Quando a Igreja é racista?

Ronilson Pacheco, teólogo negro, tem um vídeo espetacular no YOU TUBE, chamado “Quando a Igreja é racista?”. O pastor Henrique Vieira em sua Live no Instagram citou algumas das falas do Ronilson. Aqui eu selecionei algumas dessas frases para refletirmos sobre esse grande mal: o racismo dentro da instituição que diz de si mesma que é um hospital. Na maioria das vezes, no entanto, ela é um cemitério.

Quando que a igreja é racista?

“A igreja é racista quando acredita que evangelizar a África é livra-la do mal, dos feitiços e dos demônios”. Essa é uma visão preconceituosa e míope do continente africano, pois denota desconhecimento sobre os inúmeros povos e culturas que o habitam, assim como nega e desconhece sua diversidade religiosa.

“A igreja é racista quando acredita que a pobreza na África é fruto de maldição espiritual”. Quem faz tal afirmação nega ou não conhece a própria história do Continente e todos os grandes impérios que houveram nele, como o Egito, Mali, Congo, Songhai, Oyo Iorubá e etc.

“A igreja é racista quando do púlpito pastores e padres demonizam religiões de matriz africana”. Além de ser uma forma de discriminação e intolerância religiosa, quem faz tal coisa não aceitará que façam o mesmo com sua própria religião, portanto, quem quer respeito precisa respeitar o direito do outro e a coexistência entre os credos.

“A igreja é racista quando do púlpito são feitas piadas preconceituosas do povo negro”. Isso ocorrer infelizmente nos púlpitos de algumas instituições religiosas, em programas religiosos em Rádios e Tvs, assim como em conversas informais de parte de sua mebresia.

“A igreja é racista quando não reconhece que o racismo existe”. Que ele é uma chaga, um câncer na cultura ocidental, inclusive, em nosso país, sobretudo, o racismo estrutural, que muitas das vezes se manifesta de forma velada, outras explícitas.

A igreja é racista, por exemplo, no contexto de uma igreja de classe média ou classe alta, quando não se percebe ou finge-se não perceber ou ignora-se, que as funções como zeladoria, portaria, serviços gerais são funções compostas e ocupadas majoritariamente por negros e negras; já nos cargos e funções de liderança estão os brancos”. Ou isso não é percebido ou quando percebido é ignorado, nos dois casos está claro um posicionamento racista, ou reflete o racismo.

“A igreja é racista quando em peças natalinas crianças negras não podem representar Jesus e/ou os anjos”. Quem faz tal coisa, além de demonstrar nítida discriminação racial também demonstra desconhecimento da própria história do Cristianismo, pois acredita equivocadamente no Jesus loiro de olhos azuis europeu, que nada mais é que uma representação falsa e eurocêntrica de Jesus, se esquecendo que o mesmo nasceu em Israel que fica no Oriente Médio, do grupo étnico semita e que sua nação não pertence ao continente europeu.

“A igreja é racista quando associa a cor preta ao pecado”. O que é muito comum na representação e na arte sacra cristã.

“A igreja é racista quando ela silencia com quem quer debater racismo, alegando que isso provoca divisão e discórdia”. A maioria absoluta das instituições cristãs preferem o silêncio ao enfrentamento do problema racial e outros, como a própria violência contra a mulher cometida no seio da própria igreja.

“A igreja é racista, portanto, quando ela força uma unidade, que não debate as opressões e não promove reparações”. Tudo isso feito em nome da expressão “somos todos irmãos”, assim as críticas são silenciadas, os questionamentos são suprimidos e o debate não pode ser feito. Sendo assim, em nome do “somos todos irmãos” muita violência é legitimada contra mulheres, negros e LGBT. Tudo feito em nome de uma unidade silenciadora. Uma unidade uniformizadora. Uma unidade que não debate e acolhe a diversidade. Então, essa unidade é falaciosa e superficial. Na verdade ela é violenta e mantém o status quo.

Sei que é triste reconhecer, mas o cristianismo hegemônico e estrutural é racista e reproduz o racismo. É obvio, que nem toda expressão do cristianismo é racista, mas historicamente ele é percebido facilmente e permanece nos dias atuais mais vivo do que nunca.

Devemos reconhecer que a escravidão sobre o povo negro a princípio iniciado pelos povos europeus ibéricos (Espanha e Portugal) majoritariamente católicos e depois desenvolvidos por nações protestantes, como Inglaterra e Holanda têm como pano de fundo a justificativa e o aval dada pela igreja cristã.

Os massacres, genocídios e extermínios de povos originários das Américas e Oceania: os ameríndios, aborígenes e grandes e poderosos impérios como Incas, Maias, Astecas, Toltecas dentre outros, tiveram o apoio, aval e a justificativa da igreja cristã.

O famoso grupo de supremacia racial norte americano Ku Klux Klan (também conhecida como KKK e Kan), que já fez inúmeros atentados raciais se originou entre os protestantes dos Estados Unidos. Mostrando como esse segmento é ligado ao racismo e a atos terroristas nesse país.

Tanto o catolicismo, como o protestantismo e a igreja Ortodoxa legitimaram todo esse estado de coisas. Mostrando como que a cruz esteve exiliada a séculos do cristianismo institucional.

Devemos reconhecer que o protestantismo reproduz o eurocentrismo e a visão etnocêntrica de mundo, negando a pluralidade cultural e a própria diversidade de um país plural e miscigenado como o Brasil.

O primeiro passo para curar essas mazelas é o reconhecimento que elas existem. Que a própria história da igreja é uma história permeada de expressões racistas. Depois deve-se chorar com os que choram e pregar uma mensagem social como faziam os Profetas Menores do Antigo Testamento. Deve-se para de espiritualizar o mundo e as relações humanas e se engajar na luta por direitos dos pobres e minorias.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 06/06/2020
Reeditado em 16/06/2020
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