Os problemas enfrentados pelos ateus e agnósticos

“ Numa sociedade teísta, acusar uma outra pessoa de não possuir deus é tão humilhante e degradante quanto era dizer no passado que uma mulher era infértil ou que um homem era sexualmente impotente ou incapaz de proteger a própria família.”

Ferreira Bispo

Ninguém pode dizer que os ateus e agnósticos são vítimas de perseguição violenta no Brasil, porém temos de admitir que eles enfrentam muitos problemas na vida social a ponto da grande maioria sequer assumir sua posição por medo de adquirir um status social negativo. Quem descrê, duvida ou não tem religião, ao assumir sua posição, no mínimo irá ouvir frases do tipo: “Como pode alguém duvidar da existência do Senhor?”; “Você não leu a Bíblia?” ou “Tem de acreditar em Deus, irmão.”

As pessoas veem os descrentes como alguém estranho, quase como se fosse um extraterrestre. Isso quando não chegam ao ponto de acusa-los de “servos de Satanás” ou de tentar chama-los para ir à Igreja para ser “salvos” ou então fazer longos e tediosos discursos para convencê-los da existência de Deus. Não adianta quando quem descrê ou duvida diz que foi a própria leitura da Bíblia ou a observação da realidade que os levou a descrer.

Se apontarmos fatores como as inúmeras contradições bíblicas ou o fato de hoje não vermos nada de fantástico como a abertura do Mar Vermelho ou maná chovendo do céu, eles ainda assim não nos deixam em paz, dizendo que temos que desconsiderar esses fatores, que as pessoas hoje não veem coisas fantásticas por falta de fé ou que não estamos lendo a Bíblia com o entendimento do Espírito Santo. Alguns chegam a insinuar que foi o diabo que nos fez descrer.

Ateus e agnósticos são pessoas como qualquer outra. Eles tem sentimentos, medo, são capazes de amar, enfrentam problemas e incertezas. A única diferença é que eles não recorrem a nenhuma divindade. E tanto como há ateus de bom ou mau caráter, há religiosos de bom ou mau caráter. O caráter não é formado pela crença ou descrença mas, ainda que apresentemos argumentos racionais para mostrar que o caráter não é influenciado pela crença numa divindade, há fanáticos que insistem que os ateus, mesmo que dotados de bom caráter, não possuem os elevados princípios da santidade.

Pessoas assim deveriam considerar que muitos ateus e/ou agnósticos foram criados em lares religiosos, especialmente em um país como o Brasil, com 84% de população católica. E que eles se tornaram descrentes ou passaram a duvidar a partir de um estudo aprofundado da Bíblia ou mesmo a partir de questionamentos. Se observarmos muitos ateus militantes que escreveram livros defendendo uma visão lógica do mundo ou que têm canais no Youtube foram fiéis de igrejas evangélicas, católicos e eram religiosos praticantes. Muitos inclusive são teólogos de formação e conhecem profundamente a Bíblia.

Ouvimos muito que os problemas enfrentados pela humanidade – como corrupção, violência e criminalidade – se devem à falta de uma relação pessoal com Deus e que estaríamos numa Idade das Trevas devido ao excesso de materialismo, à banalização de uma cultura hedonista e ao egoísmo. Entretanto, quando mostramos a realidade de países de população majoritariamente ateísta, como a Noruega, logo os crentes rebatem que isso de nada adianta porque essas nações não buscam a Deus e um dia pagarão por não reconhecerem Cristo como nosso Salvador. Porém, a realidade aponta para uma inegável verdade: com exceção de países como os Estados Unidos, de população majoritariamente protestante e da Polônia, que tem a maioria da população católica, a maior parte dos países de Primeiro Mundo possui uma população quase inteiramente ateísta. E, nesses países, há um grande respeito pelos direitos humanos, além de baixos níveis de criminalidade e corrupção.

Há quem proteste quando falamos nesses países dizendo que a Suécia não é um bom exemplo porque polui demais. Se a Suécia polui, isso está errado claro, mas acontece que poluir não tem nada a ver com crença ou descrença em Deus. Tem a ver com falta de consciência ambiental. E os Estados Unidos, um país tão religioso, polui tanto ou mais que a Suécia. Faz-se questão de falar em como países com população composta de maioria ateia respeitam os direitos humanos para mostrar que não estamos numa Idade das Trevas. À medida que a História avança, vai-se adquirindo mais consciência. Ainda precisamos avançar em muitas coisas, claro, porém não podemos negar que hoje temos muito conhecimento e consciência acerca de direitos humanos. Antes, mulheres não tinham direitos; havia escravidão e ninguém via os animais como seres sencientes. Também não podemos esquecer que antes se morria à míngua de doenças que hoje são facilmente curáveis e que somos muito menos ignorantes do que antigamente.

Enfim, antes de julgar alguém pela sua crença ou descrença, vamos observar a pessoa como um todo. Vejamos a realidade como ela é e não tenhamos vergonha de questionar dogmas e princípios que muitas vezes repetimos apenas porque nos foram forçados desde tenra idade.