*História do Templo

História do templo

Antes de qualquer coisa, deixo claro que este artigo nada tem de científico, nem estou a imprimir nele um caráter histórico maciço, contudo, nada aqui é invenção minha, salvo algumas pequenas notas, o resto brota da História.

A História do Templo começou com o êxodo do povo israelita, na saída da escravidão do Egito, o que deve ter acontecido entre os séculos XV e XIII a.C. Não há uma data precisa sobre esse portentoso evento, que ficou mais conhecido com o filme “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille, em 1956.

Durante a peregrinação pelo deserto, dois acontecimentos merecem destaque, além da travessia do Mar Vermelho. O primeiro se refere à parada no Monte Sinai, quando Deus entrega a Moisés as Tábuas da Lei, contendo os Dez Mandamentos, e o segundo se deu com a construção da Arca da Aliança que seguiu, rigidamente, as medidas e o formato ditado por Iahweh.

O primeiro Templo funcionou de forma itinerante, numa tenda afastada do acampamento israelita, sempre que eles paravam para descansar, durante a caminhada. Chamava-se Tenda das Reuniões ou Tabernáculo e foi nessa tenda que Deus se encontrou com Moisés e falou com ele face a face. Era nessa tenda que a Arca da Aliança ficava guardada. Nela se encontravam depositadas as Tábuas da Lei, a Vara de Aarão e um vaso com o Maná (Êxodo 25, 16-21).

Muito se tem falado sobre a Arca da Aliança e seu desaparecimento. O mais provável é que ela tenha sido incendiada pelos caldeus, na época da deportação, embora algumas correntes afirmem que a arca foi enterrada no Monte Nebo, pelo profeta Jeremias, onde acabou se perdendo. (II Macabeus, 2)

Depois que o povo israelita se estabeleceu, definitivamente, na Terra Prometida, cada tribo com seu quinhão de terra, foi que o Rei Davi pensou em construir um templo para Iahweh. Nada mais justo, segundo o meu pensamento. Afinal, Davi habitava um palácio suntuoso, enquanto que, para Deus, só lhe era destinada uma tenda de lona. Mas por esse tempo, Deus também já não estava tão “de boa” com Davi e lhe mandara um recado desaforado, por meio do profeta Natã:

– Cara, fica na tua e deixa de marmota. Por enquanto, rumbora empurrando isso com a barriga, que eu num tô nem aí pra isso. De qualquer forma, não serás tu quem irás erguer-me um templo. Mas cum pouca, quando tu já tiveres esticado as canelas, teu filho fará isso.

Dito e feito. O Rei Davi morreu por volta do ano 970 e quem assumiu o trono foi seu filho Salomão que, por volta dos anos 1012 e 1005 a.C., mandou construir o Primeiro Templo sobre o Monte Moriá, o mesmo local onde Abraão, por muito pouco, não imolou seu filho Isaac.

Com a morte do Rei Salomão, aconteceu o primeiro grande cisma político-religioso entre o Povo de Deus, pois eles já não se aturavam. Assim, dez tribos ocuparam a Região Norte e formaram o Reino do Norte, cuja capital era Siquém, mais tarde chamada de Samaria. Para governar este reino, escolheram Jeroboão, que era da Tribo de Efraim e filho de Nebate.

Já o Reino do Sul foi formado por duas tribos, Judá e Benjamim, que depois ficou sendo chamado Reino de Judá, cuja capital, Salém, é chamada, hoje, de Jerusalém. Para governar esse reino, foi escolhido Roboão, filho de Salomão.

Por esse detalhe, já se pode imaginar o porquê de os judeus não se bicarem com os samaritanos nos tempos de Jesus. Mas existiram outros motivos, como veremos mais na frente.

Por minha conta e risco, volto a dizer que Jesus, que era da Tribo de Judá, nada fez, pelo menos de objetivo, para a união desses povos, pelo contrário, ainda botou mais lenha na fogueira, pois vira e mexe, lá estava ele elogiando os samaritanos...

No ano 721 a.C., no reinado de Oséias, o Reino do Norte passou para o domínio dos assírios e os prisioneiros foram levados para a Mesopotâmia, correspondente, hoje, à região do Iraque e da Turquia. Não se tem certeza de quantos anos durou essa escravidão, mas demorou o suficiente para que o povo de Israel se envolvesse com outros deuses e perdessem sua fé genuína. Isso fez aumentar ainda mais a cisão entre os povos dos dois reinos.

Cerca de 130 anos depois, ou seja, no ano de 587 a.C., Nabucodonosor II invadiu e saqueou o Reino de Judá, destruindo completamente o Templo de Salomão e levando parte do povo ao cativeiro da Babilônia. Com isso, já dá pra ver que tanto o Reino do Norte, quanto o Reino de Judá haviam perdido sua autonomia civil.

No ano 539 a.C., foi a vez de Ciro, o Grande, conquistar a Babilônia, derrotando Nabucodonosor e libertando o povo judeu, que pôde, enfim, retornar à sua terra e reconstruir o Templo de Iahweh. Mas esta reconstrução só teve início, provavelmente, a partir do ano 516 a.C., e somente no governo do Rei Herodes I, o Grande, foi concluído. Por muito tempo, este suntuoso templo foi chamado de Templo de Herodes. Segundo se comenta, Herodes era um homem atormentado, cruel e vivia temendo conspirações. Para fazer média com os judeus, reconstruiu o Templo. Mas foi este mesmo Herodes quem ordenou a morte de todas as criancinhas, quando Jesus nasceu.

O Segundo Templo de Jerusalém, também chamado Templo de Herodes, foi reconstruído no mesmo local do Templo de Salomão e, pela segunda vez, foi completamente destruído no dia 8 de setembro de 70, no século I, quando as tropas romanas, comandadas pelo general Tito – Tito Flávio César Vespasiano Augusto – invadiram Jerusalém, incendiaram o Templo e levaram o povo novamente ao cativeiro.

Até que, em 1948, por uma decisão estapafúrdia da ONU, o povo judeu pôde retornar à Palestina e formar o Novo Estado de Israel, cujo espaço geográfico é dividido com os muçulmanos.

Quero deixar bem claro que a ONU é a única responsável pelo conflito de hoje entre judeus e palestinos. Se em 1948, ao mesmo tempo em que repatriava os judeus, ela tivesse também conseguido um território para o povo palestino, nenhum conflito haveria hoje.

Desse Templo, hoje resta apenas o muro ocidental, conhecido, mundialmente, como o Muro das Lamentações, um local de peregrinação e orações. Nas fendas desse muro, os visitantes e o povo judeu depositam seus pedidos escritos.

O judaísmo de nossos dias, tal como na época de Jesus, concentra muitas diferenças e cisões internas. O povo judeu se reúne nas sinagogas e, talvez por isso, uma terceira reconstrução do Templo de Salomão não seja cogitada. Espero que venha acontecer um dia.

Com o nascimento de Jesus, O Verbo Encarnado, aconteceu paulatinamente o segundo grande cisma entre o povo de Deus. Ficamos divididos entre judeus e cristãos. Acusações de todos os tipos nos fragilizaram ao longo dos séculos. Isso levou o Papa João Paulo II a pedir perdão ao povo judeu, pelos excessos cometidos por pessoas da Igreja e, por minha conta e risco, digo que não ouvi de nenhum Rabino Chefe, igual pedido de desculpas. Irei esperar, lambendo uma rapadura!

Nos tempos de Jesus, o Templo era o centro do poder local e, por isso, era muito movimentado. Ali aconteciam as reuniões presididas pelos rabinos e as reuniões dos magistrados e era ali, também, que funcionava a escola e onde se comercializavam animais para imolações e outras bugigangas.

O Templo cristão mais antigo do mundo é a Basílica de São João de Latrão, em Roma, construída pelo Imperador Constantino. Ela é considerada a mãe de todas as igrejas, embora esta comenda esteja com os dias contados, depois que alguns arqueólogos descobriram outro templo mais antigo, na cidade de Rihab, a 40 km de Amã, na Jordânia, embaixo da Igreja de São Jorge. Segundo eles, esse templo acolheu os primeiros 70 discípulos de Jesus. Abdul Qader Hassan, chefe do centro de Estudos Arqueológicos, afirma que essa construção deve ter acontecido entre os anos 33 e 70.

Já o Templo cristão mais antigo do Brasil é a Igreja dos Santos Cosme e Damião, erguida em 1535, em Igarassu-PE, região metropolitana do Recife.

Nos Templos Católicos, vemos muito das tradições antigas. O Báculo, usado pelos bispos, lembra o cajado dos pastores ou a Vara de Aarão que estava na Arca da Aliança; o Tabernáculo dá nome ao local onde são depositadas as Hóstias (do latim, Vítima) Consagradas, uma referência ao Maná descido dos céus, o Pão da Vida; as vestes sacerdotais, o incenso, os cânticos, as velas, o crucifixo, o ambão e o altar formam, por sua vez, todo o aparato litúrgico das celebrações.

O Templo, seja ele muçulmano, judeu, cristão, budista, xintoísta ou Terreiro, merece respeito absoluto. É um local de meditação, contemplação, culto e reconciliação da criatura com seu Criador ou com suas divindades. É no Templo que nos reconhecemos pecadores e expomos nossas vísceras.

Muito me entristece ver elementos desprovidos de sabedoria e civilidade, depredarem e profanarem templos de outras religiões que não sejam a sua. O Estado deve ser laico, mas não pode ser laicista, porque o povo, na sua maioria, é místico. Para mim, a sua religião e o seu Templo são tão sagrados quanto os meus valores religiosos.