A mensagem social dos Profetas Menores

Muitas pessoas leigas e neófitas acreditam erroneamente que a Bíblia é um único livro. Na verdade a palavra Bíblia vem de Biblioteca, ela é um conjunto de livros. Dividida em duas partes, ou dois testamentos: Velho Testamento com 39 livros e o Novo Testamento com 27 livros.

A Bíblia possui aproximadamente 40 autores, que segundo os teólogos levaram em torno de 1500 anos para completá-la.

Foi escrita em três idiomas, dois principais (Hebraico e Grego) e um subalterno (Aramaico). O hebraico foi a língua usada em quase todo o primeiro testamento, com pouquíssimo uso de aramaico e o grego koiné e clássico foi usado no segundo testamento.

Para os judeus -o povo de Israel- os cinco primeiros livros das escrituras, que a tradição atribui a Moisés, que eles chamam de Torá (Lei) e os cristãos chamam de Pentateuco, são os principais livros de toda as escrituras. Isso quer dizer, que judeus entendem um pouco diferente dos cristãos. Enquanto esses últimos acreditam que todas as escrituras são inspiradas por Deus (Velho e Novo Testamento), os primeiros só possuem o primeiro Testamento, mas veem como mais sagrados e infinitamente mais importantes a Torá. Ou seja, dos 39 livros das escrituras hebraicas têm 5 principais, os 5 primeiros.

As escrituras hebraicas, os 39 livros do VT, são divididos em blocos ou partes: Lei de Moisés (Torá) ou Pentateuco, Livros Históricos, Livros Poéticos, Profetas Maiores e Profetas Menores.

A parte mais negligenciada do Velho Testamento e mais desconhecida são os 12 Profetas Menores, são a meu ver, como historiador e como ativista social a parte fundamental das escrituras. Que pena que nem os pregadores os conhecem! Por isso, quase nem os citam, a não ser Malaquias 3, por causa do dízimo e o Livro do Profeta Jonas por conta da sua folclórica história: O homem engolido por um grande peixe, provavelmente uma baleia cachalote.

Mas os Profetas Menores têm em comum uma pregação maravilhosa de cunho social. Certa feita, eu lendo um belíssimo livreto de Rubens Alves, chamado: "O que é Religião?", o autor brilhantemente se contrapunha a Karl Marx, autor da máxima: "A religião é o ópio do povo. A religião é o espírito de um mundo sem espírito".

Para Marx toda e qualquer religião são meros instrumentos de alienação social. Rubem Alves diz: "É uma pena Marx não ter lido ou não ter dado atenção devida a única religião que não foi alienação, essa é a religião dos Profetas Menores, homens comprometidos com a ação social, que denunciavam a religião do seu tempo e a opressão dos Reis e magistrados".

O profeta que mais se destaca é Miquéias. Seu livro fala da corrupção da sociedade (7: 1-6), da idolatria do povo (1:7), denúncia os governantes corruptos, profetas e sacerdotes (3: 1-3, 5, 11).

Miqueias nos lembra do que é importante – fazer justiça, amar a misericórdia, andar humildemente com Deus.

A religião pregada por Miquéias e demais profetas menores não é nem nunca foi ópio do povo. Muito menos alienação social. Eles antes de apontarem o céu, clamam por justiça na terra. Antes de viverem como se a vida só fosse importante num paraíso porvir, pelo contrário, lutavam contra a opressão sistêmica e almejavam uma vida melhor para todos aqui e agora. Ao invés de sentarem na mesa dos Reis, como fazem os líderes religiosos de hoje, que bajulam e fazem cultos para os políticos corruptos, eles os denunciavam, eles os conclamavam ao arrependimento e mostravam o dano social e a opressão causado pelos mesmos.

Toda religião desprovida de sentido humanitário e sem responsabilidade social deve ser rechaçada. Todo aquele que fala em nome de Deus e não denúncia a opressão que ocorre nessa terra, não é profeta, é charlatão. Tiago 1:27 já dizia: "Mas a verdadeira religião, aos olhos de Deus, pura e sem mácula, consiste em amparar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações. Consiste também em não se deixar influenciar pela corrupção do mundo".

Que essa reflexão sobre os profetas menores nos faça perceber que é fundamental aos verdadeiros profetas, antes de apontar o céu, pregarem justiça social e denunciarem as opressões ocorridas na terra. Como disse Jesus no Sermão da Montanha, em Mateus 5:6 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão fartos". Assim como o apóstolo Paulo disse que o Reino de Deus é justiça... e que essa justiça comece na terra!

Obs.: Lembrando que o Novo Testamento tanto nas versões de Bíblias católicas como protestantes possuem 27 livros. O cânon (lista) católico contém 46 livros no Velho Testamento, e a protestante, 39. Neste úttimo, estão ausentes os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (Sirácida ou Sirac), I Macabeus e II Macabeus. Além disso, faltam alguns fragmentos dos livros de Ester e de Daniel.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 06/04/2020
Reeditado em 27/11/2022
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