A realidade dos países ateus

"Eu acredito no Deus que criou os homens, não no Deus que os homens criaram."

Spinoza

"Não acreditar em Deus é saber que cabe a cada um de nós lutar por um mundo melhor"

Sam Harris

Quem é ateu ou agnóstico costuma ser visto com muito preconceito. As pessoas nos olham com desconfiança e muitas se afastam. Certa vez, um senhor disse a uma pessoa que ele ouvira não acreditar em Deus:"Vou me afastar, porque quem não acredita em Deus, é capaz de tudo." Essa mesma pessoa depois, ouviu de uma moça:"Está repreendido em nome de Jesus. Como você pode não acreditar? Deus lhe ama. Como pode ignorar as provas do amor Dele?" Não adianta o que descrê ou duvida tentar explicar que suas descrenças ou dúvidas se devem à observação da realidade e posterior questionamento desta, ao próprio estudo da Bíblia e também ao fato de que hoje ninguém vê os milagres que aparecem neste livro ou da falta de provas de que todos os fatos nela mencionados realmente ocorreram. Afinal, fora da Bíblia, não há provas de que houve cidades como Sodoma e Gomorra, de que os hebreus estiveram no Egito ou de que existiu um Templo de Salomão. Também podemos acrescentar que muitas coisas presentes na Bíblia podem ter sido inspiradas por outras mitologias, como o Dilúvio e que, antes do Cristianismo outras religiões tinham trindades sagradas e a presença do inferno.

Pensa-se em quem não é religioso como uma pessoa de péssimo caráter, que não tem freios morais e sentimentos de compaixão. Muitos até falam que as coisas que vemos aconteceram no mundo são provas de que as pessoas não "têm Deus no coração." Ouvi de uma senhora uma vez que a corrupção no Brasil se devia às pessoas não buscarem Jesus. Será mesmo que a mera descrença em Deus ou o fato de se duvidar Dele significam que a pessoa é totalmente desprovida de ética, caráter, bons sentimentos e compaixão? Para muitos, sim. Se uma pessoa é mau caráter e não crê em Deus, falarão que ela não tem caráter por não acreditar em Deus. Porém, quando falamos das pessoas de péssima índole que são cristãs, logo ouvimos a desculpa de que "é porque não é um verdadeiro cristão."

Como contraponto às ideias que se têm dos ateístas, agnósticos ou deístas, analisemos a realidade de países com os maiores números de ateus. Nestes países, o ateísmo não foi imposto como houve nas ditaduras comunistas. As pessoas foram simplesmente deixando a religiosidade. Os países observados em estudos foram Noruega(85%), Dinamarca(80%), e outros como Noruega, Finlândia, Islândia, Vietnã, China e Japão.

Quem se interessou particularmente em estudar a realidade de países ateus foi o sociólogo norte-americano Phil Zuckerman, que morou pouco mais de um ano na Escandinávia, entrevistando dinamarqueses e suecos. E o que ele observou? Que esses países possuíam os melhores índices de desenvolvimento humano, economias sólidas, baixas taxas de criminalidade e corrupção e que as pessoas ali eram bastante conscientes acerca dos direitos humanos, igualdade e justiça social. Quem se interessar, pode ler o livro Sociedades sem Deus - o que as nações menos religiosas podem nos dizer a respeito da satisfação. Além dos estudos de Zuckerman, dados da ONU desmentem a tese de que a falta de crença em Deus e a irreligiosidade estão relacionadas à iniquidade e violência. Na Suécia, aliás, os presídios estão fechando por falta de pessoas para prender. Enquanto isso, no Brasil, com tantos cristãos, vemos tanta criminalidade, desemprego, corrupção, pobreza e outro fator: grande parte dos criminosos são religiosos. Há os que se tornam evangélicos após serem presos, claro, mas muitos já tinham crença em Deus. E é comum que evangélicos ataquem terreiros de umbanda e candomblé e traficantes evangélicos gostam de invadir centros de cultos de matriz africana para atirar e destruir "em nome de Jesus." Vejamos a situação: diz-se dos seguidores de umbanda e candomblé que seguem ao diabo e os traficantes, pessoas que ganham dinheiro destruindo vidas, acham-se salvos por crer em Jesus. O que podemos afirmar? Precisamos parar de julgar as pessoas com base naquilo em que elas acreditam. Há pessoas descrentes de bom ou mau caráter como há pessoas crentes de bom ou mau caráter. Julgar uma pessoa por aquilo em que ela acredita é uma atitude preconceituosa, justificada apenas por ignorância e uma visão superficial acerca das pessoas e aspectos como cultura, sociedade e religião.

Outros fatores interessantes são que um levantamento da ONU revelou que países com maiores índices de alfabetização são os com mais descrentes e, em 2008, o inglês Richard Lynn concluiu que países com QI mais alto são os com mais ateus. Phil Zuckerman percebeu também que os dinamarqueses e suecos viviam muito satisfeitos com a vida. Por não acreditarem em uma vida após a morte, eles se focam em valorizar a vida que agora estão vivendo, torná-la plena.

Infelizmente, falar sobre isso com religiosos parece não convencê-los de que ateísmo ou falta de religiosidade não influi no caráter e, uma vez, quando discuti com uma senhora que dizia que eu tinha que acreditar em Deus e orar com fé para conseguir um emprego e eu rebati que já o tinha feito e não tinha ocorrido nada, ela falou que tudo era no tempo Dele. Então, falei que nações como Noruega e Suécia, com tantos ateus, não precisam orar e esperar o tempo de Deus para conseguir emprego e estão muito bem. A resposta dela foi: "Mas essas nações só estão bem agora porque o Inimigo só atormenta quem busca a Deus. Um dia, elas irão pagar por não terem reconhecido Jesus como nosso Salvador."

Então, pela mentalidade dessa senhora e de tantos outros, os povos desses países, no dia do Juízo Final, serão julgados por não acreditar em Jesus e não o terem reconhecido. E grande parte das pessoas que habitam neles são pessoas honestas, que cumprem seus deveres, trabalham, não fazem mal a ninguém. Apenas por não acreditarem, serão impiedosamente castigadas. Parece justo que alguém seja duramente punido apenas por descrer? Pelo visto, para pessoas como essa senhora, sim. Incrível que haja gente inteligente que ache isso aceitável do ponto de vista moral.