BASE DE LEITURA DOS LIVROS BÍBLICOS

ATUALIZANDO O EVANGELHO

A interpretação bíblica é um processo racional e espiritual que tenta interpretar a Bíblia e aplicá-la aos nossos dias.

O processo espiritual é mais difícil de definir. É um chamado, onde Deus abre a mente da pessoa para que ela possa compreender as verdades espirituais. É uma revelação. Aqui existe o perigo da subjetividade, que é interpretação pessoal, individual.

O processo de interpretação racional é mais fácil de descrever. Nós devemos ser consistentes e honestos ao texto e não ser influenciados por nossos preconceitos pessoais ou denominacionais. Todos somos historicamente condicionados. Ninguém é um interprete objetivo, neutro. Somos o conjunto do que aprendemos ou fomos levados a aprender. Então necessitamos de certas regras para sermos o mais corretos possíveis com a Bíblia. Vamos pensar em três princípios.

PRIMEIRO PRINCIPIO

O primeiro princípio é observar o cenário histórico em que o livro bíblico foi escrito e a

ocasião histórica particular para seu autor. O autor original tinha um propósito, uma mensagem para comunicar. O texto não pode significar alo para nós que nunca significou para o autor original, antigo, inspirado. Sua intenção – não nossa necessidade histórica, emocional, cultural, pessoal ou denominacional – é a chave.

A Aplicação, que é o indicativo do que devemos fazer em seguida a ler ou ouvirmos a mensagem, é um parceiro importante para a interpretação, porém a interpretação apropriada vem antes da aplicação. Aliás esse é um grande problema atual. Muitos pregadores querem trazer aplicação sem nem ao menos conhecerem a Bíblia. Não é nem questão de interpretação errada, é desconhecimento mesmo. Como é que se prega o que não se conhece? O estudante de Bíblia só deveria começar a estudar alguma coisa depois de ter lido a sua Bíblia pelo menos uma vez. O Seminário Teológico é um resumo do que o estudante deveria conhecer. Pregador que não leu sua Bíblia inteira nem uma vez, nem deveria pregar. Não estou falando aqui de alguém novo-convertido, mas de alguém que já tem anos no Evangelho, talvez até um cargo. A situação é gritante quando encontramos líderes, diáconos, pastores, professores de Escola Dominical, que nunca leram a Bíblia.

Todo texto bíblico tem um único significado que é o original para a sua época, porém pode ter muitas aplicações possíveis para diferentes culturas e situações. Aqui reintero a minha fala: A mensagem bíblica deve ser atualizada para sua cultura é época. A mensagem bíblica deve responder aos questionamentos de seu tempo. O pregador deve ser um intérprete da mensagem e resposta de oração para seu tempo. Os grandes questionamentos de cada sociedade devem ser respondidos a contento pelo pregador. A Igreja é a resposta para o mundo, e o pregador é o que fala qual é essa resposta. Nós estamos tendo milhões de pregações diárias que não respondem nada.

SEGUNDO PRINCIPIO

O segundo princípio é identificar as unidades literárias. Todo livro bíblico é um documento unificado. Os intérpretes não têm direito de isolar um aspecto da verdade excluindo outros. Portanto, nós devemos nos esforçar para compreendermos o propósito do livro bíblico todo, antes de nós interpretamos as unidades literárias individuais. As partes individuais – capítulos,

parágrafos ou versículos – não podem significar o que o todo não significa. A interpretação deve mover-se de uma abordagem dedutiva do todo para uma abordagem indutiva para as partes. Divisões de parágrafo e capítulo não são inspiradas, mas elas nos ajudam ao identificar as unidades de pensamento. Interpretar o parágrafo – não sentença, oração, frase ou nível de palavra – é a chave ao seguir o significado pretendido do autor bíblico. Parágrafos são baseados num tópico unificado, muitas vezes chamado tema ou sentença tópica. Toda palavra, frase, oração e sentença no parágrafo se relaciona de algum modo com este tema unificado. Elas o limitam, expandem, explicam e/ou questionam. Uma verdadeira solução para interpretação adequada é seguir o pensamento do autor original numa base parágrafo-por-parágrafo através das unidades literárias individuais que constituem o livro bíblico.

O estudante de Bíblia deve observar que os parágrafos e divisões em capítulos da Bíblia não são revelados. Existem falhas. Parágrafos foram elaborados de forma subjetiva, assim como a divisão em capítulos não é de todo acertada. Para melhor compreensão o estudante deve ter em mãos boas Bíblias, o que significa Bíblias sem estudo algum. Os estudos e comentários dirigem a opinião do leitor, o que não é bom. Diga-se que uma Bíblia do avô não vale mais, até a regra gramatical mudou. A Bíblia na linguagem de hoje só indico para novos-convertidos, ou crianças e olhe lá, com ressalvas. Pesquisei e as 5 Bíblias mais vendidas do momento são de Estudo. Como disse, para o estudante o melhor é fugir disso. As Igrejas deveriam adotar uma única Bíblia. Uma sugestão é a Bíblia NVI, sem estudo. Mas temos ainda a King James, a Almeida Atualizada, e as Bíblias Católicas Pastorais que tem traduções excelentes. Todas essas que estou indicando são Bíblias baratas. De novo: O estudante deve ter Bíblias em estudo, a principio. Depois que tiver lido a Bíblia toda e compreendido minimamente os tópicos doutrinários é que poderá se arriscar a ter uma Bíblia de estudo. Porém Bíblia de estudo para pregar não é pratico. Além do peso, pode confundir mais do que ajudar. Para pregar use uma Bíblia sem estudo. Para aprender leia a Bíblia sem estudo.

TERCEIRO PRINCIPIO

O terceiro princípio é ler a Bíblia em traduções diferentes a fim de compreender a mais ampla extensão possível de significado (campo semântico) que as palavras ou frases bíblicas podem ter. Muitas vezes uma palavra ou frase grega pode ser compreendida de várias maneiras. Estas traduções diferentes produzem estas opções e ajudam identificar e explicar as variações de manuscrito grego. Estas não afetam doutrinas, mas elas realmente nos ajudam a tentar regressar ao texto original, e o que originalmente o Espírito Santo queria dizer.

Aqui caberia ter Bíblias de Estudo de diferentes seguimentos, como Bíblias de Estudo de Origem Reformada e Bíblias de Estudo Pentecostal, isso para comparação dos textos bíblicos. Alguma Bíblia versículo por versículo seria bem-vinda.

Mas não só isso, o pregador deve ser alguém que sabe os fatos que estão ocorrendo no mundo. No domingo os jornais na TV fazem um resumo do que aconteceu na semana. Tem as revistas jornalísticas periódicas semanais que o pregador deve ao menos ler de vez em quando. Um professor de Escola Dominical nos mandava observar que toda semana algo relacionado ao Evangelho era assunto de matéria em alguma revista semanal.

Um pastor indicou que o pregador deve ser homem de leitura de romances, de livros, pois os livros abrem a mente para compreender o ser-humano. Eu indicaria ainda ao pregador assistir filmes indicados pela mídia como bons, dramas, comédias-romanticas, romances, suspense. Mas filmes que nos levem a compreender um pouco mais o ser-humano e a mente humana.

QUARTO PRINCIPIO

O quarto princípio é observar o gênero literário. Os autores originais inspirados registraram suas mensagens de formas diferentes (narrativa histórica, drama histórico, poesia, profecia, evangelho [parábola], carta, apocalíptico). Estas formas diferentes têm soluções especiais para interpretação.

Alguns pontos muito tem me ajudado em relação a interpretação do texto bíblico e da vida.

1 - Um deles é observar que no Antigo Testamento, poucos tinham o Espírito Santo, portanto eles deveriam ser dirigidos pela religião, ou regras espirituais de culto. No Novo Testamento entretanto o Espírito está em nós, em contato direto com o espírito de cada cristão.

2 – Outro ponto importante é observar o papel da Trindade na Bíblia. Deus o Criador escolheu um povo para gerar um, Filho. Para terem a santidade mínima para isso, Deus instituiu o Sistema Sacrificial. O Filho: Jesus é o exemplo perfeito de alguém que anda e vive no Espírito Santo. Jesus é o exemplo de como devemos fazer e ser. O Espírito Santo é quem nos ensina a nos reconectar com o Espírito de Deus, ou com o plano original de Deus, que era estarmos na sua presença.

3 – Ser cheio do Espírito é uma necessidade e não uma opção para o cristão. Sem o Espírito somos terrenos e só trafegamos no âmbito humano. Sabendo que é o Reino Espiritual que governa o Reino Material, então quando estamos no Espírito, estamos trafegando pelo Reino do Espírito. Assim podemos contar com a revelação pessoal, as visões, a revelação da palavra, os direcionamentos diversos, para a Igreja e para a vida, de toda a Trindade.

4 – A chave de toda a Bíblia é Jesus. O coração do Ministério de Jesus é a Cruz e a ressurreição. Na Cruz ele levou nossas maldições e morreu no nosso lugar. Mas na Ressurreição, assunto muito negligenciado, ele comprovou quem ele disse que era.

5 – A meta da Bíblia, vista à exaustão no Novo Testamento, é nos devolver para a vida como gente como devemos ser em Jesus. A meta não é ser religioso, fanático, louco, mas gente que sabe conversar, que sabe opinar, que sabe resolver, que sabe ser feliz.

6 – A Igreja é uma família.

7 – Deus sempre quer nos ajudar. Deus sempre quer nos perdoar. A vinda do Espírito Santo em nós é para nos ajudar a resolvermos os nossos problemas, traumas, mazelas, situações. Entramos na Igreja arrebentados e o Espírito quer nos guiar até que saíamos novas pessoas, amadas, saudáveis, sem vícios ou pecados, mas amáveis, melhores. Deus quer nos ajudar a escolhermos o melhor e fazermos o melhor. Sempre.

8 – Alguns observam e pregam a Bíblia de forma microscópica, ou seja, de muito perto o texto bíblico, como as palavras ditas na língua original, ou o assunto diretamente tratado no versículo. Essa é a maneira minuciosa. Outra maneira – que adotei – é ler a Bíblia de binóculo, que é a forma panorâmica. Ao preparar um sermão tento entender o que essa passagem específica tem a ver com o todo. Onde ela se encaixa. Assim leio o texto observando os parágrafos anteriores e posteriores, assim como os livros anteriores e posteriores, sem fugir dos pontos anteriores.

9 – A pregação no Plano de Deus é algo que aprendi faz tempo lendo algum livro. Deus tem um plano e esse plano é falado, revelado aos seus profetas, para que eles falem para a Igreja. Todas as mensagens da Bíblia estavam interligadas. Todas as nossas pregações deveriam ser interligadas no Plano de Deus. E como isso é possível? Simples, pregando sempre o que Deus direcionar a pregar. Certa vez Deus me deu uma mensagem extremamente teológica, para um publico que não iria entender o que eu queria dizer, mas senti profundamente na minha alma que era aquela palavra que deveria pregar, então o fiz. A Igreja é visitada por anjos e demônios. Até onde eu saiba anjos e demônios não tem revelação, mas nós temos. De vez em quando se levanta um profeta e prega alguma coisa que é tão importante e relevante para o plano de Deus de salvação, que movimenta o mundo, faz o mundo girar a partir da Igreja. Um profeta dirigido por Deus pode liberar uma palavra no mundo espiritual que vai fazer com que todo o mundo se mova a partir do que Deus o guiou a falar. Anjos e demônios visitam as Igrejas para observarem através da pregação do pregador, quais são os movimentos de Deus. Pra isso acontecer é só pregar o que você entender em oração. Você orou, Deus deu uma palavra, ai no culto ocorrem um monte de coisas, esqueça o que acontece no culto e pregue o que Deus mandou. Tenho comigo que pessoas que dizem que Deus mudou o que ia pregar é porque não tinham palavra alguma. Deus não pode ser pego de surpresa por algo que aconteceu no culto.

10 – Por que eu? Sempre me fiz essa pergunta e sempre me achei desqualificado para o Evangelho. Mas por que eu? Não sei, mas Deus sabe e deve ter lá seus motivos. Me acredito tão ruim de Bíblia e interpretação que busco sempre pregar ou falar aquilo que entendo que Deus quer que eu fale, escreva ou pregue. E se Deus escolheu a mim, acredito que é por que os que são mais qualificados não quiseram fazer o mesmo serviço e assim eu me sinto apenas um tapador de brechas no muro. Acredito que Deus chamou o pastor Teólogo, o pregador Teólogo para fazer apostilas para suas Igrejas, ou que tenham chamado para ensinar doutrinas na Igreja, escrever livros, tentar responder a grandes questões e ele não o quis fazer, arrumando desculpas para não fazer a obra. Enquanto o Espírito fluir em mim em prego, escrevo, falo. Quando o Espírito não fala nada, eu não falo nada.

POSSÍVEIS ABORDAGENS PARA UMA BOA INTERPRETAÇÃO

Devemos poder apoiar nossas interpretações do próprio texto. Três áreas fornecem pelo menos

verificação imediata, apesar de limitada:

1 – O autor original

a. Cenário histórico

b. Contexto literário – O conjunto de elementos físicos ou situacionais que ajudam o receptor da mensagem a compreendê-la. Esses elementos caracterizam o texto, que é uma comunicação de idéias expressas através de palavras escritas

2 - Escolha do autor original de:

a. Estruturas gramaticais (sintaxe)

b. Gêneros literário (poesia, livro histórico...)

3 – Devemos observar:

a. Passagens paralelas relevantes

b. Relacionamento entre doutrinas – Uma pregação que fale diferente daquela doutrina é um erro e nem deve ser pregada.

Precisamos poder fornecer as razões e lógica por trás de nossas interpretações. A Bíblia é a nossa única fonte para fé e prática. Infelizmente, os cristãos com freqüência discordam sobre o que ela ensina ou afirma. É autodestrutiva reivindicar inspiração para a Bíblia e depois os crentes não serem capazes de concordar no que ela ensina e exige!

CICLOS DE LEITURA

PRIMEIRO CICLO

Leia o livro bíblico de uma vez, observando e se possível anotando quem poderiam ser os crentes posteriores, os que viriam no futuro. Quem são os destinatários originais. Qual é a intenção do autor. Qual é o propósito do livro inteiro. Encontre a chave bíblica, ou a unidade literária, capítulo, parágrafo, ou sentença que claramente expresse esse propósito central ou tema. Identifique o tema central predominante:

1. Antigo Testamento

a. Narrativa hebraica

b. Poesia hebraica (literatura de sabedoria, salmo)

c. Profecia hebraica (prosa, poesia)

d. Códigos de lei

1. Novo Testamento

a. Narrativas (Evangelhos, Atos)

b. Cartas/epístolas

c. Literatura apocalíptica

O SEGUNDO CICLO DE LEITURA

1. Leia o livro todo novamente, buscando identificar os tópicos ou assuntos principais.

2. Esboce os tópicos principais e em poucas palavras e declare seu conteúdo numa declaração

simples. Uma frase.

2. Examine o esboço geral.

O TERCEIRO CICLO DE LEITURA

1. Leia o livro bíblico pela terceira vez novamente, buscando identificar o cenário histórico e a ocasião específica para a escrita do livro na Bíblia. Tente entender por que esse livro foi escrito e não outro. Por que esse livro na Bíblia e não outro? Qual é a necessidade desse livro bíblico?

2. Liste os itens históricos que são mencionados no livro da Bíblia

a. o autor

b. a data

c. os destinatários

d. a razão específica para ter sido escrito esse livro, com esse assunto, com essas palavras, com esse gênero literário.

3. aspectos do cenário cultural que se relacionam com o propósito do escrito.

4. referências a pessoas e eventos históricos

5. Sempre identifique e faça esboços da unidade literária estudada. Isto pode ser vários capítulos

ou parágrafos. Isto lhe possibilita seguir a lógica e o projeto textual do autor original.

4. Examine seu cenário histórico usando auxílios de Bíblias de estudo ou livros introdução.

BIBLIOGRAFIA

FREE BIBLE COMENTARY - JOAO

Amém

Fique na paz.

pslarios
Enviado por pslarios em 31/03/2020
Código do texto: T6902457
Classificação de conteúdo: seguro