JÓ

Dia desses fui surpreendido com essa palavra, que ainda continua a falar muito comigo. Pus-me a pensar sobre ela, desde então e notei que não sou o único que necessita dessas palavras reveladas, aclaradas, renovadas, pelo Espírito Santo. Conheço muitas pessoas que estão passando por momentos terríveis, alguns estão sofrendo a perca, outros estão sofrendo as dores, alguns ainda a solidão.

Foi um dos amigos de Jó quem lhe disse essas palavras, que são inspiradoras e muito fortes. Muitos criticam severamente os amigos de Jó, pois a interpretação do que Jó estava passando, não foi devidamente compreendida por eles.

Jó fora severamente atacado por Satanás em todas as áreas de sua vida. Ele foi atacado sistematicamente na sua área financeira, ministerial, saúde e familiar. Jó perdeu tudo o que tinha, de repente, de um homem rico e próspero, Jó estava pobre, com a saúde abalada, perturbado mentalmente, extremamente frustrado com a vida e principalmente com Deus. Mas Jó teve a maior perca que um pai pode ter: ver o seu filho morrer. Mas Jó não viu um filho morrer. Jó teve sete filhos homens e três filhas mulheres e de uma vez, todos morreram. Jó perdeu, no mesmo dia dez filhos. Sua dor era insuportável.

Uma coisa que muitos não entendem, é que apesar de que foram muitos os filhos mortos de uma vez, cada sepultamento é único. Quando se sepulta uma vida, se sepulta um mundo de sonhos, de desejos, de esperanças. Cada vida é uma história, uma vivência, um sorriso diferente, um trejeito único. Cada pessoa é obra exclusiva de Deus e mesmo que alguém até possa se parecer com outra, não é a outra e nunca será. Cada perca é única e sofrida de forma diferenciada a cada vez.

A dor da perca, para alguns, é insuportável. Ninguém vive a dor igual. A dor é inquantificável, a medida da dor é vivenciada conforme entranhamentos mentais e espirituais. A perca de alguém é mais sentida, quanto mais amor foi dedicado a essa pessoa e foi recebido dessa pessoa. Amamos mais quem mais nos amou. Somos amados por quem mais recebeu do nosso amor. Há uma reciprocidade inquantificável na doação do amor. Enterrar um filho é inverter a ordem natural da vida e nas palavras de Jô Soares: “É a pior dor que um pai pode sofrer”, ao se referir à perca de seu filho, que morreu com câncer, aos cinqüenta anos.

Mas existem outras percas também, talvez não definitiva, como a perca para a morte, mas também sentida como igual. Uma das maiores dores da perca, do mundo é perder alguém amado. Ver a pessoa ir embora, pois ela escolheu viver a sua vida, sem você, é para alguns, insuportável. É morrer em vida, a perca definitiva, de alguém... vivo.

Existem outras percas também muito difíceis de suportar, como alguém que perde o cargo ministerial. Imagine um pastor, por exemplo, que por alguma, ou algumas razões, acaba se afastando do ministério. Quem desvia-se, tendo culpa, ou não tendo culpa, sofre, imensamente a dor de se imaginar rejeitado pelo próprio Deus. Uma das piores coisas do mundo, para um pastor, é ver a sua Igreja fechar. De certa maneira, uma outra perca, pouco tratada, é o obreiro ter que sair de sua Igreja, por alguma divergência e ter que ir embora, de uma Igreja que amou e ainda ama.

A perca, tem várias facetas, uma mais feia do que a outra. Numa época de uma crise financeira tão forte, que até parece que não vai passar mais, alguém que tinha um emprego estável, bem remunerado, ver-se de repente desempregado, é um baque tão forte, onde alguns não conseguem se levantar mais e desistem de lutar. Existem outras percas, também extremamente dificeis, como alguém perder num acidente uma perna, ou um braço. É uma perca, traumatizante.

Jó perdeu sete filhos homens e três filhas mulheres. O filho homem é tratado de forma diferente da filha mulher. O pai tem cuidado de cada filho, mas cada filho é diferente do outro e o pai, apesarde amar a todos, ama de forma diferenciada a cada um. Não diria que o pai gosta mais desse, ou mais daquele, mas sim que o pai reconhece amar algumas coisas nesse filho que o outro não tem. Cada filho e cada filha tem gestos, maneiras, palavras, peculiaridades únicas. Ninguém é igual a outra pessoa no mundo inteiro. Jó perdeu sete filhos e três filhas, de uma única vez. No mesmo dia, Jó enterrou dez filhos. A dor física, pois Satanas colocou sobre ele uma doença mortal, que doía e o fazia se coçar terrivelmente, era uma tentação física enorme, para alguém já combalido na sua alma.

Uma vez, em mais de vinte anos de ministério, aconteceu de ter de falar palavras amigas a uma mulher jovem, que acabara de perder o filho pequeno de menos de um ano. A mulher estava inconsolável e eu tinha que consolá-la. Pela misericórdia, Deus deu uma autoridade muito grande naquele dia e conseguimos pregar uma palavra de quase uma hora á mulher, assim como pude orar por ela. Eu me lembro que a palavra fora sobre um Salmo, onde a Israel preso, no exílio na Babilônia, é pedido que cante seus belos hinos a Deus, como cantavam próximos às palmeiras de sua terra.

A quem está vivendo uma perca horrível, onde todo o seu ser é provado, alguns dizem que o tempo vai fazer esquecer o que aconteceu. A minha palavra foi justamente que a perca nunca será esquecida. Teremos que repensar a vida, recondicionar o futuro, mas esquecer, jamais. Como esquecer quem perdemos, mas ainda amamos? Como esquecer amigos que se foram, talvez para sempre, porque mudamos de cidade ou país? Como esquecer o pai que morreu, ou a mãe? Como esquecer o filho que enterramos? Não dá pra esquecer. Talvez dê para repensar a vida, reorganizar, mas não esquecer. Ninguém pede para esquecer, nem Deus. A dor da perca é uma dor que vamos ter que conviver com ela para sempre. Alguns não vão conseguir serem produtivos mais e vão travar no caminho. Outros vão superar e encontrar forças dentro de si, de onde nem eles sabiam existir. Como esquecer o abraço, o beijo, o momento feliz e unico? Não, a proposta não é você esquecer, mas aprender a conviver com isso. A vida continua, quer a gente queira ou não.

E é este homem combalido por uma dor insuportável, que veio essas palavras amigas.

Você ensinou a tantos, fortaleceu mãos fracas, suas palavras levantavam aos que tropeçavam, você fortaleceu joelhos vacilantes. Isso é um testemunho de quem era Jó, um amigo, um altruísta, alguém que dava a sua vida para ajudar o próximo.

Essa palavra fala tão de perto conosco. Pois são muitas as horas em que a nossa tristeza, ou dor, é tão grande, que nos esquecemos dessas boas obras, que já fizemos. Mas são essas mesmas obras, que um dia plantamos, que dão testemunho de nós.

Você que ajudou tantos – continua – agora que está passando por dificuldades se desanima, se angustia, se apequena. Você foi atingido, e ficou prostrado, caído, jogado ao chão. Você foi, atingido. Aqui, há o reconhecimento de que o que você está passando não é simples e nem é para qualquer um. A dor de Jó era imensurável, inquantificável, impossível de se descrever, a não ser com gemidos, ou o silêncio. Os amigos de Jó ficaram sentados com ele, em silêncio durante sete dias e sete noites.

Essas palavras amigas, ditas até aqui são muito importantes, mas o melhor vem agora, pois há um testemunho espiritual do tamanho do homem que era Jó. Um dos amigos lhe diz: “A sua vida piedosa, religiosa, espiritual, a sua vida com Deus, não lhe inspira confiança? O seu procedimento irrepreensível, não lhe dá esperança?” Eu fico impressionado com essas palavras finais. Temos aqui um testemunho espiritual de Jó. Esse é um reconhecimento vindo de Deus. Apesar de que Jó estava passando por um momento dos mais difíceis para qualquer pessoa, ele ainda tinha o reconhecimento de Deus, de que ele era um grande homem de Deus.

CONCLUSÃO

Meu irmão, minha irmã. Essa palavra é nossa, para nós, obreiros que muitas vezes estamos passando por problemas muitos sérios na vida pessoal e que podem refletir na vida ministerial. Apesar da situação que você possa estar, Deus te lembra que você tem um testemunho na Terra e um reconhecimento no Céu. Você tem uma vida com Deus. Você é chamado de um crente irrepreensível. Isso não lhe dá esperança? Os seus problemas são parte da vida. São difíceis? Sim. Insuportáveis? Talvez. Mas Deus te lembra hoje que suas obras estão perante Ele e sua vida está escondida Nele. Não estamos esquecidos. Apesar da dor.

Fica na paz.

Paulo Sergio Larios

pslarios
Enviado por pslarios em 14/02/2018
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