Da Salivação à Salvação

Jesus é, disparadamente, o verbete mais frequente na Bíblia, presente em 144 citações; a Vida vem com 105, a Justiça, 94, e o Alimento, 31 vezes. A ordem teológica é até lógica - além de santificada.

Ao assistir a um programa televisivo hoje, transmissão da Universal, doutrinava-se os fiéis sobre os benefícios de se comer a Palavra. Talvez soe um tanto cru ou rude, o uso desse verbo. Entretanto, mesmo sem o apoio de meus botões para com eles poder pensar - estou usando camiseta jersey - infiro que o uso de algum sinônimo, como por exemplo, ingerir no lugar de comer, poderia parecer um tanto esnobe, distante, quando o propósito da religião é justamente atingir as massas.

Fiquemos assim com o comer, lembrando que na própria Bíblia está o registro do Profeta Jeremias que, tendo achado as Palavras do Senhor, comeu-as sem nenhum pudor ou temor. E em momento mais solene, na celebração da Eucaristia, Cristo anuncia ser a hóstia consagrada a manifestação de seu Corpo e concita os fiéis a Dele comerem. E para tornar a sagrada refeição mais palatável, passa ao vinho que, na mesma ordem, é o Sangue que derramou pela Salvação da Humanidade.

A Universal inova, nada obstante: imprime em papel comestível, e o embala em papel dourado, em formato retangular - diferentemente da hóstia católica, que não vem embalada, e tem conformação circular - e o coloca à disposição de seus seguidores. Sem fazer quaisquer menção a vinho, ou a sucedâneo seu de conteúdo alcoólico, mantém-se fiel à água consagrada, em copos ou garrafas de plástico, sem informar, contudo se sua disponibilização é gratuita ou mediante aquisição. Não informa tampouco se o produto divino deve ser somente consumido no interior de seu templo, ou se pode ser portado para consumo alhures.

De toda forma, temos aí o Pão da Vida e a fome da Fé, em animada e a variada convergência. Da Salivação vai-se à Salvação

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 04/03/2018
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