FINADOS

Quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna. Meus irmãos e fiéis a santa Igreja faz anualmente no dia 2 de novembro a comemoração de todos os fiéis defuntos. Todos os mortos estão lembrados na celebração de cada Eucaristia. Em toda missa celebrada, a Igreja como mãe recorda os seus filhos que partiram para O Grande Encontro. Contudo a Santa Igreja se reúne hoje, numa única celebração, para rezar por todos os fiéis falecidos. Isso porque ela desconhece quem se voltou para Deus nos instantes finais de sua vida.

Uma pessoa pode vislumbrar a necessidade e profundo mistério de Deus nos instantes finais de sua existência. A Santa Igreja também, não sabe quais as almas de seus filhos que no purgatório, aguardam o encontro definitivo. A Igreja então, hoje reza pelas almas que se estão no purgatório pois, nele, elas as almas, não pode acelerar o processo de sua purificação. Hoje rezamos pelas almas não lembrando como morreram, mas como viveram. Como construíram a suas vidas.

É na vida presente que nós preparamos o encontro futuro. No purgatório as almas são passivas. Necessitadas da oração da Igreja, da oração de todos nós para chegar a face a face com Deus. Por isso especialmente hoje mas também sempre os fiéis na Terra devem interceder por elas fazendo-lhes orações para que sejam envolvidas pelo amor de Deus e por sua infinita misericórdia. Recordando aqueles que não perdemos, como diz São Cipriano, mas aqueles que foram antes de nós. A Igreja Peregrina na Terra não pode esquecer a Igreja que se purifica no purgatório.

Hoje então na Eucaristia de Finados e ao longo do dia vale muito a oração de todos nós por essas almas que aguardam a entrada no céu. As Leituras da liturgia de Finados: Primeira Leitura (Jó 19,1.23-27a), Responsório Sl 22(23),1-3.4.5.6 (R. 1 ou 4ª), Evangelho (Lc 12,35-40) mostram um olhar de esperança para este mistério tremendo e para essa realidade profunda que encerra a santa morte. Ouvimos na primeira leitura Jó, um homem convicto de que após a sua morte verá a face de Deus. Que bela profissão de fé de Jó na eternidade: “Eu mesmo o verei. Meus olhos o contemplarão. Jó assim antecipa a bem-aventurança de Mateus que proclama felizes bem-aventurados os que um dia verão a Deus. Essa felicidade plena será possível a partir da morte. Que aparente contradição nos coloca o cristianismo. Felicidade a partir da morte.

A morte nos tira da vida não para o abandono ou o sofrimento mas para nos deixarmos em Deus Pai contemplando sua face no lugar que Cristo preparou-nos com sua morte redentora. A morte cristã é fonte de vida. O nosso tempo que cada vez mais se acostuma com a cultura de morte não entende essa linguagem cristã que faz a morte não fonte de dor e abandono, mas fonte de alegria, de encontro, de contemplação. Jesus confirma a convicção de Jó, no evangelho João 6,37-40, diz “quem vê o Filho e Nele crê tem a vida eterna”. Sim, a vontade do Pai é que não se perdesse nenhum daqueles que Ele confiou ao Filho. Que ressuscitassem no último dia justamente para a vida eterna. A vida sem fim.

Jesus após a sua ressurreição não apenas sentou-se a direita do Pai, mas também já preparou um lugar para cada um de nós, pois, na casa do Pai tem muitas moradas. Meus irmãos e fiéis, São Paulo recordou nos na segunda leitura , Romanos 5,5-11, que Jesus morreu por nós. Que estamos justificados pelo seu sangue. Salvos por sua ressurreição e vida. São Bento pede na sua regra que tenhamos um olhar vigilante sobre a morte. Temei o dia do Juízo. Ter pavor do inferno. Desejar a vida eterna com toda cobiça espiritual. Ter diariamente diante dos olhos a morte à surpreendê-lo. Esse pensamento de São Bento se encontra no 4º capítulo de sua regra. Mesmo com medo natural da morte confiemos também nesta Palavra do apostolo São Paulo e vigiemos como pede São Bento.

Primeira Leitura: Jó 19,1.23-27:

Leitura do livro de Jó – 1Jó to¬mou a palavra e disse: 23“Gostaria que minhas palavras fossem escritas e gravadas numa inscrição 24com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para sempre! 25Eu sei que o meu redentor está vi¬vo e que, por último, se levantará sobre o pó; 26e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 26(27)

Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes.

1. O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei? – R.

2. Ao Senhor eu peço apenas uma coisa, / e é só isto que eu desejo: / habitar no santuário do Senhor / por toda a minha vida; / saborear a suavidade do Senhor / e contemplá-lo no seu templo. – R.

3. Ó Senhor, ouvi a voz do meu apelo, / atendei por compaixão! / É vossa face que eu procuro. † Não afas¬teis em vossa ira o vosso servo, / sois vós o meu auxílio! – R.

4. Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes. / Espera no Senhor e tem coragem, / espera no Senhor! – R.

Segunda Leitura: Romanos 5,5-11

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 5a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. 8Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. 9Muito mais agora, que já estamos justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos da ira por ele. 10Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida! 11Ainda mais, nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 6,37-40

É esta a vontade de quem me enviou: / que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia (Jo 6,39). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus às multidões: 37“Todos os que o Pai me confia virão a mim, e, quando vierem, não os afastarei. 38Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. 40Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”. – Palavra da salvação.

Jesus pronuncia palavras de conforto e esperança. Não estamos abandonados, sozinhos, sem rumo, sem mestre, sem pastor. Jesus é o doador da vida; ele não rejeita ninguém, pois desceu do céu por nós: “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é que eu não perca nenhum dos que ele me deu”. Jesus e o Pai querem vida abundante para todos. Única e indispensável exigência de Jesus é que acreditemos nele. Acreditar não é simplesmente alimentar bons pensamentos ou dizer da boca para fora “eu creio”. A fé requer a prática das obras de justiça, fraternidade e misericórdia. Então, sim, poderemos ter a certeza da vida eterna: “Eu o ressuscitarei no último dia”. A salvação só será completa com a ressurreição.

Jesus morreu por nós. Alcançou nossa salvação. O olhar de São Paulo e de São Bento não significam que a morte seja uma realidade tranquila, facilmente aceitável. Como disse, o nosso tempo ou teme a morte ou se acostuma com ela de forma tão passiva. Há uma cultura de morte tão presente no nosso tempo. Guerras esquecidas. Duas guerras atuais que desafiam a nossa inteligência e sobretudo essa cultura de morte menor e menores ambientes de violência, de medo, de terror, “pequenas” mortes ou mortes antecipadas. Sim, a morte é difícil. Como compreendê-la? Humanamente falando como aceitá-la? Sobretudo de pessoas que partiram supostamente tendo tanta vida pela frente. Quantos jovens, quantas mães e pais. Quantas pessoas supostamente foram antes daquele dia naturalmente esperados.

Com tudo, meus irmãos, somos cristãos. Já fomos alcançados pela Redenção de Cristo. Devemos acolher a morte com oração, confiança, serenidade. Sobretudo nunca esquecermos, essas palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim ainda que morra viverá”. Que palavras fortes e consoladoras de Jesus nosso Redentor. Somos peregrinos e que bom, peregrinos do absoluto. Caminhamos não sem destino, não sem direção, mas caminhamos como peregrinos para O Grande Encontro. Não temos outro destino, se não caminhamos para o encontro com Deus na vida sem fim. Daí se faz necessário meus irmãos criarmos Encontros com Deus. Na vida presente para que no futuro ele não nos seja um ilustre desconhecido. Criarmos já na vida presente essa familiaridade, quanto possível com Deus. Deus é pai e como pai é luz misericordioso e quer é os seus filhos próximos de Si.

Acolhamos um dia nossa morte com oração, serenidade. Aproveitamos os dias de boa saúde, quando a morte parece tão distante para prepararmos esse encontro e assim seguimos confiantes para os braços de Deus. Temos nossas fragilidades, medos e sobretudo essa realidade da morte que nos assusta.

Mas fiquemos sempre com essa palavra de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim ainda que morra viverá. Meus irmãos, encerraremos esta celebração com estas palavras: “que a luz eterna brilhe para eles, ou seja nós pedimos nesse dia que a luz eterna, o próprio Deus, ilumine os olhos daqueles que morreram em especial daqueles que estão no purgatório. As almas que aguardam essa luz que vai dilatar o olhar de cada uma para vislumbrar Deus quanto possível. No caminhar da nossa vida muitos sentimentos se misturam. Estaremos lá caminhando. O homem é um ser a caminho. Estaremos lá rezando por aqueles que aguardam luz. Na nossa casa entra luz externa para lembrarmos também dessa Luz Maior o próprio Deus, que um dia vai iluminar a todos nós. No cemitério foram sepultados os nossos irmãos que já partiram, mas lá também rezaremos pelos nossos amigos e familiares.

Oremos por você que trouxe suas intenções de pessoas queridas que se foram. Na liturgia temos uma beleza. Há também uma mensagem. É de perseverámos até o fim aguardando esse Grande Encontro com Deus Pai. Fiquemos com duas Carmelitas que falam da morte com tanta simplicidade não menos profundidade, com extrema confiança. Santa Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face, não é a morte que me virá buscar, mas sim o bom Deus. Não morro entro na vida. Santa Elisabeth da Trindade diz: “Seguirei para Ele, Deus imenso, infinito, Trino. Deus no qual me perco. Deus no qual viverei que belas palavras nos deixam essas duas mulheres. Simples, profundas e que nos consolam diante desse mistério tão tremendo Tão Profundo tão incompreensível. Mas ao mesmo tempo esse mistério do amor de Deus que através da morte, nos comunica vida.

Fonte: Transmissão ao vivo realizada há 10 horas MOSTEIRO DE SÃO BENTO

• MOSTEIRO DE SÃO BENTO Celebração Eucarística (Comemoração de todos os fiéis defuntos, 02 de novembro de 2023).

Homilia no MOSTEIRO DE SÃO BENTO Celebração Eucarística (Comemoração de todos os fiéis defuntos e 02 de novembro de 2023).
Enviado por Rodolfo Muniz Leal em 15/11/2023
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