A VERDADEIRA NATUREZA DE DEUS

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Qual é a verdadeira natureza de Deus? É feito de espírito ou de algum tipo de matéria completamente diferente daquela que conhecemos? É simples ou composto? Pensa? Tem sentimentos? Ou é algo que nem sequer pode ser imaginado?

Para os teólogos cristãos a resposta é unívoca: trata-se de um ser puramente espiritual, totalmente transcendente, bondoso criador do Universo e de tudo que é material (estrelas, planetas, o homem) ou espiritual (os anjos, os demônios, as almas). E tem um filho. No Novo Testamento a palavra pneuma indica uma substância distinta e oposta a qualquer princípio material; destarte é reforçado ao extremo o dualismo entre corpo e alma que chegam a representar dois polos antitéticos onde o corpo é tido como prisão da alma. Como veremos na segunda parte do presente texto, conceitos parecidos, nascidos cerca de 2.500 anos atrás em ambiente helenístico permaneceram intactos até a era contemporânea quando as investigações da Física moderna mostraram que a matéria, considerada em suas componentes fundamentais, perde o seu carater aparentemente concreto para se tornar um conjunto de partículas imateriais definidas unicamente por equações matemáticas. Sendo que uma equação nada é se não a expressão gráfica de uma lei, ou seja, dum pensamento, eis que a matéria se torna algo de vagamente espiritual anulando assim a diferença entre as duas categorias filosóficas. Inclusive a que apelidamos de matéria sólida não existe comoo tal, sendo ela apenas percepção dos sentidos que enviam constantemente, através dos nervos, impulsos elétricos ao cérebro. O cérebro, por sua vez, elabora essas informações interpretando-as oportunamente e projetando ao nosso redor a imagem de um mundo real, mas nada mudaria se, hipoteticamente, o cérebro fosse removido do corpo e conectado a um potente computador gerador de impulsos eletroquímicos. Mediante esse expediente seria possível viver experiências virtuais percebidas como sendo absolutamente reais.

Voltando ao assunto inicial, é mister lembrar que já no início do século passado Miguel de Unamuno, mesmo sem nada conhecer das investigações sucessivas, havia intuído que a diferença entre espírito e matéria é ilusória, afirmando que: ''Materialismo? Materialismo, dizem? Sem dúvida, mas isso porque nosso espírito também é alguma espécie de matéria, ou não é nada''. Tendo assim descartado a secular dicotomia entre os dois opostos, Unamuno dá mais um passo para a frente e afirma o seguinte: “Que exista um ser supremo, infinito, absoluto e eterno, cuja essência desconhecemos, e que tenha criado o Universo, ou que a base material desse mesmo Universo, a sua matéria seja eterna, infinita e absoluta, os dois conceitos se equivalem”. Haja vista as modernas descobertas, podemos afirmar que os dois conceitos não apenas se equivalem mas, tendo sublimado a base sensível da matéria, podemos deduzir que os dois conceitos, aparentemente opostos, são, na verdade, a mesma coisa. Destarte, a imagem de um Deus que cria matéria, espaço e tempo a partir do nada, já ficou desmentida, por exemplo, pela Teoria das Cordas segundo a qual algo de imaterial, impalpável e eterno (as Branas) existe desde sempre e delas podem originar inúmeros universos. Por isso podemos tranquilamente apelidas as Branas com a palavra Deus, mesmo que isso seja de escândalo para os ateus mas, afinal, quem se importa deles? Ainda mais tendo o respaldo de Albert Einstein que disse: “Qualquer um que lide seriamente com a Ciência vai se convencer de que um tipo de espírito, muito superior ao humano, se manifesta nas Leis do universo. Nesse sentido, a pesquisa científica leva a um sentimento religioso particular, bem diferente da religiosidade das pessoas mais ingênuas”.

Infelizmente a Física dificilmente irá conseguir demonstrar a existência das Branas que, por enquanto, representam apenas uma hipótese teórica, embora muito bem fundamentada do ponto de vista matemático. No entanto, mesmo que um dia apareça outra visão mais convencedora, já está sendo demonstrado que a teoria do Big Bang, apesar de correta, é apenas parte duma verdade mais abrangente e profunda. Então como devemos interpretar esses novos dados experimentais? A resposta passa, necessariamente, através da Filosofia. Surpreende, porém, constatar como ainda existam pessoas que tiveram suas mentes tão obnubiladas pelo fanatismo religioso ao ponto de afirmar que a Filosofia é ateia. Parafraseando as palavras do evangelista Lucas, desses insensatos só podemos dizer: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que dizem”. Realmente eles desconhecem que o alicerce do próprio Cristianismo –que no começo era apenas fé na palavra de Cristo, mas totalmente desprovido de sólidas base doutrinais- é, na verdade, o fruto do pensamento de mentes excelsas como Platão, Aristóteles e Plotino, todos pagãos. Entretanto, não é que esses tolos carreguem a culpa exclusiva de tanta ignorância. O fato é que a História sempre foi escrita pelos vencedores e, a partir do fim do IV século da nossa era, quando o Cristianismo tornou-se a única religião tolerada no Império Romano, qualquer outra forma de pensamento -mesmo de origem cristã, mas independente e desligado da doutrina oficial- foi rigorosamente banido e até perseguido pela hierarquia eclesial. Nos tempos modernos, apesar do fim da Inquisição, a Igreja sempre desconfiou do ensino e da divulgação da espiritualidade oriunda de outras filosofias ou religiões tanto que a grandíssima maioria da população as desconhece totalmente. Bem pior que os católicos, certas seitas protestantes, como por exemplo os Evangélicos, não apenas rejeitam veementemente as experiências místicas das outras religiões, mas as consideram como ações do próprio Demônio.

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Nessa segunda parte será apresentada ao leitor a fantástica visão do maior de todos os filósofos neoplatônicos, Plotino (205-270 E.V.), cuja obra, além de ser de uma profundidade vertiginosa, serviu como pedestal para o desenvolvimento da doutrina dos Padres da Igreja na Antiguidade e, na Idade Média, da teologia de Tomás de Aquino. A de Plotino é a derradeira manifestação do platonismo no Mundo Antigo, mas de um platonismo enriquecido com elementos oriundos de outras fontes da filosofia grega como Pitágoras, Parménides, os estoicos, Aristóteles, etc. cuja mistura produziu algo de original que foi muito além da suma das contribuições individuais. Essa nova filosofia gira em torno da busca de uma Unidade, de um princípio unitário fundador do ser onde a unidade está ontologicamente relacionada com a multiplicidade e vice-versa. Para melhor entender esse conceito fundamental imagine, o leitor, um homem, uma mulher e seus filhos constituindo uma primeira unidade, uma família. Mas também a família é elemento de uma unidade maior que pode ser um condomínio, e depois um bairro, uma cidade, uma nação e assim por diante. Pois bem, a unidade absoluta, formada pela somatória de todas as possíveis unidades de rango inferior chama-se Um (ou Uno) e representa o princípio unitário extremo além do qual não pode existir mais nada.

Não tendo mais nada em comum com o resto da realidade, o Um não pode ser apropriadamente definido pois, descrevê-lo, significaria dividi-lo em um sujeito que o descreve e num objeto descrito e, portanto, não seria mais um, mas dois. Desse modo de raciocinar descende a "teologia negativa", um método que investiga o Princípio (só parcialmente comparável a Deus) referindo a Ele apenas atributos mediante os quais se afirma aquilo que o Um não é, não sendo possível defini-lo positivamente (senão indevidamente). Até Unamuno, dezessete séculos depois, chegou à conclusão que “Querer definir Deus significa ter a pretensão de limitá-lo dentro da nossa mente, ou seja, de matá-lo; no ato de defini-lo surge o nada”. De todas as negações relativas ao Um, a mais significativa diz que "o Um não é ser": isso não implica que o Um seja um não ser, mas indica que está além do ser, já que é superior a tudo o que existe. Por esse motivo Plotino não usa a palavra Deus que, embora perfeito, é um ser. A negatividade do Um é, portanto, nada mais que a sua superioridade absoluta. Para Plotino o Um é a primeira hipóstase, ou seja, a primeira realidade que existe e, como tal, não pode conter alguma divisão ou multiplicidade sendo, destarte, acima de qualquer categoria do ser. Inclusive, sendo o Um a primeira realidade, nem pode ser uma entidade que pensa, pois o pensamento implicaria uma distinção entre o pensador e o objeto pensado e isso seria já uma forma de dualidade, em contradição com o conceito de unicidade absoluta do Um. Da mesma forma não se pode atribuir ao Um uma vontade consciente, que seria outra forma disfarçada de pensamento, e nem alguma forma de atividade, muito menos a Providência e os milagres. A respeito dos milagres, até Voltaire -que era Deísta- havia censurado a atitude ridícula dos crentes propensos a enxergar milagres em fatos naturais, muitas vezes insignificantes (como a cura de um animal de estimação), esquecendo, ao mesmo tempo, de citar o único e verdadeiro milagre que consiste na existência. Plotino consente, como já havia feito Platão, a apelidar o Uno de Bem, mas negando, ao mesmo tempo, que ele possua uma natureza senciente ou uma qualquer forma de consciência.

Sendo o Um diferente de qualquer outra coisa multíplice, que são todas finitas, então só pode ser infinito. Também transcende o mundo das coisas, não tem forma e fica além não apenas da substância (nem se pode afirmar que é espírito), mas também das ideias. Podemos unicamente dizer que dele originam todas as outras coisas e mais nada; isso conforme à teologia negativa que encontra uma forte correspondência nas religiões orientais como induísmo, budismo e taoismo.

Surgem, agora, duas perguntas fundamentais: por qual motivo do Um deriva a multiplicidade e porquê. Segundo Plotino, o Um é tão abundante que, igual o Sol que emana a luz indiscriminadamente sem nunca se esgotar ou diminuir, o Um, sendo sobreabundante, emana a multiplicidade mas, diferente do Deus cristão, isso não decorre de um ato de vontade ou de liberdade, e sim de um processo automático consubstancial às características do Um. Um simples exemplo pode servir a esclarecer o conceito. Imaginamos de pegar um copo vazio de 100 ml e de derramar dentro dele a água contida numa garrafa de dois litros. É evidente que o líquido em excesso acabará extravasando do copo não por um ato de vontade do mesmo, mas por pura necessidade.

Quanto à segunda pergunta, Plotino afirma que o Um não cria pois, para criar seria necessário ter matéria a disposição e, nesse caso, o Um se tornaria um simples Demiurgo e não um criador; em alternativa Ele poderia criar do nada, mas isso estaria em contradição com o fato que o Um não pensa e não deseja pois desejar uma coisa significa sentir necessidade dela e isso contrasta com o princípio de perfeição. Portanto a multiplicidade surge do Um por um processo de Emanação espontânea.

Para Plotino o nada è uma aberração lógica, um contrassenso que, usando uma linguagem moderna, iria ameaçar a existência do Um igual um buraco negro que, se aproximando ao Sol, pode até engoli-lo. O processo de Emanação, por sua vez, é condicionado pela distância ontológica entre o Um e o que está sendo emanado. Em outras palavras, quanto mais o produto da Emanação estiver perto do Um, mais guardará dentro de si as genuínas características do Um, ou seja, a perfeição. É importante reafirmar que qualquer Emanação não decorre de um ato de vontade ou de livre escolha, mas é um procedimento que deriva necessária e espontaneamente da própria natureza do Um. Quanto ao mecanismo da Emanação, acontece mediante uma forma de autocontemplação estática do Um: Ele, ao se contemplar, se divide –ma só aparentemente- num sujeito contemplador e num objeto contemplado. Diferente da metafísica cristã, a de Plotino não é dualista (a Divindade de um lado, o homem do outro), mas pressupõe a continuidade e, sendo o mundo o resultado de um processo divino contínuo, representa um grau de emanação do Um, obviamente muito menos perfeito, mas não totalmente estranho a Ele. Entretanto, não se trata de panteísmo porque a multiplicidade é sim emanação do Um, mas não coincide com Ele, assim como o calor é gerado pela chama, mas não é a chama, não coincide com ela.

Plotino admite vários graus de Emanação denominados hipóstases, realidades que subsistem por si sendo, a segunda delas, o Intelecto universal, o Logos. Do Logos, que pensa a si mesmo como alma relacionada a um mundo material, descende a Alma vital universal (o Pneuma, ou terceira hipóstase). Enfim, a Alma emana a matéria que, sendo somente ilusória, não é uma hipóstase. Devido a matéria ser a emanação mais distante da fonte (o Um), é a entidade mais corrupta e menos perfeita de todas as anteriores. Por esse motivo o mal é específico da matéria, mas não se trata de um mal absoluto: o mal nada é se não a distância ontológica entre a matéria e o Um e é sinônimo de imperfeição. Inclusive, como o tempo faz sentido somente se as coisas se evolvem, o Um existe na eternidade fato, esse, que dois séculos depois será utilizado por Santo Agostinho na sua construção teológica do Deus cristão.

Agora, é interessante saber quem seria, para Plotino, o paradigma do homem sábio, do homem ideal. A resposta é: aquele que consegue sentir, dentro de si, a nostalgia pelo Um e que age para conseguir reunir-se com Ele. Todavia, enquanto no Cristianismo, o conhecimento de Deus constitui uma experiência do coração, na visão neoplatônica de Plotino, a aproximação ao divino é vista como uma meta a ser alcançada através da reflexão filosófica e do exercício das virtudes; os rituais, as nênias, as orações devem ser descartadas sendo pouco mais que formulas mágicas. De acordo com Plotino, a verdadeira e legítima oração é o conjunto composto pelas elevações da mente e da alma, pelos exercícios filosóficos e pelas virtudes através das quais a visão interior do Um se torna tão clara ao ponto de alcançar a consciência da identidade. Conseguido esse estado, o divino deixa de ser um simples conceito mental para tornar-se experiência inefável gerando assim o êxtase. O êxtase é o clímax das possibilidades humanas, um percurso inverso ao de Emanação; é o objetivo natural da razão humana que, desejando reencontrar o Princípio do qual emana, consegue alcançá-lo sem possuí-lo, mas deixando-se possuir por Ele. Plotino, um pagão, revelou ter conseguido alcançar o êxtase apenas quatro vezes durante a vida.

A metafísica de Plotino foi oposta à de Demócrito, o maior expoente do atomismo no sentido que, para Plotino, os átomos não existem sendo, as coisas, tanto mais reais quanto mais próximas ao Um, do qual todas derivam. Essa negação da teoria atômica pode, para nós modernos, parecer extravagante e anticientífica. Entretanto, como foi explicado no início, até os átomos não são os verdadeiros tijolos do universo material sendo, por sua vez, compostos por elementos muito mais imateriais que pertencem ao domínio da matemática superior, ao mundo das ideias. A Física moderna descobriu que a matéria possui uma natureza mais espiritual do que se havia imaginado e esse resultado reforça o pensamento plotiniano também de um ponto de vista científico.

Analogamente, mas por outros motivos, a metafísica de Plotino se diferencia bastante da teologia cristã no sentido de apresentar uma continuidade ontológica entre o Um e as coisas que dele derivam pelo processo de Emanação. Sendo o mundo gerado, não criado a partir do nada, todas as coisa e, em particular os seres humanos, preservam dentro de si algo de divino, embora de forma degradada. No entanto, o homem sempre pode inverter a direção de sua atenção e, praticando a virtude, apontá-la para cima, na direção do que é superior, refinando a reflexão e realizando a contemplação do Um. Semelhantemente, no Budismo, a Verdade final é aprendida graças a uma extraordinária "visão" que consiste numa experiência na qual "vemos" as coisas como elas realmente são e não como elas aparecem. Alcançar a iluminação significa ter conseguido enxergar, através da teia enganosa de ilusão e de ignorância, a luz e a clareza emanadas pela própria Verdade.

Já foi dito que essa experiência mística independe da fé, dos rituais e de conhecimentos esotéricos ou exotéricos; também não depende da graça divina sendo as ideias de graça e de dom incompatíveis com o conceito de Divindade segundo Plotino. Analogamente, o conceito de redenção, que ocupa uma posição fundamental no Cristianismo, não tem valor algum para esse filósofo. Devido a ligação existente entre a alma individual e o Um, o encontro pode ser realizado com base na razão e na força de vontade. O êxtase não é conseguido por iniciativa divina –como no Cristianismo- mas é o divino que já se encontra dentro de cada um de nós que permite alcançar a Divindade. Isso ocorre devido a nossa verdadeira pátria estar localizada acima do mundo físico dos sentidos e, portanto, não há motivo algum para se ter orgulho do nosso corpo: por isso Plotino abominava o dogma cristão da ressurreição dos corpos. O êxtase, como momento de autocontemplação, é também o ato mediante o qual o Um gera a multiplicidade. A metafísica plotiniana representou o início duma longa tradição neoplatônica que considerava o universo como sendo animado por uma tensão de amor direcionada a alcançar Deus através do êxtase. A metafísica de Plotino foi, outrossim, o alicerce da teologia cristã que adulterou oportunamente a sua estrutura original para que nela se encaixasse o conceito de Trindade.

Vários autores modernos frisam a existência de significativas correspondências textuais entre as Enéadas (coleção dos escritos de Plotino) e as Upanishads, principais escrituras do Induísmo que discutem meditação e filosofia. Do ponto de vista puramente histórico é bem provável que, sendo Plotino aluno de Amônio Saca, o filósofo fundador do Neoplatonismo, e sendo esse último provavelmente de origem indiana, tenha ocorrido uma influência direta das Upanishads sobre o pensamento tanto de Amônio como, obviamente, de Plotino. É também possível que os textos filosóficos indianos tenham chegado em ambiente helênico durante a conquista de Alexandre Magno que invadiu a Índia em 336 a.E.V.

O ponto que mais aproxima a metafísica de Plotino à filosofia indiana é o forte paralelismo entre, do lado hinduista, a união do atman (a consciência espiritual) com o Brahman (o Absoluto) e, do lado neoplatônico, a viagem da alma em direção do Um onde irá encontrar a si mesma. Em ambos os casos torna-se necessária a abolição da distinção entre sujeito e objeto, típica das Upanishads e que também representa o elemento mais original do pensamento de Plotino. Outro ponto de contato é constituído pela irrealidade do mundo material, tido como ilusório tanto nas Enéadas como nas Upanishads. Vários dos melhores poemas de Cecília Meireles (*), estudiosa de Plotino e das Upanishads, englobam esses conceitos como, por exemplo, a metáfora do espelho.

Embora muitos, julgando de forma superficial o Hinduísmo, afirmem se tratar de uma religião politeísta, na verdade desconhecem o verdadeiro significado da multidão de divindades veneradas pelos hindus. Brahman, sendo infinito exatamente como um Um de Plotino, possui infinitas manifestações, cada uma se manifestando de forma diferente: quem venera um desses inúmeros deuses, na verdade adora apenas Brahman. Eis que está explicado o panteão induista que, como atestam os Rig Veda, é uma religião absolutamente monoteista.

Em síntese, a metafísica de Plotino ensina como a finalidade última da consciência humana seja a beatitude suprema alcançável por meio de um processo de elevação cujo objetivo é a união definitiva e eterna com o Um. Consequentemente, todo o programa da vida está contido nesse aforismo de Plotino: “O nosso dever não é estar isentos de culpas, mas de ser Deus”, não por um ato de soberba como se lê no Gênesis, mas como resultado final de uma caminho de virtude, de ascensão espiritual, de contemplação e de fusão final com o Absoluto.

(*) Ao amigo Rabindranath Tagore, o poeta mais importante da literatura bengali e cantor da beleza do Absoluto e da sublimidade do Um, Cecília Meirels dedicou um poema do qual extrapolei esses belíssimos versos:

Há tão profundo e tão vasto e tão lânguido encanto

nos teus poemas sagrados, pairando como luas

sobre o Mundo, que eu nunca soube, do teu canto,

se as palavras eram de Deus ou se eram tuas...

O presente texto se encontra também no meu E-book intitulado: "Viagem ao Centro do Cristianismo" que pode ser baixado grátis na seção E-livros da minha escrivaninha.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 10/03/2019
Reeditado em 15/08/2021
Código do texto: T6594775
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