Sabedoria dos Homens X Sabedoria dos Crentes

SABEDORIA DOS HOMENS X SABEDORIA DOS CRENTES

Uma das preocupações de Paulo em I Coríntios é refutar as falsas filosofias tão presentes em Corinto, "a sabedoria deste século", que é facilmente reduzida a nada pelo Evangelho, pois este é a sabedoria de Deus. Era inaceitável para os cristãos coríntios aceitarem pressupostos e ensinamentos que vinham da filosofia mundana. Haveria desculpas para eles terem crido nelas quando o Evangelho ainda lhes era oculto, mas nada além de uma consciente rebeldia poderia explicar que trocassem a menor parte da sabedoria do Senhor pelas especulações dos homens. As falsas doutrinas levaram os religiosos a assassinarem o Senhor da Glória, e elas ainda são capazes de levar os filhos de Deus a blasfemarem e ofenderem a Cristo por meio de pensamentos, palavras e ações que não condizem com a Verdade.

Muitos são os que, dizendo-se guiados pelo Espírito, ensinam ou praticam a mentira. Eles se escondem atrás de falsas revelações, ou títulos eclesiásticos, mas a verdade é que não têm o Espírito Santo, pois este é o Espírito da Verdade, e não pode guiar ninguém ao erro; ao contrário, o Espírito de Deus nos revela a sabedoria de Deus. Como alguém pode se dizer cheio do Espírito da Verdade, se não pensa conforme a Verdade? Como alguém pode afirmar ser um profeta, se o que ele diz é diferente da Palavra de Deus?

Jesus é o nosso mestre. Portanto, devemos comparar toda profecia e todo ensino com o que Ele nos revelou nas Escrituras. Essa é a chave para não cair nos sofismas do mundo. Também a Bíblia é a chave para purificar nossas igrejas: visto que o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, devemos encher tanto nossas congregações da Palavra de Deus que não aja mais espaço nelas para aqueles que não amam ao Senhor.

É um terrível erro abundantemente cometido pelos crentes tentar tornar as igrejas ambientes agradáveis para os homens carnais, para aqueles que não têm a mente de Cristo. Os homens não precisam de ambientes agradáveis, eles precisam do Evangelho. A sabedoria de Deus, que eles tanto odeiam, que eles tanto rejeitam, é o método divino para a sua salvação. Por isso não devemos aliviar a mensagem do Espírito, não devemos deixar de falar aquilo que os homens rejeitam, mas justamente anunciar todo o conselho do Deus que eles não amam e condenar sua cosmovisão carnal e demoníaca, pois esta é a única maneira deles serem libertos.

Há muitos dentro das igrejas que são carnais, que são guiados por seus próprios desejos, por suas próprias maneiras de pensar, e não pelo Espírito Santo. São espiritualmente infantis. Precisam ser alimentados com a Palavra de Deus, ainda que seja para eles como um remédio amargo. É um erro usar outras coisas que não o Evangelho puro e simples para incentivar os crentes a amarem mais a Deus e ao próximo. Congressos, teatros, conferências, eventos, acampamentos, seminários, reuniões... Qualquer coisa que não seja a pregação do Evangelho não tem poder para libertar os crentes da apatia espiritual tão comum em nossos dias; ao contrário, são apenas entretenimentos para crianças em Cristo.

Uma das evidências da imaturidade espiritual dos crentes coríntios era as contendas. Eles se vangloriavam e se dividiam em partidos que giravam em torno da pessoa com que eles aprenderam a Palavra de Deus, seja Paulo, seja Apolo, seja outros. Uma exaltação exagerada de homens é um evidente sinal de imaturidade, visto que o crente maduro entende e percebe que todos somos um em Cristo e que somos apenas instrumentos de Deus na Sua obra. Um prega, outro ensina, outro discipula, outro envia... Mas é Deus que opera tudo em todos para a Sua própria glória.

Se o que nos guia é um só Espírito, precisamos permanecer unidos. O Espírito não guiaria dois irmãos a brigarem entre si, ou a dizerem coisas contrárias, ou a se atrapalharem mutuamente. Se há contenda, ali não há o Espírito de Deus, pois Ele não pode combater a si mesmo. Assim, a Bíblia deve ser nosso árbitro nas questões importantes, aquelas que em ela é clara, a fim de dissolver as contendas; os outros conflitos, que a Palavra de Deus não resolve claramente, não são resolvidos justamente por não serem tão importantes assim.

Há muitos, porém, que usam a própria Bíblia como pretexto para sustentar seus sofismas carnais. Tiram versículos de seu contexto, interpretam as Escrituras para seu benefício, ignoram textos ao seu bel prazer, etc.. Para isso é necessário examinar qualquer interpretação ou doutrina à luz de toda a Bíblia, para ver se esse raciocínio não contradiz alguma passagem, conferindo coisas espirituais com espirituais, entendendo ser Cristo o centro da Palavra. Qualquer ensinamento ou prática que vá contra a simplicidade do Evangelho deve ser rejeitado, mas aquilo que for feito a fim de que o nome de Cristo seja elevado acima de todos receberá recompensa.

Se o Espírito Santo habita em nós, somos santuários de Deus. O Senhor zela por nós e nos protege. Portanto, devemos viver como templos do Espírito, nossas vidas devem ser um meio pelo qual as pessoas se aproximam do Senhor. Mas não podemos fazer isso se nos deixamos enganar pela sabedoria dos homens. As falsas doutrinas nos impedem de sermos verdadeiros mensageiros do Senhor, verdadeiros sacerdotes. Por isso devemos abraçar a simplicidade da Bíblia diante da falsa sabedoria do mundo, ainda que sejamos tidos por ignorantes e loucos por causa disso; porque aquilo que é elevado diante dos homens, perante Deus é abominação. Por isso é bendito aquele que Deus livra das trevas da ignorância, das vãs filosofias mundanas, para lhe ensinar a Sua lei (Sl 94.11).

Não que Deus seja irracional. A razão, as ciências, lógica, retórica, aritmética, música, astronomia e tudo o que é verdadeiro é dom de Deus. Contudo, a sabedoria humana é limitada e frequentemente se choca com a sabedoria de Deus. A Bíblia não é irracional, ela é mais racional que todo conhecimento humano, mas os homens, justamente por serem limitados em sua inteligência, não a conseguem compreender sem a iluminação do Espírito, e a rejeitam, e a têm por tolice; dizendo-se sábios, tornam-se loucos. Uma loucura arrogante que se acha onisciente. Mas o Senhor os apanha na sua própria astúcia (Jó 5.13).

Especial atenção à Sabedoria de Deus é exigida dos líderes da Igreja. Eles são mordomos de Cristo, nomeados para cuidar de seus irmãos por meio da Palavra. Eles devem ser fiéis às Escrituras, não ensinando suas próprias especulações e opiniões, mas explicando e aplicando aquilo que já está escrito. Os mestres da igreja não foram chamados para ensinar filosofia, psicologia, auto-ajuda, etc., mas para expor a Cristo por meio da pregação da Palavra, pois Jesus é aquilo que os homens precisam. Por isso os crentes devem sempre agir como os nobres bereanos (At 17.11) e julgar tudo o que é dito por qualquer pregador segundo o que está na Bíblia, não importa quantos títulos ele ostente. Ninguém fala como profeta se não fala segundo os oráculos divinos.

Embora seja claro como julgar os ensinos das pessoas, é preciso ser mais cauteloso ao julgar seu comportamento. Muitos cristãos condenam atitudes corretas ou que não são erradas por causa de uma compreensão ruim das Escrituras, que os torna como os fariseus que tanto fizeram para matar nosso Senhor. Outros, ainda, se deixam enganar facilmente por seus líderes, achando que por eles serem pastores, bispos, presbíteros ou o que for, são inquestionáveis em suas atitudes. Outros ainda são iludidos por fachadas exemplares de alguns crentes de coração corrupto e mau. Deus, ao tempo certo, mostrará o verdadeiro julgamento; mas nós, sendo tão limitados em nosso conhecimento e em nossa percepção, devemos ser cautelosos, para não correr o risco de cometer injustiças, ou de sermos hipócritas, apontando o cisco no olho do irmão enquanto temos uma trave no nosso.

O julgamento precipitado era uma das razões para as contendas em Corinto. Uns queriam se sobressair sobre os outros, por causa da condição financeira, por causa da suposta inteligência, ou até mesmo por ter conhecido o Evangelho através de um apóstolo e não por um discípulo comum. Devemos nos lembrar, entretanto, que se todos os que estão em Cristo são um só, não podemos ser uns mais importantes que os outros, pois não há nada que temos que não nos foi dado por graça.

Basta-nos o exemplo dos apóstolos: Eles sofreram fome, sede, nudez, foram esbofeteados, considerados loucos, chamados de blasfemos e hereges, viveram como andarilhos, ofendidos, perseguidos, foram tratados como lixo, mas todo seu sofrimento foi o meio escolhido por Cristo para edificar Sua Igreja. Como, então, poderemos nós nos vangloriar em nossa riqueza, poder, sabedoria, força ou honra, se elas são tão infrutíferas? Sigamos, pois, o exemplo dos nossos pais na fé, tomando o vitupério de Cristo, abandonando aquilo que os homens chamam de honra, rejeitando o que o mundo chama de sabedoria, a fim de sermos usados poderosamente pelo Senhor, pois o Reino dos Céus não consiste em falatório vazio, mas em poder. E toda a nossa sabedoria esta posta neste Evangelho.