DISCIPULAR SEM DOMINAR

“Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho” I Pe 5:3

Em suas últimas palavras aqui na Terra depois de conviver aproximadamente três anos com os seus discípulos, Jesus escolheu as palavras descritas em Mateus 28:18-20 como a essência do seu ministério, a qual deveria ser reproduzida pelos discípulos. Ali encontramos três elementos claramente definidos: uma ordem (ide), um método (fazei discípulos, ensinando-os) e uma promessa (estarei convosco).

Jesus tinha um método; uma estratégia, ele não apenas nos ensinou o que fazer, mas também como fazer. A maior parte dos materiais disponíveis sobre discipulado enfatiza “o que” ensinar e não o “como ensinar”. Sabemos pelas escrituras que nem todos são “pastores-mestres” no sentido de Efésios 4, mas na prática todos que cuidam de vidas ensinam por obrigação da função. Devemos entender que o ensino não deve ser feito de qualquer forma, segundo nossa alma, mas de acordo com o modelo que aprendemos a Cristo e o fundamento dos apóstolos e profetas, tanto que Tiago nos adverte quanto a “querer ser mestre”. O próprio entendimento equivocado da ordem de Jesus pode nos levar a desvios do alvo, pois muitos podem ver ali uma “carta branca” para o discipulador assumir o papel de Jesus sobre a vida das pessoas, o que não ocorre. A ordem foi para nós fazermos discípulos “dele” e não nossos. Ele é o mestre e Senhor, Ele é a porta, Ele é o caminho e Ele é o alvo. Se os discípulos não são nossos, com que autoridade ensinaremos? Não precisamos ser maiores que alguém para ensinar, se fosse assim Jesus não teria ensinado que aquele que desejasse ser o maior deveria ser o servo. Nossa autoridade vem apenas daquilo que somos como Jesus e isto deve bastar para aqueles que forem receber o ensino.

Que certeza de obediência tem aquele que guia alguém? Nenhuma, apenas expectativa, se o fizer com a graça de Cristo. Mas e quanto a passagem de Hebreus 13:17 que diz para obedecermos aos nossos guias (ou pastores)? Infelizmente esta é uma passagem que possui duas imprecisões na tradução, muito sutis, que acabam induzindo a conclusões erradas e práticas equivocadas:

1º) A palavra “obedecei” aqui no texto original é [peitho], que significa: “deixar-se persuadir, ter confiança”. A palavra amplamente utilizada por “obediência” no Novo Testamento é [hupakoe], que significa: “obediência, submissão, obediência em resposta aos conselhos de alguém” e [hupakouo], que significa: “ouvir, escutar, ouvir uma ordem”. Na grande maioria das vezes estas palavras estão associadas a ordens de obediência à doutrina (Rm 6:17), à fé (At 6:7), à Cristo (Hb 5:9), à verdade (I Pe 1:22) e ao evangelho (II Tes 1:8); existindo apenas uma exceção, quando Paulo se dirige usando esta mesma palavra a Philemon, numa questão específica com respeito a Onésimo, jamais abrindo qualquer possibilidade para se fazer uma doutrina de ascendência generalizada de irmãos sobre irmãos. Esta prática já estava sendo combatida na igreja primitiva quando João criticou a atitude de Diótrefes, pois ele gostava de exercer a primazia entre os irmãos interferindo nos seus relacionamentos.

2º) A palavra “guia” (ou pastores em algumas traduções) no texto original é [hegeomai], que é um verbo (e não como um substantivo como está nesta tradução) e significa: “guiar, ir adiante”. Existe uma palavra específica para guia (ou governador), que é [hegemon] no original, que foi utilizada em todo Novo Testamento apenas para se referir aos governadores instituídos pelos homens, mais especificamente aos governadores romanos. Nunca esta palavra foi aplicada para se referir a algum irmão em posição de comando, pois ela implicaria a uma obediência a pessoa investida daquela autoridade e como vimos antes, temos que ser levados à obediência de Cristo.

Este versículo ficaria melhor traduzido assim: “Deixem-se persuadir por aqueles que vos guiam e não os resistam mais, pois vigiam pelas vossas almas, para que façam isto com alegria e não gemendo, pois isto não seria proveitoso para vós”. Por que eles gemeriam? Porque é muito desgastante tentar conduzir alguém que não acata conselho.

Conscientes das nossas limitações como pastores, dos desgastes e sofrimentos que nos aguardam como servos de Cristo (Paulo disse que se “gastaria e deixaria gastar pelas vossas almas”), que não devem buscar qualquer primazia sobre os irmãos, vamos ver como conseguiremos guiar docilmente os discípulos de Jesus.

“Ensinar foi a obra mais transcendente de seu ministério na terra, sem levar em conta aqui sua obra redentora. Os enfermos que curou morreram, os mortos que ressuscitou voltaram a morrer, etc. O fruto que se perpetuou dos três anos e meio do seu ministério público foi o ensino repartido com os doze discípulos. “Os céus e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão” Mt 24:35”. (Jorge Himitian)

Saber como ensinar torna-se tão importante quanto o que ensinar. Entendemos o “discipulado” não como uma, mas como “a” estratégia escolhida pelo Senhor para alcançar seu propósito, por isto discipulamos. Mas o que é discipular? De uma forma resumida, discipulado é “relacionamento”, mas um relacionamento com um fim proveitoso para Deus. Jesus chamou doze para estarem consigo antes de tudo (Mc 3:14). Estar com Cristo era fundamental como parte do ensino, pois ali é que se desenvolvia a dinâmica do discipulado. Sobre esta dinâmica, o livro Plano Mestre de Evangelismo de Robert Coleman resume oito práticas fundamentais que devem estar presentes no relacionamento de discipulado, para que ele cumpra com seu propósito estabelecido por Deus e não se torne apenas uma amizade ou uma escola bíblica caseira.

Na linguagem de Paulo, discipulado é uma “junta” (Ef 4:16, Cl 2:19), uma relação forte onde um irmão mais maduro se liga e transmite alimento a um mais novo na fé, com o objetivo de cooperar com Deus na formação de Cristo na vida do discípulo. Para Paulo, discipulado também era uma relação de paternidade. Este era o tratamento dispensado por ele para aqueles aos quais estava cuidando (I Co 4:14, 4:17, Gl 4:19, I Tes 2:11-12, I Tim 1:2, Tt 1:4, Fm 10) da mesma forma como Pedro se refere a João Marcos como seu filho (I Pe 5:13).

Além de sermos ensinados em nossa caminhada, a ordem de Jesus ganha vulto ao incluir todos aqueles que viessem após os primeiros, todos os que o Senhor chamar, tornando parte de nossa obrigação capacitar o discípulo para que ele também ensine a outros (II Tim 2:1-2; Cl 3:16). Concluímos que ganhar e cuidar de vidas é um chamamento para todos, é um serviço comum para todos os santos.

Considerando a enorme quantidade de informações contidas na bíblia, isto sem contar a grande capacidade dos cristãos de produzirem literatura com métodos e práticas de “discipulado” muitas vezes mais utilizadas que o modelo que temos em Jesus, a simplicidade do evangelho sempre indica que devemos aprender com Cristo “o quê” e “como” ensinar os discípulos. “Escrevi o primeiro Livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar” At 1:1. Apenas em Cristo temos um modelo livre de ressalvas contextuais ou temporais, visto que quando adotamos métodos aprendidos de outros irmãos temos a tendência de excluirmos tudo o que consideramos não adequado a nossa realidade, o que não é errado, mas deveríamos nos ater primeiramente ao modelo do Senhor, sem qualquer ressalva.

O que ensinar:

Paulo diz que “anunciava todo o conselho de Deus” (At 20:27). A primeira vista não parece, mas este versículo limita o conteúdo do ensino, o que é importante, para não nos ocuparmos com “fábulas, genealogias e discussões sobre a lei” (I Tim 1:3-8; II Tim 2:14; Tt 3:9). Nosso foco deve ser Jesus: sua vida, obra, fé, propósito, dons, etc. Em uma das três ocasiões que o Pai falou de forma audível dos céus, relatada nos evangelhos, Ele disse claramente: “este é o meu filho amado, a Ele ouvi” (Lc 9:35). Convém destacar que, naquele momento a Lei e os profetas estavam ali representados por Moisés e Elias. Jesus é superior a Lei, aos profetas, aos anjos, a qualquer nome que se possa referir neste mundo ou no mundo por vir (Hb 1:1-6), tudo o que precisamos está nEle, é essencialmente dEle que devemos aprender (Mt 11:29).

A palavra traduzida por conselho (Boulee no grego) nesta passagem de Atos, tem melhor tradução por: intenção, propósito ou decreto, ou seja, o “conselho de Deus” são seus decretos, não são coisas opcionais que podemos escolher fazer ou não, como costumamos fazer com os conselhos que recebemos das pessoas. Se o conteúdo do ensino são as ordens de Cristo (Mt 28:20), não bastaria ler a bíblia ou ouvir as pregações no dia do encontro da igreja? Certamente não. Jesus chamou de prudente o homem que ouve suas palavras e as pratica (Mt 7:24). As últimas palavras de Jesus deixam claro o papel do discipulador: ensinar a “guardar” e não ensinar a conhecer, ou seja, cooperar com Deus na capacitação do discípulo de forma que ele se torne um praticante da palavra, não apenas um ouvinte, e isto exige mais do que apenas informar, exige envolvimento, aliança, amor, disciplina, propósito e fé, elementos que existem na relação de um pai com seu filho.

Outra passagem que traduz bem o papel daquele que ensina está em II Tim 2:15. Paulo exorta Timóteo a “apresentar-se a Deus aprovado... que maneja bem a palavra da verdade” (manejar no original : [Orthotomeo] - encontra-se apenas esta vez nas escrituras). Com certeza Paulo não se referia a manusear a bíblia, visto que ela não existia na forma de livro na época. Esta palavra ficaria mais bem traduzida por “aplicar bem”. O sentido da palavra no original contém a idéia de abrir uma trilha através de uma floresta ou terreno difícil, de modo que o viajante possa ir direto ao seu destino. Apliquem esta definição no contexto do discipulado e nós teremos o discipulador como alguém que vai à frente, exclui-se a figura do professor que ensina apenas teorias, exclui-se o discipulado como reunião de estudo bíblico apenas, exclui-se o autoritarismo. A vida cristã é experimental, não basta saber que Jesus é poderoso para expelir demônios, é necessário expulsar os demônios, pois ele nos comissionou para isto! Não basta saber que temos que amar o inimigo, temos que aprender com Cristo como ele amou os inimigos e fazer o mesmo, pois ele ordenou isto. O modelo deve andar lado a lado com o ensino. Os primeiros discípulos entendiam bem o discipulado como algo prático, várias passagens falam da estratégia como “correr a carreira que nos está proposta”, “ir em direção ao alvo”, etc. (Hb 12:1-3).

A importância de conhecermos bem esta, que é uma das tantas responsabilidades do discipulador, é que podemos ir além daquilo que nos foi confiado como bons despenseiros (I Co 4:2). Podemos muitas vezes usar em nossa relação de discipulado um modelo de paternidade equivocado, mundano. Ora, um despenseiro fiel é aquele que entrega conforme recebeu, que somente ensina aquilo que possui experiência pessoal. Jesus agiu assim (At 1:1), Paulo (Rm 15:18; Fp 4:9) e todos os outros. A experiência é uma das principais bases da autoridade. Não poucas vezes pais mundanos agiram sem razão com seus filhos, apenas para preservar sua “autoridade”. Diferente da autoridade dos pais, que existe pela sua posição, no caso do discipulador esta autoridade tem que ser reconhecida por aquele que se submete. O próprio Cristo declarou apenas uma vez que possuía toda a autoridade e isto aconteceu depois de cumprir com o propósito de sua vinda como homem: morrer por nós e ser exaltado. A autoridade vem após a cruz e não antes. Cristo deve ser o modelo do discipulado e não nossas experiências seculares, por “melhores” que elas possam ser já que muitas vezes não passam do fútil procedimento que nossos pais nos legaram.

Quando Paulo fala a Timóteo da qualidade dele como discípulo destaca que ele seguia de perto seu ensino, procedimento, intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança (II Tim 3:10). Não apenas o ensino de Paulo, mas sua atitude e virtudes de caráter forjadas por Cristo em sua vida foram alvo de imitação por parte de Timóteo e outros irmãos (I Co 11:1). Paulo não ensinava sobre fé apenas, Paulo era um homem de fé e isto era visível para seus discípulos.

O risco que nos assedia – e não podemos dizer que estamos livres disto – é de abuso de autoridade (...Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida – III Jo 9,10). Estar na posição de ensinar é perigoso (“Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” Tg 3:1). Devemos considerar que nossas experiências, mesmo sendo legítimas e em Deus, não podem ser repassadas aos discípulos como ordens, o que algumas vezes ocorre. Paulo discorrendo na carta aos Romanos diz: “a fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem aventurado o homem que não se condena naquilo que aprova” (Rm 14:22), deixando claro que a fé, que nossas convicções (em questões relativas!), são pessoais. Em algumas ocasiões, Paulo preferiu não “tomar partido”, por considerar que a questão era da esfera da fé pessoal e não dos mandamentos de Deus (“Um crê que tudo pode comer, mas o débil como legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come, porque Deus o acolheu...” Rm 14:2-3).

Como nossa alma pode tentar interferir com lógica e emoção nos assuntos de Deus (Jr 17:9), facilmente alguns podem confundir posições pessoais com a vontade Deus. Precisamos nos apegar a palavra de Deus (“Apego-me aos teus estatutos, ó Senhor; não permitas que eu seja confundido” – Sl 119:31 NVI) e aprender como ensinar de forma a fazer discípulos à imagem e semelhança de Cristo e não nossa.

Temos que reproduzir a Cristo e não a nós mesmos!

Encontramos no Velho Testamento abundantes exortações, a maior parte delas dirigida diretamente aos sacerdotes e profetas, pois eles, que deveriam ser os guias do povo, acabaram por se tornar os grandes responsáveis pela sua degeneração (Os 4:4, 4:9). Vejamos alguns textos:

Is 29:13 – Diz o Senhor: este povo se aproxima de mim com sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim. O seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu.

Is 30:1 – Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomaram conselho, mas não de mim, que se cobriram com uma cobertura, mas não do meu Espírito, para acrescentarem pecado a pecado.

Is 65:2 – Estendi as mãos o dia todo a um povo rebelde, que caminha por caminho que não é bom, após os seus próprios pensamentos.

Entretanto, verificamos nos escritos apostólicos, que este não era um erro exclusivo do povo da antiga aliança, na própria igreja primitiva estas falhas já começavam a aparecer. A passagem abaixo nos ajudará a entender que podemos cair hoje neste pecado, se não vigiarmos:

“Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes. Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo. Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz. Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus. Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.” Cl 2:4-23

Falsas doutrinas estavam penetrando na igreja introduzidas por pessoas tidas como “espirituais”. No vs. 4 Paulo diz que estas pessoas usavam de “raciocínios falazes” (ou “palavras persuasivas” como está na versão Corrigida e Revisada Fiel - Phitanologia=grego) para convencer os ouvintes. A principal característica da persuasão é o uso de sofismas (argumentos falsos, aplicados de forma a induzir ao erro) e a eloqüência (via de regra as pessoas se deixam envolver por argumentações convincentes). Normalmente estão baseados em experiências “místicas” (visões de anjos), textos aplicados fora de seu contexto ou com a utilização indevida do velho testamento como base doutrinária, ou pior ainda, da tradição dos homens, tal como ocorreu nesta passagem de Colossenses (vs. 16 a 18). Eventualmente, podem ser palavras ou experiências que Deus dá à determinada pessoa, para o seu ensino ou correção pessoal, mas que acabam por passar adiante como sendo para os outros também.

“O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com a verdade. Que tem a palha com o trigo, diz o Senhor” Jr 23:28

O risco é mudar ou acrescentar de forma sutil algo à Palavra do Senhor, e aqui não se está questionando o conteúdo, que muitas vezes pode ser a própria Palavra de Deus, mas se houve ou não ordem de Deus. Devemos lembrar sempre do ocorrido com Saul (I Samuel 15), onde com a melhor das intenções poupou o melhor do gado para fazer um grande sacrifício, e Deus considerou este um ato de rebelião. A intenção não foi levada em consideração por Deus.

“Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo, porém, isto como que por permissão (concessão) e não por mandamento. Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se. Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher. Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos. Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher? E assim cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas. É alguém chamado, estando circuncidado? fique circuncidado. É alguém chamado estando incircuncidado? não se circuncide. A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus. Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião. Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens. Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado. Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel. Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos. Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; E os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa. E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher. Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido. E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma. Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se. Todavia o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas com poder sobre a sua própria vontade, se resolveu no seu coração guardar a sua virgem, faz bem. De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor. A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. Será, porém, mais bem-aventurada se ficar assim, segundo o meu parecer, e também eu cuido que tenho o Espírito de Deus.” I Co 7 (Versão CF).

Nesta passagem, Paulo aborda um tema e se dirige aos irmãos de duas formas diferentes. O importante aqui não é destacar o tema em si, mas o princípio deixado por Paulo para tratar de qualquer situação que não se enquadre em instruções absolutas de Deus. Baseado numa compreensão equivocada sobre esta passagem, os católicos defendem o celibato sacerdotal, e de forma alguma Paulo deu mandamento sobre este tema, pois seria uma contradição com o que já havia falado anteriormente: “Não temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor e Cefas?” I Co 9:4-5. Veja como é importante conhecermos bem o contexto da palavra de Deus para não errarmos!

Versículos isolados, “pinçados” fora de seu contexto, ensinados como instrução de Deus, podem produzir grandes desvios da vontade de Deus!

O princípio que pode ser extraído por estas duas passagens quanto a forma de entregar a instrução no discipulado, é que ela deve ser livre de especulações produzidas pela nossa alma, e que existem questões absolutas e relativas no ensino. Vejamos:

Como ensinar:

Mandamento – O original distingue as palavras para mandamento segundo sua origem, podendo ser de autoridades humanas ou diretamente de Deus. Neste capítulo, Paulo usa duas vezes a palavra [Epitagee] para mandamento, nos vs. 6 e 25, ambas se referindo a Mandamento de Deus. Todo ensino baseado em mandamentos, são instruções absolutas das escrituras e devem ser obedecidos de forma inquestionável. Desobedecer a uma ordem de Deus, mesmo transmitida por uma autoridade delegada, é desobedecer ao próprio Deus (“De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus, e os que resistem, trarão sobre si mesmos condenação” Rm 13:2), por isto a ousadia de Paulo quando transmitia um mandamento de Deus. Ser pai espiritual implica em responsabilidade com as vidas sob os seus cuidados, não deve haver dúvida ou temor de entregar uma palavra dura, toda palavra vinda do Senhor é para salvação (II Tim 3:16-17). Jesus era firme, entregou mandamentos e não voltou atrás, mesmo quando isto produzia tristeza no ouvinte (Mc 10:21-22; Jo 6:60-67). É exatamente na aplicação dos mandamentos de Cristo que somos confrontados se desejamos ou não continuar a caminhada com Ele.

Conselho – Nos versículos 25 e 40 da passagem de I Co 7 Paulo utiliza a palavra [Gnomee] do grego, que foi traduzida por opinião na versão atualizada de Almeida. [Gnomee] tem como significado amplo: julgamento ou parecer baseado em reflexão. Na versão Contemporânea, Bíblia de Jerusalém, NVI e Corrigida Fiel, esta palavra foi traduzida por “parecer”, para fazer distinção com a palavra “opinião” usada em outros locais. No contexto, podemos dizer que Paulo tinha a expectativa de que seu parecer fosse acatado (que não teria no caso de uma mera opinião), afinal, ele tinha os Coríntios como seus filhos amados (I Co 4:14) e baseou seu conselho na sua experiência com o Espírito Santo (I Co 7:40), porém não teve ousadia de ensinar como mandamento.

Um discípulo que não segue conselhos, que em tese são “julgamentos baseados em reflexão” do seu discipulador, não pode ser considerado rebelde por este motivo, mas o discipulador deve avaliar o funcionamento prático da “junta”, se ele é a pessoa indicada para continuar a cuidar desta vida. Possivelmente este irmão seja um discípulo de Cristo, mas pode ser que não seja você a pessoa indicada para cuidar dele. O importante não é estar vinculado, mas estar bem vinculado e isto somente ocorre quando o discípulo tem por aquele que o guia o mesmo sentimento que Timóteo tinha por Paulo (II Tim 3:10): admiração e reconhecimento da graça de Deus na vida daquele que o instrui (Jo 6:68). O discipulador, antes do discípulo, deveria discernir qualquer distanciamento ou constrangimento por parte do discípulo e ajudar a recolocar esta vida bem ligada no corpo de forma que venha a crescer, desde que constatado que não existe rebelião, pois deveríamos advertir os rebeldes (aqueles que se opõe aos mandamentos de Deus) e não passá-los para outros cuidarem. Não devemos esquecer que Jesus convidou (quem quiser...) ao discipulado (Mc 8:34), os discípulos são livres como também os discipuladores, pois não devem apascentar o rebanho por constrangimento (I Pe 5:2; Hb 13:17).

Como não ensinar:

Opinião – Paulo nunca instruiu através de opinião. Em I Coríntios 7:25 e 40, como vimos acima, ele não deu sua opinião, mas seu parecer, seu conselho. Apenas em Romanos 14:1 a palavra no original [dialogismos] tem sua tradução praticamente unânime em todas as versões: “acolhei o débil na fé, não porém para discutir opiniões”. Como diz o ditado popular: “opinião não se discute”, muito menos se ensina! No texto original, esta palavra é empregada outras 13 vezes, sempre com referência ao pensamento do homem, conceitos e heranças adquiridas na árvore do conhecimento do bem e do mal. É em essência nossa formação moral (ou consciência moral) propriamente dita, motivo pelo qual deveríamos evitar manifestar nossas opiniões (pensamentos) no ensino de discípulos, por mais “nobres” e úteis que possam nos parecer. Até mesmo os ímpios podem ser moralmente corretos, mas espiritualmente errados, pois não possuem a mente de Cristo, “pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus“ (Rm 8:14). É como querer discutir qual o melhor time de futebol, a flor mais bonita, a mais agradável das estações, etc; a argumentação sempre será passional, pois nossas opiniões são passionais. Veja as demais referências onde se encontra a palavra Dialogismos nas escrituras: Mt 15:19, Mc 7:21, Lc 2:35, 5:22, 6:8, 9:46; 47, 24:38, Rm 1:21, 14:1, I Co 3:20, Fp 2:14, I Tm 2:8 e Tg 2:4.

É importante destacar que, ao ensinar algo que não possui base nas escrituras é a nossa alma que estrutura o pensamento de forma mais convincente. Paulo alerta para que ninguém vos engane com raciocínios falazes (ou palavras persuasivas) Cl 2:4. Alguns irmãos em Colossos estariam usando de figuras conhecidas da própria palavra de Deus, como os rigores ritualísticos da Lei, para fortalecer sua forma de pensar, sempre com uma finalidade visivelmente religiosa. Este é o princípio da formação dos sofismas: mentiras com aparência de verdade. Que Deus nos livre de usarmos este tipo de artifício!

Muitas vezes somos confrontados com perguntas que não sabemos a resposta e o fato é que não somos obrigados a ter a resposta para tudo, infelizmente aquele que instrui pode ser tentado a lançar mão de respostas imediatas, baseado em experiências anteriores ou naquilo que acha melhor, via de regra o resultado é desastroso, como aconteceu no período dos Juízes, “Naqueles dias, não havia rei em Israel, cada um fazia o que achava mais reto” – Jz 21:25, mas nós temos um Rei, Jesus Cristo!

O “EU ACHO” não deveria fazer parte do ensino. Quando digo “eu acho”, estamos externando nossa opinião que, para a formação de Cristo na vida das pessoas, não tem qualquer valor. Quando não tivermos mandamento do Senhor para entregar, devemos ter humildade e buscar o Espírito Santo, aguardando pacientemente sua orientação. Quando for conveniente, solicitar ajuda de irmãos mais experientes, nossos companheiros, pastores, etc...(há sabedoria na multidão de conselheiros), orientando sempre ao discípulo que também busque ao Senhor e ouça dEle as respostas.

O ensino, a exortação, a admoestação, entre outras formas de instrução são colocadas nas escrituras como “mandamentos recíprocos”, não são em hipótese alguma exclusividade da relação de discipulado. A prática exclusiva dos mandamentos recíprocos não passa de autoritarismo camuflado.

A Palavra de Deus é nosso único recurso para julgarmos se a palavra que recebemos ou ensinamos procede de Deus (At 17:11). Não é rebelião quando somos questionados por qualquer pessoa, mesmo um discípulo, sobre o fundamento nas escrituras daquilo que falamos, pelo contrário, isto nos livra de ensinar baseado em nossas opiniões. Se nos sentimos ofendidos é porque de alguma forma cremos que somos infalíveis e nossas posições e ensinos não podem ser questionados. Mesmo Paulo sendo um apóstolo não se sentiu ofendido com os irmãos de Beréia, pelo contrário, considerou a atitude deles nobre, pois seu objetivo era exatamente este: levar os irmãos à dependência das escrituras e do Espírito e não das palavras dele (I Pe 3:15 b).

Temos que aprender com Paulo, que mesmo tendo experiência e após reflexão, não ousou dar o ensino mencionado na passagem de I Co 7 como mandamento, mas deixou por conta dos ouvintes a decisão, pois ele não havia recebido mandamento do Senhor. Quando Paulo tinha clareza de que seu ensino era proveniente de mandamento do Senhor, o entregava desta maneira (I Co 14:37). Devemos aprender esta diferença, pois jeitosamente podemos evitar entregar uma instrução como ordem quando ensinamos, mas deixamos claro nossa expectativa de que o discípulo cumpra aquilo que ensinamos sem respaldo nas escrituras, ou com respaldo equivocado, por considerarmos que “se foi bom para nós, certamente será para ele”, discriminando aqueles que não acatassem. Se o maior pecado que podemos encontrar na vida de um discípulo que o torna impossível de ser tratado é a rebelião, no caso daquele que ensina o seu equivalente é a arrogância, pois Deus resiste aos soberbos (I Co 8:1-2; Tg 4:6).

Em muitos aspectos, discipular é como criar filhos, com a agravante que no caso dos discípulos, são filhos de Deus. Os que instruem estão sempre aprendendo também, não chegamos a perfeição mesmo após muitos anos. Erramos muitas vezes na melhor das intenções. Devemos rejeitar a ideia de que já sabemos o que fazer e ensinar em qualquer situação que se apresenta na vida do discípulo, sob pena de estarmos confiando mais na nossa experiência do que na orientação do Espírito Santo, afinal é o Espírito Santo que nos lembrará das palavras de Jesus e nos convencerá do pecado, da justiça e do juízo (Jo 14:26, 16:8). O Espírito Santo trata cada um de maneira diferente (mesmo quando as situações nos pareçam exatamente iguais). Um exemplo do velho testamento escrito para nossa advertência está em Lv 10:1-2, onde Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram seus incensários e ofereceram fogo sem ordem ao Senhor, tendo sido consumidos por este motivo. Eles eram sacerdotes, os incensários eram deles e esta era uma atribuição sacerdotal, por que foram consumidos? Porque Deus não havia mandado! Nem sempre aquilo que vemos outros fazendo para Deus pode ser repetido de forma mecânica. Da mesma forma, nem sempre aquilo que Deus quer que eu faça para Ele será também para os irmãos que eu cuido fazerem também. Excetuando-se o serviço comum de todos os santos, devemos respeitar o chamado individual que cada membro recebeu de Deus, a sua função específica no corpo (“tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada...” Rm 12:6, I Co 12:12-31).

A atitude correta ao ensinar:

Já vimos que não somos gado ou garrafinhas de Coca Cola (como o Moyses Moraes costuma falar), somos únicos diante de Deus e por esta razão devemos considerar os diferentes graus de maturidade dos discípulos ao ensinar para não sermos demasiadamente pesados (mesmo quando isto for legítimo) na entrega do ensino e com isto destruir a obra de Deus ao invés de cooperar com ela. Paulo abordou bem este tema em I Tes 5:14.

“Exortam-vos também irmãos a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sede longânimos para com todos”

Os Insubmissos – A palavra aqui utilizada por insubmisso no texto original (Grego) é a mesma que está em II Tes 3:6, traduzida por desordenado. Apesar de parecer em um primeiro momento, não há contradição quanto a orientação de Paulo ao confrontarmos as duas passagens, pois ao lermos II Tes 3:12 veremos que estas pessoas, que Paulo manda se apartar no versículo 6, já haviam sido exortadas. Quando Paulo fala nesta passagem para admoestar (repreender) os insubmissos, está falando da primeira etapa de uma correção, que tem como conseqüência o afastamento da comunhão, caso não seja acatado, descrita na segunda carta. Aqui está reproduzido o ensino deixado por Jesus em Mateus 18:15-17. Os insubmissos devem ser repreendidos e se não aceitarem, serem afastados da comunhão. É importante lembrar que somente existe insubmissão contra os mandamentos de Deus e não contra nossos conselhos!

Os Desanimados – A melhor tradução para a palavra aqui utilizada no original [Oligopsycos], está na Bíblia Corrigida Fiel, por “pessoa de alma (ou ânimo) fraco”. Trata-se de pessoa com fraqueza na alma (intelecto, razão ou emoção) e ela deve ser encorajada, como diz na versão ”Cartas às igrejas Novas”. Esta categoria de irmão pode ser muitas vezes confundida com um rebelde. Por exemplo: se um discípulo não evangeliza está desobedecendo a uma ordem do Senhor, conseqüentemente é um rebelde? Nem sempre, pois se ele for um desanimado ou uma pessoa muito tímida com dificuldade de se comunicar, que deseja evangelizar, mas não consegue, aquele que instrui deve literalmente encorajar esta pessoa, evangelizar junto, tantas vezes quanto for necessário até que ele se sinta fortalecido.

Os Fracos – São fracos não no sentido físico, mas de uma consciência ou fé fraca. É interessante que Paulo manda amparar [antekomai] estas pessoas. No grego, este verbo aparece nas seguintes passagens: Mt 6:24, Lc 16:13 e Tt 1:9, sempre traduzido por devotado ou apegado. Paulo diz para se apegar aos irmãos que tem uma consciência ou fé fraca, não apenas ser paciente, como diz a versão atualizada de Almeida. A paciência é passiva, podemos esperar sem fazer nada, pior, podemos deixar alguém “de molho” por ser um fraco. Devotar-se é ativo, demanda ação da parte daquele que instrui. Paulo diz para acolher o que é débil na fé, trazer para perto. Talvez seja aqui que cometamos os maiores erros, pois consideramos a “dedicação aos fiéis” como algo absoluto, se isto representar a exclusão dos desanimados e dos fracos de nossas vidas, estamos vivendo a maior heresia com aparência de verdade. Quando Jesus separou doze de entre o grupo de discípulos não estava rejeitando os demais, estava apenas concentrando com aqueles que seriam no futuro o suporte da igreja. A concentração não exclui, prova disto é que Jesus mesmo depois de já possuir o grupo de apóstolos enviou “outros setenta” para pregar nas cidades; também fala do cuidado dele com determinadas pessoas que nós rejeitaríamos, como por exemplo Nicodemos, que por medo vinha estar com Jesus à noite e o Senhor o recebia de bom grado. Também podemos citar José de Arimatéia, descrito nas escrituras como discípulo de Jesus, mesmo que em oculto. Interessante ver que o nosso Senhor tolerou estes homens e cuidou deles e de tantos outros que não estão citados nas escrituras, homens que muitos de nós não cuidaríamos. O próprio Pedro tinha uma fé fraca até a morte de Jesus na cruz a ponto de negar a Cristo, mas isto não foi impedimento para o Senhor chamar para si a Pedro e edificar sua vida, Ele soube aguardar pacientemente o fruto daquilo que plantou (Tg 5:7). Temos que aprender a fazer uma coisa sem jogar fora outra.

Valorizamos os fortes. Há uma tendência no mundo a valorização daquilo que é forte, mas temos que lembrar que Jesus chama para ir à Ele os cansados e sobrecarregados, os “bem-aventurados” são os desprezados e rejeitados pelo mundo (“Deus escolheu as coisas humildes do mundo e as desprezadas e aquelas que não são para reduzir a nada as que são” I Co 1:28). Paulo era considerado de presença “insignificante” por alguns, mas foi o apóstolo que mais se desgastou, sofreu e frutificou no seu tempo. Elias teve medo de uma mulher e fugiu, mas foi um dos profetas mais poderosos no Velho Testamento. Davi não foi lembrado nem por seu próprio pai quando Samuel foi à sua casa ungir o novo rei, e fala sobre si mesmo no Salmo 142:”Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu”, entretanto foi considerado por Deus segundo seu coração (At 13:22). Não poucas vezes, exatamente as pessoas a quem menos valorizamos o Senhor chama para si, muda o que quer e as transforma em vasos úteis a Ele. Devemos aprender a valorizar o interior, aquilo que não é visível, a ver como Deus vê.

“Porém o Senhor disse a Samuel: não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor vê o coração” I Sm 16:7.

Que Deus nos abençoe neste ministério maravilhoso de cuidar de vidas para Ele e usar apenas os recursos que nos deixou para este fim!

“Porque dEle, por meio dEle e para Ele são todas as coisas. Glória pois a Ele eternamente, amém.” Rm 11:36

CARLOS A S SILVA
Enviado por CARLOS A S SILVA em 09/11/2018
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