Contra o Mal Mais Contagioso de Todos

Em I Coríntios 5, Paulo adverte a igreja que eles eram conhecidos por serem tão imorais que até os não-cristãos se surpreendiam. Ele cita um caso específico que, para Paulo, era assombroso: um homem tendo relações com a madrasta. Segundo Levítico 18.8, ter relações com a esposa do pai é a mesma coisa que ter relações com o próprio pai, mesmo que ele já esteja morto, embora não faça tanta diferença se a madrasta em questão era ou não viúva. O problema não era que toda a igreja de Corinto cometia esse tipo de imoralidade. O problema maior é que a Igreja estava tolerando esse tipo de coisa, tornando-se cúmplice da imoralidade. Quem vive no pecado sem arrependimento, após duas ou três advertências, deve ser entregue a Satanás, ou seja, retirado do meio da Igreja (1Co 5.1-5, Mt 18.15-17), até que sejam reconduzidos ao arrependimento.

Existem pelo menos quatro razões pelo qual a disciplina deve ser exercida na Igreja, até o ponto de expulsar aqueles que vivem publicamente e sem arrependimento no pecado. Primeiro, porque isso honra a Deus, já que é uma demonstração da Sua justiça. Segundo, pelo bem da própria Igreja, pois o pecado é contagioso; um pouco de fermento leveda toda a massa, um pouco de pecado tolerado corrompe toda uma igreja. Terceiro, pelo bem do próprio pecador, pois alguém só se arrepende se reconhece seu pecado. Se as advertências não resolvem, necessário é uma atitude mais enérgica, ou o pecador permanece em seu estado de dormência espiritual até que seja lançado no inferno. E quarto, pelo bem dos de fora da Igreja, pois o mal testemunho de uma Igreja que tolera o pecado impede que outros se aproximem dela para a sua salvação.

Essa não é uma responsabilidade apenas da liderança, mas de toda a Igreja. Nós não devemos nos associar, nem sequer almoçar junto, com aquele que, dizendo-se cristão, é avarento, idólatra, fofoqueiro, beberrão, adúltero, efeminado, homossexual praticante ou desonesto. Nós até podemos conviver com aqueles que não professam a mesma fé que nós e vivem no pecado, pois senão teríamos que sair desse mundo, mas se associar com falsos crentes é claramente condenado pela Bíblia. Não temos o direito de julgar os que estão fora de nossas igrejas, Deus os julgará; mas aquele que se diz crente e vive sem preocupação no pecado deve ser expulso do nosso convívio.

Alguns crentes discordam do Apóstolo e insistem em dizer que um cristão não pode julgar, pois Cristo disse: "não julgueis" (Mt 7.1). Mas nesse texto Cristo apenas está condenando o juízo hipócrita, que está sempre pronto a enxergar o pecado do irmão e não percebe que o seu próprio é pior. Se não estamos em condição de repreender e disciplinar nosso irmão que vive em pecado, é porque nós já estamos debaixo de condenação. Devemos, o quanto antes, nos purificar de nossa maldade, a fim de poder ajudar e corrigir outros que pecam de modo semelhante; ou, na linguagem de Jesus, tirar a trave de nosso olho para poder ver claramente o cisco no olho do irmão (Mt 7.5).

Aqui poderíamos acrescentar uma quinta razão para praticarmos a disciplina eclesiástica: os injustos não herdarão o reino de Deus. Sendo a igreja local uma agência do Céu, uma manifestação terrena do Reino de Deus, como poderia ser participante dela aqueles que mostram, pela sua vida, estarem indo para o inferno? A Igreja de Cristo é composta por aqueles que foram lavados, purificados, santificados, justificados por Jesus. Quem ainda não foi salvo não deve ser tratado como tal. O pecado é o mal mais contagioso de todos, e a disciplina eclesiástica é uma das formas de lidarmos com ele.