Prezado leitor. Gostaria que tomasse meus comentários aqui, não como verdades absolutas, mas com muita prudência, pois esforço-me para falar de coisas sublimes e indizíveis, muito acima do meu alcance mortal de compreensão. Faço esse texto com um sensato temor de inevitáveis equívocos, mas ainda sim, convicto do valor da investigação. Como diz o próprio autor Plotino: " Obedeceríamos ao preceito do deus de conhecer a nós mesmos, ordenado acerca disso ao fazermos a investigação."

Assim, prosseguimos,

Para Plotino, três são as realidades permanentes(Hipostases): O Uno, a Inteligência(do universo, do cosmo) e a Alma.

O Uno seria a causa sem causa, o demiurgo, ou como queiram: Deus, donde tudo transborda. Ela é a luz inteligível percebida pela inteligencia.
A inteligencia, não intelectual, mas sua parte superior e intuitiva, é aquela que pode contemplar a luz divina e por isso pode unir-se ao Uno. Dessa inteligencia divina e universal provem a Alma, nossa verdadeira identidade, ou como diz Plotino " assim também é a Alma que vem ao corpo do céu, dá-lhe vida, dá-lhe imortalidade, desperta o que jaz". "sendo a Alma a que raciocina sobre coisas justas e belas".

Sendo o Uno e a Inteligencia anteriores e origem da Alma, Plotino diz: “devemos ensinar a Alma a recordar a sua origem e preciosidade. " amar o esplendor em si."

Para Plotino, existem em todo cosmos e também em cada um de nós essas 3 realidades permanentes, sendo a Alma aquele que retira da Inteligencia seus princípios. A inteligencia seria o transbordamento do Uno.

Essa Alma, que é aparentemente inferior, porque vem depois da Inteligencia e do Uno, contém ambos, razão pela qual Plotino diz: "esse Deus sobre a Alma que com ela subsiste" "a Alma, tendo se avizinhado Dele, tal que veio a ser um só, vive sempre" "toda Alma deve refletir portanto primeiro nisto: que ela fez todos os viventes tendo-lhes inspirado vida,... que ela mesma fez o sol, fez o grande céu..."
"é também a nossa alma algo divino e de natureza diversa, tal qual a Alma é toda natureza e tendo inteligencia, é perfeita."


Assim, a alma é o Deus em nós, o Cristo interior. Para Plotino, recordamos nossa verdadeira identidade é primordial para adquirirmos uma vida plena. A busca pelo superior, pela beleza, pelo perfeição é característica de toda alma.

"tudo deseja o que o gerou e ama"

Assim, a Alma deseja subir em direção a Inteligencia e essa em direção ao Uno.

“ há necessidade aqui de precipitar-se ao Uno e nada mais acrescentar a ele, mas estar inteiramente em repouso com temor de afastar-se dele.”

Uno, Inteligencia e Alma poderia ser entendida como a trindade do Pai, Filho e Espirito Santo. Ou ainda Atma, Budh e Manas. Para Plotino, cada qual é gerado pelo seu anterior de modo que “aquele que é gerado salva muitas coisas desse que gera, razão pela qual é imagem daquele”.
Para Plotino, não existe sequer uma separação entre eles.

" e o vê(a inteligência vê o Uno) não como tendo sido separado, porque depois dele não há intermédio, assim como não há intermédiario entre alma e inteligencia." "inteligencia gera Alma. Sendo a Inteligencia perfeita, gera também o que é perfeito"

Mas sendo a Alma, nossa verdadeira identidade, uma identidade divina e esplendorosa, por que na pratica, tanta decadencia moral no mundo?

“a alma não iluminável é sem divindade Daquele”

“ a Alma tem que recordar da sua origem” para poder expressar-se com autenticidade.

“e tendo sido iluminada, tem o que buscava e esse é o verdadeiro fim para a alma: ser tocada da luz daquele e por ele mesmo contemplá-lo”



Somos aqui no mundo manifesto uma "Alminha carregando um cadáver," nas palavras do Imperador Marco Aurelio. Esse cadáver constitui-se não só de corpo, mas tambem uma personalidade temperamental com potencialidades e vicios. Não chegamos crus ao mundo, mas carregamos caracterisiticas proprias dessa máscara(persona) que nos é emprestada pelo Karma para podermos residir temporariamente neste mundo manifesto chamado Terra.
A máscara da personalidade, que funciona como um escudo para Alma e ferramenta de expressão desta neste mundo, por ter uma natureza egocentrica favorece o atual adormecer e esquecimento da Alma. O “despertar da força”,ou da Alma, deveria ser a função natural de toda educação verdadeira, tendo o dever de lapidar essa personalidade para que ela fique transparente para a alma e possamos enfim escutá-la.

Plotino diz: "se alguem esperando ouvir uma voz que deseja, ao afastar o ouvido das outras vozes, despertar para a melhor das vozes audiveis, quando essa voz se apresentar, assim também aqui é preciso esse afastar as audições sensíveis, se não houver necessidade de cada uma, para guardar a potencia da alma de receber em troca pura e pronta para ouvir sons do alto."

Falando mais sobre as três realidade permanentes , Plotino no diz que “sendo o Uno perfeito, por nada buscar, superabundante e supercompleto, fez algo diferente de si. Assim, Ele é todas as coisas, mas nenhuma é o Uno.”
“Pois também sendo múltiplo é contudo um só em si mesmo, e não poderias distinguir, porque é tudo ao mesmo tempo”.


Para Plotino o Uno é a potencia de todas as coisas e a inteligência é a manifestação de todas as coisas. A inteligência “ vindo a ser um díade, há uma monada antes da díade”.

É como se o Uno fosse o fogo e a inteligência fosse os atributos do fogo como o calor e a luz que ilumina. “ E se a inteligência são todas as coisas(Ser), o Uno é além de todas as coisas e “antes de todas as coisas(transcende o Ser)”.
A inteligência como “essência” e “ser” é também correlacionado com o “belo”, ao passo que o Uno é correlacionado ao Bem(para além do bem e do mau).

“ Ao afastar-se do belo, falta também a essência. Por isso também o “ser” é desejável, porque é o mesmo que o belo, e o belo é amável porque é o “ser””.

Assim, a inteligência como algo que foi gerado, “ é a essência, e, o Ser, ao escorrer a partir da potencia dele mesmo(Uno), mantendo uma imitação. E a alma que vê, tendo-se comovido pelo espetáculo, imitando o que viu, prorrompe”
“a inteligência veio a ser, tendo permanecido o Uno antes dela. E a inteligência não tendo permanecido(parado), cria. E tendo-se movido gerou uma imagem(Alma). Depois, (a alma) olhando de onde veio a ser(a inteligência), se completa. E tendo ido(a alma) a movimento diferente e contrário(para baixo), gera uma imagem de si, sensação e natureza que há nas plantas(formação da personalidade)"
A Alma em meio a duas potência, uma pior(sensação), outro melhor(inteligência), sendo a " sensação um mensageiro para a alma, e a inteligência o nosso Rei."
E reinamos também nós(a alma), "quando somos segundo aquela(inteligência)."

“Sobre as coisas que vem da Inteligencia a Alma as tem como marcas lhe servindo de potencia. Contudo, quando a Alma reconhece essas marcas em si(de antigamente) e harmoniza(essas marcas) com as marcas que chegaram a pouco, pratica a Alma a Anamnese, trazendo de volta a mémoria as reminiscências(da vida divina).”

Para Plotino, há dois modos da Alma ser segundo a Inteligencia. Uma delas é agindo pautado em cartas como leis da Inteligencia inscritas em nós. Outra é estar preenchido da inteligência, vendo-a e sentindo-a, ela estando presente.
“E conhecendo a si mesmo segunda a inteligência, vindo a ser a inteligência e com ela pensar a si mesmo, não mais como homem, mas tendo vindo a ser totalmente um outro e tendo arrebatado a si mesmo para o alto puxando apenas o melhor da alma.”

“Para conhecer o que é inteligência é preciso observar a alma e o mais divino dela. É preciso se separar do corpo, das sensações, desejos, estados de ânimo e outras tolices tais que inclinam totalmente para o mortal. Então o que resta dela é a imagem da inteligência(parte mais divina da alma)”

Para Plotino, na personalidade, ou melhor, nas “sensações” não há verdade, mas opiniões. Falar do Uno por meio da personalidade seria um disparate, pois fala-se do indizível.
"Se não pergunto. Sei. Se pergunto. Já não sei mais" (trecho atribuido a Plotino).

"pois, diminuição de inteligência é precisar de raciocínio para autossuficiência."


Aqui uma tentativa de Plotino ao falar do Uno:
“certamente não é preciso busca de onde(vem o Uno); pois não há o “de onde”, pois nem vem nem vai de modo algum, mas se mostra e não se mostra; por isso não há necessidade de perseguir, mas de permanecer em tranquilidade, até que se mostre.”

“ e ele não vem como alguém que veio, mas como o que está presente antes de todas as coisas, antes ainda de a inteligência chegar.”

“ é de fato maravilha como não tendo vindo, é presente, e como não sendo de modo algum, de modo algum há lugar em que não é.”
“todas a coisas participando dele, nenhuma o tendo. Quem prenderia de uma vez toda sua potência? Pois se a prendesse toda de uma vez, em que alguém diferiria dele?”

“não há nada que o tenha, mas ele tem todas as coisas. Por isso mesmo aí é o bem de todas as coisas, pois todas as coisas tanto SÃO, quanto são dependentes dele, uma de um modo, outra de outro. Por isso também umas são melhores do que outros, porque também SÃO uns que mais SÃO do que outros.”

“Na verdade todas as coisas que vem a ser, sejam ou artificiais ou naturais, uma certa sabedoria as cria, e essa sabedoria precede a criação em toda a parte.”

“Pois também o todo tem todas as coisas em si, e por sua vez vê todas as coisas no outro, assim em toda parte são todas as coisas, e tudo é tudo, e cada coisa é tudo, e infinito é o esplendor; pois cada uma das coisas é grande, depois mesmo o pequeno é grande; e sol ali são todos os astros, e por sua vez cada coisa é sol e todas as coisas. Em cada coisa prevalece uma outra, e todas se manifestam.”
Atma Jordao
Enviado por Atma Jordao em 21/11/2020
Reeditado em 29/11/2020
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