Dom Eugenio Sales e o celibato sacerdotal

DOM EUGENIO SALES E O CELIBATO SACERDOTAL

Miguel Carqueija

 

Dom Eugenio de Araujo Sales foi, durante muitos anos, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, depois Cardeal Emérito. Publicava seus artigos na imprensa carioca, creio que em três jornais: O Globo, Jornal do Brasil e O Dia. Bons tempos aqueles, em que havia mais respeito com a religião.

Encontrei nos meus guardados um recorte de “O Globo”, com a data que eu mesmo assinalei, de 18 de junho de 1994, um artigo de Dom Eugenio sob o título “Firmeza na vocação”. É um texto brilhante, como costumavam ser os artigos deste prelado, dono de grande erudição e sabedoria. Falava ele da ordenação de onze novos sacerdotes na arquidiocese, e em seguida sobre esta nobre vocação. A certa altura abordou a questão do celibato. Vejamos um pouco do que o cardeal diz:

 

“O celibato é sempre uma exprobação a quem se deixa engolfar pelos desregramentos sexuais. Às vezes ouvimos dizer que, supresso, desapareceriam as falhas dos clérigos nessa matéria. Isso não procede, pois os homens casados nem sempre são fiéis a suas esposas, infelizmente! Ninguém é obrigado ao celibato, que é uma escolha livre. Assim o aceita o jovem, pois tem amplo conhecimento dessa exigência, para ser ordenado sacerdote. E quem abraça o estado clerical não o faz sob pressão. (...) Impossível cumprir tal opção? Sim, se conta apenas com as forças da natureza. Contudo, há a graça de Deus poderosa, eficaz, que supre amplamente as deficiências diante dessa solene promessa.”

 

Mesmo não podendo me comparar a Dom Eugenio Sales, gostaria de acrescentar outro detalhe: em grande parte aqueles que ficam palpitando na mídia que “padre devia casar, pois é um homem como qualquer outro” (e não é, pois carrega o sacramento da Ordem) são os mesmos, os mesmíssimos que defendem o controle da natalidade com pílulas anticoncepcionais, camisinhas de Vênus, DIU’s e até abortos. E aí vemos uma grande contradição, uma incoerência e tanto: querem o controle da natalidade (a Igreja Católica propõe algo muito superior, o planejamento familiar responsável) por causa da superpopulação e dos problemas econômicos, mas ao mesmo tempo querem que os sacerdotes casem para gerar proles e agravar a questão da alegada superpopulação.

 

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2022.

 

imagem Canção Nova