JOÃO 2 - O CASAMENTO EM CANÁ

EVANGELHO DE JOÃO CAP. 2

2.1-12 - O CASAMENTO EM CANÁ DA GALILÉIA – UMA EXPLICAÇÃO BÍBLICA

Podemos aprender muito com o que um texto nos fala e o que um texto não nos fala. Temos, para termos de comparação, três Evangelhos sinóticos, parecidos, porém só em João temos esse relato do primeiro milagre de Jesus. Como vimos no cap. anterior, o autor não teve preocupação em falar certas coisas como: O anuncio e nascimento de Jesus, Jesus jovem, a tentação no deserto, qual era o teor dos primeiros discursos de Jesus, mas antes, ao iniciar João, pois o cap. 2 ainda é inicio do livro, João preocupou-se me mostrar um casamento.

Existem similaridades entre Gênesis e João. Em Gênesis é mostrado como Deus criou em seis dias e no sétimo descansou. Em João é-nos dito que Jesus é o verbo, palavra em movimento, que na verdade não exprime exatamente o sentido querido pelo autor, mas antes que Jesus é o Logos de Deus.

Os gregos, que eram o publico originário do Evangelho de João, ao ler Mateus se deparariam com uma extensa genealogia, algo compreensível pelos judeus, mas incompreensível para os gregos. Continuando a ler Mateus se deparariam com um Jesus, filho de Davi, ao qual nunca tinham ouvido falar e uma ambição racial e nacionalista que não significava nada para o grego. Continuando ainda a ler se deparariam com um Jesus que recebia o título de Messias, termo que nunca tinham ouvido. Teria o grego que reorganizar todo o seu pensamento segundo as categorias judaicas? João enfrentou o problema e falou do Logos.

Os gregos tinham duas grandes concepções sobre o Logos.

1 – Eles tinham o conceito de Logos, que em grego significa duas coisas: “uma palavra” e quer dizer “razão”. O judeu estava acostumado à palavra poderosa de Deus. O grego estava acostumado à idéia de razão, ou de ordem no mundo. Contemplando esse mundo ele acreditava que uma mente superior a dirigia. A noite, o dia, a maré, o tempo, tinham uma regularidade infalível. Para o grego alguém, ou alguma coisa dirigia o mundo. João apresenta Jesus com o Logos de Deus, a Mente que dirige o universo.

2 – O segundo ponto é que o grego sempre concebeu a idéia de dois mundos, sendo um deles o que vivemos. É um mundo maravilhoso, mas um mundo de sombras e cópias. O outro mundo era o real, no qual vivem para sempre as grandes realidades, das quais nossas coisas mundanas não são do que apenas pálidas cópias mesquinhas, pequenas.

João inicia João apresentando a Eternidade, o Logos, a palavra, a Mente por detrás de tudo isso. O prólogo em João 1 é proposital para a mente grega. Isso eles entenderam: a eternidade, o Logos, a luz dos homens, essa apresentação teológica e filosófica de Jesus. Esse tipo de abordagem para o grego fez muito sentido.

E assim como Gênesis inicia com a apresentação da Criação, João de certa forma também. O segundo ponto imediato é que Gênesis apresenta e institui a família. João, depois da apresentação do cap. 1, apresenta um casamento.

Para a mente grega, a genealogia, profecias sobre Jesus, nascimento, Jesus com doze anos no templo, uma explicação exaustiva do batismo de João, a tentação no deserto ou as primeiras mensagens não lhes falava muita coisa. Mas a apresentação filosófica e agora a narrativa de um casamento, isso era mais importante.

Em Caná, uma pequena aldeia na Galiléia houve um casamento, onde Maria, mãe de Jesus, parece ter sido a convidada, levando consigo Jesus, que levou os primeiros cinco discípulos. A história contada nos da a entender que Maria tinha um lugar especial nessa festa. Pode ser que ela tenha algo a ver com a organização, visto que se sentiu preocupada quando acabou o vinho, e tinha suficiente autoridade para ordenar aos serventes para que fizessem como Jesus lhes ordenasse.

Ao falar de Maria, não nos é falado de José, seu marido e pai de Jesus. A explicação mais provável é que a esta altura José já tivesse morrido. Jesus era o filho mais velho e com certeza teve a incumbência de cuidar da manutenção e cuidado com sua família, até o tempo onde deveria se apresentar para iniciar seu ministério.

Nem é preciso dizer que a festa de um casamento é algo memorável para todos os participantes. É interessante Jesus fazer parte desse casamento, numa representação de eu ele quer fazer parte de todos os casamentos.

Porém Maria detectou um problema na festa: acabou o vinho. Numa festa judaica daquele tempo, o vinho era essencial. Esse vinho era uma mistura de duas partes de vinho, para cada três partes de água. O vinho não era para embebedar, mas era o que eles tinham para beber. A falta de provisões teria sido um problema em qualquer lugar, mas num casamento seria vergonhoso e um péssimo sinal para a família que iniciava.

Na porta haviam seis talhas, ou vasilhas grandes de água para limpeza, podendo conter 90 litros de água cada uma. Era preciso água para dois fins. O primeiro para lavar os pés, pois os caminhos da Palestina eram de terra e as sandálias eram apenas uma sola atada ao pé com correias. E segundo para lavar as mãos, que acontecia até entre um prato e outro a ser servido.

Jesus mandou então encher essas talhas até a boca, o que nos da a entender que não ficou espaço para mais nada. Depois que os serventes pegassem a água e levassem ao mestre-sala, que era como o chefe dos garçons. Esse elogiou a bebida.

AS SIMBOLOGIAS DA BÍBLIA

A Bíblia não é um livro comum. A Bíblia conta uma história: A história do povo judeu. Para isso conta com a própria história, com poesia, com livros de sabedoria, profecias e cartas. Porém tudo o que está escrito, tem uma segunda leitura, no mínimo, que devemos observar. Tudo tem simbologia. Por exemplo: Quem é Jesus? Jesus é o homem cheio do Espírito, que nos mostra como devemos ser cheios do Espírito.

O Evangelho de João inicia aqui os milagres de Jesus. Porém os milagres de Jesus tem um cunho altamente explosivo para a liderança de Israel. Para os lideres corrompidos de Israel, Jesus os afrontava fazendo um milagre num casamento, pois de alguma forma ele acenava que Deus tinha rejeitado a antiga noiva: Israel e estava escolhendo outra, com quem iria se casar. Sabemos posteriormente que essa noiva seria a Igreja.

O CASAMENTO EM CANÁ – UMA EXPLICAÇÃO ESPIRITUAL

A Bíblia nos permite, além da leitura histórica e imediata, uma releitura espiritual. Os textos assumem uma explicação para a vida. Nos encontramos e encontramos nossos problemas e mazelas, assim como a resposta a elas ou a esperança a partir dos textos bíblicos.

KAIRÓS E CHRONOS

Houve um casamento em Caná e Maria, Jesus e alguns discípulos foram convidados. O casamento é uma comemoração alegre, onde um homem e uma mulher vão formar uma família. A família, os familiares e amigos gostam de irem ao casamento, para abençoarem o filho e filha, o amigo, o parente. Vamos a um casamento por que gostamos dos noivos e torcemos que eles dêem certo.

Num casamento do primeiro século, acabou o vinho. A comemoração de um casamento na época chegava a demorar uma semana. Se a provisão acabou, isso seria um constrangimento muito grande. Como vão ficar num casamento uma semana sem beber nada?

O vinho na cultura israelita simbolizava a alegria. A idéia é clara: acabou a alegria no casamento. Isso nos fala não de um casamento que estava começando, mas um já formado há tempos e que estivesse passando por problemas.

Maria notando que havia um problema pediu a Jesus que ele fizesse algo. Jesus respondeu de forma no mínimo estranha: Mulher que tenho eu contigo? Aqui precisamos entender que Jesus não estava sendo mal educado, e nem estava respondendo á sua mãe. Para diferenciar a fala da sua mãe, da oração, da intercessão de uma discípula, Jesus se referiu a ela dessa maneira. Aqui Jesus já não falava com sua mãe, mas com uma pessoa que orava. Mas o que Maria fez?

Jesus disse claramente: Mulher não é chegada a minha hora. Como Jesus não tinha feito nenhum milagre até então, e sabemos que ele iria fazer sinais enormes posteriormente, compreendemos que Jesus estava se referindo a que não era a hora dele começar a fazer milagres.

Entretanto Maria fez algo que constrangeu a Jesus. Ela virou-se para os discípulos e ordenou que eles fizessem tudo da maneira que ele mandasse. Maria agiu com uma fé tão grande e superior, que não importou nem o que Jesus tinha dito, que não era a sua hora, mas ela forçou que a hora chegasse.

A resposta de Jesus nos leva até o Kairós de Deus, o tempo de Deus. Ou o momento certo, oportuno espiritualmente para Deus interagir com a história humana. Uma das regras que Deus se impôs é não julgar antes da medida dos pecados de um país ou pessoa estar completa. (1 Tess. 2.16; Gen 115.16; Mt 23.31-32). Jesus veio ao mundo no tempo Kairós de Deus, ou na Plenitude dos Tempos, no momento oportuno conforme entendeu o Espírito Santo. Esse é o tempo qualitativo, de qualidade, para Deus agir. Outro exemplo é que Deus disse a Moisés, no inicio do seu ministério, que Deus havia ouvido a oração do seu povo decidiu agir imediatamente. Pode soar estranho para nós, pois o povo estava a quatrocentos e trinta anos no Egito, orando, e de repente Deus disse que “agora” ouviu a oração do povo.

Dia desses explicava na Igreja que na maioria do tempo o crente ora sem orar, mas existem situaç~eos qu e ele ora de verdade. Esse momento da oração verdadeira é quando a pessoa coloca os sentimentos, o coração na sua oração. O que o fez orar, ultrapassou já todos os limites e provações, e agora ele não liga mais em orar bonitinho, orar com as palavras corretas, do formato correto, o que ele quer e precisa é que sua oração seja ouvida. Quando a pessoa chega nesse nível ela esta orando com o coração, com a alma e deseja mesmo obter a resposta de Deus. Isso explica por que oramos e a maioria das nossas orações não são respondidas: As nossas orações foram só palavras que não passaram do teto, elas precisam ser mais do que isso, elas precisam ser desejo da alma. Quando assim for, a resposta vem rápido.

Chronos é o tempo humano, o tempo do homem. Jesus disse que o tempo do homem já estava preparado e ele poderia orar a todo o tempo, pois Deus fez com que cada pessoa nascesse no tempo correto, oportuno, onde ele poderia orar e suas orações poderiam serem todas respondidas.

Maria forçou que o Kronos de Deus agisse antes do tempo, segundo entendia Jesus. De repente, houve Kronos. De repente, a partir da oração de Maria, poderia Deus agir no mundo. Isso fla de nós. Apesar de Deus ter um tempo correto para agir, nós podemos orar e fazer acontecer. Nossas orações podem constranger Deus a agir, mesmo não sendo o momento que ele queria agir, mas nossas orações permitem que o elemento que faz acontecer, a fé, possa permitir Deus agir em nós e a partir de nós.

Maria entrou no tempo de Deus, invadiu o espiritual, mudou a história, a eternidade e forçou a acontecer uma plenitude, um momento oportuno, onde Deus pode agir.

O MILAGRE DE JESUS

O texto bíblico nos da margem a entender que existem muitas leituras e revelações, ou maneiras de lermos o texto e compreendermos eu Deus pode agir de maneiras diferentes a partir do mesmo evento.

O pregador, escritor, não deve estancar a revelação, fazendo com que o leitor acredite que só existe aquela maneira de lermos a Bíblia. Vejo pelo menos dois eventos no mesmo milagre da transformação da água em vinho. O primeiro é que a água pode simbolizar a palavra de Deus e precisamos encher nossas vasilhas até que cheios da palavra, possamos agir pela fé, impulsionados pelo Espírito Santo. O segundo fato é que as águas de purificação que havia nos potes, faziam uma limpeza externa, lavando as mãos e pés, ou o próprio corpo, porém de forma externa, do lado de fora da pessoa. A água transformada em vinho por Jesus, que seria bebida, iria ocasionar uma mudança interna, uma lavagem, uma purificação interna. Aqui o vinho assume o papel do sangue derramado por Jesus, para nos purificar, nos santificar.

Num outro momento podemos observar os serventes que olhavam para seus vasos, suas vasilhas de trabalho, o lugar onde deveria haver o vinho e não havia. Esses serventes assumem aqui o papel dos ministros da Igreja que um dia serviram, ocorreu algo que esvaziou o seu vaso, sua pessoa do Espírito Santo, de Deus e agora vazia de Deus, sabe servir, mas não tem o que servir. Pois na verdade quando pregamos nós pregamos o Espírito Santo que deve agir, entrar na pessoa, interagir com o espírito humano. Quando cantamos tentamos levar o Espírito às pessoas. Quando ensinamos, evangelizamos ou qualquer coisa, na verdade estamos levando o Espírito às pessoas. Mas se o vaso estiver vazio, o que vamos levar? Jesus encheu de novo o vaso daqueles serventes que nada tinham. O vaso deles esvaziou por algum motivo. Enxergo alguns: Pode ser que esvaziou por falta de encher, pode ser que esvaziou por que alguém quebrou o seu vaso, pode ser que esvaziou por que ele ou alguém bateu e virou o vaso na posição errada, pode ser que o vaso está vazio por que está de ponta cabeça. Pode ser que ele não ligue em encehr o vaso e não busque mais a Deus em oração, leitura da palavra e nem vá mais à Igreja com o coração impelido a descobrir Deus. Ai esvaziou. Mas Jesus encheu o vaso até a boca, novamente com o liquido precioso do Espírito Santo em nós.

Amém.

Fique na paz de Cristo.

pslarios
Enviado por pslarios em 16/05/2020
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