Naoko Takeushi mostrou como combater o Mal

NAOKO TAKEUSHI MOSTROU COMO COMBATER O MAL
Miguel Carqueija

No volume 2 do mangá de Sailor Moon, publicado originalmente no Japão da década de 90, e que chegou ao Brasil em 2014 pela JBC, vemos como Usagi Tsukino, a Sailor Moon, encontra a sua mãe do passado remoto, a Rainha Serenity do Milênio de Prata da Lua, o reino desaparecido há milênios. Naoko Takeushi, a autora, é xintoísta, tendo sido até uma “miko” (sacerdotisa do xintoísmo) em certa época. Daí ser Sailor Moon uma história de reencarnação, que faz parte da crença xintoísta. Mas Naoko também incluiu muitos sinais cristãos na história, ela revela um grande respeito pela religião cristã, especialmente o Catolicismo.
Assim, no volume 2, em plena luta contra o Reino Escuro (um mal ancestral que reapareceu) o demônio conhecido como Metalia, com sua agente humana a Rainha Beryl e vários seguidores, ameaça dominar o mundo com seus poderes avassaladores (o Mal em estado puro). Usagi Tsukino, tendo recebido a posse do Sagrado Cristal de Prata e a missão cósmica de proteger a Terra e a Humanidade, ainda é uma super-heroína incipiente, embora mística. O espírito de Serenity aparece para instruí-la sobre como o mal deve ser enfrentado. É profundo o simbolismo onde Serenity, por suas vestes, parece Nossa Senhora e Sailor Moon, como Aslan nas Crônicas de Nárnia, é a personagem redentora ou crística. O que então Serenity instrui a Usagi é emblemático, a fórmula para enfrentar e vencer o Mal:


“Uma fé forte, uma vontade inabalável e um profundo amor. Sem eles, o mal não pode ser apagado.”

Nestas poucas palavras, uma verdadeira linha de ação.
Vamos tentar analisar o ensinamento.


“Uma fé forte”

A Fé precisa ser forte, como a dos mártires cristãos. Ao longo de dois mil anos de Cristandade, milhões foram martirizados por não renegarem esta fé sublime. Nas arenas do Império Romano antes de Constantino, foram frequentemente jogados às feras e enfrentaram o martírio horroroso corajosamente, com cânticos e orações, a ponto de Tertuliano, escritor patrístico, ter observado que “o sangue dos mártires é semente de cristãos” (digamos que em certo dia morriam 50 cristãos, inclusive crianças, no Coliseu; de lá saíam 500 cristãos, pois os pagãos se convertiam diante da coragem e fé dos mártires). Esta é a fé forte, que inclusive resiste às pressões do “respeito humano” e das conveniências materialistas.

“Uma vontade inabalável”

Diante da força e da agressividade do mal, os bons podem ter a tentação de fraquejar. Mas, quem ama a Justiça e a Verdade, não pode recuar diante do mal, precisa portanto de uma “vontade inabalável”, a vontade de que triunfem o Amor, a Justiça, a Bondade e a Verdade. Ou seja, o bem deve ter uma grande determinação por mais assustador que se apresente o mal.

“Um profundo amor”

Assim se completa a fórmula. Quem luta pelo Bem age por amor. Amor a Deus, aos semelhantes, aos seres da natureza. Mas amor também pelos maus, mesmo quando se luta com eles. Jesus Cristo ordenou, mesmo, que amemos nossos inimigos (Mateus 5,44). Não se resolve nada pelo ódio, mesmo que seja ódio aos piores criminosos. Se na luta pelo Bem você odeia, está se igualando ao Mal. De tanto combater monstros, você se fará um monstro. E não pode ser assim. De modo que, ao longo da saga, Sailor Moon fará exatamente como Serenity recomendou. Ela nunca matará a sangue frio, e as mortes de vilões só ocorrem em combates leais e para defesa própria e de terceiros, ou do próprio mundo. E mais, inúmeras vezes, sempre que é possível, Sailor Moon consegue purificar os maus, tornando-os bons.

“Sem eles, o mal não pode ser apagado.”

Se não houverem uma fé forte, uma vontade inabalável e um profundo amor, não terá sentido a luta
contra o Mal. Ou seja o Mal em estado puro, metafísico, que gera os males do mundo material.
Grande pensamento de Naoko Takeushi. Uma verdadeira lição de vida.

Rio de Janeiro, 3 e 4 de setembro de 2021.


Imagem de cima: as sailors Mercúrio, Marte, Moon, Júpiter e Vênus. Embaixo: Naoko Takeushi e suas criações. Sailor Moon, sempre à frente do grupo ou centralizada.