A ligação entre Satanás e a Serpente do Éden

Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?

Gênesis 3:1

No Éden ele é uma serpente, a mais astuta de todas as animálias do campo que o Senhor Deus houvera criado. Esta nota biográfica apresenta satanás ainda em estado de queda, pois sua rebelião não foi um ato sumário, uma investida súbita contra o trono de Deus, como pintam os quadros das teologias convencionais. Ele cai gradual e gradativamente. E sua queda não pode ser vista como um evento ultracósmico, fora do mundo e com imagens revolucionárias. O diabo possui habilidade, veneno e astúcia!

A palavra “astúcia” é uma chave hermenêutica, que nos permite entender sobre a índole do diabo. “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito” (Gênesis 3:1). Sem nos aprofundarmos, ainda, nos termos hebraicos, já podemos perceber o caráter ontológico de satanás, pois o texto sagrado diz que ele era (1) um animal; (2) astuto demais e (3) feito por Deus.

A serpente [...] conhecia psicanálise melhor que o Dr. Freud, e usou de uma dissuasão indireta. Foi à Eva em vez de Adão, já que este não aceitaria sugestões, pois é sempre demasiadamente altivo e cabeça dura para aceitar opiniões dos outros. Eva não era assim. Bastava tocar em sua vaidade, despertável sempre por sentir-se inferior. A serpente sabia que a vaidade possui razões que a razão desconhece, e ainda aí, a serpente precedia Pascal e superava-o. Expôs-lhe o que era o "fruto proibido": ele era tudo, precisamente tudo o que lhe faltava. (SANTOS, 1969)

Satanás é um animal, ou, das ordens dos animais. Ele foi criado junto com outros animais viventes, cujos corpos são descritos metaforicamente como sendo “semelhantes” a touros alados, águias de asas abertas, leões selvagens e dragões exuberantes. Não devemos entender os corpos destes seres em sentido literal, e sim, como representações aparentes de suas naturezas.

O corpo do diabo era esguio, como o das serpentes, mas não asqueroso. A descrição do livro de Ezequiel e de Apocalipse não nos permite pensar em satanás como uma cobra rastejante, e sim, como um ser de esplendor e resplendor. Estando no Éden, jardim de Deus, podemos imaginar sua forma de estrema beleza, encantando Eva. Sabemos que a queda da primeira mulher se deu por causa do vislumbre causado pela “beleza” do fruto proibido, encetado pela serpente.

A beleza tem alguma coisa para nos contar; por isso guardamos silêncio, e não pensamos o que em outra ocasião pensaríamos" (Nietzsche). Ante a beleza, paramos; é como um esperar. Nosso silêncio é também nossa forma de admiração. Por isso nem sempre temos palavras para expressar o que sentimos, e o enleio, o embaraço, que de nós se apodera, é talvez o maior elogio que possamos fazer a alguém. Não mentimos quando dizemos que não sabemos o que dizer. (SANTOS, 1969)

O demônio é belo, e seduz pelos olhos e belas palavras. É uma serpente, mas não destituído de beleza. O profeta Ezequiel passou por várias experiências místicas com estes seres mitológicos, e sempre os descreveu com termos exuberantes. Seu querubim protetor do capitulo 28 é um touro com o corpo engastado de pedras preciosas, cujo andar solta faíscas e provoca um resplendor multicolorido por onde passa.