LIVRO DA BÍBLIA. - MATEUS

INTRODUÇÃO

Mateus é o Evangelho que dedicou maior espaço aos ensinamentos de Jesus. A tradição cristã o considerou como o “Evangelho Eclesial”, aquele a partir do qual se elaborou a doutrina da Igreja.

Mateus é o evangelho mais valorizado em toda a tradição da Igreja e tem sido objeto de numerosos estudos e comentários.

A maneira que Mateus elaborou o seu Evangelho é atrativo. A composição didática impressiona. Há, de certa maneira, um quadro da cristologia das comunidades primitivas. Em Mateus encontramos cinco grandes discursos de Jesus.

1. O sermão do monte 5,3-7,27

2. O apostolado cristão 10,5-42

3. O reino dos céus 13,3-52

4. A vida da comunidade cristã 18,3-35

5. O final dos tempos 24,4-25,46

Estas cinco unidades de discurso demonstram como Jesus vive com os seus discípulos sobre os quais vai construir a comunidade do Reino. As unidades são compostas com o objetivo de ajudar os crentes a aprendê-las de memória.

Os cinco grandes discursos de Jesus distribuem a doutrina conforme os progressos da formação da sua comunidade.

Como Marcos, o evangelho de Mateus contará, numa primeira parte, o anúncio que Jesus faz do Reino de Deus, através de seus ensinamentos e suas curas, com a preparação longínqua da Igreja; e, numa segunda parte, o evangelista mostra a maneira como o Mestre, caminhando para a sua paixão, reúne seus discípulos a fim de constituir a comunidade, testemunha do Reino em gênese.

O esboço sugerido pela Bíblia de Estudo Almeida ajuda a perceber esse processo:

1. Infância de Jesus (1,1-2,23)

a) Genealogia de Jesus Cristo (1,1-17)

b) Nascimento e infância de Jesus (1,18-2,23)

2. Começo do ministério de Jesus (3,1-4,11)

a) Pregação de João Batista (3,1-4,11)

b) Antecedentes do ministério de Jesus (3,13-4,11)

3. Ministério de Jesus na Galileia (4,12-13,58)

a) Começo do ministério (4,12-25)

b) O sermão do monte (5,1-7,29)

c) Atividades de Jesus (8,1-9,38)

d) Instrução dos apóstolos (10,1-11,1)

e) Atividades de Jesus (11,2-12,50)

f) As parábolas do Reino (13,1-58)

4. Ministério de Jesus em diversas regiões (14,1-20,34)

a) Atividades de Jesus (14,1-17,27)

b) Sermão sobre a vida da comunidade (18,1-35)

c) Atividades de Jesus (19,1-20,34)

5. Jesus em Jerusalém: semana da paixão (21,1-28,20)

a) Atividades de Jesus (21,1-23,39)

b) Sermão sobre o final dos tempos (24,1-25,46)

c) Paixão, morte e ressurreição (26,1-28,20)

Mateus, como fonte, desconcerta o leitor contemporâneo. Os princípios de composição e modos de interpretação remontam as correntes do judaísmo do século I. Já o seu alcance, e por vezes o sentido, escapam à mentalidade moderna.

AUTORIA

A teologia tradicional identificou o evangelista Mateus com o apóstolo Levi de quem fala o evangelho. O nome de Mateus, que significa “Dom de Deus”.

A crítica moderna é quase unânime em negar o apóstolo Mateus como o autor do evangelho que leva o seu nome. Segundo a opinião mais comum hoje, a autoria do evangelho de Mateus pertence a um “judeu-cristão” da segunda geração que escreve por volta do ano 80, em meio a uma comunidade da Síria, envolvida em um confronto com o judaísmo.

LINGUAGEM

A linguagem utilizada por Mateus facilita à memorização. Ela contém uma estrutura sólida e claramente compreensível com uma diretriz ética e moral. Os seus discursos são montagens literárias inspiradas nos processos rabínicos de composição: formas repetidas, paralelismos antitéticos ou sinonímicos, e que foram bem conservados por Mateus. Provém do ensinamento oral praticado pelos rabinos. O grego utilizado por Mateus é bem melhor do que o de Marcos.

DATA

Com respeito ao tempo de composição do evangelho de Mateus, não é possível fixar com exatidão. Muitos pensam que o evangelho foi escrito em terras da Síria, talvez em Antioquia, depois que os exércitos romanos destruíram Jerusalém no ano 70. Provavelmente entre os anos 70 e 80 d.C.

DESTINATÁRIO

Sobre o destinatário do evangelho de Mateus há certo consenso entre os estudiosos. Trata-se de uma comunidade em Antioquia, na Síria (At 11,19-26; 13,1), capital da província romana, terceira cidade do Império, depois de Roma e Alexandria. A comunidade de Antioquia formada em grande parte por judeus da diáspora com uma minoria de pagãos convertidos; é mais aberta na interpretação das Escrituras, na aplicação da Lei, no relacionamento com os pagãos do que a Igreja de Jerusalém, conservadora e ligada à tradição.

ESTRUTURA LITERÁRIA

São muitas afinidades entre Mateus e Marcos quanto às partes narrativas. Há 178 passagens em comum. Mas há também mais ou menos 300 passagens próprias do evangelho de Mateus.

CONTINUIDADE DA MISSÃO DE JESUS

A missão em Mateus é bem desenvolvida (10.5-42). Mateus apresenta recomendações importantes já ai servindo como treino para o IDE, que é a pregação em todo o mundo a todas as nações. E quando todas as nações souberem o mínimo possível para entender a Jesus, ele então voltará.

Em Mateus a obra missionária a ser realizada consiste em prolongar a ação de Jesus (10,1; 9,35): ir ao encontro “das ovelhas perdidas da casa de Israel”. Para eles, “seguir” Jesus quer dizer estar pronto a entregar a vida para que se estabeleça o Reino, confiando naquele que envia e que se identifica com seu enviado (10,24-25,40). Dentre outras lições, a de ir de dois em dois, no mínimo, é muito prática.

PARÁBOLAS

O discurso das parábolas utiliza-se de um gênero literário frequente nos livros históricos das Escrituras, como nos dos profetas e nos escritos da Sabedoria. A parábola consiste em explicar, ou antes, em fazer descobrir uma verdade profunda, uma realidade espiritual, por meio de comparações figuradas que o espírito apreende.

ESCATOLOGIA

A Escatologia é o ensino sobre as ultimas coisas que devem acontecer. O discurso sobre a vinda do Filho do homem (Mateus 24) é muitas vezes designado como discurso escatológico, porque oferece uma perspectiva definitiva sobre o compromisso do cristão com o que Mateus chama de “parusia”, isto é, o último “evento” do Filho do homem na história humana. Em Mateus ele toma a forma de um discurso sobre a vigilância. As visões escatológicas existiam na literatura do Antigo Testamento, nos profetas, especialmente em Daniel.

PARALELISMO

Em Mateus encontra-se uma figura de linguagem chamada paralelismo, que consiste no cruzamento das palavras de uma frase. Por exemplo, Mt 16,25: “Aquele que quiser salvar sua vida (A), perdê-la-á (B), ou aquele que perder sua vida (B) por causa de mim, vai encontrá-la (A)”.

BIBLIOGRAFIA

Carlos Cunha – Teologia de Fronteira – Introdução ao Evangelho de Mateus: Características Gerais

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Enviado por pslarios em 08/03/2018
Código do texto: T6274492
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