EVANGELHO DE JOÃO 3 – A TEOLOGIA DE JOÃO BATISTA

PRIMEIRA PARTE - REGRAS DE INTERPRETAÇÃO

Esse texto, João 3.22-36, mesmo que pequeno, pode nos causar dificuldades de interpretação. E como interpretar qualquer texto bíblico, mesmo os mais dificeis? As regras de interpretação precisam funcionar para qualquer texto.

A primeira vista, numa leitura negligente, poderíamos ver só a humildade de João Batista e quando fossemos pregar, iriamos pregar usando o texto, só que na verdade sem falar do texto. Usar o texto sem falar do texto é usado na Pregação Temática. A ideia é juntar os versículos que fazem uma doutrina e quase sempre eles estão espalhados pela Bíblia. O pregador devería pregar poucas vezes por ano pregações temáticas. Ela é mais fácil, com certea e mais suscetível ao erro. Por que tanta gente desconhece a Bíblia, mesmo indo todo dia na Igreja? Por causa dos pregadores que usam o texto para falar outra coisa que não o texto.

Existe o fator humildade no texto? Sim, mas compreendo que temos visto muitas pessoas pregando pulando etapas. Todo assunto deve ter um começo, mas vemos algumas pessoas pregando em nossas Igrejas já na pregação 5, sem ter ainda pregado as pregações anteriores. Se a Igreja, seu publico, nunca ouviu aquilo antes, você deve começar do começo e depois ir aprofundando a compreensão da Igreja aos poucos. Um exemplo seria alguém começar a falar sobre a Cruz, numa pregação que explicasse a relação da Cruz e a Eternidade, sem nunca ter explicado que a Cruz é uma ato de sacrificio substitutivo. Nós deveríamos morrer na cruz, mas Cristo morreu no nosso lugar. Esse fato acontecido com João Batista fala de humildade. Enxergo três pregações sobre humildade aqui: Humildade pessoal, humildade ministerial e humildade pastoral. Mas o texto ultrapassa o fato da humildade e enxergamos a teologia de João Batista sobre Jesus. João não foi só humilde, ele na verdade foi além disso e nos revela o que ele entendeu sobre Jesus, no período que ficaram juntos. Pois Jesus batizou nas águas e a Bíblia não diz que ele foi imediatamente para o deserto. De qualquer maneira João refletiu sobre a voz ouvida no momento do batismo de João: “Este é o meu filho amado” e concluiu acertadamente o que lemos nesse texto.

A melhor pregação, com certeza é a Pregação Bíblica. Nela você lê o texto, interpreta o texto e fala do texto. Sem jamais esquecer a regra básica da pregação: Toda pregação deve ter começo, meio e fim. O pregador le o texto, fala/interpreta o texto e conclui no proprio texto.

Primeiro devemos ler o texto. Uma, duas, dez vezes, quantas forem necessárias para ter o minimo de compreensão nossa, pessoal, antes de irmos a livros ou Bíblias de Estudo. Hoje em dia o pessoal faz o contrário, le primeiro o livro, ou a Bíblia de Estudo, sobre o texto especifico e não lê a Bíblia, ou não se esforça para ler até compreender a sua Bíblia.

Mas devemos ler com critérios, não é ler por ler. Quase sempre vale, o que vou chamar de A Pergunta e A Resposta. Por exemplo, nesse texto, houve uma contenda, por que os díscipulos de Jesus batizavam e João Batista também batizava. A pergunta que não está no texto, mas devemos observar é: Por que eles estão batizando João, se era você quem batizava primeiro? O que você acha disso? O que segue é a resposta de João Batista a respeito da pergunta. Então vale descobrir no texto bíblico a pergunta e compreender qual é a resposta do questionamento do próprio texto.

Devemos também ler o texto bíblico até conseguirmos ver as divisões, compreender os parágrafos, o porquê da divisão ser desse modo e não de outro. Depois de compreendido os parágrafos, devemos tentar resumir em poucas frases, ou uma frase, ou uma palavra, o páragrafo. Isso vai nos servir para uma melhor compreensão. E tendo as divisões, você poderá agora resumir tudo em uma frase, que poderá ser o título. No exemplo, esse texto então é dividido assim:

A Teologia de João

3.22-24 - João e os díscipulos de Jesus batizavam

3.25-30 – Recebendo do Céu

3.31-36 – O Pai entregou tudo a Jesus

Agora sim, depois de tudo isso a gente lê livros de introdução ao livro bíblico e Bíblias de Estudo, ai podemos ouvir pregações de outros e estudos biblicos sobre o assunto. A meta é entregar o melhor aos irmãos, quando formos pregar ou ensinar. Um esboço de pregação não precisa necessariamente demorar para ser elaborado, mas precisa ser bíblico. Precisamos descobrir qual é a complicação do texto, a pergunta a ser respondida e resolver o problema. E finalizando precisamos de um final impactante, de preferência, que é a conclusão. O pregador que mais ama a sua Igreja ele é o mais bíblico possível. Ele deseja que a Igreja aprenda e compreenda o texto bíblico e dá a ela o texto bíblico.

A minha Bibliografia para esses esses estudos tem sido basicamente as Bíblias NVI e a João Ferreira de Almeira Atualizada. Ainda estou usando o Comentário Bíblico Moody sobre João e o Comentário do Novo Testamento William Barclay sobre João. A Internet ainda tem sido de muita valia para algumas duvidas que vão surgindo.

SEGUNDA PARTE – A TEOLOGIA DE JOÃO

João 3.22-24

O fato de que Jesus e seus discípulos executaram uma obra de pregação e batismo na Judéia, enquanto João e seus discípulos conduziram obra semelhante em outro setor, despertou suspeitas de que os dois estivessem em competição. João o nega enfaticamente, assumindo um papel de subordinação junto a Jesus.

Acredita-se que Jesus nunca batizou ninguém, pois João já havia dito que ele João Batista batizava com água, o batismo do arrependimento e que Jesus iria batizar com fogo, o Espírito Santo. Mais à frente, no Evangelho de João, vamos ver que ele fala que Jesus precisava ir, para que o Espírito Santo viesse. Há muita conjectura a respeito de Atos 2, que é desfeita facilmente com a leitura da Bíblia. Atos 2 inicia o Ministério do Espírito Santo (e da Igreja) o que fora predito e profetizado no Antigo Testamento. O que se esperava era o Espírito Santo. O sinal que estavam agora em outro tempo, outra época, outro nível, era que o Espírito Santo estava entre os homens, plenamente. O batismo do crente esta narrado em 1 Coríntios 12.13 (versículo que aliás demonstra que Israel do Apocalipse para ser salvo precisa aceitar a Jesus e ser corpo, Igreja), onde somos batizados num corpo, a Igreja. Ou seja, o Espírito Santo no leva a ser Igreja, quando nos convertemos. Alguns homens, entretanto, por uma leitura apressada e errada da Bíblia, disseram que o sinal de que a pessoa agora é Igreja (opa!), é que a pessoa tem o dom de línguas. Não é isso. Nunca foi prometido o dom de línguas, mas a presença do Espírito Santo. E por acaso quem não fala em línguas não é Igreja? Jesus não falou em línguas, e é o cabeça e Pastor da Igreja. Uma leitura de 1 Corintios arruma tudo isso.

Jesus estava na terra da Judéia. João porém estava em Enom e Salim, terras não identificadas que acha-se que ficava perto do Monte Gerizim. A distância entre um e outro era de aproximadamente 40 km. Se um carro demora aproximadamente 30 min. para andar 40 km, uma pessoa vai andar umas duas horas, mais ou menos. A atividade de Jesus pressupõe que ele estava pregando e supervisionando enquanto seus díscipulos batizavam.

Mas havia um havia judeu - o que devemos entender como fariseu, pois todos ali eram judeus – que iniciou uma discussão acalorada, dizendo que havia oposição entre Jesus e João Batista. Então os díscipulos de João foram falar com ele. Note que no texto não se mencionou Jesus aqui, o que nos dá a entender que eles ficaram preocupados com o seu líder e a o declinio da sua posição, pois as multidões estavam seguindo a Jesus. O comentário levantado pelo judeu era no fundo maldoso e suscitou aos díscipulos de João uma revolta religiosa pelo outro pastor que estva fazendo também a obra.

O propósito do autor do quarto Evangelho era assegurar-se de que João Batista recebesse o seu lugar exato como precursor de Jesus, mas não um lugar que fosse além disso. João poderia ficar sentido por seu ministério ir declinando, pois as pessoas iam para Jesus, mas ele foi humilde em reconhecer a Jesus como superior. Mas João vai além da humildade, na verdade ele tem uma Teologia sobre Jesus, que aprendeu no tempo em que esteve com Jesus logo depois do batismo.

3.25-30

João Batista tem uma Teologia bem importante de Jesus. Ele o compreendeu como aquele que veio do Céu, que não era dessa terra. João disse-lhes que ninguém pode receber mais que o que Deus lhe deu. Se o novo mestre estava ganhando mais discípulos e seguidores não era porque os estivesse roubando de João, mas sim porque Deus os estava dando a ele. João afirma que não é o Cristo, mas o que vai adiante dele. Ele ainda usa uma comparação, onde quem tem a noiva é o noivo e não o amigo do noivo. A noiva é a Igreja. Com certeza temos aqui uma fala que mostra a compreensão de João o evangelista, que viu a Igreja nascer e se formar. João Batista não tinha ideia do que seria a Igreja. Quando diz que assim meu gozo está completo, parece uma fla de final de ministério e era mesmo. Aqui João dá por encerrada a sua carreira.

Mas ainda temos outra fala importante. É necessário que ele cresça e eu diminua. Essa é uma fala atualíssima nos nossos dias. Quando vemos alguém louvando o pastor ou a Igreja, eles não estão dando a devida honra a Deus. Quantas invejas, quantas desgostos, quanto ressentimento poderíamos evitar se nos limitássemos a recordar que o êxito de nosso próximo é dado por Deus, e se aceitássemos o veredicto e a escolha de Deus.

Barclay aqui nos conta a história do pastor Spence. Em sua época ele foi popular e sua Igreja estava sempre cheia, mas com o tempo o povo começou a ir embora. O motivo é que tinha chegado um novo pastor na Igreja da frente, que atraía multidões. Uma tarde o pastor Spence fez uma reunião e perguntou: Onde forma parar as pessoas dessa Igreja? Responderam que elas foram para a Igreja da frente, do outro lado da rua. O pastor Spence ficou em silêncio duranteum momento, sorriu e disse: Bem, então creio que devemos segui-los. E conduziu o su povo para a outra Igreja, juntando a sua Igrejacom a do novo pastor. João Batista reconheceu que Deus estava usando Jesus. Nós deveríamos ser humildes o suficiente para reconhecer quando Deus usa outra pessoa.

João 3.31-36

Não parece que o que está aqui foi a fala literal de João Batista, o autor do Evangelho mistura a sua fala e a sua compreensão com as narrativas. João não só conta sobre o Ministério de Jesus, mas ele o interpreta sob a luz da Teologia da Igreja, que quando foi escrito esse livro já ia avançada, lá pelos anos 90, sendo que o Ministério de Jesus foi pelos anos 30.

Se no paragrafo anterior entendemos que Jesus veio do Céu, aqui a chave é entender que Deus deu a ele o poder de todas as coisas. João continua a dizer que Jesus veio do Céu e testemunha do que viu e ouviu junto ao Pai. Mas há uma tristeza, ele fala das coisas do Céu e ninguém aceita o seu testemunho. Mas o que aceitar confirma que Deus é verdadeiro. Jesus e por conseguinte, todos os crentes no Novo Testamento tem agora o Espírito sem medida. No Antigo Testamento o Espírito era dado apenas para obras espec[íficas, acabada a obra ele se retirava. O Pai ama o Filho e lhe deu todas as coisas nas suas mãos. Podemos inferir então que Jesus está dirigindo o Universo e tudo o que ele contém, inclusive nós, nossa vida, nossa histórria, nossos governos, nossos países, assim como todo o mundo espiritual.

Por fim João coloca o leitor de frente com a eternidade. Ele deve fazer uma escolha. Quem crer no Filho terá a vida eterna, quem não crer não terá a vida, mas sobre elepermanece a ira de Deus. Aqui o autor evitou falar que a pessoa iria para o Inferno se não escolhesse a vida, mas fica nítido que era isso mesmo. Nós temos uma escolha e a melhor escolha é Jesus. Se escolhermos errado vamos perder a vida e o nosso futuro não é bom.

Amém.

Fique na paz.

pslarios
Enviado por pslarios em 26/05/2020
Código do texto: T6958583
Classificação de conteúdo: seguro