Uma Vida que Honra ao Senhor é uma Vida sem Idolatria

"O grande dia do Senhor está perto, sim, está perto, e se apressa muito; amarga é a voz do dia do Senhor; clamará ali o poderoso. Aquele dia será um dia de indignação, dia de tribulação e de angústia, dia de alvoroço e de assolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortificadas e contra as torres altas. E angustiarei os homens, que andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor; e o seu sangue se derramará como pó, e a sua carne será como esterco. Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor, mas pelo fogo do seu zelo toda esta terra será consumida, porque certamente fará de todos os moradores da terra uma destruição total e apressada." (Sofonias 1.14-18)

II Reis e II Crônicas contam a história do rei Ezequias, de Judá, que era um rei bom, que fez uma reforma política no seu reino e levou o povo a adorar a Deus. Um certo dia o profeta Isaías prenunciou sua morte. Então ele pediu misericórdia a Deus, e Deus lhe concedeu mais quinze anos de vida. Nesse tempo nasceu Manassés, que governou Judá por cinquenta e cinco anos, o rei que durou mais tempo da sua dinastia, e foi o pior rei da história de Judá, que levou o reino de volta à idolatria, de volta a fazer coisas que desagradavam a Deus. Um dos falsos deuses que eles serviam, Milcom, exigia que os seus servos queimassem os próprios filhos recém-nascidos, e Manassés chegou a fazer isso. E como o desrespeito ao Senhor conduz, fatalmente, ao desrespeito ao próximo, ele derramou muitíssimo sangue inocente.

Finalmente, o Senhor decidiu abandonar a paciência e determinou destruir Jerusalém, trazendo sobre a Santa Cidade um mal tão terrível que ia assustar os outros povos. O castigo de Manassés veio por meio da Assíria. Eles o levaram preso para a Babilônia, onde lembrou-se de Deus, pediu perdão, se arrependeu, e Deus teve misericórdia dele. Manassés voltou para sua terra e destruiu os altares aos falsos deuses.

Então veio seu filho Amom, e com este Deus não teve paciência. Ele tentou trazer de novo a idolatria para o povo judeu, mas em menos de dois anos ele foi morto por uma conspiração. Foi tão repentino que seu filho mais velho, Josias, tinha apenas oito anos quando assumiu seu lugar. Ele, porém, foi um rei fiel a Deus e conduziu o povo de volta à adoração ao Senhor e à obediência da Lei. Por causa de Josias, Deus adiou ainda mais o julgamento, prometendo que ele não veria o mal que estava preparado para Jerusalém. Mas logo que o rei morreu, o povo abandonou o Senhor novamente e voltou-se para os ídolos, revelando que o seu coração nunca havia se convertido de fato, como se convertera Manassés e Josias. O castigo veio na geração do seu filho.

Sofonias, que também era descendente do rei Ezequias, profetizou durante o reinado de Josias. Sofonias foi levantado para chamar o povo a uma conversão de coração. Eles estavam se voltando para Deus só externamente, por causa de Josias, mas o coração deles ainda não pertencia ao Senhor. Então a falsa religião deles não ia livrá-los do castigo.

Em Sofonias, o Senhor promete destruir todas as coisas na face da terra, já no segundo versículo. Ele vai destruir os homens, os animais, as cidades, os ídolos, tudo. Ele vai fazer um verdadeiro extermínio. Mas Sofonias não está falando da destruição literal do planeta Terra. Ele usa linguagem apocalíptica para se referir à destruição da terra de Judá, por isso ele diz que era uma coisa que viria em breve, apesar de ter escrito há 2500 anos atrás. É bem comum nos textos proféticos usarem esse tipo de linguagem exagerada para passar a sua mensagem.

O mundo como aquelas pessoas conheciam estava, de fato, prestes a acabar. Uma ameaça estava próxima, estava muito próxima, que iria causar uma grande catástrofe. Logo após a morte de Josias, o rei Nabucodonosor começou a oprimir Jerusalém, eles entraram em guerra, muitos judeus foram tirados da sua terra e levados para a Babilônia, e alguns anos depois Jerusalém foi arrasada. É esse tempo de angustia que Babilônia traria que Sofonias chama de "O Grande Dia do Senhor". Essa expressão "Dia do Senhor" é usada várias vezes na Bíblia para se referir a algum período da história (não necessariamente um dia de 24 horas) em que Deus iria se manifestar de maneira grandiosa. Inclusive o dia da volta de Jesus é chamado de "O Dia do Senhor", mas não é disso que Sofonias está falando aqui em um primeiro momento, mas da destruição de Jerusalém pela Babilônia como foi prometida a Manassés.

Portanto, Sofonias é sobre o desprezo de Deus pela idolatria e a sua intervenção na história para destrui-la. E o que é idolatria? Os versículos 5 e 6 do capítulo 1 ilustram o significado disso, dizendo que Deus ia destruir "os que sobre os telhados adoram o exército do céu; e os que se inclinam jurando ao Senhor, e juram por Milcom; e os que deixam de andar em seguimento do Senhor, e os que não buscam ao Senhor, nem perguntam por ele.". Esse texto ilustra cinco modos de se ser um idólatra.

Primeiro, adorar "o exército do céu", ou seja, adorar o Sol, a Lua e as estrelas. Nós cometemos idolatria quando amamos mais as criações de Deus do que o Seu Criador. Quando damos mais valor a algo que veio de Deus do que ao próprio Deus. Baseado nisso todo pecado é uma forma de idolatria. Cada vez que nós pecamos estamos colocando alguma coisa, seja comida, seja a nossa tranquilidade, seja o dinheiro, seja uma pessoa, seja algum prazer, qualquer coisa, como mais importante do que Deus.

Segundo, os que juram pelo "Senhor, e juram por Milcom". Milcom (ou Moloque) foi o deus a quem Manassés queimou o próprio filho como sacrifício. Essa segunda forma de idolatria está em você adorar ao Deus Verdadeiro e também outras coisas. Idolatria não é só colocar algo como sendo mais importante do que Deus, mas também colocar alguma coisa como sendo tão importante ou comparável a ele. Quando fazemos isso, nós estamos sendo idólatras porque a nossa obrigação é amar a Deus acima de todas as coisas.

A terceira é quando você ama o Senhor acima de todas as coisas mas não ama Ele tanto quanto Ele merece ser amado. Não é tão perseverante e intenso no seu amor para com Deus quanto Ele merece. Isso porque quando você não ama ao Senhor da maneira como Ele merece ser amado você está dizendo que Deus não tem o valor e a honra que Ele verdadeiramente tem, então você está transformando Deus em um ídolo. Por isso que a Bíblia exige de nós que amemos o Senhor com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com todo o nosso entendimento. Ou seja, que nós amemos a Deus com tudo o que nós somos.

A quarta forma de idolatria é quando você não busca o Senhor. Você vive como se Ele não existisse. Até pratica algum tipo de religião de domingo à noite, mas no resto da sua vida simplesmente o ignora. Deus existe, mas Ele está fora da sua casa, do seu trabalho, das suas conversas no celular, dos seus planos, da sua vida.

E a quinta é quando você vive na verdadeira religião, diz que ama o Senhor, mas não procura conhecê-lo mais. O texto diz que Deus vai destruir "os que não buscam ao Senhor, nem perguntam por ele". Isso está muito ligado ao item anterior, porque não tem como você buscar verdadeiramente a Deus sem buscar conhecê-lo, aprender sobre quem Deus é, sobre COMO Deus é, sobre aquilo que Ele nos revelou (até nos profetas menores). Se você não busca aprender mais sobre Deus você corre um sério risco de crer em um Deus falso, um Deus que não é o Deus da Bíblia, mas que foi você quem inventou para atender às tuas necessidades. Além disso, quando alguém não busca o Senhor está mostrando que na verdade não O ama, porque quando nós amamos alguém nós sentimos o desejo de saber mais sobre ele.

O Dia do Senhor seria um momento em que Deus iria interferir de maneira especial na história para castigar todos os tipos de idólatras. Segundo o verso 13, os idólatras de Jerusalém teriam suas casas saqueadas, os seus bens roubados e eles iam construir casas onde não morariam e plantariam o que não iam colher. Nem mesmo o rei com todo o seu poder escaparia da ira divina.

Algumas pessoas acham que são invulneráveis. Só porque têm uma saúde boa acham que são imortais (essa é uma tendência dos mais jovens). Ou só porque têm uma condição financeira estável acham que nunca vão passar necessidades. O coração idólatra confia nas coisas que tem, nos seus ídolos, para garantir a sua tranquilidade. Mas Sofonias nos chama a deixar de confiar nos nossos ídolos, porque só Deus é poderoso para transformar a situação mais feliz em desgraça, e é poderoso para proteger os seus filhos na situação mais terrível.

O verso 16 diz que até nos altos das montanhas, nas cidades mais protegidas, a desgraça chegaria. Isso lembra Apocalipse 6, onde os homens clamam para as montanhas caírem sobre eles para escondê-los da Ira de Jesus. Quando você comete a irracionalidade de rejeitar a Deus (e como vimos, você rejeita a Deus não só quando você o odeia, mas quando você o ignora) você está arranjando para si um inimigo que é infinitamente poderoso e está em todo lugar ao mesmo tempo.

Uma coisa engraçada nos filmes de terror é que o mal, seja ele uma pessoa, seja um fantasma, seja o que for, te encontra onde quer que você vá. Você pode correr, se esconder, fugir da casa mal assombrada, mas ainda assim o assassino ou o monstro te persegue. Você corre o mais rápido que puder, pega um carro e foge e quando você acha que está muito longe, o mal está lá na sua frente te esperando. A ideia de Sofonias é parecida. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, porque você não tem onde se esconder dele.

No final do livro, Deus traz uma promessa de restauração. Ele iria purificar o seu povo e trazer pessoas de todo o mundo para adorá-lo. Os seus servos se apresentariam diante dele com lábios puros. Deus não apenas exige de nós que sejamos santos, mas promete que Ele mesmo garante que os seus escolhidos sejam purificados.

Deus começou a cumprir essa promessa depois que derramou seu castigo sobre os judeus e os trouxe de volta para a sua terra, como nós lemos em Esdras e Neemias, e Ele continua cumprindo isso até hoje. A cada dia Ele vai acrescentando ao seu povo gente de todas as nações que se unem pela fé em Jesus Cristo. Por meio dessa fé Ele oferece perdão a todos os povos.

No verso 13 do capítulo 3, ele diz que não haverá mais pecado no povo de Deus, mas ele será apascentado, cuidado como um pastor cuida das suas ovelhas. Aqui ele aponta para o futuro, na nova terra, quando finalmente todo o pecado for completamente removido do povo de Deus. Em Apocalipse 7 temos uma ideia parecida, em que João tem uma visão do povo de Deus, os 144 mil, então é dito que eles eram aqueles que passaram pela Grande Tribulação, lavaram as suas roupas e agora eles iriam ficar diante do trono de Deus e jamais terão fome nem sede, nem nenhuma outra forma de sofrimento, porque Cristo os apascentará e os guiará às fontes de água da vida.

Sofonias é um livro muito interessante porque ele é bem objetivo na sua mensagem. Ele já começa falando que Deus ia destruir tudo, e fala bastante sobre a ira de Deus, mas termina com uma mensagem de esperança. A intenção de Sofonias não é simplesmente nos assustar à toa. Precisamos ter uma consciência clara na nossa mente do absurdo da nossa maldade e o tamanho do ódio de Deus contra todo pecado para termos uma noção clara da beleza da salvação. É só quando o pecado é amargo para nós que Cristo se torna doce. É só quando nos sentimos famintos que Ele se torna o pão da vida. É só quando percebemos que somos doentes que vamos a Cristo para que Ele nos cure. O Rei Davi só pôde orar implorando pela alegria da salvação depois que sentiu a tristeza do arrependimento. Por isso profecias como Sofonias são importantes.

Sofonias conclui sua mensagem chamando os fiéis a não terem medo das ameaças de Deus. A ira divina é para ser temida por aqueles que vivem no pecado, não para os fiéis, porque Deus é poderoso para proteger os seus eleitos na hora da angústia. Ele não iria proteger os judeus fiéis DA angústia, até porque eles eram uma pequena minoria, mas Deus estaria com eles. O Senhor promete no verso 17 do capítulo final que chegaria um tempo que Ele não ficaria mais irado com o Seu povo, mas que iria se alegrar nele, porque pelo seu próprio amor Deus ia renovar o seu povo, fazer ele nascer de novo, para uma vida que lhe agradasse.

A consciência da ira de Deus não deve nos paralisar, não deve nos afastar Dele. Pelo contrário, deve nos incentivar a buscarmos ao Senhor, a nos aproximarmos Dele, para alcançar misericórdia. Porque Deus não é apenas um Deus irado que lida com suas criaturas sempre pronto a puni-las quando elas erram, mas é acima de tudo um Deus que verdadeiramente se alegra na felicidade delas como um pai se alegra ao ver seus filhos felizes.