ANDAMOS POR FÉ OU PRESUNÇÃO?

INTRODUÇÃO

Os discípulos de Jesus antes de serem denominados de “cristãos” pela primeira vez em Antioquia eram reconhecidos como “os do caminho”. Foi desta forma como os líderes da sinagoga enviaram instruções para Paulo quanto a perseguição da igreja (At 9:2). Vemos este tratamento amplamente utilizado pelos apóstolos no Novo Testamento. Ser cristão acabou se tornando a nossa identificação comum, mas ela é mais consequência do que causa, visto que o sentido no original tem como significado “como cristo”, por este motivo os habitantes de Antioquia chamaram os discípulos de cristãos, isto significava que eles viam a Cristo na vida dos discípulos e não por apenas se dizerem ser seguidores de Jesus, as atitudes e palavras do mestre eram reconhecidas na vida de seus discípulos, eles estavam sendo como luzeiros neste mundo como Jesus havia dito (Mt 5:14, Fp 2:15).

Jesus inquestionavelmente mudou a história, praticamente toda a humanidade crê que Jesus existiu, o tempo foi dividido antes e depois dEle, mas esta “fé” é meramente histórica e não tem implicação na vida das pessoas. Hebreus 11:6 diz: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (em alguns interlineares a tradução é “aquele que busca diligentemente a Deus”). Tiago se aprofunda ainda mais neste tema quando diz que até mesmo os demônios creem e tremem (Tg 2:19) e sabemos que os demônios não são salvos! A ênfase não está na fé em si, mas no próprio Senhor.

Os discípulos de Jesus eram aqueles que estavam no caminho, andando em direção a uma meta (1 Co 9:26, Fp 3:14), este andar é algo prático, não é intelectual, não é histórico e se manifesta de diversas formas em nossas vidas nos transformando à imagem de Jesus Cristo, como Paulo fala em Rm 8:28-29.

Devemos, portanto, andar por fé (2 Co 5:7); em amor (2 Jo 1:6); no Espírito (Gl 5:25); na luz (1Jo 1:7) e acima de tudo, andar como Jesus andou (1Jo 2:6). Jesus é o nosso modelo de como devemos andar, como o autor de Hebreus diz: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.” Hebreus 12:1-2. Destaque para os três verbos desta passagem: desembaraçando-nos, que nos fala de uma atitude de abandonarmos não apenas o pecado mas também coisas lícitas (peso) que atrapalham nossa caminhada; corramos, que é um andar com senso de urgência e olhando, pois precisamos sempre ter em vista o modelo para podermos fazer esta caminhada.

Neste andar podemos nos desviar ou simplesmente tirar os olhos de Jesus, como Pedro fez quando estava andando sobre as águas e começou a afundar, mas além de nos expormos a naufragar em nossa própria vida, tirar os olhos de Jesus nesta caminhada nos expõe perigosamente a prejudicar a vida daqueles que nos cercam, inclusive os da família da fé.

1 - A FÉ SALVADORA

“Obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” 1 Pedro 1:9

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” Rm 3:28

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” Ef 2:8

“por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios” Rm 1:5

“se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” Cl 1:23

“Embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno” Ef 6:16; I Tes 5:8

“Pelo que, não podendo suportar mais o cuidado por vós, pareceu-nos bem ficar sozinhos em Atenas e enviamos nosso irmão Timóteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo, para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos, a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto pois, quando ainda estávamos convosco, predissemos que íamos ser afligidos, o que, de fato, aconteceu e é do vosso conhecimento. Foi por isso que, já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor. Agora, porém, com o regresso de Timóteo, vindo do vosso meio, trazendo-nos boas notícias da vossa fé e do vosso amor, e, ainda, de que sempre guardais grata lembrança de nós, desejando muito ver-nos, como, aliás, também nós a vós outros, sim, irmãos, por isso, fomos consolados acerca de vós, pela vossa fé, apesar de todas as nossas privações e tribulação, porque, agora, vivemos, se é que estais firmados no Senhor. Pois que ações de graças podemos tributar a Deus no tocante a vós outros, por toda a alegria com que nos regozijamos por vossa causa, diante do nosso Deus, orando noite e dia, com máximo empenho, para vos ver pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé?” 1 Tes 3:1-10

A fé em Cristo nos justifica e salva, nos mantém firmes frente as adversidades, nos protege do maligno, nos leva a obediência. O autor de Hebreus faz uma analogia da nossa esperança como uma “âncora da alma”. Paulo diz aos Coríntios que se nossa esperança se limitar apenas a esta vida somos os mais infelizes de todos os homens (1 Co 15:19) e quando fala “a esta vida” se refere às mesmas coisas que Jesus se refere em Mateus 6:25, as coisas temporais, terrenas; nossas necessidades básicas.

A maior preocupação de Paulo é que tivéssemos fé até o dia da manifestação de Jesus, este é um aspecto futuro da aplicação da fé, mas diversas outras passagens falam dos aspectos presentes que estão relacionados com a caminhada. Os apóstolos pouco falam sobre as implicações de ter uma fé maior ou menor até porque Jesus quando fala sobre o tamanho da fé diz que se ela for do tamanho de um grão de mostarda, que é uma das menores sementes, fará coisas tremendas, ou seja, o tamanho da fé não faz diferença para a manifestação do poder de Deus afinal somos meros vasos. Apenas uma vez vemos os discípulos pedindo a Jesus para aumentar a fé deles e foi em um contexto de perdoar repetidas vezes os pecados de um irmão reincidente e não relacionado a alguma manifestação sobrenatural de poder (Lc 17:3-5).

“Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.” (AA) Rm 10:17

A fé não salva, não age espontaneamente, a fé em Cristo e em sua palavra nos salva, age através de nós nos dando acesso a todas as verdades e poder do Reino de Deus e ela claramente vem por ouvirmos a mensagem do Evangelho. Se quisermos crescer e andar na fé devemos nos encher da palavra de Cristo.

2 - O DOM DA FÉ

A fé também é colocada por Paulo como uma manifestação do Espírito, diferente dos aspectos mencionados antes este é especificamente usado para a edificação do corpo de Cristo. Popularizou-se a ideia de que os dons do Espírito seriam mais ou menos como nossos talentos naturais, alguns tem e outros não tem, mas quando Paulo aborda este tema aos Coríntios fala em “manifestação” do dom do Espírito, que Ele manifesta conforme lhe apraz (1 Co 12:7,11). É possível alguns manifestarem mais que outros algum dom apenas pelo fato de estarem buscando mais e mais envolvidos na edificação da igreja que os outros, desta forma o Espírito vai nos capacitando, mas o dom continua sendo do Espírito e manifestado por nossas vidas. ”Assim acontece com vocês. Visto que estão ansiosos por terem dons espirituais, procurem crescer naqueles que trazem a edificação para a igreja” [NVI] 1 Co 14:12.

Jesus enviou os discípulos durante o treinamento deles e foi capacitando-os. Paulo reitera este princípio ao dizer que aqueles que querem dons devem se envolver no serviço. O dom da fé tem sido entendido como uma manifestação sobrenatural na provisão de Deus em situações difíceis como vemos na lista de Hebreus 11, mas pouco Jesus ou os apóstolos falaram sobre este dom especificamente. O que sabemos de concreto é que a lista de dons colocada por Paulo em 1 Coríntios relaciona todos eles com a edificação da igreja (mesmo a variedade de línguas, pois no contexto fala em interpretação também o que torna a variedade de línguas um benefício coletivo) e não para benefício pessoal. Uma situação em que podemos ver Paulo manifestando uma fé sobrenatural baseado em uma palavra de Jesus dita a ele foi por ocasião do naufrágio em sua viagem para Roma, onde sua fé foi o alicerce na vida de todos aqueles homens para não desanimarem e vemos como resultado muitas conversões. [para maior entendimento do dom da fé sugiro a leitura do livreto DONS E MINISTÉRIO, da série: FAZEI DISCÍPULOS – NOV 2002]

Podemos descartar o dom da fé como algum poder extraordinário que visa conceder benefícios pessoais a quem quer que seja. Temos claramente um alerta sobre isto em Atos 8 onde relata que Simão, o mágico, “abraçou a fé” mas muito possivelmente pela sua experiência passada ofereceu dinheiro aos apóstolos para ter a mesma capacidade de orar para as pessoas receberem o Espírito Santo e foi severamente repreendido pelos apóstolos (Veremos mais detalhadamente este assunto mais adiante que envolve doutrinas humanas que prosperaram no início do século XX).

Precisamos nos alimentar da verdade constantemente para que nossa fé seja edificada (Cl 2:7; 2Tes 1:3), podemos nos dispor na igreja para a sua edificação e com isto buscarmos a manifestação (recursos) para este fim, sabendo que a fé opera junto com o amor evitando que eventualmente façamos algo apenas para alcançar destaque ou notoriedade e não para o benefício da igreja.

“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.” 1 Co 13:2

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” 1 Co 13:13

“Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” Gl 5:6

“Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo” Ef 6:23

2.1 - A MANIFESTAÇÃO DE CURA E A FÉ

Possivelmente este é um dos pontos mais controversos que tem dividido a igreja a partir do século XIX onde se estabeleceu no meio evangélico uma divisão entre grupos conservadores que enfatizem mais o caráter e grupos que enfatizam a manifestação dos dons. Carisma e caráter são temas igualmente enfatizados nas Escrituras, são como os trilhos de um trem, devem andar sempre juntos. O que devemos é evitar ir além da doutrina deixada por Jesus e os Apóstolos (1 Co 4:6) sob o alegado pretexto de que Jesus disse que nós faríamos coisas maiores que Ele mesmo, mas quando olhamos esta passagem à luz do que Jesus falou em Mateus 10:25 e Lc 6:40 onde Ele diz que ao discípulo basta ser como o seu mestre, entendemos que “maiores” não significa “diferentes”. Não existe extremo errado se Jesus e os apóstolos ensinaram e praticaram este extremo, radicalismo somente é errado se ele é fruto da concepção humana, por este motivo precisamos ser guiados pelo Senhor.

Quem nunca ouviu falar ou passou pela experiência de ter alguém que lhe entregou uma “palavra do Senhor” que não se confirmou, ou quando recebeu oração por uma enfermidade a pessoa que orou declarou a cura mas ela não aconteceu? Estas situações são recorrentes na igreja e muitas vezes trazem muito sofrimento, principalmente quando uma cura não acontece e a explicação dada por quem ministra ao enfermo é de que sua fé era pequena. O enfermo agora tem dois problemas: a doença que permanece e o sentimento de culpa por não ter fé. Muitos costumam dar esta resposta fundamentado nas palavras de Jesus sem considerar que em todas as vezes em que Jesus usou esta expressão (Mt 6:30, 8:26, 14:31, 16:8 e Lu 12:28) não foi para explicar um milagre que não aconteceu, era apenas uma gentil repreensão de Jesus para aqueles que naquele momento estavam tímidos, receosos em seu coração. Em todo Novo Testamento não aparece a fé de quem recebe como condição para um milagre acontecer, exceto em uma passagem em que Paulo, quando estava em Listra, curou um paralítico após fitar nele os olhos e ver que tinha fé para ser curado (At 14:9). Esta não é uma passagem doutrinária, nunca foi dito por Jesus ou pelos apóstolos que antes de orarmos por cura por alguém deveríamos antes verificar se o enfermo possui fé, isto entraria em contradição com a ordem de Jesus em Mc 16:17-18: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem:... se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”“, onde a condição é a fé de quem impõe as mãos e não de quem recebe. Não sendo uma instrução de Jesus ou apostólica podemos concluir que a episódio de Paulo em Listra foi algo excepcional, que possivelmente muitos de nós já presenciamos uma ou mais vezes, que é a manifestação do Espírito trazendo palavra de conhecimento, neste caso para Paulo no momento em que estava orando por alguém. Portanto tentar justificar colocar uma carga de falta de fé sobre um enfermo não curado usando a as palavras Jesus como fundamento é desconhecer o contexto em que Jesus falou desta forma pois em todas estas passagens em que Jesus falou da pequena fé os milagres aconteceram.

Na passagem em que Jesus está em Nazaré, registrada em Mt 13:54-58, Mateus diz que Ele não havia feito muitos milagres por causa da incredulidade dos Nazarenos. Podemos ler esta passagem de duas formas:

1) Que Jesus tentou fazer os milagres mas eles não se realizaram por que os Nazarenos não tinham fé, ou:

2) Que Jesus não fez muitos milagres apenas porque Ele foi menos assediado em sua terra natal.

A Bíblia explica a própria Bíblia, portanto devemos ficar com a opção que encontra respaldo nos demais textos em que Jesus ou os apóstolos falam sobre o tema.

Vemos amplamente nas Escrituras que a maior parte dos milagres aconteciam com as pessoas que assediavam Jesus, foi assim com a mulher com hemorragia (Mc 5:27-34), com os leprosos (Lc 17:12-19) e tantos outros. Jesus acrescenta na passagem de Mateus no versículo 57 que “não há profeta sem honra senão na sua terra e sua casa”. Os Nazarenos não viam a Jesus como messias, não pelo menos neste momento e não por coincidência os maiores milagres de Jesus, no sentido da quantidade de pessoas que alcançou, ocorrerem fora de Nazaré (as duas multiplicações dos pães); uma na cidade de Betsaida (Lc 9:10) e outra em uma região desértica próxima a Cafarnaum.

2.2 - A PALAVRA PROFÉTICA – ATITUDE DO DISCÍPULO

“É uma armadilha dizer precipitadamente: “Isto é santo!”, e só refletir depois de fazer o voto.” Pv 20:25 NAA

Uma advertência sábia que Salomão nos deixou. Antes de fazer ou concluir qualquer coisa que não esteja naquelas promessas de Deus a nós devemos refletir, meditar, ponderar. A maior parte das palavras entregues como proféticas são feitas por irmãos bem-intencionados mas mesmo com boa intenção podemos cometer erros, um exemplo deste erro foi a manifestação de Pedro a Jesus quando Ele falava com respeito às coisas que lhe haveriam de ocorrer e Pedro retrucou manifestando o sentimento do seu coração plantado pelo diabo, ao que foi prontamente repreendido por Jesus (Mt 16:23). Nem sempre o que está em nosso coração vem de Deus (Jr 17:9). Temos que ter humildade para entender que estamos todos sendo aperfeiçoados, estamos todos no Caminho, aprendendo a ouvir o Espírito Santo. O fato de estarmos a mais tempo com Cristo ou por termos maior visibilidade “ministerial” não nos garante infalibilidade. Os erros fazem parte do aprendizado, o que não podemos fazer é levar sofrimento para nossos irmãos baseado em falsa profecia ou em engano do coração.

“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” At 17:11

Paulo nos ensina com seu exemplo qual é a atitude correta de alguém que recebe e de quem entrega uma palavra para a igreja. O que faria alguns “ministros” ficarem aborrecidos hoje em dia foi motivo de elogio por Paulo, por não se considerar superior ou inquestionável. Agimos pouco como os irmãos de Beréia pois nos acostumamos a pensar que as pessoas que admiramos ou que parecem estar em posição de autoridade não erram. Somos via de regra mais suscetíveis a erro por olharmos mais a aparência do portador da palavra do que da própria palavra, mas Paulo deixa claro nesta passagem e em outras que ele era apenas um homem, o maior dos pecadores e que conferir o que qualquer pessoa fala em nome de Deus, seja uma pregação, profecia, palavra de conhecimento, palavra de sabedoria ou simplesmente um conselho; deveria ser uma prática permanente entre os irmãos.

Existe outra passagem onde vemos na prática a simplicidade das mutualidades funcionando na igreja primitiva sem os entraves dos conceitos errados de autoridade humana quando Aquila e Priscila, um casal da esfera de relacionamento de Paulo, depois de uma pregação de Apolo procurar ele para lhe expor melhor o caminho de Deus (At 18:26). Hoje em dia se um “mero” casal procurasse um pastor depois de uma pregação para lhe expor melhor possivelmente sobre o assunto que acabou de falar, seria considerado na maior parte das congregações um desrespeito. Este por si só é um dos erros que dificultam este assunto de ser tratado devidamente na igreja, o fato que muitos se colocam em uma posição que na verdade não possuem e por outro lado irmãos que se colocam confortavelmente debaixo da orientação de seus guias em questões relativas em que já deveria ter maturidade para decidir, agindo como Israel quando se depararam em frente ao Monte Sinal após o Senhor conclamar todos para santificação e eles, com medo, preferiram pedir a Moisés ser o mediador deles com Deus.

“Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos.” Ex 20:19

Cristo é o único mediador entre Deus e os homens, o único messias (ungido).

“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” Mt 22:29

Não estou falando que não devemos procurar os irmãos para nos ajudarem em nossas dificuldades, pelo contrário, a edificação da igreja vem através das juntas e ligamentos e nossas limitações e falhas não podem servir de desculpa para não cumprirmos com os mandamentos recíprocos e nos edificarmos mutuamente. Não orientar alguém com receio de errar é anular o papel das juntas e ligamentos na igreja. Os que cuidam devem sempre lembrar que não foram colocados pelo Senhor para substituir Jesus ou o Espírito Santo, mas para colaborar com Ele. Muitos na igreja repetem o que Israel fez com Moisés, rejeitando a intimidade com Deus pela intermediação do sacerdote ou profeta. Humildade no desempenho do serviço é fundamental para entendermos que quem edifica a igreja é o Senhor.

“E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la” Mt 16:18 - NVI

“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” Rm 12:3

“quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” Jo 16:13.

Conferir o ensino não é manter uma atitude de desconfiança permanente ou desrespeito às autoridades constituídas pelo Senhor, mas de zelo e de colocar a autoridade maior das Escrituras sobre o que qualquer homem falar, esta foi a atitude de Paulo mesmo como um Apóstolo. Para fazermos isto precisamos nos encher permanente da Palavra de Deus estando ligados ao cabeça e bem vinculados ao corpo de Cristo, sendo guiados pelo Espírito Santo que nos iluminará e guiará por toda a verdade.

Se não fizermos isto corremos o mesmo risco que os filhos de Arão que ofereceram fogo estranho ao Senhor e foram consumidos e era estranho apenas por que Deus não havia mandado eles oferecerem, fizeram isto na presunção que seria aceito por Deus, visto que viam seu pai fazê-lo dia após dia durante a vida deles.

O que os outros fazem não é base para ser repetido, a não ser que seja uma imitação de Cristo! (1 Co 11:1)

2.3 - O ALCANCE DAS PROFECIAS

“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.” Hb 1:1-2

Encontramos no Antigo Testamento palavras de Deus para a humanidade, para Israel e as que são dirigidas a pessoas ou grupos específicos.

Em termos de profecia a igreja costuma se colocar em posições totalmente antagônicas, ora rejeitando os profetas como Israel fazia constantemente, ora aceitando qualquer um que se apresenta na qualidade de profeta e recebendo tudo o que ele fala como vindo de Deus. Prudência não é encontrar o meio termo, temos que ter certeza se a palavra profética é ou não de Deus, nos resta a responsabilidade de tratar este assunto como orienta as Escrituras e acatar tudo o que vier do Senhor. O Espírito nos guiará!

“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos.” Mt 24:24 NVI.

“Que ninguém afirme que é melhor do que vocês porque diz ter visões e tem prazer em uma falsa humildade e na adoração de anjos, e dessa forma os impeça de alcançar o prêmio. Esses homens vaidosos têm uma mente muito carnal e orgulhosa” Cl 2:18 BV.

“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” At 20:29

O perigo dos últimos tempos não é sermos enganados por alguém que diz ser Jesus, nós saberemos imediatamente que se trata de um lunático ou uma distração do diabo, mas o real perigo, dito pelo próprio Senhor, são aqueles que se apresentam como “o ungido”, alguém enviado por Deus com uma solução para os problemas da Igreja, um método novo com resultados comprovados. Messias (ungido) existe apenas um: Jesus Cristo, todos os que realmente forem enviados por Ele saberão que seu papel na edificação da igreja nunca é maior que os demais e muito menos que do próprio Senhor, serão homens que veremos claramente a atitude que Jesus ensinou, de serem menores, servos dos demais, que sabem reconhecer os outros superiores a si mesmo (Fp 2:3).

“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt 28:20

O Evangelho é simples, praticamente tudo o que precisamos está nos Evangelhos e qualquer coisa que ultrapassar o ensino de Cristo deverá ser rejeitada por nós mesmo que seja acompanhada de sinais e prodígios.

Para ser um mandamento não é necessário que ele seja precedido desta informação no texto, basta que esteja apresentado na forma imperativa do verbo nos Evangelhos e na doutrina dos apóstolos. As profecias no Antigo Testamento eram precedidas normalmente de expressões como “assim diz o Senhor”, a fim de qualificar a autoridade da palavra, entretanto não é assim no Novo Testamento, as ordens de Jesus ou apostólicas são identificadas pelo tempo verbal e não pela inserção da expressão mencionada antes. Diferente do Antigo Testamento, hoje todos os salvos possuem o Espírito habitando em si para os guiar por toda a verdade, portanto mais importante que o instrumento usado para comunicar a profecia é o próprio Espírito Santo na vida de quem recebe que dará o reconhecimento a esta palavra testificando no próprio espírito de cada um.

“Não desprezeis as profecias, julgai todas as coisas, retende o que é bom” 1 Tes 5:21

“Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas.” 1 Co 14:29–32

“De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto”. Dt 18:19-20.

3 - RESPEITANDO A FÉ ALHEIA

A fé tem um aspecto absoluto quando se refere a certeza que podemos ter sobre os acontecimentos se eles estiverem baseados em promessas [Epangelia St 1860] que segundo as Escrituras (especialmente nos escritos Paulinos), são os anúncios, proclamações ou promessas de Deus (2 Co 1:20). Temos que aprender a separar o que é absoluto (promessas de Deus, ensino de Jesus e a doutrina dos apóstolos) daquilo que é relativo (opiniões, conselhos e experiências). Mesmo sendo legítimas, as experiências podem ser específicas para uma pessoa, grupo, tempo ou lugar. Nos incomoda muitas vezes ficarmos sem resposta sobre alguns temas nas Escrituras, mas temos que ter a compreensão que isto é algo normal, mesmo depois de receber palavra de ensino sobre algo precisamos de revelação espiritual, por isto Paulo orava pelos irmãos de Éfeso para que tivessem revelação espiritual de tudo o que ele havia falado antes, para poderem compreender e também por este motivo Jesus nos exorta a comprar colírio dEle para podermos ver melhor (Ap 3:18).

“para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” 1 Co 2:5

Entendemos pela exposição de Paulo em Efésios 4 que o corpo edifica o corpo e isto é basicamente feito com o cumprimento por nós de todas as ordens que encontramos nas Escrituras que denominamos “mandamentos recíprocos” (amai-vos uns aos outros, ensinai-vos mutuamente, sujeitai-vos uns aos outros, etc), entendendo que o exercício destes mandamentos deve ser acompanhado de profundo respeito pela fé de nosso irmão, pois acima de tudo, independente do que falarmos, o Espírito deverá convencer aquele que recebe o ensino (Jo 16:8).

“A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova”. Rm 14:22.

Também diz que devemos acolher o débil na fé (Rm 14:1) e para amparar os fracos (na fé) e consolar os desanimados (1 Tes 5:14).

Concluímos que o cumprimento dos mandamentos recíprocos nunca golpeará a fé do nosso irmão (1 Co 8:9-12) e mesmo que ela esteja mal fundamentada, apenas mudará pelo convencimento do Espírito Santo.

Devemos respeitar as convicções pessoais de cada um em questões relativas da palavra, questões que se baseiam em experiências e não tem relevância na nossa salvação, como comer ou não carne sacrificada a ídolos, tratada por Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios.

”quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” Rm 14:3

Uma percepção errada sobre em que nossa fé pode se apoiar (Lc 5:5) pode nos levar a fazer (ou deixar de fazer) coisas sobre as quais o Senhor nada falou, nos levando a impor ou carregar cargas que não foram entregues por Ele, dependendo se você é quem entrega ou quem recebe a “palavra”.

ALCANÇANDO A MATURIDADE

O Evangelho de João mostra uma evolução da relação de Jesus com os discípulos, Ele reforça no início sua posição de mestre (13:13) e no momento que se aproxima mais de seu sacrifício Ele passa a chamar os discípulos de amigos (15:15), o que muda basicamente é uma questão de pensar como o seu mestre e tomar as mesmas decisões que ele tomaria, quando os discípulos ficariam sem a presença física do Senhor para dizer sempre o que teriam que fazer. O mesmo acontece conosco, sempre precisamos tomar decisões em nossas vidas e quando somos novos na fé nossa dependência dos irmãos mais maduros é maior e na medida que amadurecemos vamos aprendendo a tomar as decisões por termos a mente de Cristo. Quem cuida de vidas deve fazer o que o Senhor fez com os discípulos, usou o período de treinamento para levar eles à maturidade, ensinando a se respeitarem, se edificarem e a trabalharem juntos. Maturidade não significa autonomia, existem temas e situações que foram ensinadas pelo Senhor e pelos Apóstolos que dizem respeito à igreja e devem ser tomados sempre com um colegiado, temos autonomia em questões relativas de ordem pessoal, mas não quando estamos falando da igreja! Mesmo em questões de ordem pessoal temos que nos cercar de conselho. Paulo na segunda carta aos Coríntios descreve este processo quando discorre sobre como ele tomou a decisão de visitar eles (1:15-17). Ele fala que “deliberou” e ainda faz uma ressalva que esta deliberação poderia ser na carne caso ele a fizesse sem consultar o Espírito, o que seria uma deliberação leviana. O processo de deliberação, que é a mesma palavra usada em outras ocasiões por ele quando fala em conselho ou parecer [Boleuo st 1011] significa: aconselhar-se, estar atento.

O escritor de Hebreus fala que considerando o tempo decorrido os destinatários da carta deveriam ser mestres. Muitas vezes enfatizamos apenas a definição de “mestre” de Efésios 4 no sentido de dom específico que se confunde com a própria pessoa, mas o autor de Hebreus diz que todos os cristãos deveriam ser capazes de ensinar outros após determinado tempo, aqueles que não alcançam são como crianças, inexperientes na palavra e necessitados de “leite”. Esta figura utilizada pelo autor não é um demérito quanto ao conteúdo daquilo que ele chama de “leite” (1Pe 2:2), pois é alimento próprio para crianças muito pequenas que não conseguem digerir o seu próprio alimento. A crítica é que não é natural se alimentar de leite permanentemente, leite no sentido espiritual é o resultado do processamento que os outros fazem daquilo que recebem de Deus, digerem e passam adiante. Devemos nós mesmos processar o nosso alimento e o texto é claro em dizer que “todos” deveriam chegar à maturidade, que no contexto é a capacidade de processar o seu próprio alimento espiritual. Não vemos nas Escrituras uma clara explicação do que seria o leite e o alimento sólido, mas podemos inferir que o leite, como dito antes, é o processamento feito por outros, tal qual a mãe transfere para o seu leite tudo o que ela se alimenta mas sintetizado de uma forma que pode ser absorvido pela criança muito pequena. Existem diversas analogias nas Escrituras sobre a questão do alimento e uma delas ficou registrada em Dt 8:3 quando Moisés explica a razão do deserto na vida de Israel e diz: “Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do senhor viverá o homem”. Os israelitas haviam rejeitado o maná enviado por Deus, tipo de Cristo, considerando um “pão vil”. Moisés destaca para os Israelitas a maior importância do que procede do Senhor do que qualquer outro alimento. Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto e em uma das tentações do diabo Ele respondeu: “...Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” Mt 4:4. Esta é a natureza do alimento sólido: a palavra que procede direto da boca do Senhor, recebida por nós e revelada pelo Espírito em nossas vidas com o fim de nos tornar operosos praticantes daquilo que o Senhor deseja; nos tirando da infância espiritual que nos leva a oscilar por todo vento de doutrina (Ef 4:14).

Hebreus lista temas que o autor chama de “princípios elementares” e relaciona eles com o “leite”. Entre eles está o ensino sobre ressurreição de mortos e juízo eterno (6:2), mas em certa ocasião quando Jesus falava com os discípulos acerca dos assuntos relacionados ao juízo Ele claramente restringiu o que falaria aos discípulos por que eles ainda não poderiam suportar (Jo 16:11-13). Mesmo um tema que se enquadre nos princípios elementares da fé podem ser alimento sólido para alguém, visto não possuírem suas faculdades exercitadas o suficiente para poder receber certa palavra ou ensino. Jesus discernia isto com clareza e precisamos desenvolver a mesma habilidade no cuidado de vidas, alimentar cada um segundo sua capacidade de “digerir”.

Oséias nos adverte quando diz:“conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor…” (6:3) e Paulo acrescenta:“...O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber.” 1 Co 8:1,2. Somente observando estes princípios poderemos nos alimentar das Escrituras buscando primeiramente as respostas e direção para nós mesmos e quando Deus permitir ajudar àqueles que o Senhor pedir como bons cooperadores dEle, sem arrogância, sabendo a diferença entre o que é mandamento e o que é conselho; manifestando o dom como lhe apraz. Pode levar tempo, mas certamente é melhor não entregar uma palavra do que entregar uma palavra errada. Ensinar sem revelação do alto é letra morta, não produzirá vida em quem ouve.

5 - A DIFERENÇA ENTRE FÉ E PRESUNÇÃO

Nadabe e Abiú agiram presunçosamente quando ofereceram fogo ao Senhor sem a sua ordem. A presunção é uma das atitudes mais nefastas que podemos encontrar na vida dos discípulos principalmente quando está relacionada ao cuidado dos irmãos, pois enquanto que o erro de Nadabe e Abiú trouxe consequências apenas para eles, vemos no episódio da chegada dos Israelitas na fronteira de Canaã relatada em Dt 1:21-46 uma consequência para toda a nação. A ordem primária de Deus era para que entrassem mas os Israelitas em conselho entre si resolveram enviar espias para ver um melhor caminho, o relatório dos espias fez o coração dos Israelitas esfriarem, apesar do potencial da terra ficaram preocupados com seus ocupantes. Vemos que Deus considerou esta atitude rebeldia (1:26) e ordenou que voltassem. Não desejando retornar para o deserto, novamente o povo se reuniu em conselho* e resolveram avançar para Canaã ao que Moisés chamou esta atitude de presunçosa (1:43), o resultado é que o povo foi derrotado e tiveram que retornar para o deserto como Deus havia ordenado. Vemos nesta passagem que o nome de Deus foi usado para induzir outros a seguirem por um caminho que não foi determinado por Ele. Aqui neste episódio a presunção dos líderes foi acompanhada por todos os Israelitas e todos sofreram a consequência.

* Mesmo que algo seja feito por muitos ou decidido por muitos, não significa que seja a vontade de Deus

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” Hb 11:1

Esta é uma definição bíblica de fé que encontramos em Hebreus e ela representa o aspecto mais importante da fé que o autor está querendo resgatar e que vemos enfatizada em quase toda a carta, que é a esperança da nossa salvação, das coisas vindouras relacionadas ao Reino de Deus. Muitas vezes as circunstâncias esfriam nossa fé: expectativas não atendidas, lutas, etc e somos lembrados que o mais importante ainda está por vir, a nossa redenção.

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” 2 Co 4:16-18

Entretanto, vemos o vocábulo “fé” 1 aplicado em diversas outras ocasiões nas Escrituras com ouras definições, que podem ser: Confiança, compromisso, fidelidade, lealdade, aquilo que evoca confiança, certeza.

Pelo dicionário presunção significa: Ato de presumir ou de se presumir; Julgamento feito a partir de indícios, hipóteses ou aparências. Suposição que se tem por verdadeira.

Vendo o episódio com Israel percebe-se claramente que a presunção do povo se baseava na expectativa que Deus daria vitória para eles em razão de sua primeira ordem que era de entrar em Canaã e tomar posse dela.

A fé legítima somente é baseada na palavra de Deus e neste caso ela havia sido retirada de forma objetiva, agir fora desta base é mera presunção baseada em ordens antigas ou mesmo dada a outras pessoas que supomos que sejam estendidas a nós. É bom destacar que não havia desconhecimento de Israel quanto a retirada da ordem, mas uma deliberada desobediência, fruto de remorso.

Cristão imaturos agem precipitadamente sem refletir, agem facilmente por convencimento dos outros, mas mesmos pessoas maduras com aguçado senso de autoridade espiritual podem as vezes deixar de buscar a Deus em questões de grande responsabilidade no sentido da direção de suas vidas e virem a se desviar do propósito de Deus. As vezes tomamos decisões baseado em nossa experiência anterior com a mesma situação e isto não está errado, mas nem sempre situações semelhantes terão decisões semelhantes. Podemos tomar o caso de Paulo como exemplo, que deliberou sobre a sua viagem a Corinto e disse que não fez isto na carne, em outra ocasião ele disse que o próprio Espírito impediu eles de irem pregar o evangelho na região da Ásia (At 16:6), isto somente aconteceu se ele já tivesse decidido fazer aquela viagem, mas possivelmente não ouviu com clareza o Espírito antes de iniciar a viagem. Graças a Deus que Paulo, bem como todos nós, estamos debaixo do governo do Senhor e se por algum motivo tomarmos alguma decisão errada ainda poderemos ser corrigidos pelos nossos irmãos ou pelo próprio Espírito Santo.

Questionar uma palavra entregue não é o mesmo que julgar a pessoa que entregou, Jesus nos ensinou: “Não julguem para que vocês não sejam julgados”, isto compete a Ele e se refere basicamente a salvação, mas o que falamos e fazemos está sujeito a julgamento, sem este julgamento ficamos impossibilitados de praticar as mutualidades, pois para podermos exortar ou admoestar alguém precisamos avaliar que este irmão está cometendo algum erro e isto é feito com julgamento.

“Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” 1 Co 11:31

6 - A PRIMAZIA DE CRISTO

“E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” Ef 1:9-10

“Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” Lc 22:20

“Chamando “nova” esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido está a ponto de desaparecer” Hb 8:13

Este é um assunto que pode trazer algum desconforto pois no meio evangélico se estabeleceu um costume de usar indiscriminadamente as promessas feitas à Israel como se fossem para a igreja. Também usamos as personalidades bíblicas do Antigo Testamento como referência para nossa vida hoje e exemplos a serem imitados. O mais interessante é que o próprio autor de Hebreus se refere a estas pessoas tão admiráveis da seguinte forma: “Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” Hb 11:39-40. Eles olhavam pela fé para a frente almejando estar em nosso lugar e muitos de nós olham para trás como se eles tivessem algo que nós não temos!

Se não tivermos Cristo como nosso modelo, não adiantará absolutamente nada olharmos para o exemplo de personalidades bíblicas, seja ela do velho ou do novo testamento

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” Jo 5:39

Quase todas as referências do Velho Testamento que são reproduzidas no Novo Testamento falam direta ou indiretamente de Cristo, apontam para o Salvador e Messias (1 Pe 2:6). Cristo é o tema de Gênesis a Apocalipse!

“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;” Ef 2:20

Em questões doutrinárias a única fonte da edificação da igreja tem a base exclusiva dos apóstolos e profetas, tendo Cristo como a pedra de esquina (Ap 21:2,14).

“Estas coisas (questões relativas da Lei) são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo”. Cl 2:17

A primazia de Cristo sobre a Lei e os profetas foi um processo gradual no entendimento dos discípulos, que eram Judeus. Na passagem no monte da transfiguração onde Moisés e Elias aparecem conversando com Cristo e Pedro decide fazer uma tenda para cada um deles, uma voz intervém do alto e diz: “Enquanto ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela saiu uma voz, que dizia: “Este é o meu filho amado de quem me agrado. Ouçam-no!” Mt 17:5 NVI

Se Pedro mesmo sendo um dos discípulos mais próximos equiparou pelo menos nesta passagem Jesus com a Lei e os profetas, quanto mais nós podemos sutilmente cometer este mesmo erro? Cristo é o modelo de vida e obra a ser seguido pelos discípulos, o resto tem que estar de acordo com este modelo caso contrário não trará nenhuma contribuição para o cumprimento do propósito eterno de Deus!

“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo,” 1 Tim 1:8

Paulo diz que a Lei pode ser usada por nós desde que seja aplicada corretamente (2 Tim 3:16), como um aio (Gl 3:24,25).

Os reformadores destacaram cinco verdades absolutas da vida cristã que deveriam nos servir de guias: a Bíblia, a Graça, a Fé, em Cristo e na Glória a Deus; mas podemos constatar que muitas das práticas erradas no meio evangélico tem base bíblica neste e em outros fundamentos. Eventualmente são partes da verdade mas que recebem muita ênfase, mas ainda assim são bíblicas e poderosas o suficiente para arrastar seguidores e produzir dano. A reforma teve méritos tremendos na vida da igreja, mas não foi a restauração de todas as coisas, profetizada por Pedro em Atos. A revelação não cessou ou se esgotou em Lutero e nos reformadores iniciais, ela avançou e o Solus Christus que enfatizava inicialmente a salvação unicamente em Cristo ganhou nova perspectiva entre os cristãos que resgatam a visão de Eusébio de Cesaréia2 , um dos pais da igreja, que apresentava a Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei. É exatamente na questão do senhorio de Cristo que percebemos a primazia de Cristo não apenas sobre qualquer outra autoridade humana mas também como suprema autoridade sobre as Escrituras pois ele é o próprio Verbo Encarnado, Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Jo 13:13, 1 Tim 6:15).

Cristo deve ser recolocado a sua posição central no propósito eterno de Deus, não apenas seu ensino, mas a sua vida e obra devem guiar nossas vidas. Precisamos ver a Cristo em toda a Escritura, se não fizermos isto corremos o risco de nos apegarmos a práticas ultrapassadas que não aperfeiçoam nada, apenas dão um brilho externo em uma vida distante da vontade de Deus e nos tornamos como os fariseus, apenas sepulcros caiados, como Jesus advertia.

6.1 A SUPREMACIA DO ENSINO DE CRISTO

“Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz isto, abominação é ao Senhor teu Deus.” Dt 22:5

Esta passagem é muito utilizada por algumas denominações evangélicas para fundamentar que as mulheres não podem usar roupas de homem (sem entrar no mérito do que é roupa de homem e de mulher, não é este o objetivo), sendo que a continuação também diz:

“...Quando um homem tomar mulher e, depois de coabitar com ela, a desprezar, e lhe imputar coisas escandalosas, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Tomei esta mulher, e me cheguei a ela, porém não a achei virgem;...Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça, Então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai; assim tirarás o mal do meio de ti.” Dt 22:13-14, 20-21

A questão é: se aplicarmos o versículo 5 deste capítulo para fundamentar a obrigação de homem e mulher usarem roupas diferentes por ser “palavra de Deus”, estamos obrigados por analogia a cumprir com os demais preceitos da mesma passagem, que diz entre outras coisas que se uma jovem casar não sendo virgem e o marido descobrir depois, ela deveria ser apedrejada até a morte! Desconheço que algum grupo que se diga cristão pregue o apedrejamento de mulheres que casaram sem ser virgens.

Gostamos das promessas do Velho Testamento, mas podemos rejeitar jeitosamente as exigências contidas nela. Não podemos desprezar nada das Escrituras que se aplique diretamente a nós, mesmo que seja difícil mas como já vimos estamos todos debaixo da Graça na nova Aliança e não da Lei e ao alcance “legal” dela (Rm 7:6). Não se trata de uma interpretação atualizada das Escrituras de forma a conformar ela com o mundo ou nossos interesses, mas de aplicar as Escrituras corretamente como Paulo exorta a Timóteo (2 Tim 2:15).

“Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.” Gl 5:1-3

“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás.” Ap 2:9

W. Nee no livro “A ortodoxia da Igreja” faz uma exposição sobre as cartas de Jesus em Apocalipse onde denuncia a presença de judaizantes na igreja. Não são Judeus de fato, não se trata de uma crítica aos Judeus mas gentios que agem como Judeus. Nee chama os judaizantes junto com os Nicolaítas, o ensino de Balaão e Jezabel da linha de oposição dentro da igreja. [O judaísmo é uma religião nesta terra, o que eles possuem é um templo material, regulamentos de letras, sacerdotes mediadores e gozo nesta terra]...[Mas é assim no Novo Testamento? A característica especial da igreja é que não há lugar e nem templo, pois nós, o povo, somos os templos. Efésios 2:21-22 diz: “No qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para habitação de Deus no Espírito”. A característica da igreja é que o seu corpo é a habitação de Deus]...[Na igreja Deus habita no homem; no judaísmo, Deus habita em uma casa. Os homens pensam que se forem adorar a Deus eles precisam de um lugar. Alguns até chamam o templo de “igreja”. Isso é judaísmo não igreja!”], diz Nee.

Por estarmos debaixo de uma nova Aliança, não existe aplicação automática das demandas ou promessas da Antiga Aliança na vida da igreja.

“Não se aborreça por causa dos homens maus e não tenha inveja dos perversos pois como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão. Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente. Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência; não se aborreça com o sucesso dos outros, nem com aqueles que maquinam o mal. Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal. Pois os maus serão eliminados, mas os que esperam no Senhor receberão a terra por herança. Um pouco de tempo, e os ímpios não mais existirão; por mais que você os procure, não serão encontrados.” Sl 37:1-10

Salmos são particularmente usados por pregadores, em especial o Salmo 37 para proclamar vitória do crente sob as adversidades como uma promessa para aqueles que confiam no Senhor. Esta é uma promessa bastante ampla principalmente por falar em desejos do coração e para isto não há limite, posso desejar o que quiser, a única condição é confiar no Senhor e fazer o bem. Muitos cristãos têm grande dificuldade com situações de sofrimento em suas vidas por olharem exatamente passagens como esta que estão no Velho Testamento e representam uma situação específica que não diz respeito a nós diretamente, por fim ficam frustrados quando se apoiam nesta passagem com fé, os inimigos não são eliminados e o sofrimento continua. Este erro acontece por desconsiderarmos a Cristo como nosso mestre e o ensino dEle, se fizéssemos isto lembraríamos de suas palavras no sermão do monte, quando lançou as bases do seu Reino e disse:

“Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?” Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.” Mt 5:25 – 6:34

Este é apenas um dos exemplos em que podemos perceber com bastante clareza a diferença da doutrina de Cristo e muitos ensinos no Velho Testamento, em diversas ocasiões encontramos Jesus ensinando e acrescentando em sua fala:“eu porém vos digo…” sendo uma clara referência a conceitos prévios que seus ouvintes tinham sobre aquele assunto e que estavam na Lei, nos livros históricos ou proféticos e mesmo na tradição dos anciãos [Talmude Judaico].

O ensino de Jesus em Mateus tem as seguintes aplicações de ordem prática: Jesus nos ordena a colocar o Reino em primeiro lugar (condição), diferente da condição do Salmo 37 que falava em confiar e fazer o bem. Colocar o Reino em primeiro lugar tem implicação direta com sujeição ao Senhor deste Reino, que é o próprio Jesus, depois uma mudança de valores intrínseca a este Reino abordada em todos os capítulos 5, 6 e 7 e por fim a promessa, de que nós não passaríamos NECESSIDADE, e isto é diferente de DESEJOS. A promessa de Jesus era que “todas estas coisas” nos seriam acrescentadas, e não “todas as coisas”. O próprio texto explica que coisas são estas (comer e vestir) que são necessidades básicas. Se fosse uma questão de escolha certamente ficaremos como Salmo 37 e não com Mateus 6, mas na verdade não temos escolha, a não ser que sejamos discípulos de Davi e não de Jesus Cristo!

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do SENHOR” Jr 23:16

Até mesmo no Antigo Testamento encontramos diversas passagens onde o Senhor demonstrou o seu descontentamento com os profetas que tinham uma palavra doce aos ouvidos de Israel em momentos em que ele queria na verdade trazer correção.

“fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.” 2 Co 11:25-27

Paulo certamente gostaria como homem de ter uma vida mais tranquila, mas no início de sua caminhada com Cristo ele recebeu a seguinte palavra através de Ananias: “eu lhe mostrarei o quanto importa sofrer pelo meu nome” At 9:16. Paulo nunca reclamou de sua condição, nunca confrontou o Senhor baseado em alguma promessa do Velho Testamento, somente na ocasião em que estava com um “espinho na carne” orou intensamente ao Senhor para livrar ele deste sofrimento, não tendo conseguido ser atendido em seu pedido mas recebido a seguinte resposta: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” 2 Co 12:9

“Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio” 2 Co 1:20

Não tem outra forma de termos certeza [fé] a não ser que seja baseado nas promessas de Deus, que pode ser a todos indiscriminadamente como no caso de Mateus 6 ou específica no caso de Paulo com respeito ao espinho na carne que lhe trazia sofrimento, a questão é se estamos preparados como Paulo para ouvir que o sofrimento continuará mesmo depois de termos colocado diante de Deus nossa insatisfação com algum sofrimento!

7 - A BASE SÓLIDA DA FÉ

“e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como secou depressa a figueira Jesus, porém, lhes respondeu: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não somente fareis o que foi feito à figueira, mas até mesmo, se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te no mar, tal sucederá e tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis” Mt 21:19-22

“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” Jo 14:13-14

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.” 1 Jo 5:14

Quando Jesus fala em Mateus 21 sobre oração aparentemente não é colocada nenhuma condição para um pedido ser atendido como ele faz no evangelho de João, digo aparentemente pois no versículo 21 ele acrescenta a condição: “ter fé”, que não é um poder abstrato para realizamos nossos desejos, mas uma confiança em Cristo. O verbo “ter” [Strong-2192] usado por Jesus qualifica a “fé”, seu sentido no original é: “estar intimamente ligado a uma pessoa ou coisa”. A passagem com seu sentido original diz que todos que estiverem intimamente ligados a Cristo pedirão segundo a sua vontade e dentro desta condição tudo é atendido! Paulo estava intimamente ligado a Jesus, nenhum de nós tem dúvida sobre isto e a resposta veio clara para ele, talvez não no tempo que ele desejaria, mas veio. Isto deve servir de exemplo para nós, que nossas orações podem muitas vezes levar mais tempo para serem respondidas do que esperamos.

“Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?” Lc 18:7.

Soberania de Deus é um tema que muitos não gostam pois nos tiram do controle e da possibilidade de exigir coisas de Deus, mas mesmo naquelas coisas que reivindicamos por ser uma promessa, devemos considerar que o tempo é dEle. Lembremos da história de Abraão que recebeu uma promessa de Deus de fazer dele uma grande nação e como ela estava demorando para se cumprir resolveu acatar a sugestão de sua esposa e coabitar com a escrava para ter um filho, o resultado disto todos bem conhecemos, o fruto desta relação gerou a Ismael que veio a se tornar o pai de grande parte dos povos árabes que fazem guerra contra Israel até hoje. Via de regra quando tentamos dar uma “mãozinha” para as promessas de Deus serem mais rápidas ocorrem resultados indesejados.

“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” Rm 8:32

Boa parte dos erros praticados na igreja estão relacionados a uma tendência a selecionar trechos isolados das Escrituras que mais nos agradam sem observar o contexto, é o “efeito instagram” que substituiu aquelas antigas “caixinha de promessas” no propósito de sempre estar colocando passagens agradáveis para os irmãos lerem mas sem compreenderem o contexto, é o que o Marcos Moraes chama de “versiculismo”. Ao se usar esta passagem de forma isolada pode-se ter a impressão errada sobre o limite de “todas as coisas” e principalmente por parecer uma contradição com o ensino de Jesus, mas isto é apenas resultado de não olharmos todo o contexto. Quando olhamos todo o capítulo 8 de Romanos (pelo menos) vemos Paulo falando entre os versículos 18 até o final sobre as adversidades pelas quais passaremos como eleitos, inicia falando dos “sofrimentos do tempo presente”, no versículo 23 fala que aguardamos a “adoção de filhos e a redenção de nosso corpo”, diz no 26 que “não sabemos orar como convém”, no 28 que “todas as coisas cooperam para bem daqueles que amam a Deus”, no 29 que “fomos predestinados para sermos conforme a imagem do seu Filho” e, por fim, no 31, antes de versículo que todo mundo lembra ele fala: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”, a conclusão do que Paulo intencionava falar no versículo 32 está também intimamente ligado com a palavra “destas coisas” do versículo anterior, ele não está falando de bens terrenos, mas sim de capacitação em Cristo para podermos continuar a avançar até conquistarmos aquilo que nos conquistou, à imagem de Cristo e nossa redenção, tanto é assim que Paulo fala claramente nos versículos seguintes que somos mais que vencedores por meio de Cristo mesmo passando por tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez ou perigo!

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” Fp 4:6

Podemos e devemos levar todas as nossas petições ao Pai, foi uma das primeiras coisas que Jesus nos ensinou foi a orar, mas a própria oração ensinada por Jesus possui um pequeno elemento que diz respeito a nós particularmente quando diz para orarmos pelo alimento cotidiano. É interessante como vamos além e ensinamos muito além do que Jesus ou os apóstolos ensinaram. Paulo no início do capítulo 4 começa sua fala com “portanto”, o que faz uma ligação com aquilo que ele vinha falando no capítulo 3 e para podermos entender o quatro temos que ler o capítulo anterior, que discorre entre os versículos 17 e 20 sobre os inimigos da cruz de Cristo diz que “o deus deles é o ventre… e que se preocupam apenas com coisas terrenas”. Além de falar que devemos levar a Deus nossas petições, conclui logo em seguida que “tudo posso naquele que me fortalece”.

Devemos firmar o propósito de não andarmos e principalmente não ensinarmos baseado em passagens isoladas das escrituras, este assunto é tão sério que Jesus fala das consequências em modificar as suas palavras (Ap 22:19).

Texto sem contexto é pretexto

“Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância.” Tito 1:10-11

O termo usado por Paulo acima para “insubordinados” tem também a aplicação do original de “revoltados ou desordenados”. Paulo não está falando de um ataque de fora, mas sim de dentro. É triste reconhecer isto, mas lembre dos inimigos da igreja que Jesus fala em apocalipse, todos estavam “dentro”. Quando Paulo escreve a Tito alerta ele sobre irmãos que, em uma linguagem de hoje, chamaríamos de “falastrões” (com uma palavra frívola, que significa: inconsistente, leviano, sem importância mas no original tem um sentido mais forte: “pessoa de fala sem sentido ou maligna”).

Temos que aprender a identificar estas pessoas pois não podemos seguir o seu ensino, mesmo que possa parecer em determinado momento que é algo pequeno, insignificante e que não fará mal.

7.1 – PEQUENOS DESVIOS AFASTAM DO ALVO

“Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” 1Co 5:6

O que representa 1º (um grau) de desvio em uma direção? Qualquer matemático dirá que depende da distância do objeto. Se estivermos praticando tiro com arco esportivo um alvo a 10 metros de distância 1º representará um desvio de 17 cm do centro, ou seja, acertará o alvo na parte central mesmo que não seja na de maior pontuação, mas se estivermos falando de lançar um objeto contra a lua que fica a 384.400 km da Terra, um desvio de 1º fará com que o objeto lançado passe a mais de 5.000 Km de sua superfície. No Grego clássico a palavra traduzida por pecado [Hamarthia] tem a raiz no original com o significado de “errar o alvo”, nosso alvo é Cristo como Paulo fala na epístola aos Filipenses e qualquer desvio, por menor que seja, certamente nos afastará dEle.

Doutrinas levianas podem sutilmente nos desviar da vontade de Deus e compete a nós nos apegarmos com firmeza às verdades recebidas para não sermos envolvidos por sofismas e mentiras, pois a maior parte das vezes até mesmo frivolidades são apresentadas com coerência e base bíblica. No início do século XX nos EUA o Movimento Palavra de Fé (ou teologia da prosperidade) se popularizou na igreja. Sem desconsiderar aspectos positivos do movimento, as bases bíblicas que deram sustentação a sua doutrina de alcançar coisas de Deus mediante declarações era muito frágil, mas como apelo à alma era forte, o ensino prosperou. Parte de sua doutrina se baseava na suposta diferença das palavras Rhema e Logos nas Escrituras, sendo atribuído a Rhema o uso em caso de palavras diretas dadas por Deus ou algum mensageiro e Logos a palavra geral de Deus expressa nas Escrituras para todos, a palavra escrita. Esta definição não encontra respaldo em nenhum dicionário do Grego e podemos encontrar no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento Ed. Vida Nova as seguintes aplicações para estes dois vocábulos nas Escrituras:

Logos: Palavra, expressão vocal, significado e suas variantes: contar, falar, dizer, entre outros.

Rhema: palavra, expressão vocal, coisa, assunto, evento, caso.

Entretanto, tão ou mais importante que uma definição de dicionário é a aplicação da referida palavra no texto bíblico que nos dará seu real significado.

Ao pesquisarmos no N.T.3 a aplicação destes vocábulos no original, encontramos Logos sendo usado 337 vezes e Rhema 67 vezes no Novo Testamento

Passagens com uso de Logos: Mt 7:24, Mc 10:22, Lc 22:61, Jo 1:1.

“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deu” Jo 1:1 NVI

João diz que Jesus era a própria Palavra de Deus “no princípio”, a palavra criadora de Deus expressa de forma vocal quando criou todas as coisas: Disse Deus…

“Mas o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra (logos), e o meu rapaz será curado” Mateus 8:8

As passagens de Mateus, Marcos e Lucas citadas refere-se a Jesus falando diretamente com o seu interlocutor, eram palavras específicas, diretas. Pegando o caso do jovem rico vemos uma instrução inusitada colocado por Jesus apenas esta vez. Segundo a doutrina da confissão positiva seria de se esperar em situações deste tipo a utilização de Rhema mas a palavra usada foi Logos.

Passagens com uso de Rhema: Mt 18:16, Mt 26:75.

“Digo-vos que de toda palavra [rhema] frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo” Mt 12:36

Estas passagens possuem o vocábulo Rhema no original, mas destacaria o versículo de Mt 26:75 pois trata rigorosamente do mesmo episódio relatado em Lc 22:61, com a diferença que Mateus chamou as palavras de Jesus de Rhema e Lucas de Logos. Mesma situação, palavras diferentes usadas, mas o que elas tem em comum? Apenas o fato de serem “expressões vocais” de Jesus e quem escreveu os evangelhos, inspirados pelo Espírito Santo, entendeu que não faria qualquer diferença usar Rhema ou Logos nesta passagem.

“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra [logos] de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor a palavra [rhema] do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra [rhema] que vos foi evangelizada”. 1 Pe 1:23-25

Em dois versículos tratando da mesma situação Pedro usa Logos e Rhema de forma intercalada.

Com a leitura das passagens da Bíblia sabendo qual o vocábulo do Grego foi utilizado é possível entender que Rhema não é uma palavra do alto dada por alguém com caráter inquestionável, não é sinônimo de profecia ou ordem do Espírito Santo e mesmo que possa ser entregue na forma de profecia, tal qual um Logos pode ser, já vimos como as Escrituras nos orientam a tratar as profecias.

Este assunto é relevante no contexto do estudo de fé pois precisamos entender que confiança plena devemos ter apenas em Jesus. Doutrinas equivocadas não é um privilégio do nosso tempo, Jesus já se referia a doutrinas como preceitos de homens ensinadas pelos Fariseus em sua época (Mt 15:9) e Paulo usa esta mesma expressão ao falar desta prática dentro da igreja (Cl 2:22). Precisamos estar atentos e nos apegar cada vez mais a Cristo, o único autor da sã doutrina (2 Jo 1:9).

Jesus nos ensina a sermos simples como as pombas e prudentes como a serpente exatamente no momento em que nos disse que nos enviaria para o meio de lobos e temos que lembrar que Paulo chama de lobos também os falsos pastores que se introduziram na igreja logo após a sua partida.

No Antigo Testamento Hebraico encontramos também duas palavras usadas no texto original quando vemos na tradução em Português o vocábulo “palavra” os quais foram traduzidos na versão dos Setenta de forma não padronizada por Logos e Rhema, que são os vocábulos Amar (St-0559) e Dabar (St-1696). Ou seja, Amar pode ser ora traduzido por Logos e outras vezes por Rhema da mesma forma que Dabar.

Vejamos alguns exemplos da aplicação destes vocábulos no V.T. Hebraico e no Grego:

“Palavra do Senhor que veio a Oséias, filho de Beeri, durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e de Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel” Os 1:1

O vocábulo [palavra - Dabhar] nesta passagem foi traduzido por Logos na versão dos Setenta4. Quando Deus falou [Logos] com Oséias a palavra proferida era especificamente para ele, a fim de ressaltar a infidelidade de Israel e sua perfídia, o Senhor instruiu a Oséias que casasse com uma mulher adúltera. Deus não desejava que nós ou mesmo Israel se casasse com uma mulher adúltera para experimentar o que Deus estava sentindo com a traição de seu povo, trata-se de um Logos sem aplicação geral, além de se tratar, novamente, de uma expressão vocal.

“Quando o povo ouviu essas palavras terríveis, começou a chorar, e ninguém usou enfeite algum” Ex 33:4

Nesta passagem [palavras-Dabhar] foi utilizado Rhema na versão dos Setenta. Percebemos que não existe relação de correspondência das palavras entre o Hebraico e o Grego e que até mesmo o contexto não se refere ao fato de ser geral ou específica, pois aqui neste caso a palavra do Senhor foi generalizada a todo o povo e não específica, dirigida a alguém.

Existem várias outras passagens onde podemos constatar que não existe aplicação para estas palavras no sentido de geral ou específica; de falada ou escrita e isto não significa erro de tradução e sim preferência dos tradutores de acordo com o contexto. O erro é elaborar uma doutrina “pinçando” apenas as passagens da bíblia que corroboram uma ideia que se queira transmitir, isto pode ser feito tanto de boa fé; quando for resultado de alguma experiência pessoal, como de má-fé, como no caso dos falsos mestres e falsos profetas aos quais as escrituras destinam grandes porções para falar sobre eles, o importante é que cabe a nós, como discípulos de Jesus e conforme a instrução apostólica, julgar todas as coisas.

Aprendemos com o Senhor e com os apóstolos a ser simples e que a Bíblia explica a própria Bíblia; que os textos claros se sobrepõe aos de difícil compreensão e quando não tivermos certeza devemos com contentar com o que é absolutamente claro sem especulação. Precisamos apenas ter paciência e zelo pois muitas vezes precisaremos usar o texto original tendo em vista as limitações dos idiomas para os quais a Bíblia foi traduzida. É a própria Bíblia, mais especificamente a doutrina de Cristo (2 Jo 1:9,10) bem entendida e bem aplicada, que será o nosso fundamento. Se a doutrina criada pelo Movimento Palavra de Fé fosse importante certamente ela teria sido usada ou, pelo menos, citada pelo Senhor ou pelos apóstolos, mas não existe absolutamente qualquer referência nas Escrituras sobre a referida aplicação.

Mesmo que a teologia da prosperidade tenha arrefecido nos últimos anos, existem pastores e autores evangélicos que sustentaram seus ministérios baseados em partes destas doutrinas. Se você assistiu algum vídeo ou leu algum livro que tenha apresentado uma afirmação parecida com “o que você acredita torna-se realidade”, rejeite todo o conteúdo se você se considera um discípulo de Jesus pois quem disse isto foi Buddha e qualquer um que repetir algo parecido com isto tem suas influências no budismo.

Fé na fé é budismo e não cristianismo

O budismo enfatiza o poder interior do homem e tem nas suas bases filosóficas a extinção do sofrimento humano. Se por influência budista ou humanista, não sei, mas a verdade é que o Movimento Palavra de Fé introduziu dentro do meio evangélico o que podemos chamar de um “evangelho antropocêntrico” e não existe lugar para sofrimento em um evangelho onde o homem é o centro!

A epístola aos Efésios é repleta de referências à bênçãos espirituais que o Deus nos deu acesso por meio de Cristo:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.” Ef 1:3 NVI

Bênção no Grego [Eulogeo] tem a mesma raiz de elogiado, louvado, bem-aventurado e Paulo coloca no passado pois tudo o que pode nos trazer felicidade está em Cristo e a tudo o que nos deu acesso quando recebemos Ele: sermos incluídos na família de Deus, inseridos no Corpo de Cristo e estarmos sendo edificado casa para habitação de Deus em Espírito; esta é a grande bênção prometida e está relacionado ao propósito eterno de Deus. Tudo o que passarmos nesta vida, como Paulo fala em 2 Coríntios 4:17, em nada se comparam ao eterno peso de glória que nos aguarda e a felicidade que esta ardente expectativa nos traz (Fp 1:18-20), por isto ele diz “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.” Fp 4:4.

Quando o anjo apareceu a Maria (Lucas 1:28,42) ele usa esta mesma palavra para se referir a ela, chamando-a de bem-aventurada, feliz, agraciada, dependendo da versão, mas a palavra era Eulogeo. O verso 42 é muito significativo pois Isabel ao recebê-la diz que Maria era a abençoada entre as mulheres, mas não existe menção nas Escrituras de esta bênção tivesse livrado Maria dos sofrimentos pelos quais ela passou. O anjo estava errado ao chamar ela de abençoada ou ela não se “apropriou da bênção”? Ouvimos muito isto hoje em dia e na verdade trata-se de uma total falta de compreensão do que é ser abençoado conforme Paulo fala aos Efésios.

Sofrimentos fazem parte do processo de Deus para nossas vidas, vemos isto de Gênesis a Apocalipse, mas com a ressalva que Pedro fala em sua primeira epístola: somente se sofrer como cristão (3:14, 4:13,16) devemos glorificar a Deus por isto.

“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” 2 Tim 3:12

É errado esperar “boas dádivas” de Deus? De forma alguma, errado é esperar que estas boas dádivas sejam o motivo da nossa felicidade. Podemos ver fartamente ensino sobre isto nas palavras de Jesus e no ensino apostólico e mesmo nas palavras de Salomão.

“Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção. Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus”. Ec 5:18-19

“Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo” Fp 3:8 NVI

8 – A UNIDADE DO ESPÍRITO E DA FÉ

“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz, há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação, há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até as regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento [Katartismos] dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” Ef 4:1-16

O tema da unidade é de certa forma central nesta passagem e é uma continuidade de tudo que o que foi abordado antes, especialmente no capítulo 2:14-22. Este vocábulo [Unidade=Henotees] foi usado apenas por Paulo em todo o Novo Testamento, especificamente nestas duas vezes aqui na carta aos Efésios e deixa claro as profundas convicções de Paulo em relação a unidade da igreja. Havia se levantado em Éfeso contendas entre cristãos de origem judia e cristãos de origem gentílica e seria inimaginável para Paulo acontecer algum tipo de divisão concreta entre eles que viesse a produzir dois grupos na mesma cidade. Ele fala que o Senhor fez de ambos os povos um povo. Paulo acrescenta que a parede da inimizade que havia entre Judeus e Gentios havia sido retirada pelo Senhor na cruz. Pouco sabemos sobre esta parede que ele pode estar usando de forma alegórica em uma referência a parede que havia no templo que separava o setor dos gentios. Flávio Josefo 5 relata que haviam placas com a seguinte advertência nelas “Nenhum estrangeiro tem permissão de entrar na balaustrada em torno do santuário e do pátio. Quem for pego, será responsável por sua decorrente morte” escritas em grego e latim, exatamente a língua dos estrangeiros. Estas placas não estavam no templo original pois não existe referência delas nas Escrituras, mas em algum momento entre o período de Malaquias e o que Josefo descreve elas foram acrescentadas. Qualquer semelhança com a prática moderna de sectarismo cristão não é mera coincidência, é resultado da mesma arrogância em uma atitude de exclusão dos demais.

A história da igreja foi marcada por sectarismo e divisões, primeiramente foram internas como ocorreu em Corinto onde os irmãos estavam fazendo partidos por preferência ministerial, depois do terceiro século as divisões passaram a ser justificadas biblicamente em razão de uma “pseudopureza bíblica” e em nome desta “pureza” não apenas católicos perseguiram protestantes mas os reformistas perseguiram e mataram outros irmãos, como ocorreu com os Anabatistas na Europa. Felizmente também vemos tentativas de restabelecer a autoridade das Escrituras e do Espírito Santo sobre a Igreja. Um destes movimentos ocorreu no início do século XIX na Inglaterra e foi conhecido como “Os irmãos de Plymouth”6, uma de suas principais características era o que eles chamavam de “pregação dos leigos”, uma tentativa de desinstitucionalizar a igreja e que influenciou outras gerações após eles que pregavam a unidade da igreja, os dons, o pastoreio pessoal e outros aspectos existentes na igreja primitiva que foram perdidos e começavam a ser restaurados.

Funcionou durante um tempo, mas acabaram se dividindo entre dois grupos bem distintos: os “inclusivistas” (ou abertos) e os “exclusivistas”, esta divisão nos afeta até hoje. Passamos a aceitar a unidade sob determinadas condições próprias. Sendo exclusivistas ou inclusivistas encontraremos base bíblica para ambos e o que acaba acontecendo é que o apelo de Paulo aos Efésios, que certamente é estendido a nós hoje, não é atendido.

A preocupação de Paulo sobre este tema tem total consonância com o pedido de Jesus em sua oração registrada em João 17:

“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.”

A oração de Jesus fala em um “aperfeiçoamento” da nossa unidade, outras versões falam em “completamente unidos” ou “completa unidade” que seria uma tradução mais precisa considerando o termo utilizado no original e o próprio modelo de unidade da Trindade.

Paulo fala especificamente sobre este tema à igreja de Corinto e Éfeso. Para Corinto ele já inicia a carta falando: “Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” para logo em seguida expor o motivo desta admoestação que era resultado de algo ruim que estava brotando na igreja. Para Éfeso ele faz uma abordagem mais doutrinária onde vai explicar “como” conseguir esta unidade de pensamento e parecer. No início do capítulo 4 ele roga a todos, não à um grupo especificamente pois esta mensagem não poderia ser imposta verticalmente, se fosse ele daria uma ordem como fez eu outras ocasiões; ela depende da cooperação de todos que estão em Cristo na preservação de uma unidade que foi conquistada pelo Senhor. Isto não significa que Paulo está falando de uma unidade apenas em um plano espiritual ou mental, onde apenas declaramos que a igreja é uma só (1 Co 1:13), a unidade do Espírito extrapola para aspectos práticos de nossa vida tanto que ela é vital na efetiva proclamação do Evangelho como Cristo falou [para que o mundo creia], por isto Paulo fala em “andar de modo digno”, é algo permanente, constante, não é um evento, não é uma percepção meramente teológica.

“Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas [Eritheia-St 2052], dissensões [Dichostasia-St 1370], heresias [Hairesis-St139], invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” Gl 5:16-21

Quando Paulo fala das obras da carne relaciona três coisas que estão intimamente ligadas entre si: pelejas, dissenções e heresias. No original “peleja” tem significado mais específico de alguém que busca seguidores mediante presentes, rivalidades, intrigas. Heresias foi traduzido em outras versões por facções ou partidos, que é o resultado final de quem está dentro da igreja tentando promover as suas próprias ideias e Paulo é categórico ao dizer que “os que tais coisas praticam NÃO HERDARÃO O REINO DE DEUS”. Como nos tornamos hábeis em justificar as divisões usando a própria bíblia, isto deveria trazer muito temor em nossos corações!

Precisamos aprender com Paulo mediante a iluminação do Espírito pois ele bem sabia que se o Espírito não revelar estas verdades a única coisa que faremos é tentar impor nossa visão peculiar aos outros e isto não produzirá unidade, pelo contrário, curiosamente é também uma peleja apenas que em ambos os lados a “arma” usada é a mesma, a Bíblia.

8.1 – PRESERVANDO A UNIDADE DO ESPÍRITO

Antes de falar propriamente dito da nossa responsabilidade pela preservação da unidade do Espírito, Paulo elenca virtudes e atitudes que devemos apresentar em nossas vidas individualmente que manifestam este “andar digno”; com humildade, mansidão e longanimidade. A palavra escolhida por Paulo para falar de mansidão [Praos] é mesma usada para designar um animal que é submetido a total controle (domado), também foi a palavra usada em Nm 12:3 para se referir a Moisés e desta forma podemos ter uma clara percepção do que Paulo quer falar quando diz para sermos mansos. Moisés antes de ser levado ao deserto por Deus era impetuoso, rapidamente agiu para corrigir práticas que considerava injustas com os Judeus e acabou sendo rejeitado tanto pelos Egípcios como pelos seus próprios compatriotas, precisou de 40 anos no deserto até ele se sentir incapaz para a obra, mas finalmente apto para Deus.

Uma pessoa realmente mansa não reivindica sua importância ou autoridade

A longanimidade é outra atitude necessária nesta caminhada, muitas vezes relacionamos esta palavra a generosidade ou paciência, nas no original ela tem um sentido de “não apressar-se em vingar o mal” ou “não retaliar quando ferido por outrem”. Suportar é a manifestação prática da longanimidade, somente pessoas humildes, mansas e longânimas suportam a injustiça. Mesmo entre os irmãos nos ferimos de forma consciente ou inconscientemente. Enquanto nos considerarmos importantes, ou acharmos equivocadamente que temos completa revelação sobre Cristo ou exclusividade das verdades do Reino, mantemos uma atitude inversa ao que Paulo pede como condição necessária para nos colocar como guardiões da unidade de Espírito pois se não conseguimos ouvir nosso irmão como esperar que abriremos mão eventualmente de nossas posições em questões relativas em prol do Reino?

Somente depois de elencar estas virtudes/atitudes ele nos diz para nos esforçarmos diligentemente para preservar a unidade do Espírito. A questão da unidade não é secundária para Jesus ou para os apóstolos, quando Paulo insere o termo “diligentemente” na sua fala ele dá o grau de prioridade do assunto: com todo empenho, com velocidade, com seriedade. Isto não significa que ao vermos o quanto estamos longe de estar pelo menos preservando a unidade do Espírito devemos correr para “juntar” os irmãos. Estar juntos não significa unidade. Unidade tem a mesma raiz e significado que unanimidade e isto dá bem a dimensão do que Paulo esperava da igreja com respeito aquelas verdades citadas por ele. Muitas iniciativas de juntar os irmãos que congregam sob lideranças diferentes não passam de criação de um espaço de influência ou de convívio social e está totalmente contrário às virtudes e atitudes elencadas por Paulo nesta passagem. Paulo fala na carta aos Coríntios:“Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?” 2 Co 12:15. A maior parte de nós está disposto a se gastar, pois mantemos o controle de quando e com quem, mas quantos de nós estão de fato dispostos a se deixar gastar? Se nossa motivação estiver correta, nosso interesse será o interesse do meu irmão e não o próprio interesse (1 Co 10:24).

Temos que ter claro em mente que a unidade do Espírito não é produzida pelo homem, ela já foi feita por Cristo, mas deve ser preservada por nós.

O texto segue falando nas verdades absolutas que de fato nos tornam um em Cristo por meio do Espírito Santo: “há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação há um só Senhor, uma só fé, um só batismo um só Deus e Pai de todos”.

A igreja fracassou ao longo dos séculos e se dividiu, percebemos com bastante clareza esta divisão principalmente no aspecto funcional do Corpo de Cristo, mesmo que tenhamos um entendimento teológico de que somos apenas parte da igreja não expressamos a Cristo desta forma, mas talvez nem todos tenham esta mesma percepção por considerar que diferenças são aceitáveis desde que haja respeito no convívio, mas isto não passa de ecumenismo e não alcança nem de perto o que Paulo fala nesta passagem, serve apenas para amenizar a nossa consciência de um pecado que devemos nos arrepender coletivamente, mas que infelizmente não é tratado desta forma.

Certo professor de sociologia queria demonstrar para seus alunos a nossa capacidade humana de adaptação, apresentou na ocasião uma foto de uma cidade parcialmente destruída por constantes bombardeios (como os que ocorrem hoje na Síria) e na foto aparecia uma mulher em uma sacada parcialmente caída de seu prédio pendurando suas roupas para secar no varal. Os alunos ficaram perplexos com a imagem e não conseguiam se imaginar naquela situação. O professor para explicar usou uma experiência de laboratório: pegou uma vasilha, pôs água fria e colocou um sapo nela, levou ao fogo e aumentou a temperatura gradualmente. O sapo foi se adaptando ao aumento da temperatura da água e não pulou para fora vindo a morrer. O professor então tirou o sapo morto da vasilha e colocou um outro sapo vivo dentro desta água quente e ele pulou imediatamente para fora. Era uma experiência biológica para explicar um fenômeno sociológico; podemos nos acostumar com coisas erradas desde que sejam inseridas em nossas vidas de forma gradual e é isto que o diabo faz na igreja. Jesus falou sobre isto (Mt 13:25) e Pedro falou sobre isto também (2 Pe 2:1).

A igreja do primeiro século deve ser o nosso modelo pois eles andavam, ainda que não de forma perfeita, da forma ensinada por Jesus e pelos apóstolos. O livro de Atos mostra com clareza que os irmãos tinham tudo em comum, não se consideravam superiores aos outros, estavam sujeitos aos apóstolos e isto era um dos principais fatores de unidade deles (At 2:42; 16:4), repartiam seus bens e dons e o Senhor acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos. A igreja viveu nesta simplicidade por quase 300 anos. As denominações com os seus credos e verdades que cada um considera absolutos são com certeza a parte mais visível da divisão a que nos acostumamos por séculos mas esforçar-se para preservar a unidade não é reformar o que está errado e sim restaurar o modelo. Tentar implantar uma unidade funcional da igreja em uma estrutura criada pelos homens com origem em divisões e facções é o mesmo que colocar um remendo de pano novo em roupa velha, mesmo que no caso desta comparação de Jesus ele estivesse se referindo a práticas Judaicas que estavam sendo cumpridas não apenas pelos Fariseus como pelos discípulos de João mas como princípio se aplica a qualquer prática ou estrutura humana não deixada ou corroborada por Jesus ou seus apóstolos.

Quando abotoamos uma camisa ao chegarmos no último botão e vemos que ficou desalinhado não nos resta alternativa senão desabotoar tudo e abotoar novamente. Quando percebemos o quanto estamos longe do modelo deixado pelo Senhor não nos resta alternativa senão olhar novamente para o modelo, “desabotoar” tudo o que abotoamos e fazer novamente e a forma como conseguiremos fazer isto é a mudança de atitude, mas as vezes insistimos em remendar. É apenas uma questão de tempo até se perder o odre!

“Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura” Mt 9:16

Os eventos não produzem unidade, as virtudes e atitudes certas contribuem para a preservação da unidade do Espírito

Mesmo que estejamos reunidos na mesma congregação sob os cuidados da mesma liderança, ainda assim podemos ter a mesma atitude dos irmãos de Corinto que estavam se separando na cidade por preferências ministeriais e Paulo os chamou de carnais por este motivo. Isto não é diferente de nos separarmos em denominações diferentes que de certa forma definem o que pensamos, ambas são sectarismo e justificar a “divisão aceitável” baseado em preservação de valores absolutos sem que a estrutura apresentada por Paulo em Efésios e vivida na igreja nos primeiros séculos seja definitivamente restaurada, nos expõe tanto a rejeitar apóstolos legítimos de Cristo, como fez Diótrefes (3 Jo 9,10) ou receber falsos apóstolos como se tivessem sido enviados pelo Senhor (2 Co 11:13). Há uma obra aqui tremenda e que pertence ao Espírito Santo, profetizada por Pedro em Atos e repetida por Tiago (5:7), um derramamento poderoso do Espírito no período que antecederá a volta de Jesus, da mesma forma como ocorreu no início na Igreja. Não precisamos nos preocupar com muitas coisas ou com aquelas que não nos compete, o mais importante é fazer o que Paulo fala no início de Efésios, que é na prática um guia de como a igreja deve caminhar para ter unidade. Se fizermos nossa parte com a atitude correta a unidade do Espírito será preservada.

8.2 – ALCANÇANDO A UNIDADE DA FÉ

Por fim chegamos a unidade da fé, que é colocada por Paulo como consequência e está vinculada com outros dois acontecimentos dando a entender que ocorrem juntos: unidade da fé e do pleno conhecimento de Cristo Jesus e a nossa maturidade plena quando alcançarmos a estatura de Cristo. Fé no versículo 5 está relacionada com nossa resposta ao Kerigma, com nossa entrada no Reino. No versículo 13 fé e pleno conhecimento estão juntos pois estão relacionados com o que pensamos, com conceitos sobre Cristo. Este conhecimento não é um conhecimento humano acumulado, mas um conhecimento do alto, revelado pelo Espírito e disponível a todos nascidos em Cristo. Entre estes dois versículos que falam de unidade estão relacionados recursos para que eles sejam alcançados, com destaque para o papel dos “dons de Cristo” colocados para a capacitação da igreja para que se edifiquem mutuamente e este é um ponto bastante sensível na questão dos pré-requisitos para que a unidade da fé seja alcançada, passa obrigatoriamente por tudo o que Paulo falou antes, inclusive pela restauração da única estrutura deixada por Jesus para a edificação da sua igreja e que começa com seus homens-dons.

A estrutura de Jesus são pessoas e não prédios e a edificação passa pelo relacionamento delas (Cl 2:19)

Havendo isto não apenas a unidade da fé ocorrerá (que é o momento em que todos que fazem parte do Corpo de Cristo pensarão a mesma coisa, terão o mesmo sentimento) mas também o pleno conhecimento do Filho de Deus e alcançaremos a estatura espiritual de Cristo. Isto é tremendo!

“Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer”

1 Co 1:10

Pensar e sentir igual é chave para não termos divisões e vemos pela passagem acima que estas divisões estavam também rondando a igreja de Corinto mas Paulo sabia que haveria um momento em que esta unidade seria alcançada, onde todos estaríamos maduros para a volta do Senhor, não está em questão se isto acontecerá, apenas quando acontecerá e poderá acontecer mais rápido ou menos rápido, conforme vemos Pedro falando em sua epístola (2 Pe 3:12), na medida em que estamos com a atitude correta ou não, pois sabemos que Jesus vem buscar UMA noiva, UMA igreja; pura, ataviada, completa, perfeita.

9 – ADVERTÊNCIAS PARA OS ÚLTIMOS DIAS

Reconhecemos que estamos mais perto do fim a cada dia e devemos ficar atentos às palavras de alertas de Jesus para a igreja. O inimigo tentará se possível enganar os eleitos de Deus e somente conseguirá fazer isto se confundir nossa fé, será com sutilezas e Jesus nos adverte para não acreditar neles.

Fé não é uma mera expectativa como o mundo utiliza, apesar de ter uma forte conotação específica de esperança no que diz respeito a nossa salvação, mas é apenas esperança pois ela ainda está por ser alcançada, mas é uma certeza que acontecerá. As vezes acreditamos que muito das nossas deficiências são decorrentes de uma fé pequena, outros por sua vez acreditam que foram dotados de uma fé maior a ponto de se colocar em uma posição inquestionável, mas como vimos antes precisamos apenas ter uma fé sólida em Cristo e sermos todos guiados pelo Espírito para avançarmos com firmeza e livre de enganos do diabo e da alma.

Mais especificamente em nossa relação com os irmãos, Paulo diz aos Romanos: “Não pensar de si além do que convém”, mas também não podemos pensar “aquém” que é a atitude da grande maioria dos cristãos pelo mundo que seguem a doutrina dos “Nicolaítas” conforme Jesus fala em duas cartas às igrejas no livro de Apocalipse, o qual temos aprendido que está relacionado a etimologia desta palavra no original que significa a redução do povo de Deus a meros espectadores na igreja, destruindo o sacerdócio dos santos. Pensamos pouco sobre nós mesmos quando esquecemos que em nós habita o próprio Deus através de seu Espírito (1 Co 3:16).

“E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” Hb 8:11

“E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos;” At 2:17

Hebreus é a carta que mais contrasta a nova e a velha aliança e podemos adquirir grande compreensão deste assunto estudando esta carta. No velho testamento Deus falava através de pessoas especiais, agora todos somos “sacerdócio real”, todos temos o Espírito de Deus, portanto todos conhecemos a Deus e devemos agir desta forma, respeitando a diversidade de serviços e dons que o Senhor distribuiu no seu corpo, mas que de forma alguma representa hierarquização na igreja; prática esta já condenada por Jesus (Mt 20:25-26), mas cooperação (1 Co 12:25).

Por fim, um alerta profético de Jesus deixado em Apocalipse 2:18-19 onde Ele relata o pecado da igreja de Tiatira. Existia fé e amor em Tiatira mas isto não foi suficiente para eles e vieram a naufragar na fé pois deram ouvidos a Jezabel, uma mulher que no Velho Testamento seduziu com suas mentiras ao povo de Israel levando eles a prostituição com outros deuses. Jezabel era a mulher do Rei acabe, ou seja, tinha posição mas não autoridade e isto foi suficiente para enganar ao povo. Pensemos em que tipo de poder alguém exercerá sobre a igreja e como isto vai ocorrer (se já não está ocorrendo), pois é uma profecia de Jesus, não é uma alegoria! Se através de Jezabel Israel de uniu ao mundo de então, a advertência de Jesus para nós é para nos arrependermos se de alguma forma estamos deixando nos seduzir por termos parado de olhar para Jesus como vemos que aconteceu com Pedro no episódio em que pediu para andar sobre as águas e darmos ouvidos a “Jezabel”, certamente uma pessoa com posição, mas tal qual ela, sem autoridade.

A fé permeia tudo o que pensamos e fazemos até o dia em que estaremos com o Senhor, ela tem um aspecto intuitivo que está relacionado a convicção de que Jesus é o filho de Deus, pois esta convicção ocorre em nosso espírito e não em nossa alma, mas também a outros aspectos sobre tudo o que se relaciona com o Reino de Deus e a Igreja até a vinda do Senhor. Paulo manifestou seu desejo de que esta unidade de pensamento ocorresse na igreja (Fp 2:1-4) e retorna a este assunto de forma dogmática em na carta aos Efésios. Humanamente olhando é difícil acreditar que a unidade da fé ocorrerá algum dia, pois para que isto aconteça um milagre transformando nossos corações e uma mudança de atitude é necessário para que isto aconteça, mas devemos nos manter unânimes com o Senhor no desejo e expectativa por este dia não deixando que a realidade que insiste em nos cercar faça esmorecer nossa convicção e nos seduza para “caminhos alternativos” que nos afastam do alvo. Temos que aprender com o exemplo da história de Israel: saíram juntos, caminharam juntos e entraram juntos na Terra Prometida. Por ser mais forte ninguém chegará na frente, pelo contrário, Deus espera que os mais fortes sejam suporte para os mais fracos e débeis nesta caminhada.

“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens e, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” Fp 2:5-8 NVI

“Mas o fim desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência, e de uma fé não fingida; das quais coisas alguns se desviaram, e se entregaram a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, embora não entendam nem o que dizem nem o que com tanta confiança afirmam” 1 Tm 1:5-7

“O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” Ap 22:17

CARLOS A S SILVA
Enviado por CARLOS A S SILVA em 19/04/2022
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