A riqueza dos escritos de C.S. Lewis é algo incalculável. Existem detalhes na tamanha profundidade das fantasias escritas por ele que são descobertas a cada nova leitura. O fato é que, ainda que o conhecimento teológico do leitor seja mínimo, é impossível não enxergar os aspectos analógicos entre As Crônicas de Nárnia e a teologia Bíblica, de modo que há tanto para falar sobre A Cadeira de Prata que um texto não será suficiente.
     A Cadeira de Prata é o quarto livro da série As Cônicas de Nárnia, escrita por C.S. Lewis que narra a segunda experiência de Eustáquio nas terras de Nárnia, dessa vez, não mais com seus primos, Lúcia e Edmundo, mas agora com sua colega Jil (ou Gilda, em uma edição brasileira mais antiga). Eustáquio e Jil pedem a Aslan que os levem para Nárnia e, aparentemente, são atendidos, sem saber que, na realidade, haviam sido chamados para uma missão cheia de perigos que exigiria deles confiar e persistir. Junto com as crianças, encontra-se um Paulama chamado Sr. Brejeiro, sujeito aparentemente frágil, no qual uma mente humana não depositaria muita fé. Os três heróis seguem sua aventura e no decorrer da jornada aprendem a confiar e obedecer. O fato é que em toda a narrativa a soberania de Aslan, representando a figura do próprio Deus, direciona cada personagem para que seus propósitos se cumpram.
     Encontrei-me por dias tentando decidir em qual ponto da história deveria focar esse texto: Aslan na montanha demonstrando seu amor, justiça e soberania, desde sua postura até suas palavras e ações ou a coragem das corujas e do Paulama Brejeiro que creram e agiram em nome de Aslan, contrariando ao representante do rei (Estado), porque mais importa obedecer  Aquele que tudo conhece e vê. Talvez detalhar o desastre educacional da Escola Experimental (melhor descrita por C.S. Lewis em A Abolição do Homem) (...) Conclui que, apesar de cada parte ser um encaixe perfeito e fundamental para o todo narrado por C.S. Lewis em A Cadeira de Prata, nada se compara com a bravura gerada pelo desespero e, principalmente, pela fé, do Brejeiro, que em um ato de coragem mostrou-se um verdadeiro narniano e “espezinhou as brasas, apagando um pouco o fogo (...)” Não sei quanto aos demais leitores, mas, todas as vezes que li esse trecho o ar faltou e retornou em segundos, arquejei de alívio e esperança com a lembrança de que o propósito do Grande Leão não falha.
     Todo o sentimento da leitura é intensificado na continuação, onde o ser que “parecia uma pessoa feita só de pernas e braços”, um simples Paulama, faz uma das mais lindas confissões de fé ao declarar que a “realidade” a eles apresentada é insuficiente diante daquilo que foi chamado “delírio”. O tal “delírio” é tão real que, de acordo com o bravo narniano, mais vale viver por ele: “Estou do lado de Aslan, mesmo que não haja Aslan. Quero viver como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. (...) O prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar chato como a dona diz”. Se existe tanta profundidade e verdade nesse pequeno trecho, o que mais poderia ser dito sobre toda a declaração do Sr. Brejeiro?
     Ainda na adolescência, entre questionamentos e o desenvolvimento da minha fé, alguém me disse: “se o cristianismo estiver errado, a gente não perde muita coisa, mas se estiver certo, aqueles que não creem perdem tudo”. Anos depois, li algo similar escrito pelo Lewis, e fez todo sentido: “O cristianismo, se for falso, não tem valor, se for verdadeiro, tem valor infinito.” Trazendo para a realidade proposta pela feiticeira no submundo: a fossa em que eles se encontravam, aquele reino falido, opaco e triste, por mais real e palpável que fosse, não possuia o menor valor com a simples possibilidade da realidade da viva e brilhante Nárnia. Do mesmo modo, os confortos encontrados nessa vida aqui são como trapos de imundícia (com licença à fala do profeta Isaías), se comparados com a glória que em nós (os salvos) será revelada, como declara o apóstolo Paulo em Romanos 8.18.
     No mundo criado por C.S Lewis, viver como um Narniano importa mais do que o conforto ilusório da feiticeira, porque ser um narniano é ter honra, gratidão e coragem, é conhecer a própria história e zelar por seus costumes, viver como um Narniano é viver por Aslan e lutar contra tudo aquilo que tenta negar sua própria essência. No mundo real, viver como discípulo de Cristo Jesus mais importa do que entregar-se ao conforto ilusório desse século, porque ser um discípulo de Cristo é confessá-lo quando todos O negam, é seguir Seus ensinamentos e negar o conforto temporário e o prazer do pecado, crendo que a última batalha virá e todos aqueles que vivem e lutam pelo Grande Leão serão vencedores e permanecerão eternamente na Nárnia Celestial.
Abra a Porta e Raquel Araújo
Enviado por Abra a Porta em 04/01/2021
Reeditado em 04/01/2021
Código do texto: T7151383
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