Jejum Como Sinal de Anseio pela Volta de Cristo

“E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.” (Mateus 9.15)

O contexto dessa passagem possui algumas dificuldades de interpretação, em especial a parábola do vinho e dos odres. Um primeiro ponto para resolver esses problemas é ter em mente que as metáforas usadas por Jesus estão ali para responder à questão de por que os discípulos de Jesus não jejuavam. A resposta é que eles não jejuavam porque Jesus estava com ele – quando Ele lhes fosse tirado, então jejuariam.

Nesse versículo, Jesus liga o jejum à tristeza. Não faria sentido eles jejuarem, porque não havia motivo para se entristecerem. Eles não precisavam jejuar porque já tinham tudo o que precisavam, já que Jesus estava ali. Assim, só deve-se jejuar quando você precisa de alguma coisa, quando anseia por algo.

A questão que se levanta é: nós devemos jejuar agora? Alguns argumentam que como Jesus está conosco, não precisamos jejuar, porque não temos motivos para nos entristecer. Eles argumentam que os dias em que o noivo seria tirado dos discípulos foi o tempo entre a morte e a ressurreição de Cristo. Entretanto, nós ainda temos motivo para nos entristecer, nós ainda ansiamos por coisas, então o jejum ainda é útil. Se, em certo sentido, Jesus está conosco, por outro lado ainda não está, pois Ele não manifestou totalmente Sua presença em nossas vidas, o que só vai acontecer na restauração de todas as coisas. Portanto, nós devemos jejuar porque, ainda que Cristo esteja de certa forma conosco, em outro sentido Ele ainda não voltou, e nós aguardamos Sua vinda.

Jesus está, portanto, negando as tradições dos judeus em relação a jejuns obrigatórios. O jejum para Jesus é algo extremamente pessoal e voluntário. Ele não está indo contra o Antigo Testamento nisso, mas contra invenções de homens. Por isso, a parábola que vem a seguir de roupas e odres velhos e remendos, vinhos e odres novos não deve ser usada no sentido de que Jesus está opondo a mensagem das escrituras hebraicas com a mensagem do Evangelho, como normalmente se interpreta, porque Jesus não está se levantando contra o Antigo Testamento aqui.

Assim, penso haver duas interpretações mais prováveis dessa parábola: (1) o velho representa as tradições dos judeus, e o novo representa a mensagem de Jesus; (2) o velho representa as Escrituras e o novo representa as tradições dos homens que vieram depois. Considerando que a segunda interpretação faz mais sentido, eu creio que Jesus está dizendo que a tentativa dos homens de acrescentar coisas novas às Escrituras e obrigar outros a praticá-las são sempre desastrosas, porque ao fazer essa junção você inevitavelmente acaba nem seguindo as Escrituras, nem cumprindo suas próprias invenções direito. Se você quer praticar uma religião diferente daquela que a Bíblia ensina, pratique então uma religião diferente daquela que a Bíblia ensina, não tente enfiar a Bíblia na sua religião ou a sua religião na Bíblia.

Umas das provas bíblicas de que o encontro com Cristo que esperamos é a Sua Segunda Vinda e, portanto, nós estamos sem o Noivo nos termos de Jesus, de modo que devemos jejuar, são as passagens que falam da volta de Cristo como o encontro do noivo com Sua noiva. Mateus 25, em que lemos a parábolas das dez virgens, é um exemplo de uso dessa figura nesse sentido. A tendência natural, portanto, é interpretar a ausência de Jesus em Mateus 9.15 não como o período entre Sua morte e ressurreição, mas entre Sua ascenção e retorno.

Essa figura se baseia no fato de que os casamentos judeus culminavam com a chegada do noivo na festa do casamento, quando ele vinha para levar a noiva (PITRE, 2014). Desse modo, assim como a parábola das dez virgens significa a chegada de Jesus para buscar Sua Igreja, a chegada do noivo em Mateus 9 para acabar com toda a tristeza e, consequentemente, com o jejum, também significa a parousia.

GUTT, Ernst-August. Matthew 9: 4-17 in the light of relevance theory. University of Southamton, 1986. Disponível em: <http://cogprints.org/2635/1/Matthew_9.htm>.

PITRE, Brant. Jesus the Bridegroom: The Greatest Love Story Ever Told. Image, 2014.