Feliz retorno

Pe. Geovane Saraiva*

Na abertura ao infinito, ao mistério do eterno, a criatura humana é cheia de vontade, na qualidade de ser que deseja caminhar na direção do definitivo. Ultrapassa a si mesma, embora seja, por si mesma, reduzida e irrelevante, pela condição humana, no dizer de Dom Helder: "Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante, não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo". No pacto ou postulado da graça e pela vida, naquele em quem tudo consiste, por ser bondade deslumbrante, na luminosidade do ser infinito, está o nosso verdadeiro querer, no desígnio da plenitude divina, da criatura humana, ao adentar abismado na realidade do mundo, mesmo insuficiente na cordialidade complacente.

Tudo, evidentemente, a partir de Jesus de Nazaré, que é a “palavra”, o “verbo”, pessoa que, dele e por ele, se vê fundir numa só coisa: o mistério da sua obra redentora, da qual não pode se separar. Nele, razão da existência de todas as criaturas, de tudo o que existe (cf. o prólogo do Evangelho de João), se consuma, portanto, a vontade daquele que o enviou, com fiel consideração e desvelo, desde sempre e para sempre, verdade incontroversa, na qual tudo se estabelece e se instaura, na esperança da plena reconciliação.

Deus criou tudo por amor e, constantemente, somos convidados a participar da sua graciosa e perfeita obra criadora e vivificadora. Deus não se retira e jamais se afasta de sua operosa ação, no Universo que lhe pertence, ao estender sua mão onipotente, pacificadora e restauradora. Aquilo que Deus mesmo contemplou: “Tudo está muito bom” vai crescendo e evoluindo nas suas mãos, na acolhedora concepção da criatura humana.

Na mais radical, irrefutável e incontestável dependência divina, o ser humano não imagina um Deus semelhante ao carpinteiro, escultor e pintor, que, depois de todo o procedimento, na condição de artesão e artífices, no acabamento de seus projetos, estes vão-se embora e se retiram do mundo, mesmo tendo contribuído para que o mundo fique mais formoso e atraente. A humanidade está agarrada e presa pelos laços do Espírito de Deus, que, além de sua existência, pode contar com sua subsistência, sendo luz e dia, luminosidade infinita que se irradia.

Discordância há e haverá, mas por causa do pecado, identificado com a liberdade humana, liberdade esta que, ao se desenvolver e evoluir, surge com ela o mal no seio do mundo, o qual, em maior ou menor grau, se traduz na plena capacidade de contrariar ou não a vontade divina. São as transgressões que caminha com a liberdade humana, através das inflações como fato inegável.

Pelo caminho paciente da cruz, que o espírito humano se volte para o Deus clemente, sempre indagando, no espírito comovido, na realidade maliciosa do mundo, própria da vida. Mas sem medo de dizer quando de verdade o pecado bate sua porta, no amor que sempre se renova: “Cometi grande pecado, com qual mal e descaso sou culpado sim, no aguardo do feliz retorno, isento de qualquer fardo!”. Amém!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 13/10/2022
Reeditado em 15/10/2022
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