O CRISTÃO E O SUICÍDIO
 

Conforme o Centro de Valorização da Vida, rede voluntária de prevenção ao suicídio no Brasil, 25 brasileiros morrem por dia vítimas do suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo totalizando oitocentas mil de mortes todos os anos. Estima-se que cerca de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de suicídios no Brasil aumentou 12% entre os anos de 2011 e 2015.

Através das estatísticas apontadas é notória a importância da prevenção ao suicídio em escala mundial que representa um verdadeiro problema de saúde pública. Mas o objetivo deste artigo é abordar o assunto em questão à luz da cosmovisão cristã, que atribui ao suicídio implicações eternas no que se refere à salvação dos seres humanos. Logo, a pergunta que se pretende responder, ainda que sem a intenção de esgotar o tema é: pode um cristão genuíno levar a cabo o ato do suicídio? E se a resposta for positiva, pode um verdadeiro crente em Cristo perder a sua salvação em consequência da retirada intencional da própria vida?
        
Pontos de vista
           
A visão cristã acerca do suicídio não se comporta de modo unânime. Há três posições, ou pontos de vista, sobre o assunto:
  1. 1) Um cristão verdadeiro não cometeria suicídio porque Deus o impediria.

    2) Um cristão verdadeiro pode cometer o suicídio, mas se o fizer perde a salvação.

    3) Um cristão verdadeiro pode cometer o suicídio sem que esse ato implique na perda da salvação.
 
 O que a Bíblia diz a respeito?

Em primeiro lugar, o suicídio não deve ser uma escolha para os cristãos. Tanto o homicídio quanto o suicídio encontram barreira no sexto mandamento do decálogo que diz: “não matarás” (êxodo 20:13), o qual se refere tanto à retirada da vida do outro quanto ao autodizimar-se. Além disso, o norte da vida dos verdadeiros crentes deve ser o amor que inclui o amor a si próprio. O princípio que exclui a possibilidade de tirarmos a nossa vida por conta própria inclui a dependência do Senhor, pois somente Ele pode decidir sobre o momento da nossa partida desse mundo para a eternidade.

Segundo a narrativa de Lucas, o apóstolo Paulo interveio rápido contra o suicídio do carcereiro quando pensou que todos os presos, sob sua responsabilidade, haviam fugido:
“o carcereiro acordou e, vendo abertas as portas da prisão, desembainhou sua espada para se matar, porque pensava que os presos tivessem fugido. Mas Paulo gritou: Não faça isso! Estamos todos aqui!” (Atos 16:27-28).

Deve-se destacar que há casos na Bíblia de homens, reconhecidamente de Deus, que cometeram o suicídio, a exemplo de Sansão: Juízes 16: 28-30 que matou a si mesmo a aos filisteus. Ainda assim, não há no relato qualquer indício de aprovação do ato cometido pelo homem que pediu a Deus, pela última vez, o retorno das forças para se vingar: Juízes 16:28. Ou seja, o suicídio sempre será um ato pecaminoso e não é indicado nem aceitável, biblicamente falando. Feita essa abordagem cabe a análise acerca da gravidade do suicídio. Isto é, será esse ato um pecado tão grave a ponto de retirar dos cristãos o direito, a eles legado por Cristo, de irem ao céu após a morte? Praticar o suicídio significa ir automaticamente para o inferno?
 
 
O Pecado imperdoável

O suicídio pode ser considerado um pecado sem perdão? Muitos afirmam que sim, já que não há a possibilidade do suicida, tendo alcançado o seu objetivo, pedir perdão ao Senhor por ter dado cabo da própria vida. Será mesmo?
Bem, como dito acima, o pecado do suicídio encontra divina reprovação no mandamento: “Não matarás”. Da mesma forma o pecado do homicídio alcança igual obstáculo e, desde que haja o arrependimento genuíno, um crente que o pratique não perde necessariamente a salvação. O rei Davi é um exemplo claro disso, pois foi o responsável direto pela morte de Urias e, ainda assim, foi perdoado pelo Senhor. Assim sendo, por que o suicídio acarretaria na perda da salvação de um crente genuíno?

A Bíblia nos informa que Cristo, pelo seu sacrifício expiatório, não perdoou alguns pecados dos seus eleitos, mas todos: passados, presentes e futuros. (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10: 11-18). Na cruz, Cristo tornou os crentes justos, não justificáveis (Romanos 3:23-26), (Romanos 8:29-30). Portanto, o sacrifício que cobre os pecados dos cristãos é o mesmo que estará com eles na morte e que cobre também o pecado do suicídio. Está claro em Romanos 8:38-39 “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o porvir, nem os poderes, nem a altura nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus”. Esse texto afirma que nenhuma criatura pode separar os crentes do amor de Deus, inclusive eles mesmos. Em João 10:27-29 está escrito que ninguém pode arrebatar as ovelhas das mãos do Pai e Filipenses 1:6 assevera: “Aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”.

De acordo com a Bíblia todos os pecados dos crentes foram perdoados em Cristo, exceto o descrito em Marcos 3:25-32 e Mateus 12:31 que é classificado como o pecado imperdoável, o qual consiste na rejeição contínua e deliberada das obras do Espírito Santo, pecado esse que não pode ser cometido por cristãos genuínos. O versículo 30 do capítulo 3 de Marcos assevera: “Jesus falou isso porque estavam dizendo: Ele está com um espírito imundo.” Essa passagem explica o motivo da reprovação de Jesus aos fariseus que praticaram o pecado imperdoável, ou seja, atribuíam a obra do Espírito Santo a demônios. Assim, o único pecado que os crentes regenerados não podem jamais praticar é o da blasfêmia contra o Espírito Santo, pois apenas homens não salvos podem praticá-lo. Logo, não sendo o pecado do suicídio um pecado considerado imperdoável, ele também alcança o perdão gracioso de Cristo, um favor concedido de modo imerecido aos salvos. Sem querer me aprofundar no tema, cabe a ênfase no fato de que a salvação é um ato concedido por Deus de modo imerecido, conforme explicita o apóstolo Paulo na carta aos efésios no capítulo 2: 8-9: “Porque vocês são salvos pela graça, mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus para que ninguém se glorie.”

Por fim, caso alguém ainda se mostre contrário à possibilidade de um cristão verdadeiro ser salvo, ainda que cometa o ato do suicídio, alegando que alguém nessa condição não teria tempo suficiente para se arrepender a fim de alcançar o perdão de Deus expresso na primeira carta do apóstolo João no capítulo 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”. A esse respeito cabe aqui a aplicação de uma interessante analogia promovida pelo pastor Augustus Nicodemus em uma de suas preleções. Considere a possibilidade de um casal, genuinamente cristão, discutir feio enquanto o marido dirige seu automóvel e, em decorrência desse desentendimento, ocorra um acidente fatal que dizime a vida dos dois. Pelo fato de não ter dado tempo para o casal se reconciliar antes da morte, isso acarretaria na perda da salvação de ambos? É lógico que não, pois todos nós somos e seremos sempre pecadores e jamais estaremos livres da prática do pecado em momento algum de nossas vidas. Se esperarmos um momento em que ficarmos completamente livres dos nossos pecados para irmos ao céu, não iremos a ele jamais. Entende? Então, sim. É possível que um cristão, ainda que suicida, alcance a glória eterna. Por quê? Pelo fato de os méritos salvíficos residirem completamente no sacrifício expiatório de Cristo, não em nossas obras.
 
 
Uma palavra aos suicidas
           
O fato de um salvo não perder a salvação em decorrência da prática do suicídio, de modo algum, deve ser interpretado como uma justificativa para o crente dar cabo da própria vida. Embora haja a possibilidade de crentes salvos morrerem vítimas do suicídio, cabe ressaltar que, na grande maioria dos casos, o suicídio é praticado por homens e mulheres não alcançados pela regeneração salvadora. Ou seja, assim como um salvo pode cometer esse ato num momento extremo de sua vida, apresenta-se nesses casos o real questionamento acerca da salvação dessas pessoas. Caso você seja um crente que já pensou em tirar a própria vida, achegue-se a Cristo. Ele é quem vai lhe dar o escape necessário em meio às adversidades e percalços da existência humana:
“Não veio sobre vós tentação que não fosse humana, mas Deus é fiel que não deixará que sejam tentados além das vossas forças, antes vos proverá o livramento para que a possais suportar.” (1 Coríntios 10: 13).
 
 
 
 REFERÊNCIAS:

Dados mundiais sobre o suicídio – Paula Fontenelle. Disponível em:
https://www.prevencaosuicidio.blog.br/dados
Acesso em: 14 de maio de 2018.
 
Número de suicídios aumentou 12% no Brasil, mostra Ministério da Saúde. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2017/09/numero-de-suicidios-aumentou-12-no-brasil-mostra-ministerio-da-saude.html
Acesso em: 15 de maio de 2018.
 
Falando abertamente sobre o suicídio. Disponível em: www.cvv.org.br
Acesso em: 18 de maio de 2018.
 
Suicídio- Vincent Cheung. Disponível em: http://defesaapologetica.blogspot.com.br/2017/04/suicidio-vincent-cheung.html
Acesso em: 17 de maio de 2018.
 
Quem comete suicídio necessariamente vai para o inferno? Disponível em: https://www.defesadafe.org/single-post/2017/04/17/suicidio
Acesso em: 13 de maio de 2018.
 
Ao cometer suicídio, o cristão perde a salvação? Miguel Núñes. Disponível em: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/633/Ao_Cometer_Suicidio_o_Cristao_Perde_a_Salvacao
Acesso em: 12 de maio de 2018.

 
John Grafia
Enviado por John Grafia em 19/05/2018
Reeditado em 04/11/2018
Código do texto: T6341222
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