AS TRÊS REALIDADES DA CRUZ

INTRODUÇÃO

É possível retirar, do premiado livro de John Stott, A Cruz de Cristo, o esboço d’As três verdaes sobre a Cruz: 1- A Cruz que mostra como é horrível o nosso pecado, 2- A Cruz mostra o amor de Deus e 3- A Cruz proporciona salvação. Gostei desses subtítulos e os conservo, mas esse estudo foge do que Stott nos fala em alguns pontos. Temos nesses três pontos três doutrinas bíblicas: A pecabilidade humana, o amor divino e a doutrina da salvação.

Eu nasci na Assembléia de Deus, onde aprendi a gostar de doutrinas, não pertenço mais a essa denominação, mas o gosto persiste. Durante anos preguei doutrinas e ainda hoje faço o mesmo. Há três tipos de sermão bíblico.

O sermão escrito. Esse é o que mais denota tempo na preparação. O pregador sabe o tempo todo o que vai dizer e como vai dizer.

O esboço. Nesse tem-se apenas um esqueleto do que se vai dizer, deixando pontos vagos a serem respondidos na hora, conforme o momento.

O terceiro é o sermão extemporâneo, ou espontâneo. Geralmente é apresentado sem notas. Em geral aqui se recebe um bom pensamento e se entrega o que vier à mente.

Eu particularmente ensino que sempre a mensagem seja apresentada com o melhor que o pregador puder fazer. Mas cada qual dos tipos de pregação tem o seu momento. Um sermão espontâneo pode e deve ser usado “de repente”. Por exemplo quando o pregador é convidado à pressas para visitar um doente, ou quando o pregador convidado não veio. Ai fala-se o que estiver no coração.

O meio termo, o esboço, tem também o seu momento. Pode ser usado quando o pregador não teve muito tempo para meditar na mensagem. Por exemplo é chamado hoje para pregar amanhã.

Mas com certeza o preferível, sempre, é o sermão bem preparado. É indesculpável uma pessoa ser convidada um mês antes para pregar e quando chega na hora ele não tem o que apresentar. Teve um mês, ou, todo o tempo do mundo e nada fez. Tendo tempo e apresentando algo inferior, denota despreparo ou preguiça.

PRIMEIRA PARTE - A CRUZ MOSTRA COMO É HORRÍVEL O NOSSO PECADO

A NATUREZA DO PECADO

1. O PECADO COMO UM ATO. Em 1 João 3:4 temos a definição do pecado como um ato. É um transgredir, ou um ir contrário à Lei de Deus.

2. O PECADO COMO UM ESTADO. O pecado não é um fazer, mas um estar. Os nossos atos não são senão expressões dos nossos seres interiores. O pecado interior precede os atos do pecado. "Ao que se sabe fazer o bem e o não faz, ao tal é pecado" (Tiago 4:17).

3. O PECADO COMO UM PRINCÍPIO - O pecado como princípio, é rebelião contra Deus. É recusar fazer a vontade dEle que tem todo o direito de exigir obediência de nós.

4. O PECADO EM ESSÊNCIA - "Podemos seguir o Dr. E. G. Robinson em dizer que, enquanto o pecado como um estado é dessemelhança de Deus, como um princípio é oposição a Deus e como um ato é transgressão da Lei de Deus, sua essência é sempre e em toda a parte egoísmo" (Strong, Systematic Theology, pág. 295). O pecado é egoísmo, ou querer fazer a nossa vontade.

A UNIVERSALIDADE DO PECADO NA FAMÍLIA HUMANA - Todos os homens, salvos por única exceção o Deus – homem, Cristo Jesus nosso Senhor, são pecaminosos por natureza e expressam essa pecaminosidade interior em transgressão deliberada tão cedo atinjam a idade de responsabilidade. Este fato está provado:

1. A NECESSIDADE UNIVERSAL DE ARREPENDIMENTO, FÉ E REGENERAÇÃO.

Lucas 13:3; João 8:24; Atos 16:30-31; Hebreus 11:6; João 3:3,18. As Escrituras ensinam que a extensão do pecado no ser humano é total. Isto é o significado de depravação total. A depravação é um assunto muito mal entendido. Por essa razão precisamos de entender que a depravação total não quer dizer: (1) Que o homem por natureza está inteiramente privado de consciência. Até mesmo o pagão tem consciência. Romanos 2:15. (2) Que o homem por natureza está destituído de todas aquelas qualidades que são louváveis segundo os padrões humanos.

SEGUNDA PARTE - A CRUZ MOSTRA O AMOR DE DEUS

Uma das mais desconhecidas doutrinas é a do amor de Deus. Existem cinco formas do amor de Deus.

1- O Amor na Trindade – “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” 2 Coríntios 13:14. Paulo define as características principais da Trindade aqui. A graça de Jesus, ou o poder salvador de Jesus. O amor de Deus, ou o amor que une a Trindade. E por fim a comunhão do Espírito Santo. Cada uma dessas características estão inter-relacionadas e é impossível pensar na comunhão sem o amor e na graça salvadora sem amor, assim como é impossível pensar em amor sem comunhão e vice-versa. O amor demonstra a inter-relação da Trindade, assim como demonstra que a tônica do cristão agora é o amor, demonstrado para com Deus e para com o outro. Mostre-me o amor que você tem e te digo se você é um cristão ou não.

2- O Amor amoral de Deus – “Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” Mateus 5:45 Falamos muito que Deus é um Deus moral, mas pouco se fala que Deus é um Deus amoral. Um significado que Deus ama a todos é quando Mateus nos diz que Deus faz raiar o sol e derrama a chuva, sobre os justos e os injusto, sobre os bons e sobre os pecadores. O sol brilha igual para o maior santo, assim como o maior pecador. O santo deve temer e honrar ao Senhor e o pecador deve ser constrangido, por Deus o abençoar, sendo ele ainda um pecador. Isso é o amor, que quer te ganhar pela bênção e não pela maldição. Deus é exrtremamente amoral, ama a toda a sua criação e não quer que ninguém se perca.

Porém ao demonstrar-mos que Deus ama a todos de igual modo, logo se levantam os que acusam de universalismo a nossa doutrina, dizendo que Deus não pode amar a todos por igual. Isso é demonstrar falta de entendimento bíblico, pois a vontade de Deus é que ninguém se perca e que a todo o tempo, a cada hora, o amor de Deus está pronto a salvar o perdido pecador. Deus é amoral, ele ama a todos. A Teologia diz que temos A Graça Resistível e a Graça Irresistível. Na Graça Ressistível, o homem ainda tem poder em si mesmo de dizer não a Deus e sim para a sua condenação eterna. A Graça irresistível, por outro lado é o chamado inequívoco de Deus, onde o homem vem pela dor ou pelo amor, mas vem. Deus chamou, Deus convocou e quem é o homem para dizer não.

3- O Amor moral de Deus – O amor moral é o amor por códigos a serem respeitados. Deus deu alianças aos homens e os homens devem respeitar essas alianças. Posso chamar de amor moral o amor religioso de Deus, ou a convicção religiosa que Deus coloca no ser. Muitas pessoas serão salvas por seguirem regras, enquanto que outras o serão pela fé. Nem todos alcançam a fé que salva, mas muitos podem ser alcançados pela religiosidade, ou viver uma vida piedosa, evitando o pecado e buscando a Deus. Viver pela fé é mais difícil e também mais livre. Viver pela religião é seguir regras, uma conduta, uma moral, uma vestimenta, um jeito de cultuar.

4- O Amor eletivo – Esse é o chamado específico ao homem, ou a mulher escolhida a dedo por Deus desde o ventre. “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...” (João 15:16) Esse compartimento da doutrina do amor de Deus nos humilha e nos abençoa. Não fomos nós que escolhemos a Deus, mas foi ele quem nos escolheu. Isso demonstra que o amor de Deus para conosco existiu primeiro, quando ainda éramos inimigos de Deus, Ele nos amou. Deus nos amou quando éramos as mais vis criaturas do mundo. Ele nos escolheu quando nada tínhamos a dar. Deus nos amou quando nós estávamos na pior miséria pecadora. Fomos escolhidos, eleitos (1) antes da fundação do mundo, com os meios, (2) ou o propósito de sermos santos e irreprensiveis (Efesios 1.4) e (3) para darmos fruto (Joao 15.16).

5- O Amor demonstrado nas alianças – São sete as alianças de Deus com o homem. 1- Adamica, 2- Noética, 3 Abraâmica, 4- Palestina ou Terra Prometida, 5- Mosaica, 6-Davidica, 7- Nova aliança. Há aqui uma progressão de pensamento até que o Espírito Santo possa estar dentro e dirigindo o homem na ultima aliança: Deus conosco, mudando o nosso coração. Adão é o tipo, a figura, que significa a inocência. Noé, a salvação. Abraão, a peregrinação nessa Terra, que não é o nosso lar definitivo. A Terra prometida significa o Céu. A aliança Mosaica significa a Lei. A Davidica o Reinado. E a Nova Aliança o Espírito para sempre dentro de nós.

TERCEIRA PARTE - A CRUZ PROPORCIONA SALVAÇÃO

O DESIGNIO DA SALVAÇÃO

Eu já falei de várias maneiras desse assunto em vários estudos, mas falta ainda falar sobre o desígnio da salvação. Qual é o propósito primordial da salvação. Há um entendimento falho em imaginar que a salvação é por nossa causa, não é, a salvação parte de Deus e caminha para ele. Existe muita confusão nas nossas Igrejas a respeito das doutrinas em geral, acho que o pior problema é a falta da falar delas. E ai volto a um assunto que muitos não gostam: A Escola Dominical. Algumas Igrejas tem a Escola Dominical, onde vão poucos crentes, pois em geral os assuntos tratados não são os mais importantes que muitos irmãos gostariam de ver na agenda. Ainda depõe contra a Escola Dominical ruins professores. Alguns empurram o ensino da Igreja para a Escola Dominical e os cultos que são melhores freqüentados carecem de ensinamento.

Além de tudo isso a doutrina da salvação trata de muitos tópicos e uma ordem dificil de seguir, além de alguns aspectos impossíveis de entender por completo, porém convém estudar o assunto pois todos os livros da Bíblia tratam do assunto.

O termo teológico deste assunto é soteriologia. Essa doutrina abrange as doutrinas da reprovação, a eleição, a providência, a regeneração, a conversão, a justificação e a santificação entre outras. Também envolve a necessidade de pregação, de arrependimento e de fé. Inclui até as boas obras e a perseverança dos santos. A salvação é uma atividade divina em que participam as três pessoas da Trindade agindo no homem. Ela tratar da obra de Deus que resulta no eterno bem do homem para a glória de Deus.

O Desígnio da Salvação é dar glória a Deus. Pela eternidade passada e pela eternidade futura Deus deseja receber toda a glória de tudo que Ele faz (Êx. 34:14; Is. 42:8; 48:11; Rm. 11:36; I Co. 10:31). Na realidade a ninguém outro, senão a Deus o Todo Poderoso, é devido toda a glória nos céus e na terra. A glória de Deus é a prática dos seres celestiais agora (Sl. 103:20; Is. 6:1-3) e para todo o sempre (Ap. 4:11; 5:12). Essa glória não vem de uma necessidade em Deus pois Ele não necessita de nenhuma coisa (At. 17:25) mas é simplesmente um desejo e direito particular (I Co. 1:26-31; Ef. 2:8-10).

A obediência é a forma abençoada por Deus para Ele ser glorificado (Rm. 4:20,21). A obediência desejada é entendida tanto antes do pecado (Gn. 2:16,17) quanto depois (Dt. 10:12,13). Pela obediência da Sua Palavra, Deus é glorificado. Essa observação contínua é o dever de todo o homem (Ec. 12:13).

A desobediência da lei de Deus é pecado (I Jo. 3:4; 5:17) e provoca a separação eterna do pecador da presença de Deus (Gn. 2:17; Rm. 6:23). O pecado é uma abominação tamanha justamente por não intentar dar glória a Deus (Nm. 20:12,13; 27:14; Dt. 32:51). O pecado é iniqüidade a Deus e em nenhuma maneira glorioso.

A SALVAÇÃO ATRAVÉS DE CRISTO

A salvação tem o propósito de trazer glória eternamente a Deus, e, essa glória na salvação, é por Jesus Cristo para todo o sempre (Rm. 16:27; II Co. 4:6; I Pe. 5:10). A santificação traz os eleitos a serem semelhantes a Cristo (I Jo. 3:2). Cristo é a semente incorruptível pela qual os salvos são gerados de novo (I Pe. 1:23-25). Cristo é o caminho sem o qual ninguém vai a Deus (Jo. 14:6). Cristo é a verdade em qual o pecador deve crer para ser salvo (Jo. 3:35,36). Na imagem de Cristo os salvos são transformados (Rm. 8:29) e por Cristo os salvos são conservados (Jd. 1). Os frutos de justiça, são por Jesus Cristo, e, por isso, para a glória e louvor de Deus (Fp. 1:11). Não existe uma operação sequer na salvação que não glorifica Deus pelo Filho unigênito. Não deve ser segredo, tanto na realização da salvação quanto na condenação dos pecadores, Deus é, e sempre será, eternamente glorificado por Cristo (Jo. 5:23; 12:48; II Co. 2:15,16; Fp. 2:5-11).

OS EFEITOS DA SALVAÇÃO EM NÓS NÃO SÃO A CAUSA DA SALVAÇÃO

Existem muitos erros nas crenças de muitas igrejas e crentes já neste ponto inicial sobre o propósito da salvação. Muitos querem colocar as bênçãos que o homem recebe pela salvação como sendo os objetivos divinos na salvação. Mesmo que a nova criação feita na salvação é maior e mais gloriosa do que a primeira criação relatada em Gênesis; mesmo que a salvação é de uma condenação horrível; mesmo que pela obra de Cristo na salvação Satanás é vencido e, mesmo que pela salvação moradas celestiais estão sendo feitas no céu, todas estas verdades são resultados da salvação e não os desígnios dela. Muitos confundem o eterno lar, o fruto do Espírito Santo, a vida cristã diante do mundo ou a igreja cheia de alegria como os desígnios da salvação. Mas, o estado final da salvação não deve ser confundido com o objetivo dela, nem os efeitos com as causas. Deus não tem propósito de dar a Sua glória ao outro, inanimado, animado ou mesmo um salvo, mas, somente a Ele (Is. 42:8). Como em tudo que Deus faz, a salvação centra em Deus e em sua glória e não nos benefícios do homem. Os efeitos que a salvação produz não são as causas da salvação ser decretada por Deus na eternidade passada.

Se, em nosso entendimento desta maravilhosa doutrina da salvação, a ênfase for colocada de qualquer maneira nas bênçãos que o homem recebe e não na glória de Deus, o nosso entendimento é falho neste respeito e devemos buscar as bênçãos de Deus para que Ele nos endireita para adorarmos a Ele como Ele deseja, em espírito e em verdade (Jo. 4:24).

A SALVAÇÃO É UMA LIBERTAÇÃO

Por ter uma doutrina da salvação é presumida a existência de iniqüidade, que é a quebra de uma lei (I Jo. 3:4; 5:17, “o pecado é iniqüidade.”), e a existência de um que deu a lei, o qual é Deus (Jo. 15:22,24, “Se Eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado..”). Tudo o que é pecado e tudo que o pecado causa é desfeito pela salvação.

Em geral podemos dizer que a salvação é uma libertação. A salvação é libertação da culpa e impiedade do pecado juntamente das suas conseqüências eternas de rebelião contra o governo do Deus Todo-Poderoso. Sem a libertação que a salvação efetua, o pecador seria excluído eternamente da presença de Deus e para sempre exposto à Sua ira (Jo. 3:36).

CONCLUSÃO

O fato da salvação ser livre, substitutiva, penal e sacrificatória será tratado posteriormente nessa série, quando estudarmos o preço pago por Cristo na salvação. Por agora entendemos que a salvação é necessária e é uma libertação.

A Cruz mostra que o nosso pecado é uma falha horrível contra Deus. Parte Dele a nossa salvação

A Cruz mostra ainda o amor de Deus pelos homens, que primeiro partiu dele e nunca de nós.

A Cruz mostra ainda a salvação, onde o desejo e a origem é Deus e para Deus. Somos abençoados na escolha divina por nós.

Amém

Paulo Sérgio Lários

BIBLIOGRAFIA

Pr Calvin Gardner

Pr John Stott

pslarios
Enviado por pslarios em 20/10/2018
Reeditado em 20/10/2018
Código do texto: T6481415
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