O Papa Francisco e o encontro com Lula

O PAPA FRANCISCO E O ENCONTRO COM LULA
Miguel Carqueija


“Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.”
(Palavras de Jesus Cristo: Mateus 9,13)


A mídia está fazendo um escândalo sobre o encontro entre o Papa Francisco e Lula, ocorrido dia 13 de fevereiro de 2020, ou seja, ontem. Muita gente que se diz católica ou, pelo menos, da direita, está atacando o Papa de forma pesada, inclusive com xingamentos baixos. E falam que ele é comunista.
No entanto, as coisas não se passam dessa forma e é preciso um mínimo de bom senso nesse assunto.
Primeiramente, quero deixar bem claro que qualquer católico pode discordar de palavras, ações e atitudes do Papa sem apostasia. Em assuntos secundários que não envolvam doutrina, moral, fé e disciplina, é perfeitamente lícito discordar do papa em alguma coisa. Ou em várias. Todavia, é uma discordância respeitosa. E não é o que estamos vendo.
Um católico digno desse nome pode discordar sim, do encontro do Papa Francisco com o líder comunista Lula, condenado em dois processos e respondendo a vários outros. Mas não pode dizer que o Papa não é papa, que é comunista, ou xingá-lo da forma baixa como andam fazendo.
Mas o que podemos pensar desse assunto?
Primeiramente, esse contato foi agenciado pelo Presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que dizem que é esquerdista (acho estranho que atualmente os peronistas sejam identificados com a esquerda, quando se sabe que historicamente Juan Perón inspirou seu justicialismo no fascismo de Mussolini). Pode ter sido difícil para o Papa negar esse favor ao presidente do seu país. Não sei o que rolou e nem no encontro do pontífice com Lula, sei apenas as fotos, que os mostram sorridentes. Mas Lula no meu modesto entender está minguando como a Lua Nova. Não convence mais o povo brasileiro, seu currículo é por demais ruim. Aliás ele admitiu que não falou sobre Bolsonaro com o Papa, ao menos esse bom senso o petista terá tido.
Mas, é lícito pegar um fato isolado e ignorar praticamente tudo sobre Francisco para assim julgá-lo e condená-lo?
Em 21 de setembro de 2014 o Papa esteve na Albânia, que durante muitos anos foi governada pela infame ditadura comunista de Enver Oxha. Francisco conversou com membros do clero e freiras, vítimas da perseguição comunista. E é dele esta declaração, numa entrevista:
“Ouvir um mártir falar do próprio martírio é forte! Com relação àquele período, foi um período cruel: o nível de crueldade era terrível. Quando vi aquelas fotos... Mas não foram apenas católicos, também os ortodoxos, também os muçulmanos! E quando pensei no que lhes diziam: “Não têm que acreditar em Deus.” “Eu acredito.” E BUM! Matavam-nos.”
Declarações de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, já como papa, em 2014. Mais detalhes:


https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-sobre-a-viagem-a-albania-ouvir-um-martir-falar-do-proprio-martirio-e-forte-30104

O ódio da esquerda marxista e liberal contra a Igreja Católica dirige-se também ao Papa Francisco. Isto ficou bem claro em 2013, na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, quando um bando que se intitulava “Marcha das Vadias” procurou hostilizar os católicos e o pontífice, desfilando nas proximidades (claro que a polícia estava atenta para evitar agressões). Seu ódio era dirigido também contra Jesus Cristo e Nossa Senhora: em sua procissão sacrílega jogaram crucifixos no chão e pisaram neles, quebraram imagens da Virgem Maria.
Falemos também de João Paulo II, o homem que, abaixo de Cristo, foi o grande herói que derrubou a União Soviética, a Cortina de Ferro e o Muro de Berlim, isto é, as ditaduras comunistas da Europa e de boa parte da Ásia (a maior parte da Rússia fica na Ásia). Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, foi beatificado por Bento XVI em 21/2/2001 e canonizado por Francisco em 27/4/2014.
Como se isso não bastasse Francisco canonizou Jacinta e Francisco Marto, duas das crianças de Fátima, em 13 de maio de 2017, centenário das aparições da Virgem Maria na Cova da Iria, as duas primeiras crianças canonizadas sem terem sido mártires. E segue o processo de beatificação de Irmã Lúcia, que foi durante muitos anos (morreu com 97 anos) a sobrevivente das crianças de Fátima. Vale lembrar que nessas aparições Maria alertou que a humanidade precisava se converter, caso contrário, “a Rússia espalhará seus erros pelo mundo”. Era o ano de 1917, o ano da Revolução Russa, e Nossa Senhora desceu à Terra, no humilde povoado de Fátima, para três inocentes crianças, com sua mensagem extremamente urgente e valiosa: ela vinha enfrentar o dragão do comunismo.
Se o Papa Francisco fosse comunista, haveria sentido em canonizar João Paulo II e as crianças de Fátima?


https://noticias.cancaonova.com/mundo/em-portugal-papa-proclama-santidade-de-francisco-e-jacinta-marto/

Sobre receber pessoas questionáveis. O Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, recebeu (concordo, em circunstâncias diferentes, um ato disciplinar) o teólogo Frei Leonardo Boff, um rebelado explícito, defensor da herética teologia da libertação. E tratou-o com grande cordialidade. É assim que age a Igreja.
O Papa Francisco recebeu Lula, mas também recebeu a Ministra Damares e a esposa de Bolsonaro, a Primeira Dama Michelle, em 13/12/2019:


https://www.terra.com.br/noticias/mundo/michelle-bolsonaro-e-damares-participam-de-evento-com-papa,e647bdae4286df966cb079116387d07c6m6iicds.html

Ele também recebeu, entre outras personalidades, a jovem ambientalista Greta Thunberg em 17/4/2019 (conversa informal na Praça São Pedro), o Patriarca Cirilo, de Moscou (12/2/2016), o Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I (17/9/2019), ambos ortodoxos, e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 24/5/2017. E também Rita Pavone e sua família em 2/12/2013 (ela foi recentemente atacada pela esquerda italiana):


https://www.recantodasletras.com.br/mensagensdeamor/4962848

Agora um dado muito importante: no recente Sínodo da Amazônia os comunistas e liberais infiltrados no clero apresentaram propostas de admitir a ordenação de homens casados para atuarem na região, usando o pretexto da falta de padres. Também queriam a ordenação de mulheres, assunto já encerrado por João Paulo II utilizando a infalibilidade papal. Esta última proposta acabou não entrando, mas entrou a da ordenação de casados. Ou seja, uma tentativa de acabar com a Igreja Católica por dentro, com a anarquia, a indisciplina e a desmoralização. Mas agora, dia 2 ultimo, foi divulgado o documento final, um pequeno livro, a Carta Apostólica Querida Amazônia, assinada pelo Papa Francisco, e que não inclui o sacerdócio de homens casados. Ou seja, o Papa Francisco vetou a pretensão subversiva dos padres comunistas e liberais infiltrados no Sínodo.
São coisas que devem ser consideradas, ou seja o quadro completo ou perto disso e não um detalhe do quadro.

Rio de Janeiro, 14 e 15 de fevereiro de 2020.