Pregadores e o anti-intelectualismo

A CULTURA PASTORAL

Alguns lugares do nosso país dificultam por natureza o acesso das pessoas à escola, consequentemente, dos pastores também ao melhor preparo. Isso é compreensível e estes terão que procurar os meios adequados e que rompem barreiras do tempo, geografia, como as ondas de rádio, internet e da correspondência. Os bons obreiros, os autenticamente chamados para o ministério, vão correr atrás destas compensações. São homens e mulheres que consideram a seriedade do trabalho de ensinar a Palavra de Deus, a importância de informações qualificadas, dos riscos do espontaneísmo, de serem eles próprios enganados por suas impressões, que vão buscar aperfeiçoamento, estudo, conhecimento e técnicas para melhor transmitir.

Porém, sobrevive um resquício enganoso, propagador da maldade intelectiva, que considera, em nome de uma falsa espiritualidade, atribuindo ao Espírito Santo uma educação que de longe passa pela vontade de Deus, de que o pastor e os obreiros não devem estudar. Estas pessoas se valem de todo o jogo ardiloso do Inimigo para persuadir os ministros de que os que se dedicam a pesquisa das coisas sagradas incorrem no risco de vaidade, sabedoria humana e impedirão a livre obra do Espírito Santo na capacitação dos pregadores e mestres. Apesar de falsa, essa posição granjeia adeptos por justificar sem demora, a negligência, o esforço e o preço que se paga pelo aprofundamento no conhecimento das coisas sagradas, que não são de natureza simplista como querem seus defensores. São estes grupos que, lamentavelmente, escandalizam a seriedade do trabalho missionário e pastoral, pois fundam igrejas aleatoriamente, colocando grupos de pessoas dentro de suas visões particularistas, enganosas e até financeiras. A população, igualmente, inculta, cai na idolatria e na veneração de pretensos homens de Deus, cujo trabalho não é nem será edificar o povo de Deus, mas promover sensacionalismo religioso.

O caos se estabelece quando estas figuras para disfarçar a absoluta ausência de preparo e conhecimento dos textos sagrados, arvora-se em apóstolos modernos, homens e mulheres que tem linha direta com Deus por meio de sonhos, visões e revelações, promovendo verdadeira manipulação emocional dos fiéis, que se preparados fossem nos caminhos das Escrituras, devidamente estudadas, pesquisadas, deixaram tais figuras falando consigo mesmas.

O obreiro deve conhecer o mínimo de história do nosso desenvolvimento humano. Do nascimento ao ocaso da vida passamos pela infância, adolescência, juventude e velhice. Mesmo assim, as pessoas que nasceram décadas antes de nós tem experiências diversas das nossas, como nós, deles. Os tempos se modificam, apresentam necessidades e mudanças próprias de sua época. Assim, argumentar que o modelo de capacitação dos obreiros deve continuar sendo o vivenciado pelos discípulos do Senhor, além de distorcer a realidade própria deles, que não passaram por um período de preparo, só porque nossa ignorância assim o deseja, mas que o mundo atual é mais complexo, exige respostas mais desafiadoras, e que mesmo naqueles dias, Deus se valeu de pessoas preparadas e apropriadas para determinadas tarefas. Quanto mais preparo um servo de Deus, melhor trabalho desempenha, com melhor qualidade e alcança maior quantidade. 2ª Pedro 3:14-17.

Portanto, o cristão e principalmente o ministro das coisas sagradas, deve se aperfeiçoar, deve estudar, ser uma pessoa que compra livros, escuta bons programas de rádio sobre a exposição da Palavra de Deus, que faz cursos na área de conhecimento bíblico, que se utiliza de dicionários variados, visita livrarias, sebos, faz cursos por correspondência, EAD e presenciais. As igrejas devem incentivar seus membros a cursarem Teologia, oferecer essa modalidade em suas próprias dependências, com cursos e palestras ministradas por pessoas qualificadas. Um obreiro preparado que não se entrega ao anti-intelectualismo é aquele que considera o preparo permanente uma necessidade, que considera respeitoso com a sua comunidade, atirar versículos bíblicos a esmo e fornecer interpretações oriundas das especulações momentâneas, proferidas irresponsavelmente nos cultos emocionados nos quais, o único que acredita em tudo que fala é o próprio obreiro. Não há curso, seminário ou Faculdade que forme em definitivo um obreiro. Aliás, cabe uma alerta, os Seminários teológicos podem ser limitadores do intelecto ao enquadrarem os futuros pastores e pastoras dentro dos limites denominacionais e dos encaixes das declarações de fé e hermenêutica destes grupos religiosos. A vida cristã do obreiro é uma caminhada sem fim à busca e compartilhamento da cultura bíblica. Pessoas que não estejam dispostas a buscar melhores luzes na exposição da Palavra de Deus, que queiram se esforçar, não sejam dadas ao estudo, dificilmente prestar um serviço e um trabalho qualificado na obra de Deus.

O anti-intelectualismo é a mais poderosa arma do inimigo para transformar pessoas e igrejas sedentas de conhecer a Deus em medíocres e raquíticas. Incentivemos os membros de nossas congregações a busca amorosa pelo conhecimento da Palavra Escrita de Deus. Feliz é o homem que nela medita de dia e de noite. Estudar a Bíblia não é pecado, é fruto do Espírito Santo.

NOTA: Gostaria de receber críticas e comentários.